Não era nem metade da tarde e eu já estava exausta. Brincar com Catarina no jardim, brincar com Spike, colocar Catarina para dormir, resolver os últimos preparativos da surpresa, discutir e aprender sobre o cardápio com Marta, ajudar Irminha a arrumar a sala que ficou completamente bagunçada com todos os brinquedos espalhados, e eu ainda tinha muito o que fazer. Esperava ao menos continuar inteira até o fim da noite, ou quem não agüentaria nada seria eu. E, ainda faltava um detalhe: Eu precisava saber com quem deixaria Catarina. A primeira opção obviamente foi minha mãe. Ela estava sempre nos visitando nos dias de semana, e sempre reclamava que deveríamos levar Catarina mais vezes em sua casa. Ela obviamente não se importaria de ficar com ela apenas por uma noite, mesmo que isso significasse ter que ficar longe da minha bonequinha pela primeira vez.
- Mamãe? Sou eu, Lety!
- Oi meu amor! Como está?
- Estou bem. E a Senhora? E o papai?
- Estamos bem! E Catarina? Como está?
- Está bem. Está dormindo agora depois de brincar o dia inteiro. – Sorri olhando-a no berço. – Mamãe, eu preciso de um favor.
- Claro, meu bem. O que quiser.
- É que... Ontem Fernando e eu fizemos quatro anos de casados.
- Ah! Foi ontem? Eu me esqueci!
- Pelo visto ele também...
- O que?
- Nada! É que a Senhora se lembra que eu estava planejando uma surpresa, não é?
- É claro! E como foi?
- Bom... Não foi! Ele teve uma reunião e eu tive que remarcar para hoje.
- Ah, filhinha... Mas está tudo bem! O que conta é a surpresa!
- Sim! E é por isso que eu estou ligando... Eu... Precisava de alguém para cuidar de Catarina para mim essa noite.
- Ah...
Ela pareceu desanimada.
- O que foi?
- Ah, meu bem... Se fosse ontem eu ficaria com ela com todo o prazer. Mas é que hoje terá o bazar beneficente aqui do bairro, e eu prometi que faria minhas quentinhas. E eu não posso desmarcar.
- Oh, não! – Coloquei a mão na testa e me sentei à poltrona pesadamente.
- Eu sinto muito, Lety. Se não fosse tão importante eu com certeza iria desmarcar para ficar com ela para vocês. Mas, você sabe... Eu me comprometi.
- Eu sei, mamãe. Está... Tudo bem. Eu vejo com Terezinha se ela pode ficar com ela.
- Mas espera, você vai mesmo deixá-la com alguém? Resolveu cortar o cordão umbilical finalmente? – Ela riu.
- Engraçadinha. – Balancei a cabeça rindo. – É que eu quero que tudo saia perfeito. Mas será um sacrifício.
- Eu disse que você precisa fazer isso já faz muito tempo. Nós a deixamos sozinha com sua avó quando você tinha apenas seis meses de vida.
- É, mas pelo visto o papai ainda não aprendeu a conviver longe de mim até hoje.
- Mas seu pai é diferente.
Nós duas rimos.
- Mamãe, mesmo assim obrigada. Vou ligar para Terezinha e torcer para que ela possa ficar com ela.
- Boa sorte, filhinha. E tenha uma ótima noite.
- Obrigada, mamãe. Um beijo! E mande um beijo para o papai!
- Está bem, mando sim! Um beijo para vocês três.
- Obrigada! Tchau!
Desliguei o telefone e imediatamente liguei para Terezinha, rezando para que ela aceitasse ficar com Nina. Embora minha mãe tenha sido a minha primeira opção, Terezinha também era uma ótima avó para Catarina, e mesmo que a mimasse com vários presentes (muitos mesmo), ela conseguia cuidar muito bem dela, embora Fernando às vezes dissesse para não deixá-las sozinhas por muito tempo. Mas, para o meu desespero, Terezinha também não poderia ficar com ela, por ter um compromisso às sextas. O clube do livro. Eu esperava desesperadamente que quando ficasse mais velha eu não precisasse depender de todos esses programas de Terezinha para me divertir.
As opções diminuíram ainda mais, restando apenas Laura como minha ultima esperança. Por mais que eu não gostasse de abusar de sua boa vontade por ser madrinha de Catarina, eu precisava que tudo desse certo naquela noite, e o “desespero” me fez ligar para Laura, e mais uma vez... Minhas esperanças de foram. Dessa vez, por completo. Justo naquele dia todos resolveram marcar compromissos importantes, e Laura aceitou fazer plantão no hospital de Eduardo para cobrir a folga de uma colega. Eu estava completamente sem opções, e sem ânimo para continuar com aquela surpresa, que até então não dava certo de nenhuma maneira.
Deixei o telefone sobre a poltrona e me levantei assim que ouvi o resmungo de Catarina no berço.
- Oi, meu amor! Você já acordou? Nem dormiu direito... – Falei pegando-a no colo. Catarina deitou a cabeça em meu ombro, manhosa, e eu dei um longo suspiro. O pior aniversário de casamento de todos. Não consegui fazer nada especial, e também não recebi nada especial, nem mesmo um agrado, exceto de Catarina, que era sempre tão carinhosa.
- Quero brincar, mamãe! – Exclamou apontando para os seus brinquedos que estavam sobre o tapete.
- Você já quer brincar? Que energia! – Falei rindo, colocando-a sobre o tapete.
O telefone tocou no mesmo instante e eu o peguei sobre a poltrona, atendendo-o. Para o meu alívio, era Márcia. Contei à ela que a comemoração foi por água abaixo e que eu já não tinha mais esperanças que algo desse certo. Nem esperanças e nem ânimo.
- Lety, você não pode desistir. – Márcia disse enquanto falávamos ao telefone.
- Como não posso desistir? Não tem ninguém de confiança para cuidar dela por mim! Meus pais estarão ocupados, a mãe de Fernando também, e obviamente eu não a deixaria sozinha com Humberto que não sabe ao menos trocar uma fralda. Laura estará de plantão...
- E eu?
- O que?
- Você nem mesmo pensou em mim?
- Márcia, você sabe que eu te adoro, mas você também sabe que eu não cometeria a loucura de deixar minha filha com você.
- Mas que calúnia! Saiba que eu sou muito capaz de cuidar de uma criança.
- Sei...
- É... Tem razão. Não levo jeito algum. Mas, na hora do desespero...
- Não. Eu... – Suspirei. – Eu vou deixar essa surpresa de lado.
- Talvez o jantar tenha sim dado errado, mas você ainda tem a sobremesa.
- Como assim?
- Se esqueceu da fantasia?
- Não. – Olhei para a cômoda de Catarina e abri a ultima gaveta, me certificando de que ela ainda estava ali. – Ela está guardada.
- Você ainda pode usá-la.
- Você acha?
- Bom... Fernando está estranho com você, não tem ninguém para cuidar de Catarina, então ao menos o fim da noite tem que ser bom, não é?
- Essa questão do Fernando estar estranho comigo me deixa ainda mais desanimada.
- Não seja boba. É por isso que você tem que finalizar a noite com chave de ouro. Faça ele subir nas paredes!
- Márcia!
- O que foi? Eu estou dizendo a verdade! Ele vai adorar a fantasia, e vai adorar mais quando vê-la em você. Com certeza ele vai se arrepender por ter esquecido uma data tão especial e vai se ajoelhar pedindo o seu perdão por estar tão frio com você.
- Márcia, você é tão exagerada. – Respondi meio à um riso.
- Só estou te dando um conselho. Não deixe que a sua comemoração seja atrapalhada por inteiro.
Suspirei balançando a cabeça.
- Está bem. Vou ver o que eu faço.
Voltei minha atenção para Catarina, que se divertia com alguma coisa próxima a gaveta. Quando notei o que era, dei um pulo quase largando o telefone no chão.
- Eu te ligo depois, Márcia!
Não esperei ela terminar de falar e joguei o telefone no chão, pegando a fantasia das mãos de Catarina.
- Meu amor! Isso não é brinquedo! – Exclamei desesperada.
Catarina achou engraçado colocar a saia em sua cabeça, e eu não queria nem imaginar se Fernando chegasse naquele momento. Para piorar ainda mais a minha situação, e como se alguém lá em cima achasse engraçado todo o meu desespero, ouvi o barulho da porta batendo no andar de baixo, e a voz de Fernando ao falar com Irminha. Olhei para a fantasia em minha mão e procurei um esconderijo para ela. Dei a volta por todo o quarto, desesperada e apreensiva, e só tive tempo de abrir a primeira gaveta e enfiar a fantasia ali. Mas, piorando ainda mais as coisas, a gaveta emperrou, e apenas metade da fantasia ficou para o lado de dentro.
- Cheguei! – A voz de Fernando ecoou pelo corredor e eu me apressei em escorar à cômoda, tentando esconder a parte da fantasia que restou para fora. – Oi. – Falou ao parar na porta. – O que está fazendo?
- Nada. – Forcei um sorriso. – Chegou cedo.
- É... Não demorou como imaginei.
Ele me olhava estranhamente, e não era para menos. Eu estava como uma boba escorada à cômoda enquanto Catarina brincava ao meu lado e ele estava parado em minha frente.
- Oi, princesinha! – Ele abaixou-se olhando para Catarina. – Não vai dar um beijo no papai?
Catarina se levantou e correu até ele, pulando em seu pescoço.
- Ahh! Que abraço gostoso! – Ele correspondeu, sorrindo. – Você não deveria estar dormindo?
- Não, papai! – Respondeu rindo.
- Não? – Ele riu.
- Deveria, mas acordou agora à pouco.
- Pelo visto vai apagar hoje a noite.
- É. – Sorri.
- Aconteceu alguma coisa? Você parece estranha.
- Não, não aconteceu nada.
- Tem certeza?
- Sim!
Ele mexeu os ombros e pegou Catarina no colo.
- Vou descer para comer alguma coisa.
- Está bem. Eu... Vou em um instante.
- Certo.
Fernando saiu do quarto, e eu suspirei aliviada. Por pouco a única parte da surpresa que me restava também não ia por água abaixo. Tentei tirá-la da gaveta, mas ainda estava emperrada. Puxei a gaveta várias vezes, mas sem sucesso.
- Droga!
Tentei mais uma vez, mas ao invés de puxar apenas a gaveta, puxei também a fantasia, e fechei os olhos ao ouvir um barulho de algo se rasgando.
- Ah não... Não. Não. Não.
Como um passe de mágica, a gaveta se desemperrou e eu consegui abri-la. Mas, para o meu desespero, a fantasia havia rasgado ao meio. Justamente a parte de baixo.
- Ah não! – Exclamei controlando a vontade de chorar e xingar tudo em minha volta.
Lá se foi a ultima chance que eu tinha de fazer algo especial.
•••
Fernando
Eu já havia notado que Lety estava estranha desde que cheguei em casa, mas sua ausência estava me deixando intrigado. À quase vinte minutos eu havia descido para comer alguma coisa, e ela ainda estava no andar de cima. A todo instante ouvia barulho de gavetas se fechando, passos pesados e alguma coisa caindo. Imaginei duas coisas: Ou ela estava estressada com algo ou estava magoada, e nenhum dos dois me agradava.
- Irminha, pode ficar com Catarina por um instante? Vou ver se Lety precisa de... Alguma coisa.
- É claro! – Irminha sorriu, pegando Catarina do meu colo.
- Obrigado.
Assim que me levantei, um barulho ainda mais alto de gaveta sendo fechada chamou a minha atenção e de Irminha. Ela preferiu não dizer nada, mas eu sabia que também estava preocupada com o que estava acontecendo. Subi para o segundo andar e segui o barulho das gavetas, que vinham do quarto de Catarina. Parei à porta e observei Letícia dobrando algumas roupas.
- Precisa de ajuda? – Perguntei colocando as mãos no bolso.
- Não. – Respondeu sem me olhar.
- O que elas fizeram?
- Quem? – Me olhou.
- As gavetas.
- Como assim?
- Parece estar descontando a raiva nelas.
- Ah... – Voltou sua atenção para as roupas. – Estou dobrando algumas roupas da Catarina e guardando no lugar.
- Você já não fez isso anteontem?
- Mas bagunçaram de novo.
- Lety... – Tirei as mãos do bolso e me aproximei. – O que está acontecendo?
- Nada. – Respondeu colocando um vestido na gaveta e fechando-a com raiva logo depois.
Como se não quisesse papo, ela me deu as costas e saiu do quarto. Eu a segui, e entramos em nosso quarto, ainda em silencio. Letícia abriu a primeira gaveta de nossa cômoda e se preparou para tirar as roupas, assim como fez com as de Catarina, mas eu a impedi, segurando suas mãos carinhosamente.
- O que foi, Fernando? – Perguntou com frieza. – Estou tentando arrumar as gavetas.
- Não vai me dizer o que aconteceu?
- Por que acha que aconteceu algo?
- Porque você tenta descontar sua raiva fazendo alguma coisa de casa.
- Isso não é verdade.
- Você sabe que é.
Ela suspirou e ergueu a cabeça para me olhar.
- Só estou chateada...
- Com o que?
- Com tudo! – Respondeu indo em direção a cama, sentando-se pesadamente.
- Precisa ser mais específica...
- Tudo deu errado! – Ela afagou o rosto em suas mãos.
- Tudo o que, Lety? Do que está falando? – Me sentei ao seu lado.
- Você nem ao menos se lembra. – Sua voz saiu abafada.
- Olhe para mim... – Falei manhoso.
Lety tirou suas mãos do rosto e me olhou com lágrimas nos olhos.
- O que aconteceu, meu amor?
- Você não se lembrou. – Choramingou. – Não se lembrou do nosso aniversário. Foi ontem, sabia? Eu fiquei um mês inteiro planejando uma surpresa para você, mas tudo começou a dar errado por causa daquela maldita reunião de ultima hora.
- Eu... Não sabia que você estava planejando algo.
- É claro que não, por isso se chama surpresa! – Soluçou. – Eu ainda tive esperanças de que a surpresa desse certo hoje, mas novamente deu tudo errado. Não consegui ninguém para ficar com Catarina, você me tratou com frieza de repente e eu nem sei por quê. E além do mais, eu acabei... De rasgar...
- Rasgar o que? – Perguntei confuso.
- A ultima parte da surpresa. – Voltou a soluçar. – Uma fantasia...
- Fantasia?
- Me obrigaram a comprar isso! Eu não queria, mas me convenceram!
- Quem?
Ela não respondeu.
- Ah... Não precisa dizer. – Prendi o riso.
- Eu a guardei na gaveta da Catarina para você não descobrir, mas quando fui esconder ela emperrou na gaveta e eu puxei. E então ela... Ela... Rasgou. – Ela fez bico antes de voltar a chorar.
- Lety... – A puxei para um abraço, que foi a porta de entrada para que ela chorasse ainda mais.
- Por que você nem ao menos se lembrou? Eu estou tão frustrada! Pela primeira vez tentei preparar uma surpresa pra você porque todo ano é você quem prepara, e tudo deu errado.
Me afastei do abraço e segurei seu rosto para que ela me olhasse.
- Lety, quantos anos nós temos de casados?
- Nem os anos você se lembra mais? Ótimo!
- Lety... – Sorri divertido. – Quantos anos de casados nós temos?
- Quatro anos, Fernando! Quatro! – Respondeu com certa impaciência.
- E nesses quatro anos, eu já me esqueci alguma vez de alguma data especial?
Ela demorou um tempo para responder.
- Não que eu me lembre. Exceto dessa vez.
- E você acha mesmo que eu me esqueceria de uma data tão importante?
O choro cessou e ela me olhou confusa.
- Há três anos eu faço uma surpresa para você nessa data, e obviamente você já estaria acostumada. Não quis comemorar no mesmo dia, do contrário você já esperaria por isso. Eu me lembrei, e guardei a comemoração para hoje. Eu só não sabia que você também estava preparando uma surpresa...
- Você... Se lembrou?
- Se tivesse lido a mensagem que mandei pela manhã assim que saí de casa não teria ficado em dúvida. – Respondi rindo.
- Mensagem? Eu... Não vejo meu celular desde quando acordei.
- Então é por isso. Mas eu me lembrei... – Baixei minhas mãos para seus ombros. – E te fiz um convite. Já que não leu a mensagem, vou refazer o convite... Você me acompanharia em um jantar essa noite?
- Eu... – Ela abriu a boca algumas vezes, mas não produziu nenhum som. – Fernando... Eu não sei o que dizer. Eu não estava esperando por isso. – Sorriu triste. – É claro que eu o acompanho.
- Que bom! – Segurei suas mãos e as beijei. – Então será que podemos nos arrumar, e dessa vez sem tentar quebrar nada?
- É claro! – Ela riu, limpando suas lágrimas. – Meu Deus! Quantas vezes mais você irá me surpreender?
- Quantas vezes forem necessárias para te ver sorrindo. – Respondi sincero. – Agora... Vá se arrumar, chorona. Vou te esperar.
- Está bem. – Ela riu, se levantando. – Ah... Mas Catarina...
- Eu já combinei tudo com Irminha. Não se preocupe.
- Você sempre planeja tudo, não é? – Colocou as mãos na cintura. – Eu ainda irei aprender com você, Fernando Mendiola.
Balancei a cabeça rindo e ela seguiu para o banheiro. Por mais que sua surpresa não tivesse funcionado, fiquei feliz em saber que ela ao menos tentou fazer algo para mim. Normalmente eu sempre fazia alguma surpresa para ela em datas especiais, exceto no meu aniversário, que ela sempre me surpreendia com algum presente que sempre me agradava, além das festas que sempre planejava. Mas, eu nunca me cansaria de surpreende-la, tanto em datas especiais quanto no dia a dia. O sorriso que ela me dava no fim de tudo sempre valia a pena.
Enquanto esperava Lety se arrumar, voltei para a sala para me juntar à Catarina e Irminha, e nos minutos que se passaram nos entretemos com as descobertas de Catarina, que eram sempre tão gratificantes para mim. Depois de alguns minutos que não foram contados no relógio, ouvi barulhos do salto ecoar pelo piso. Ergui minha cabeça para voltar minha atenção à porta, e em pouco tempo Lety apareceu, me surpreendendo como sempre.
- Lety! – Irminha exclamou. – Como você está elegante!
- Bonita, mamãe! – Exclamou Catarina.
Me levantei imediatamente e continuei a olhá-la admirado. Seu cabelo estava preso em um coque com alguns fios soltos, que ela os colocou por detrás da orelha quando sorriu para mim. Seu vestido longo era de seda lilás, e eu posso afirmar com toda a certeza que jamais a vi com aquele vestido, e a minha memória não costumava fracassar. Um vestido comportado e elegante, apenas com um detalhe que não pude evitar em admirar ainda mais: Um decote não muito longo, que prendeu a minha atenção.
- Você não vai se arrumar? – Perguntou divertida e eu balancei a cabeça, sorrindo.
- Sim! Eu vou... Nesse instante.
- Está bem.
Passei por ela, ainda olhando-a abobado, mas me apressei em me arrumar. Quanto mais rápido estivesse pronto, mais rápido poderíamos desfrutar do nosso jantar romântico, e depois, finalizarmos com algo que nos agradava e muito.
•••
Enquanto eu dirigia à caminho do restaurante, não pude evitar em olhar para Lety a cada cinco minutos. Ela ainda não havia notado, mas eu não me importaria se notasse. Sou apenas um homem orgulhoso de ter uma esposa tão linda e encantadora.
- Acabei de ler a sua mensagem... – Ela disse guardando o celular em sua bolsa. – Se eu tivesse visto antes teria evitado muita coisa. – Me olhou rindo.
- É verdade. – Também ri. – Mas, a parte boa é que a surpresa ficou ainda melhor assim.
- É... Ao menos um de nós dois consegue fazer uma surpresa digna.
- Ah, não diga isso. – A olhei sorrindo. – Você já me surpreende todos os dias.
- Ah é? Como?
- Sendo uma esposa tão dedicada, uma mãe maravilhosa para nossa filha, continua sendo tão linda...
- Exceto quando estou em casa depois de um dia inteiro correndo atrás de Catarina. – Ela riu.
- Ainda assim consegue ser linda.
Me olhando com ternura, ela me deu um de seus sorrisos mais lindos.
- Obrigada.
- Não há de que. – Voltei minha atenção para o transito.
- Posso dizer uma coisa? Você... Promete não me levar à mal?
- É claro!
- Eu acho que nós merecemos alguns dias assim. Quero dizer... Eu sou suspeita em dizer isso porque acho que sou a única mãe que não consegue ficar muito tempo longe da filha depois de três anos. – Ela riu e eu sorri. – Mas, acho que às vezes precisamos de algum tempo... Só para nós dois.
- Eu também acho. E seria muito bom se ao menos duas vezes ao mês fizéssemos algum programa diferente, não acha?
- Eu adoraria!
- Então, assim será. Mas, você tem que prometer que não vai ficar ligando a cada cinco minutos para saber como Catarina está.
- Eu não posso prometer isso.
- Lety! – A olhei rindo. – São só algumas horas. Não ficaremos um dia inteiro longe dela. Além do mais, Catarina é encantadora, e tenho certeza que não daria trabalho nenhum para quem cuidasse dela. Irminha por exemplo está adorando ficar com ela hoje.
- É... Tem razão. É impossível não gostar de ficar com ela. Ela é um anjo. – Ela suspirou.
- Exatamente!
Lety pareceu aceitar a idéia, e enfim chegamos ao restaurante. Desci do carro e abri a porta, lhe dando a mão para ajudá-la a descer. Entreguei as chaves para o chofer e seguimos até a entrada.
- Boa noite! – A recepcionista sorriu. – Os Senhores já possuem reserva?
- Sim. Uma mesa para dois no nome de Fernando Mendiola. – Falei sorrindo.
Ela verificou em sua prancheta e nos olhou.
- A mesa especial, correto?
- Isso!
- Sigam-me, por favor.
- Especial? – Lety sussurrou.
Apenas sorri e toquei em sua cintura para que acompanhássemos a recepcionista. Passamos por todo o restaurante até chegarmos à uma mesa mais afastada, que ficava do lado de fora. Ela estava exatamente como eu havia pedido. Iluminada à luz de velas, com uma rosa enfeitando o centro da mesa.
- Fiquem a vontade, e se precisarem de alguma coisa, não hesitem em nos pedir.
- Obrigado.
A recepcionista nos deixou a sós e eu puxei a cadeira para que Lety se sentasse.
- Você pediu tudo isso? – Ela perguntou sentando-se.
- Sim. – Respondi orgulhoso, me sentando na cadeira à sua frente. – Você gostou? – Sorri.
- Eu não sei nem o que dizer para você mais. Acho que já se esgotou todas as minhas frases de surpresas como essas. – Ela sorriu. – Está tudo maravilhoso, meu amor.
- Fico feliz que tenha gostado.
- Pode me dizer onde aprende essas coisas?
- Aprendo o que?
- Você está sempre me fazendo surpresas, mas nunca uma é igual a outra. Está sempre inovando, e eu sempre fico admirada.
- Não sei onde aprendi. – Respondi rindo. – Eu apenas... Imagino o que iria agradá-la e faço.
- É como se você lesse os meus pensamentos.
- Então, acho que estou no caminho certo, não é?
- Está há muito tempo. – Ela sorriu.
O garçom nos serviu com um vinho branco e decidimos aproveitar o início da noite antes de fazermos o pedido. Irminha havia se oferecido de ficar com Catarina de bom grado, então logo imaginei que não precisaríamos de pressa para voltarmos para casa. Eu queria aproveitar o tempo que pudesse com a minha mulher.
- Por que está me olhando assim? – Ela perguntou durante uma de minhas famosas admiradas de longos segundos.
- Nada. Só fico encantado com a sua beleza... – Sorri escorado à cadeira.
- Fernando Mendiola, você me deixa tão mal acostumada.
- É o meu dever, não é?
- Então agora é a minha vez. – Ela se inclinou sobre a mesa, escorando o queixo em uma das mãos. – Você fica extremamente sexy quando usa um terno escuro com essa camisa social por baixo.
- Essa? – Olhei para meu próprio corpo. – Mas eu uso terno todos os dias praticamente. – A olhei divertido.
- Não, não. Assim é diferente. Você pode não notar, mas essa maneira de colocar uma camisa social branca por baixo do paletó, sem usar gravata... Te deixa muito sedutor.
- É bom saber. – Respondi meio à um riso. – Agora... Me conte sobre essa tal fantasia. Fiquei curioso de saber como a adquiriu.
- Ah... Tem certeza que quer saber?
- Claro!
- Bom... Tudo bem. Mas fique sabendo que foi extremamente vergonhoso para mim.
Lety me contou toda a história de como foi convencida à ir à um sexshop, e como se sentiu entrando em um pela primeira vez. Não pude evitar em dar gargalhadas enquanto ela me contava os detalhes, principalmente de Luigi, mas a verdade é que eu estava imaginando exatamente como ela teria ficado em um lugar como aquele. O que mais me encantava em Lety era a sua pureza, que mesmo depois de quatro anos de casados, ela ainda se fazia presente em sua personalidade. Mesmo que em nossos momentos de intimidade ela se mostrasse extremamente ‘expert’ no assunto, Lety ainda era a mesma pessoa dócil que eu conheci, e ainda se envergonhava com o mínimo, o que a deixava ainda mais encantadora. Mas, embora Lety ainda fosse de certa forma vergonhosa, ela conseguia ser a mulher mais sensual que já conheci, e talvez ela mal soubesse disso. Sua sensualidade era natural, e era isso que me deixava ainda mais apaixonado.
Depois que Lety falou sobre o seu dia bastante “agitado e vergonhoso”, falei sobre meus dias no trabalho, que não eram tão divertidos, mas algumas vezes rendia histórias engraçadas. Lety dava gargalhadas, e quando percebi, estávamos como dois bobos rindo um para o outro de coisas totalmente sem nexo. Eu me sentia feliz quando estávamos daquela maneira, porque era durante essas gargalhadas que eu percebia que só conseguia ser eu mesmo ao lado de Lety, e que isso me deixava totalmente feliz. Quando o nosso pedido chegou, continuamos com as conversas, como se estivéssemos há dias sem nos falarmos. Mas, exceto pelos dois últimos dias, Lety e eu tínhamos o costume de conversarmos durante o jantar e antes de dormir. O assunto parecia render, e quando nos demos conta, estávamos falando sobre o futuro casamento de Carolina e Omar.
- Eu tenho certeza que Omar iria escolher o próprio quarto para se casarem. – Brinquei e Lety gargalhou.
- Isso é maldade. Não se fala algo assim do melhor amigo.
- Mas eu digo por que sei o quanto ele gosta de ficar no próprio quarto. Pode perguntar à Carolina.
- É, isso é verdade. Ela já me disse algumas vezes.
- É sério?
- Eu não deveria ter dito isso. É um segredo das mulheres.
- Ah, então quer dizer que ficam falando sobre nós enquanto estão no clube da Luluzinha? – Perguntei divertido.
- É claro que sim! Vá dizer que não falam da gente também?
- Claro que não. Falamos de outras mulheres. É esse o intuito de não levarmos nossas esposas e namoradas.
- Bobo! – Lety me jogou um guardanapo e riu.
- Quer saber? Eu acho que já bebi demais. – Falei olhando para a garrafa de vinho, que já estava praticamente vazia.
- Eu também. – Lety suspirou. – E também estou satisfeita. O jantar estava delicioso.
- Concordo.
- Acha que já podemos pedir a conta?
- É claro.
Aquele jantar entraria para um dos melhores jantares que já tivemos. Tínhamos sempre o costume de sairmos, embora esse costume tivesse diminuído depois do nascimento de Catarina. Mas, por algum motivo, naquele dia estávamos parecendo dois adolescentes conversando, e falamos de todo o tipo de coisa possível. Minha barriga estava doendo de tanto rir, e eu ainda sentia que a noite não havia terminado. Depois de pagar a conta, nós saímos do restaurante e seguimos direto para o carro. Eu não estava tão alterado quanto imaginava, mas percebi que Lety estava um pouco mais alegre do que o normal, o que me tirava risos ao ouvi-la dizer coisas tão sem nexo.
- A próxima fantasia que eu vou comprar vai ser de garçonete! – Ela disse enquanto seguíamos de volta para casa.
- Eu pensei que não quisesse mais saber de sexshop. – Brinquei.
- Tem razão. Não quero entrar naquele lugar nunca mais! – Respondeu deitando a cabeça no banco. – E quer saber? Eu me senti oprimida com tantas... Amostras masculinas nas prateleiras.
- Amostras masculinas? – Perguntei gargalhando. – O que seria isso?
- Não me peça para entrar em detalhes, Fernando. Já foi vergonhoso demais ver Luigi carregando um.
Eu não podia rir tanto, ou perderia a atenção do transito. Mas ouvir Lety falar sobre o sexshop era definitivamente a história mais engraçada que eu já havia escutado, principalmente quando ela já estava um pouco mais alterada do que o normal. Enfim chegamos em casa, e eu a ajudei a descer do carro. E subir as escadas. E acertar o buraco da fechadura.
- Vou ver se Irminha está na sala. – Falei segurando-a pela cintura. – Consegue subir para o nosso quarto sozinha? Acho que você precisa jogar uma água no rosto. – Falei rindo.
- Não estou tão alterada assim. – Respondeu sorrindo. – Mas obrigada por se preocupar.
Realmente, não estava tão alterada a ponto de não conseguir acertar os degraus da escada. Mas, conhecendo bem minha própria esposa, eu sabia que o álcool no sangue não era a única coisa que a fazia cair da escada.
- Está bem. Então suba e me espere que eu já vou.
- Tudo bem. – Ela sussurrou me puxando para um beijo. – Obrigada pelo jantar.
Sorri vendo-a se afastar e fui até a sala para liberar e agradecer à Irminha.
•••
Lety
Eu não estava tão fora de mim como Fernando imaginava. É claro, o fato de termos bebido quase uma garrafa de um vinho importado, que era muito mais forte do que os outros, ajudava um pouco nas minhas histórias sem nexo e nas minhas gargalhadas exageradas. Mas, por dentro eu me sentia totalmente sóbria, só estava exalando felicidade, o que costumava acontecer quase todos os dias desde que me casei com Fernando. Antes de ir para o nosso quarto, parei na porta do quarto de Nina e a olhei adormecida em seu berço. Suspirei meio à um sorriso enquanto a olhava, e depois de ficar alguns segundos daquela maneira, senti alguém se aproximar da porta. Não precisei me virar para saber que era Fernando, e quando senti suas mãos tocarem meus ombros, as segurei e continuei admirando Catarina.
- Ela é um anjinho... – Falei abobada.
- O nosso anjinho. – Ele me abraçou pela cintura. – Está cada dia mais parecida com você.
- Você acha? Eu acho ela tão parecida com você.
- É mesmo? – Ele riu.
- Principalmente por ela ser tão carinhosa. Tenho certeza que puxou isso de você.
- Mas ela é inteligente, como você.
- Acho que poderíamos ficar a noite inteira discutindo sobre o quanto ela se parece com nós dois. – Me virei para ele.
- Eu não me importaria. – Ele me olhou, sorrindo.
- Mas temos algo melhor para fazer... – Mordi o lábio inferior e ele ergueu as sobrancelhas.
- Ah, é? Eu nem... Estava esperando por isso.
- Mentiroso.
- Não sabia que pensava tão mal de mim, Senhora Mendiola.
- Eu não penso mal, mas te conheço o suficiente para saber que já estava pensando nisso desde a sobremesa.
- É, tem razão. Não tenho argumentos contra isso.
- Então... Vamos aproveitar que Nina está dormindo como um anjo...
- E que Irminha já foi embora há alguns minutos...
- E vamos finalizar a nossa noite.
- Adoro quando você coloca dessa maneira. – Ele sorriu malicioso, me beijando. – Melhor irmos logo, antes que ela perceba nossa presença e acorde.
- Tem razão.
Seguimos para a porta do quarto e a olhamos, antes de sairmos e seguirmos para o nosso. Assim que entramos, Fernando tirou seu terno e eu caminhei para a janela, que dava direto para os jardins do fundo. Fechei as cortinas lentamente e me virei para ele, que seguia em minha direção.
- Foi uma noite maravilhosa, não é? – Perguntei meio à um sorriso, quando ele me puxou para seus braços.
- Muito.
- Mas ainda falta a minha surpresa.
- Eu pensei que tivesse dado tudo errado... – Me olhou curioso.
- Nem tudo. – Sorri vitoriosa. – Ainda tenho uma coisa para te mostrar.
- Hum... E posso ver agora?
- Daqui a pouco. Pode se deitar na cama e me esperar que eu volto logo.
- Aonde vai?
Não respondi sua pergunta. Me apoiei na ponta dos pés para beijá-lo rapidamente e logo depois me afastei, seguindo para o banheiro. Embora tudo o que havia sido planejado não tivesse funcionado, eu ainda tinha uma carta na manga. Em todos os meus aniversários, Márcia, Carolina e Luigi se reuniam para me fazer passar vergonha. Além dos presentes carinhosos que me davam, eles também se juntavam para me dar uma lingerie. Em três aniversários que passamos juntos, eles me presentearam com três lingeries das quais sabiam exatamente que não me agradavam. Mas, no fim, eu acabava por me render e as usava em alguma data especial. A ultima que me deram ainda não tinha sido utilizada, e foi o que restou para algum tipo de “surpresa”. Fernando ainda não a tinha visto, o que tornaria a surpresa ainda melhor.
Por mais que eu batesse o pé e dissesse que não precisávamos daquele tipo de coisa para apimentar nossas relações, eu sabia que Fernando sempre adorava quando eu usava algo especial, e naquela noite ele merecia, e muito. Depois de tirar o meu vestido, coloquei a lingerie que era diferente das outras que eu havia ganhado. Não era apenas a lingerie básica que eu costumava usar no meu dia a dia, mas havia um detalhe da parte de cima, que adotava um baby doll que combinava com as cores do restante: Cor de vinho. Olhei para o meu reflexo no espelho e sorri, satisfeita com o que via. Poucas vezes eu me sentia tão bonita a ponto de sorrir para o meu próprio reflexo e dizer: “Uau, você arrazou!” Mas, naquele dia eu tinha que admitir. Eles capricharam na escolha do “presente”.
Optei por deixar o coque, já que sabia que Fernando adorava, e saí do banheiro, confiante por saber que ele ao menos esboçaria um sorriso maroto ao me ver. Assim que abri a porta, pude perceber que ele havia colocado uma musica de fundo, como costumávamos fazer algumas vezes. Ele ainda não havia percebido que eu estava parada à porta do banheiro, quando virou-se e ficou petrificado. Sorri satisfeita e escorei um dos braços ao portal, colocando a outra mão em minha cintura. Fernando permaneceu paralisado, e eu não consegui evitar o riso ao vê-lo daquela maneira.
- O que achou? – Achei melhor quebrar o silencio.
- O que eu achei? – Ele perguntou, dessa vez se aproximando. – Quer mesmo que eu responda?
- É claro! Preciso saber se caprichei na surpresa ou não.
- Eu vou te responder só com uma coisa... – Disse ao se aproximar o suficiente de mim.
Esperei que ele dissesse algo, mas fui surpreendida quando ele me tomou em seus braços, me carregando em direção à cama. Quase me esqueci que Catarina estava dormindo e deixei escapar um pequeno grito. Tampei minha boca logo depois e ele riu, me colocando deitada à cama.
- Você está espetacular! – Exclamou quando se inclinou sobre mim. – E eu só consigo pensar em fazer uma coisa com você nesse momento.
- E o que é?
- Você vai ver logo. – Ele sorriu malicioso, me beijando logo depois.
Retribuí o beijo com amor e gana, e logo percebi o quanto senti falta de termos um momento assim naqueles últimos dois dias. Se há uma coisa que eu deveria ser grata, é por nossas relações nunca terem sido monótonas e chatas, como se fossem obrigatórias. É claro, com o nascimento de Catarina as coisas ficaram um pouco mais difíceis, e não eram todos os dias que estávamos com energia suficiente para algo assim. Mas, ainda tínhamos uma vida sexual bastante ativa, e principalmente ainda desfrutávamos de momentos como aquele. Uma data especial, uma noite especial, e um fechamento ainda mais especial. É claro, minha surpresa não dava para se comparar com a de Fernando, mas eu estava satisfeita por tê-lo agradado de alguma maneira.
- Lety... – Sussurrou meio ao beijo.
- Hum? – Murmurei fechando os olhos, enquanto ele depositava beijos ao longo do meu pescoço e busto.
- Preciso dizer uma coisa...
- Agora?
- Sim!
Abri os olhos e ele me olhou, já com os cabelos bagunçados e a camisa aberta até a metade. Esperei que ele dissesse algo importante, já que não poderia esperar até terminarmos o que estávamos fazendo. Com um sorriso encantador ele olhou no fundo dos meus olhos e acariciou meu rosto com uma das mãos.
- Todos os dias eu me apaixono ainda mais por você.
- Ah, meu amor... – Toquei em seu rosto, sorrindo. – E o meu amor por você só aumenta cada vez mais.
- Promete que vai ser minha pro resto de nossas vidas?
- É claro que prometo!
Me preparei para beijá-lo, mas ele se inclinou.
- Preciso dizer mais uma coisa...
- O que? – O olhei.
- Você... Está muito... Sexy.
Soltei uma gargalhada e ele riu, voltando a me beijar.
•••
Fernando
Eu precisava dizer, mesmo que aquilo não bastasse. Lety talvez não pudesse imaginar o quanto eu a amava, e que tudo o que eu dizia ou fazia era apenas uma parte que eu conseguia demonstrar o que eu sentia. Dentro de mim, ainda havia muito mais, e provavelmente só eu saberia o quanto a amava e a desejava com todas as minhas forças. Cessei os beijos para admirá-la por um instante, e era impossível não sentir tantas coisas ao vê-la daquela maneira. Eu jamais a tinha visto com aquela lingerie, e por mais que ela não tivesse planejado aquela surpresa para o fim da noite, eu não conseguia pensar em uma melhor maneira de terminá-la. Sem querer perder mais tempo, tornei a beijá-la, dessa vez com maior intensidade. Me permiti repousar uma de minhas mãos em sua coxa e a apertei levemente, enquanto me posicionava entre suas pernas. Lety as dobrou, e afagou suas mãos em meu cabelo, enquanto me provocava mordendo o lábio inferior. Ela sabia o quanto aquilo me enlouquecia, e eu apertei ainda mais sua perna contra a lateral de minha cintura. Enquanto a olhava, ela também não perdeu tempo e rapidamente terminou de desabotoar minha camisa, que já estava aberta até a metade. Me preparei para terminar de tirá-la, mas ela segurou meu braço.
- Não tira... – Respondeu em um sussurro. – Deixa assim.
Sorri maroto e deixei a camisa, voltando a beijá-la. O calor já percorria por meu corpo e eu já sentia a minha respiração ofegante. Meus batimentos estavam acelerados, e o volume em minha calça já estava perceptível, mas ele já estava assim desde quando a vi na porta do banheiro usando aquela lingerie. Passeei com uma das mãos pelo seu corpo, começando de uma das coxas, passando por sua cintura, até chegar ao seu seio. Lety sorriu quando cheguei à parte que ela mais gostava, e eu não resisti em retribuir o sorriso.
•••
Lety
Fernando conseguia em poucos minutos me fazer perder os sentidos. Com cada toque, com cada beijo, como Márcia costumava dizer: “eu estava subindo pelas paredes.” Era impossível conseguir me conter por muito tempo quando em cada toque dele, tanto os mais carinhosos quanto os mais abusados me faziam delirar. Fernando sabia exatamente como me provocar, e o fato dele ainda estar de calça jeans com sua camisa aberta era um ótimo exemplo. Naquela altura já estávamos ofegantes, desejando cada parte do corpo um do outro. Enquanto ele me acariciava, coloquei minhas mãos por dentro de sua camisa e as repousei em suas costas largas, arranhando-as levemente. Fernando inspirou no mesmo instante, fechando os olhos e sorrindo logo depois. Eu sabia que ele adorava aquilo. Sorri satisfeita e o empurrei para o outro lado da cama, me posicionando rapidamente por cima dele. Assim que me sentei sobre ele, Fernando colocou as mãos para trás de sua cabeça e sorriu como uma criança diante de um brinquedo.
- Por que está sorrindo? – Perguntei passeando com minhas mãos sobre seu peitoral.
- Gosto quando faz isso.
- Isso o que?
- Me domina.
- Ah... É? – Mordi o lábio e me inclinei sobre ele lentamente. Assim que me aproximei ele fechou os olhos esperando que eu o beijasse, mas desviei os beijos para o seu pescoço, mordendo-o de leve. Fernando suspirou alto e agarrou minha cintura, apertando-a. Enquanto o beijava e mordiscava, me movimentei por cima dele, apenas esperando que ele enlouquecesse.
- Meu Deus Lety... – Disse meio à um sussurro ofegante. – Isso é muito bom!
Sorri satisfeita enquanto continuei os beijos. Eu adorava quando ele elogiava algo. Isso me deixava ainda mais excitada para continuar provocando-o. Mas, antes que eu pudesse continuar, Fernando se inclinou, sentando-se à cama entrelaçando os braços em volta do meu corpo. Nossos corpos ficaram com o mínimo de espaço um do outro, e então nos olhamos com os batimentos acelerados juntando-se um ao outro.
•••
Fernando
- Eu preciso de você... – Disse olhando em seus olhos.
Não era necessário que eu dissesse que precisava dela, já que estava tão claro. Mas, eu tive a necessidade de dizer o quanto precisava tê-la, de todas as maneiras. Eu já estava no auge da excitação, e esperar para ser ainda mais provocado por ela seria um tipo de masoquismo. Para a minha alegria, ela sorriu, deixando a entender que poderíamos avançar ainda mais. Com todo o desejo de tê-la por completo, imediatamente voltei a beijá-la intensamente. Ela retribuía o beijo na mesma intensidade, e quando dei por mim, estava com as mãos no botão da minha calça. Me apressei em deitar na cama para desabotoar a calça e ela se ergueu para que eu pudesse terminar de tirá-la. Quando o fiz, voltei a puxá-la para mais perto, e pude sentir seus seios apertando-se contra meu corpo. Aquilo me enlouqueceu, e com os braços em volta de seu corpo, a apertei ainda mais contra mim. Lety se mexeu sobre mim, deixando a entender que já poderíamos saciar nosso desejo. Ela se ajoelhou sobre a cama e logo eu a puxei de volta, penetrando-a lentamente. Quando o fiz, Lety soltou um suspiro e fechou os olhos. Continuei olhando-a, porque vê-la tão excitada me animava ainda mais. Ela se movimentou sobre mim, e a medida que subia e descia, eu a apertava ainda mais contra o meu corpo, se é que era possível. Os movimentos se aceleraram, e junto com ele, nossas respirações que se tornavam cada vez mais altas, ecoando por todo o quarto. O contato de nossos corpos já nos faziam suar, e as únicas coisas que eu conseguia sentir naquele momento era excitação, desejo... Letícia tinha o dom de me fazer delirar em poucos minutos.
Coloquei uma das mãos entre seu cabelo e a fiz olhar para mim enquanto acelerava os movimentos sobre mim. Como era boa a sensação de senti-la por inteiro... Letícia olhou em meus olhos e aquilo foi o ponto final para que eu sentisse todo o meu corpo se estremecer. Não pude conter os gemidos, e ela também não. Tive a sensação de sair do meu próprio corpo enquanto sentia suas unhas sendo cravadas em meus ombros. Apertei meus braços em volta de sua cintura e dessa vez o ultimo movimento ficou por minha conta. O ultimo e mais intenso, onde eu senti uma espécie de choque percorrer por cada parte do meu corpo. A prendi contra mim e deixei que por alguns segundos a sensação passasse. Quando aconteceu, senti o corpo de Lety amolecer sobre mim e eu a olhei satisfeito.
- Que... Loucura... – Lety disse ofegante.
- Sim. – Respondi da mesma maneira. – Foi um dos melhores, sem sombra de dúvidas.
- Acho que vou precisar de três noites de sono para me recuperar...
- Vamos começar agora. – Sorri e ela gargalhou, me beijando.
•••
Lety
Depois de nos banharmos e nos deliciarmos com aquele fim de noite maravilhoso, deitei pesadamente na cama sentindo o resultado de tanto gasto de energia minutos antes. Mas, não pude evitar sorrir me lembrando de cada toque, de cada sensação que senti naquele momento. Nossos momentos íntimos sempre me fazia feliz, porque Fernando tinha a capacidade de fazer isso. Me deixar feliz o tempo inteiro. Me virei na cama e o admirei enquanto ele estava no banheiro, escovando os dentes. Estava sem camisa, com sua calça de moletom e os cabelos molhados por ter acabado de sair do banho. Assim que percebeu que eu o olhava, ele virou-se para mim escorando-se ao portal.
- Você é lindo... – Falei sorrindo.
Percebi que ele sorriu, mas ainda não podia responder. Deixei que ele terminasse e o esperei na cama, com a sensação completa de felicidade me dominando. Assim que terminou, Fernando seguiu para a cama e pulou sobre ela, deitando-se ao meu lado. Soltei uma gargalhada e ele me puxou para mais perto, olhando em meus olhos.
- E você é maravilhosa. – Respondeu com ternura. – Você diz que nunca consegue me surpreender, mas surpreende. Principalmente com o seu desempenho de agora à pouco.
Bati em seu ombro e ele riu.
- Agora já posso dizer...
- O que?
- Que a coisa mais difícil que já fiz nesses últimos anos foi ter que tratá-la com frieza, como fiz ontem e hoje pela manhã.
- Não entendi.
- Era tudo parte da surpresa. Eu quis que você pensasse que eu não me lembrava, e achei que seria mais fácil se você pensasse que eu estava fugindo de você.
- Espertinho... Mas da próxima vez, ficarei feliz em apenas achar que você se esqueceu. Não precisa me tratar com frieza. Sabe que eu fico carente... – Brinquei e ele riu.
- Ainda bem, porque eu não consigo tratá-la dessa maneira. Senti falta de te abraçar e dizer o quanto eu te amo.
- Pode fazer isso agora se quiser... Para se redimir.
- Tem razão... – Ele se inclinou sobre meu corpo, e me beijou. Fechei os olhos sentindo seus lábios nos meus, mas percebi que ele abriu a gaveta da cômoda enquanto nos beijávamos. Abri os olhos e ele parou o beijo, sorrindo maroto. – O que foi? – Perguntei curiosa.
- É pra você.
Só então percebi que havia algo em sua mão. Assim que peguei a caixa de veludo que ele carregava, ele deitou-se à cama, esperando que eu a abrisse. Me sentei e olhei surpresa para a caixa em minhas mãos.
- Eu não sabia que trocaríamos presentes... Nós combinamos que...
- Apenas abra, Lety. – Ele sorria.
Passei a mão sobre o veludo da caixa e a abri, me admirando com o que havia dentro. Um delicado colar com um pingente prata em formato de morango. Sorri emocionada e voltei minha atenção para Fernando, que parecia satisfeito com minha reação.
- Você gostou? – Perguntou deitado sobre o próprio braço.
- Meu amor... É lindo! – Respondi sincera voltando a admirar o colar.
Fernando sentou-se ao meu lado e o tirou da caixinha.
- E aqui tem um detalhe... – Ele virou o pingente, aproximando-o de mim.
Forcei minhas vistas para perceber que havia algo gravado na parte de trás. As letras L, F e C. Sem precisar de muito tempo para entender o que elas significavam, olhei para Fernando de boca aberta com tamanha criatividade.
- São as nossas iniciais? – Perguntei já sabendo a resposta.
- Sim. – Respondeu sorrindo. – Você sempre diz que sente nossa falta quando se ausenta por um tempo. Essa é uma boa maneira de você nos carregar com você.
- Ah, meu amor... Isso é tão lindo! – Respondi emocionada.
- Quer que eu coloque em você?
- Por favor...
Fernando se ajoelhou à cama e eu segurei o meu cabelo para que ele colocasse o colar em mim. Assim que o colocou, olhei para o lindo pingente e suspirei emocionada. Eu nunca mais o tiraria. Assim que Fernando o fechou, me virei para ele e pulei sobre ele, abraçando-o.
- Eu adorei! Obrigada! – Falei enquanto o abraçava.
- Você merece, meu amor.
Ainda abraçada à ele, nos deitamos e nossos olhares se cruzaram.
- Eu não comprei nenhum presente para você...
- Você já me deu o melhor dos presentes. Se tornar minha esposa e me dar uma filha maravilhosa. E saiba que esses presentes valem para o resto da vida.
- Sendo assim, você também me deu esses presentes.
- É, mas eu me sinto feliz em presenteá-la com algo mais.
Sorri satisfeita.
- Meu amor, eu estava pensando em uma coisa... – Falei.
- O que?
- Acha que Irminha se importaria de passar as manhãs com Catarina?
- Acho que não. Mas, por que a pergunta?
- Eu queria voltar a trabalhar. Não que eu não goste de passar um dia inteiro com a Nina. Longe disso. Mas, eu sinto falta de trabalhar. Sinto falta de ficar com você no escritório ajudando-o. Eu sei que você disse que eu não precisaria mais disso, mas eu quero. Eu gosto.
Por um instante pensei que Fernando fosse bater na mesma tecla, dizendo que eu não precisaria me preocupar com isso, que ele sozinho conseguia resolver todos os problemas da Construtora, e que Catarina ainda era muito pequena para que eu a deixasse nos cuidados de outra pessoa. Mas, para fechar o dia de tantas surpresas, Fernando me surpreendeu mais uma vez com sua resposta.
- Eu acho que seria uma boa idéia.
- Mesmo?
- Sim! Na verdade, estou enlouquecendo com tanto trabalho, e só você é capaz de me salvar.
- Ah... Meu amor! – Sorri aliviada. - Obrigada.
- Mas, tem que me prometer que não vai ficar se preocupando desnecessariamente com Catarina.
Não respondi.
- Lety...
- Tudo bem. Eu prometo.
- Então, estamos combinados.
O olhei com ternura, me deitando sobre seu peito. Fernando me aninhou em seus braços e acariciou meu ombro com uma das mãos.
- Lety...
- Hum? – Perguntei sonolenta.
- Eu te amo. Eu te amo muito.
- Eu também te amo, meu amor...
O sono já havia me pegado, mas antes de adormecer, sorri feliz por ter uma vida maravilhosa, uma filha maravilhosa, e um marido maravilhoso. Nem em meus mais profundos sonhos eu esperava ser tão feliz.
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