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História Depois de Ti - II Temporada - Positivo?


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


2 meses depois...

Capítulo 6 - Positivo?


 

 

Lety

 

               A casa estava um completo caos no auge da reforma. Embora já tivesse um bom andamento, ainda faltavam alguns detalhes, principalmente na sala. Consegui convencer Fernando de que não precisávamos comprar uma casa nova, e ele me deixou fazer uma reforma geral em sua casa, para que pudéssemos agradar ambos os lados. Não me atrevi em mexer no seu escritório, já que era o lugar que ele mais ficava. Mas, de resto, pintamos todas as paredes de uma cor mais clara e “viva”. Trocamos as cortinas para algumas que permitiam que a luz do sol não incomodasse, mas que também não desaparecesse. Reformamos todos os quartos, principalmente o nosso. Mas, a parte mais difícil estava sendo na sala, já que havia prometido à Fernando que consideraria o seu gosto por móveis escuros, e que de maneira alguma iria mexer em sua coleção de discos.

               Depois de quase um mês planejando aquela reforma, e graças ao ótimo trabalho e empenho dos trabalhadores que Fernando pegou “emprestado” da Construtora, a reforma já estava quase sendo finalizada em pouco mais de um mês. Aproveitei que o primeiro andar estava um completo caos com todos os trabalhadores reunidos, e decidi terminar de colocar as ultimas molduras em nosso quarto. A moldura principal era uma foto nossa em nossa lua de mel, há dois meses atrás. A coloquei centralizada em cima da cama, dando um toque especial e final no quarto recém reformado.

- Amor? – Fernando parou à porta, olhando em volta. – Uau! Colocou todas elas hoje?

- Sim! – Respondi satisfeita. – O que achou?

- Ficou ótimo! E aquela ali? – Ele apontou para uma moldura em cima do móvel.

               A peguei às pressas e a abracei, impedindo-o de ver a foto que havia nela.

- É... Uma surpresa. Vou pendurá-la na sala quando estiver pronta.

- Ah... – Ele sorriu. – Eu vou à uma reunião na Construtora. Volto em algumas horas, tudo bem?

- Tudo bem!

- Se precisar de algo, me ligue.

- Vou acompanhá-lo até a porta.

               Naqueles dias de reforma total, Fernando participava das reuniões sem mim. Não porque eu queria deixá-lo trabalhar sozinho, mas porque ele dizia estar dando conta de tudo sozinho. Eu começava a me sentir deslocada sem ter o que fazer. Não queria ser uma simples dona de casa que fica com os pés para cima enquanto o marido trabalha. Mas, preferi não reclamar, já que era de certa forma um alívio para mim não precisar me preocupar com trabalho, já que estava me sentindo mal há alguns dias.

               Assim que acompanhei Fernando até a porta, coloquei as mãos nas laterais da minha cabeça, massageando-as. Ele se preparou para se despedir, mas parou no meio do caminho, me olhando.

- Está com dores de cabeça de novo?

- Sim. – Suspirei. – Estão freqüentes desde que começou a obra na sala.

- Não seria melhor você ficar em outro lugar?

- Não, está tudo bem. Só preciso de alguns remédios.

- Lety, eu já disse que não pode tomar remédios sem saber o que tem. Não é a primeira vez que você se queixa de dores e mal estar essa semana. Não prefere ir à um medico?

- Não. Você sabe que odeio hospitais.

- Todo mundo odeia, mas vão porque precisam. Eu posso te levar assim que sair da reunião.

- Não, não se preocupe. – Sorri lhe dando um rápido beijo. – Quando a reforma acabar voltarei ao normal.

- Tem certeza?

- Sim. – Sorri. – Boa sorte na reunião.

- Obrigado. Volto mais tarde.

               Escorei à porta observando ele descer as escadas e se despedir de Spike, antes de entrar no carro. Sentindo uma dor incomoda na cabeça e uma náusea inexplicável, entrei em casa procurando por Irminha. Quando cheguei à cozinha e me queixei do mal estar, Marta queria me dar todo o tipo de chá já inventando. Mas, eu detestava qualquer tipo de chá que não fosse com sabor de morango.

- Sabe o que é isso? Não está se alimentando direito! – Ralhou Irminha. – Só fica preocupada com essa reforma e mal tem tempo de comer.

- Eu prometo que vou me alimentar melhor. – Falei com a mão sobre a barriga. – É horrível esse mal estar.

- Mas Seu Fernando disse uma coisa certa. – Disse Marta. – Não pode tomar remédio se não souber o que é.

- Isso é! E se você estiver esperando um menino?

- O QUE? – Praticamente gritei, olhando-a assustada. – Enlouqueceu Irminha?

- Ora, e por que não?

- Eu não estou esperando nada! Estou esperando o Fernando voltar do trabalho e só isso!

- Por que esse nervosismo todo? – Marta perguntou. – Vocês já estão casados há uns três meses. Qual o problema de pensarem em ter filhos agora?

- Não. Definitivamente não. Eu não estou, porque eu me previno. E quer saber de uma coisa? Vocês enlouqueceram. Vou ver como está a reforma.

               Me levantei imediatamente e saí da cozinha, para evitar ouvir mais barbaridades. Era óbvio que eu não estava grávida, e eu tinha certeza absoluta disso. Achei melhor não pensar naquela besteira para não piorar o meu mal estar, e resolvi me dedicar totalmente à reforma da sala.

 

                                                                          •••

 

 

 

- O que achou disso aqui, Lety? – Conrado, um dos rapazes que estava trabalhando na obra me perguntou.

- Ótimo! Eu adorei o que fez aqui. – Apontei para o canto da parede. – Ficou realmente sensacional.

- Obrigado!

               Senti o forte cheiro de verniz e decidi me afastar dali o mais rápido possível. As náuseas haviam acabado de cessar e a dor de cabeça diminuir. Entrei no escritório, onde era o único lugar que não dava para ouvir os “transtornos” da obra, e imediatamente recebi uma ligação. Peguei o celular e sorri ao ver o nome que aparecia na tela.

- Quando tempo você não me liga, Carol. Já faz... Oito horas! – Falei rindo.

- Engraçadinha. Não liguei para fofocar. Liguei porque Fernando está preocupado com você.

- Preocupado por quê?

- Ele pediu para que eu te ligasse para perguntar se está tudo bem. A reunião ainda não acabou, mas eu dei uma fugida, você sabe...

- Eu estou bem sim. Por que ele está tão preocupado?

- Ele disse que já tem um tempo que você está sentindo dores de cabeça e mal estar.

- Ah sim. É por causa da obra. Se eu soubesse que seria tão trabalhoso assim eu teria aceitado a compra de uma casa nova. – Brinquei.

- Tem certeza que é por causa da reforma?

- Claro que sim. O cheiro de tinta e verniz é muito forte. Por quê?

- Eu acho que isso não tem nada a ver com a reforma.

- Não estou entendendo.

- Olha, estou indo para a sua casa agora mesmo para conversarmos, tudo bem?

- Mas por que...?

- Eu chego aí logo, logo.

               Sem me dar a chance de argumentar, ela desligou. Obviamente eu não me importava das visitas de Carolina ou Márcia no meio da semana, mas a maneira que ela pareceu ansiosa me preocupou. Me entreti revisando alguns relatórios que estavam em minha mesa e mal vi a hora passar. Depois de alguns minutos Irminha me chamou, anunciando a chegada de Carolina. Pedi para que ela fosse ao escritório já que não tínhamos condições de conversar na sala de estar, onde costumávamos ficar.

- Lety? Posso entrar? – Carolina entreabriu a porta.

- É claro! Entre!

               Assim que abriu a porta, vi que Márcia a acompanhava.

- Márcia! Pensei que estaria na reunião. – Disse cumprimentando Carolina.

- Eu dei uma fugidinha também. – Ela riu, me cumprimentando.

- Aconteceu alguma coisa? Vocês parecem... Ansiosas.

- E estamos! Mas só você poderá dizer se realmente aconteceu alguma coisa.

- Como assim?

- Trouxemos um presente para você.

               Carolina me entregou uma sacolinha que estava em sua mão.

- Ah... Obrigada. Mas não é nenhuma data especial.

- Isso nós veremos.

               Estranhei a atitude das duas e resolvi matar logo a minha curiosidade. Abri a sacola e tirei uma caixinha de dentro dela. No início pensei que fosse algum remédio ou pomada, mas quando li o que era, quase caí para trás de susto.

- Vocês perderam o juízo??? – Perguntei exaltada.

- Precisamos confirmar nossas suspeitas, Lety!

- Não! Definitivamente não! – Falei impaciente, devolvendo a sacola para Carolina.

- Eu não vou pegar de volta. – Carolina cruzou os braços. – Por que está tão tensa? E se você estiver?

- Mas eu não estou!

- Não seja teimosa, Lety. – Márcia ralhou. – O que tem de mais se estiver? Estão casados e com uma vida estabilizada.

- Não é por isso. Eu não teria problema se estivesse, mas eu sei que não estou.

               As duas se olharam cúmplices.

- Lety... Nós sabemos que você tem o sonho de ser mãe. Qual é o problema?

- Nenhum problema!

               Elas me encararam. Droga! Por que não sei mentir?

- Eu só... Não sei qual seria a reação do Fernando. Ainda não conversamos sobre isso.

- Não conversaram sobre ter filhos?

- Na verdade, não. Quando voltamos da lua de mel fomos logo decidir sobre a reforma, não tivemos tempo.

- Mas que tipo de pessoa não tem tempo de conversar sobre filhos? Vocês têm a noite inteira para isso.

- Talvez usassem as noites para coisas mais importantes.

- Não é nada disso! – Falei suspirando. – Só... Nunca falamos. Eu acho que ele não tem esse mesmo sonho.

- E por que ele não teria, Lety? Obviamente ele teria dito isso à você antes de se casarem.

- Eu não sei. Só... Acho que ele não quer ter filhos.

- Lety... – Carolina se aproximou. – Você já notou a relação do Fernando com a Bia?

               Bia, a filha de Laura e Eduardo, que por acaso era nossa afilhada. Eu sempre admirava a maneira que Fernando a tratava, com tanto carinho e proteção, desde que era apenas um bebê.

- Claro que sim. – Respondi.

- E você acha mesmo que um homem que trata tão bem uma criança que nem ao menos é sua filha não vai querer ter filhos?

- Carolina tem razão. – Márcia disse. – Eu mesma já elogiei varias vezes a forma como ele trata a Bia. Por mais que ele seja o padrinho dela e tenha que agir como “segundo pai”, e acho que ele faz isso de bom grado. Sendo assim, ele ficaria muito feliz se tivessem filhos.

- Talvez ele goste dos filhos dos outros, mas não queira ter um.

- Ah... Eu desisto. – Márcia suspirou.

- Não viemos aqui para ficar te perturbando, Lety. – Carolina pegou a sacola da minha mão. – Só queríamos que você ao menos desse uma chance para essa idéia. E, já que tem tanta certeza de que não está grávida, não precisa se importar em fazer o teste.

               Não respondi. Ela tinha razão.

- Está bem. Eu vou fazer, mas não agora.

- Ótimo! – Carolina respondeu animada. – Nós precisamos voltar para a Construtora. – Ela colocou a sacola em cima da minha mesa. – Você nos acompanha até a porta?

- Claro!

               Saí do escritório seguindo-as até a porta e quando viramos o corredor, nos encontramos com Fernando.

- Olá! – Ele sorriu.

- Oi Fernando. Tchau Fernando. – Márcia riu. – Já estávamos de saída.

- Já?

- Sim! Já fizemos o que tínhamos que fazer. – Carolina me olhou e eu a encarei com raiva.

- Ah sim! E você? Como está? – Ele me cumprimentou com um beijo no rosto.

- Melhor.

- Mesmo?

- Sim! – Sorri.

- Que bom, então. Preciso pegar algumas coisas no escritório, se não se importam.

- Não. Estamos realmente de saída. – Márcia se despediu, e logo depois Carolina. – Até logo.

- Até.

- Vou levá-las até a porta. – Falei e ele assentiu.

               Passamos por ele em silencio e seguimos para a porta principal.

- Ei! Não digam nada para ele sobre isso. Eu... Vou fazer o teste, mas não quero que ele saiba. Eu já sei que vai dar negativo, e não quero que ele fique neurótico com isso.

- Tudo bem. Mas... Nos ligue assim que fizer o teste. Mesmo que dê negativo.

- Vai dar negativo, Márcia.

               Ela revirou os olhos e me abraçou, se despedindo.

- Eu espero que não dê negativo. – Carolina sorriu, me abraçando.

               Achei melhor não responder. Não era a primeira vez que elas deduziam que eu estava grávida. Até mesmo antes da nossa lua de mel, que por acaso eu ainda era virgem, elas acharam que eu estava grávida quando tive uma simples virose. Carolina e Márcia sempre deixaram claro que queriam que Fernando e eu tivéssemos um filho o mais rápido possível, e embora a idéia de ser mãe me agradasse, eu não saberia dizer se seria o mesmo para Fernando. Assim que as duas foram embora, voltei para o escritório na tentativa de voltar ao trabalho e me entreter com outra coisa. Mas, assim que abri a porta, Fernando estava parado diante da minha mesa analisando o conteúdo de uma sacola. No mesmo instante prendi minha respiração, e tentei pensar em uma ótima desculpa para aquilo.

- O que é isso? – Ele olhou para mim, apontando para a caixa do teste.

- É... Um... Teste. – Falei sem conseguir pensar em alguma desculpa.

- E para que isso?

- Oras... Para que se usa um teste?

- Quero saber para que você comprou um teste de gravidez.

- Não fui eu que comprei. Márcia e Carolina trouxeram.

- E por quê?

- Eu não sei!

- Você está pensando... Que está...?

- Não! – Respondi imediatamente. – Não, eu não estou pensando nada. Elas que colocaram na cabeça que eu posso estar, mas eu não estou! Não estou mesmo!

- E como tem tanta certeza disso?

- Porque eu tenho, oras!

- Você já fez algum teste?

- Não.

- Então não tem como tem certeza.

- É claro que tenho, Fernando. Você sabe muito bem que eu me previno com o anticoncepcional.

- Eles não têm cem por cento de eficácia. Além do mais, você nunca se lembra de tomar no horário certo e várias vezes já se esqueceu de tomá-lo.

- Fernando, eu não estou grávida! – Respondi com certa impaciência, andando até ele tomando a caixa de sua mão. – Não estou! – O guardei na sacola.

- Se tem tanta certeza, faça o teste.

               Suspirei impaciente.

- Por que quer tanto que eu faça o teste? – O olhei.

- Porque agora eu quero uma prova de que não está mesmo grávida.

               Ele parecia tenso, e mais um pouco que eu negasse poderia acarretar em uma longa discussão onde ele perderia a cabeça e eu teria que correr atrás para fazermos as pazes. E com toda aquela dor de cabeça e náusea que pareciam ter voltado com toda a força, eu não estava afim de adular ninguém.

- Está bem! – Respondi com raiva. – Eu vou fazer essa porcaria de teste.

               Saí do escritório batendo os pés.

 

 

                                                                                         •••

 

 

               Eu já estava exausta de esperar aqueles malditos minutos. Sem contar a dificuldade de conseguir acertar a mira naquele objeto minúsculo. Eu definitivamente não tinha nenhuma vocação para isso, e praguejava mentalmente por terem me obrigado a fazer aquele tipo de coisa. Depois de passar os minutos necessários para o resultado, olhei de todas as formas possíveis para aquele objeto, mas não consegui de jeito nenhum descobrir o resultado. Abri a porta do banheiro completamente irritada, e Fernando rapidamente se levantou da cama, me olhando como se tivesse acabado de ver uma assombração.

- Acho que está quebrado, não sei. – Falei segurando o teste.

- Por quê?

- Para dizer a verdade, não entendo nada disso. Seria muito mais fácil se viesse com uma frase escrita “não, Letícia, você não está grávida. Não seja estúpida”.

- Me deixe ver. – Fernando puxou o teste de minhas mãos, sem a mínima noção de higiene.

               Mas, julgando pela sua feição, a ultima coisa que ele se importava naquele momento era a higiene.

- O que foi? O que deu? – O olhei apreensiva. Por mais certeza que eu tivesse de que não estava grávida, a maneira tensa que ele encarava o teste estava me assustando. – Fernando!

               Ele se moveu, mas não me deu uma resposta. Tirou o seu celular do bolso e discou um numero qualquer.

- Fernando, quer me dizer o que aconteceu? – Perguntei já impaciente, mas novamente não tive resposta alguma.

               Suspirei irritada e me sentei à cama, esperando a boa vontade dele de me explicar o que estava acontecendo.

- Eduardo! – Ele deu um passo à frente

- Eduardo? Por que ligou para o Eduardo? – Perguntei já sabendo que seria ignorada.

- Preciso de um favor. Aconteceu... Uma emergência.

- Fernando! – Me levantei revoltada.

- Não... Não aconteceu nada com ela. Bom... Na verdade aconteceu. Mas... Eduardo, por favor. É urgente. Laura está com o horário livre agora? – Ele esperou por um momento, provavelmente recebendo uma bronca por tê-lo assustado sem nenhuma precisão. – Ótimo. Se puder ligar para ela, diga que eu e Letícia estamos indo imediatamente para o consultório.

- Mas que droga é essa, Fernando? – Perguntei completamente nervosa.

- Sim... Precisa ser agora. – Ele me olhou e suspirou tenso. – Lety fez o teste de gravidez, e ele deu positivo.

 

 

                                                                                         •••

 

 

- Fernando, quer ir mais devagar, por favor?

               Ele não me respondeu, muito menos me deu ouvidos. Estava com aquela horrível mania desde quando colocou na cabeça que o teste havia dado positivo. Eu estava tão certa de que não estava, ou ao menos queria estar certa disso, que não estava tão nervosa quanto ele. Chegaríamos ao consultório e Laura imediatamente diria que estávamos loucos, e que eu não estava grávida. Mas, Fernando não pensava da mesma maneira que eu, e era notável pela maneira que ele andava acima da velocidade (o que não era nenhuma novidade) e por ficar o tempo inteiro em silencio, ignorando qualquer pergunta que eu fazia à ele.

               Por fim chegamos ao consultório, e Fernando sequer abriu a porta para que eu descesse. Estava tão transtornado que só faltou entrar no consultório sem mim, mas ao menos para isso ele pareceu ter bom senso, e me esperou na portaria. Quando adentramos, Laura já estava nos esperando na recepção, e estava visivelmente assustada. E não era para menos.

- Fernando! Lety! – Ela nos cumprimentou, abraçando-nos. – Fiquei preocupada. Eduardo não soube explicar, mas disse que vocês estavam vindo às pressas. O que foi?

- Podemos... Conversar na sua sala?

- É claro. Venham, por favor.

               Acompanhamos Laura por um corredor até chegarmos à sua sala. Assim que entramos, eu me sentei pesadamente à cadeira, mas Fernando permaneceu em pé.

- O que foi que aconteceu?

- Isso. – Fernando colocou o teste em cima da mesa dela. Laura pegou o teste e o analisou, olhando para mim logo depois.

- Lety... Mas isso é... É fantástico! – Ela exclamou animada.

- Isso está errado, Laura. Só pode estar com defeito. Eu não estou grávida. – Me defendi.

               Fernando deu um longo suspiro e o sorriso de Laura diminuiu, talvez notando a tensão que havia entre nós dois.

- Ah... Entendo.

- Você pode fazer um teste mais eficaz, não é? – Fernando perguntou com as mãos na cintura.

- Sim, eu posso. Mas o resultado não é imediato. Posso adiantá-lo, mas o máximo que consigo é até amanhã.

- Até amanhã? Tudo isso?

- Sinto muito, Fernando. Mas... Posso saber por que estão dessa maneira?

               Nenhum de nós dois respondeu à pergunta.

- Bom... Então preciso dar uma de psicóloga também, não é? Fernando, você pode esperar lá fora por um tempo? Preciso conversar com a Lety.

- Sim.

               Fernando imediatamente saiu da sala, como se estivesse esperando alguém lhe pedir aquilo. Laura sentou-se em sua cadeira e debruçou-se sobre a mesa, me encarando.

- Me conte. O que está acontecendo com vocês?

- Nada! Ele que ficou louco depois que viu o resultado do teste.

- E você não?

- Não, porque sei que não estou.

- Por que tem tanta certeza?

- Por que... Eu tenho. Eu me previno.

- Lety, nós duas sabemos que você não se previne como deveria. Você se esquece sempre de tomar os remédios, e já conversamos sobre isso. E além do mais, já lhe expliquei que esse método de prevenção não é cem por cento eficaz, principalmente quando não é utilizado corretamente.

- Laura... Eu não estou grávida. – Me aproximei da mesa. – Eu... Não posso.

- Muito bem. Então... Vamos adotar a sinceridade nessa conversa. Você não quer estar grávida, ou você não pode estar grávida?

               Não respondi.

- Lety, você e Fernando já conversaram sobre isso?

- Não. – Abaixei a cabeça. – Eu... Acho que ele não quer ter filhos.

- E como acha isso se nunca conversaram sobre isso?

- Exatamente por esse motivo. – Voltei a olhá-la, com os olhos marejados. – Por quanto tempo você e Eduardo planejaram ter a Bia?

- Isso depende de cada casal, Lety. Eduardo e eu tínhamos certeza que queríamos ter filhos antes mesmo de nos casarmos. Nós só nos organizamos para isso.

 - Viu só? Porque queriam. Fernando jamais tocou nesse assunto.

- Talvez por falta de oportunidade, ou talvez estivesse esperando você tocar no assunto.

- Eu não sei. Não consigo me convencer.

- Então se você estiver mesmo grávida, o que é bem provável, você prefere continuar negando até quando? Só pelo fato de não saber se Fernando quer ser pai ou não?

               Suspirei culpada.

- Ah... Você tem razão. – Afaguei meu rosto em minhas mãos.

- Lety, esqueça que eu sou uma profissional nesse momento, e vamos conversar de amiga para amiga. Como vai se sentir se estiver mesmo grávida?

               Tirei meu rosto de minhas mãos e a olhei, sorrindo triste.

- Para dizer a verdade... Desde que me casei com Fernando eu sonho em constituirmos uma família. Eu... Vou ficar muito feliz se estiver mesmo. Mas... Tenho medo do que ele vá pensar.

- Lety, os homens tem uma maneira diferente de reagir à notícias assim. Fernando só está assustado. Eu tenho certeza que ele também vai ficar feliz se o teste der mesmo positivo. Ele só precisa... De um tempo.

- Você acha?

- Claro que sim! Ele é um ótimo padrinho para a Bia, e tenho certeza que será um ótimo pai.

- É... Tem razão. – Sorri.

- Vá para casa, converse com ele sobre isso, e amanhã quando tiver o resultado eu avisarei. Assim já estarão preparados para o sim e para o não.

- Certo. – Me levantei. – Desculpe pelo transtorno, Laura. Sei que já estava no seu horário de ir embora.

- Não se preocupe com isso. Fico feliz por terem me procurado. Agora... Podemos começar com o teste?

- Sim!

               Laura achou melhor que fizéssemos o procedimento sem Fernando, para evitar qualquer tipo de nervosismo e tensão de sua parte. Não demorou muito para Laura coletar o meu sangue, e rapidamente já tínhamos terminado. Saímos de sua sala e Fernando estava sentado na recepção, com o rosto entre suas mãos.

- Então... Vou mandar imediatamente para o laboratório e amanhã mesmo eu consigo o resultado. Aviso vocês assim que o tiver.

- Tudo bem. – Sorri. – Obrigada, Laura.

- Imagina. – Ela me abraçou. – E conversem.

- Pode deixar. – Sorri.

               Fernando se levantou e veio em nossa direção, parecendo um pouco mais relaxado do que antes.

- Eu disse à Lety que consigo o resultado amanhã, e avisarei vocês.

- Certo. Obrigado, Laura.

- Não há de que.

- E desculpe vir em cima da hora.

- Amigos são para isso.

               Fernando se despediu com um beijo em seu rosto, e finalmente fomos embora. Todo aquele transtorno e confusão me deixou totalmente indisposta, embora a minha excitação estivesse diferente de minutos antes. Depois da conversa com Laura, não pude evitar de me sentir feliz com aquele teste positivo. Como ela mesmo disse, havia 95% de chance de eu estar mesmo grávida. Voltamos para casa em silencio durante todo o caminho, mas eu já não me preocupava com o silencio de Fernando. Estava pensando na idéia de ser mãe, e de como isso me deixaria feliz.

               Ao chegarmos em casa, fui diretamente para a cozinha ajudar Marta com o jantar. Foi difícil manter segredo dela e de Irminha, mas eu preferia dar a notícia quando tivéssemos certeza.

- Você está diferente, Lety. – Irminha me olhou.

- Diferente como?

- Não sei... Com... Um brilho diferente nos olhos.

- Impressão sua Irminha.

- Você e Seu Fernando estão bem? Ele pareceu tão calado quando chegaram.

- Estamos bem. Ele só está cansado.

               Irminha não me fez mais perguntas, e eu a ajudei a arrumar a mesa. Eu queria ter a conversa com Fernando o mais rápido possível, para que eu finalmente pudesse tirar todo aquele peso e ficar cem por cento feliz com a notícia. Mas, durante todo o jantar ele esteve calado e de cabeça baixa, mal tocando em sua comida. Achei que não seria a ocasião ideal para esse tipo de conversa, e também fiquei em silencio durante todo o jantar. Ficamos daquela maneira o resto da noite, principalmente porque ele se enfiou no escritório e só saiu quando deu a hora de irmos dormir, como de costume.

               Aproveitei o clima quente daquele dia e fui tomar um banho para me refrescar. Enquanto a água da ducha percorria o meu corpo, não pude evitar e baixar minhas mãos até o meu ventre e repousá-las ali, sorrindo abobada. A verdade era que eu não tinha pensado na possibilidade de ser mãe tão rápido, embora fosse um sonho em segredo. Mas, diante de tudo que aconteceu, eu não poderia mentir dizendo que não estava feliz e empolgada com a probabilidade de estar mesmo grávida. Saí do banho e olhei para o meu reflexo no espelho, sorrindo radiante. Irminha tinha razão, eu estava mesmo com um brilho diferente no olhar.

- Não, Letícia. Não pense com tanta certeza. Ainda há probabilidades de o teste ser negativo e ter dado erro. Você não pode se empolgar dessa maneira.

               Mas, era impossível não me empolgar. Passei o dia inteiro negando estar mesmo grávida, e quando finalmente aceitei, era quase uma crueldade a vida me tapear com um resultado negativo. Achei melhor não continuar pensando naquele assunto, e vesti minha camisola, saindo do banheiro logo depois. Fernando já estava deitado, mas permanecia com os olhos vidrados no teto, como se estivesse perdido em seus pensamentos.

               Me deitei ao seu lado na cama e assim que me ajeitei em uma posição confortável, me virei para ele.

- Você está bem?

- Sim. – Respondeu simplesmente.

               Só isso? Não tem nada mais para dizer?

- Eu estou vendo. – Respondi irritada, me virando de costas.  – Quer saber? – Me sentei à cama, olhando-o. – A idéia de eu provavelmente estar grávida o perturba tanto?

               Ele me olhou.

- Porque se sim, deveria ter dito que não tinha a intenção de constituir uma família comigo quando nos casamos, porque é isso que os casais costumam fazer! – Esbravejei.

               Fernando me olhou assustado, talvez pelo modo que eu falava com ele, mas eu não conseguiria me conter. Aquele silencio estava me tirando do sério, principalmente por ele não dizer o que achava realmente sobre aquele assunto.

- Eu sinto muito se você não ficar feliz com isso, mas eu terei o meu filho de qualquer maneira, quer você assuma ele ou não!

               Me deitei irritada, de costas para ele.

- Ei! – Se aproximou de mim, tocando meu ombro. – Eu jamais pediria isso à você.

- Não é o que parece. – Me virei para ele.

- Eu jamais pediria para você criar um filho sozinha, Lety.

               Esperei que ele continuasse o desabafo, mas novamente ele deitou, dessa vez apagando o abajur.

- Conversamos sobre isso amanhã. Estou com a cabeça cheia hoje.

               Óbvio! Irritada voltei a virar as costas para ele, me sentindo totalmente contrariada. Sem cabeça para continuar uma discussão, adormeci, e inevitavelmente com a mão sobre meu ventre.

 

 

                                                                          •••

 

 

 

               No dia seguinte não tive outra opção a não ser contar tudo para Marta e Irminha. Fernando acordou mais cedo do que de costume e desde então se enfiou dentro do escritório, sem ao menos tomar café da manhã. Só me restou ir para a cozinha jogar conversa fora com Marta, e durante essa conversa, expliquei porque Fernando estava tão estranho. No início elas comemoraram, felizes por eu estar (provavelmente) grávida. Mas, perceberam o quanto eu estava magoada com a atitude estranha de Fernando, e tentaram me animar.

- Ele só está tenso, Lety. É normal. – Irminha disse. – Você não pode achar que ele não quer ter um filho, porque se não ele não teria se casado com você.

- Muitos casais resolvem não ter filhos, mesmo depois de casados.

- Mas vocês não são assim. – Marta disse. – Um filho é uma benção, e tenho certeza que a qualquer momento ele vai cair na real e se sentir feliz com isso.

- Será? – Suspirei triste.

- Mas o que é isso? – Irminha colocou as mãos na cintura. – Você não deveria estar assim! Deveria estar feliz, comemorando!

- Mas eu ainda não tenho certeza se estou grávida. E se eu não estiver e me desapontar depois?

- Lety... O seu problema é que você diz muito “e se”. – Marta disse seriamente. – Você precisa parar de se preocupar tanto. Vai acabar adoecendo, menina!

- Marta tem razão.

               Suspirei olhando-as.

- Tudo bem. Então... Se eu estiver realmente grávida... – Sorri.

- Ah! Eu vou bordar tantos sapatinhos! – Irminha disse encantada.

- Precisamos planejar o enxoval! Um enxoval unissex porque não vamos saber o sexo. – Marta se juntou à ela.

               No início achei graça da maneira que elas planejavam tudo com tanta empolgação, mas acabei me deixando levar, e quando dei por mim, estava pesquisando preços de enxovais na internet. Mesmo que eu não soubesse o resultado definitivo, foi importante para mim ter arranjado algo para me distrair e aliviar toda a tensão que eu estava sentindo. Mas, justo no momento que eu estava me sentindo tão bem e mais leve, Fernando apareceu na porta da cozinha, nos olhando com seriedade.

- Posso falar com você? – Ele perguntou diretamente para mim.

               Olhei para Marta e Irminha e me levantei, andando em sua direção. Ele seguiu para a sala de jantar, de onde dava para ouvir toda a bagunça da obra na sala ao lado.

- Eu acho que você não deve fazer tantos planos sem antes saber o resultado. – Ele falou com certa frieza e eu o olhei indignada.

- Como é que é?

- Não quero que você se decepcione se o teste der negativo, e você já está planejando inclusive a cor do berço.

- Me desculpe se ao menos um de nós dois está empolgado!

- Lety...

- Não! – Falei irritada, apontando o dedo para ele. – Eu passei um dia inteiro negando essa gravidez, e quando finalmente aceito a possibilidade de estar grávida você tenta me desanimar. Mas eu não sou como você! Se você está sendo um insensível e não se preocupa com isso, o problema é seu! Me convenceram tanto de que o teste era 95% eficaz que adivinhe só? Eu agora acredito que possa estar realmente grávida! E quer saber? Estou completamente feliz com isso, porque é um sonho que tenho desde muito tempo!

               Suspirei tomando fôlego, e de repente a sala ficou completamente abafada. Balancei a gola da minha blusa e respirei ofegante, tentando recuperar o ar que parecia ter desaparecido.

- Está tudo bem? – Fernando me olhou preocupado.

- Estou bem. – Falei de imediato. – Só... Vou me deitar um pouco. Todo esse barulho e cheiro de tinta está me deixando tonta.

- Você quer que...

- Não. Eu não quero. – Sem esperá-lo terminar, lhe dei as costas, seguindo para a escada.

               Um pouco eu realmente precisava me deitar para aliviar aquela horrível sensação de tudo girar ao meu redor, mas um pouco eu também queria fugir daquela conversa. Não estava afim de discutir com Fernando naquele momento, e obviamente era o que iria acontecer se continuássemos naquela conversa.

 

 

                                                                          •••

Fernando

 

               Eu estava sentindo que minha cabeça iria explodir a qualquer momento, e não era por causa de toda a barulheira da obra, que graças à Deus não chegava ao escritório. Bati a porta com raiva e tirei o meu paletó, jogando em qualquer canto. Segui para minha mesa e me sentei pesadamente à cadeira, escondendo o rosto nas próprias mãos. Se Letícia ao menos soubesse o que estava me deixando daquele jeito...

 

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               Fernando abriu a porta do escritório estranhando o completo silencio. Andou silenciosamente pelo corredor até chegar à sala, que milagrosamente não estava em obras. Ele procurou por Letícia ou ao menos por Irminha, mas nenhuma das duas parecia estar ali. A casa parecia estar completamente vazia. Antes que pudesse continuar sua procura, ele ouviu um barulho vindo da porta da frente. Esperando por Letícia, ele espantou-se ao ver que era uma criança de aproximadamente um ano, caminhando em sua direção e sorrindo.

- Papá... – Ela falava com os braços esticados. Sem saber exatamente o que fazer, ele pegou a criança no colo, notando que ela se parecia muito com ele.

               De repente, outra criança apareceu, mas essa de aproximadamente cinco anos. Ela não seguiu na direção de Fernando, pelo contrário. Andou até a estante onde havia a sua coleção de CDs e começou a escalá-la.

- Não! – Fernando correu até ela, pegando-a no colo.

               Quase no mesmo instante um barulho vindo do jardim chamou sua atenção. Ele olhou através da janela esperando que Celso estivesse cortando a grama, mas correu em disparado quando viu que uma criança um pouco maior conduzia o cortador, prestes a deixá-lo escapar de suas mãos. Fernando correu com as duas crianças no colo até se aproximar da outra, desligando imediatamente o cortador. A criança chorou, e ele não soube como tranqüiliza-la, e nem teve tempo para isso. De repente o jardim estava lotado com crianças de várias idades, e cada uma fazia algo perigoso para se arriscar. Fernando sentiu o suor escorrer nas laterais de seu rosto e não soube o que fazer. Estava começando a se sentir sufocado com tantas crianças, até que notou que a criança que estava no seu colo segurava uma tesoura. Antes que Fernando pudesse gritar, tudo escureceu.

 

 

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               Ergui minha cabeça assustado e percebi que estava totalmente suado. Olhei em volta, reconhecendo que ainda estava no meu escritório. Senti meus braços dormentes, e imaginei que tivesse pegado no sono ali mesmo, já que não consegui fazer isso durante toda a noite. A porta se abriu tirando minha atenção, e Letícia me olhou parecendo tensa.

- Laura está aqui. Com o teste.

               Imediatamente me levantei e andei apressado até a porta, acompanhando Letícia até a sala.

- Por que está suando assim? – Ela perguntou me olhando.

- Nada. Está... Calor.

               Não quis admitir o pesadelo que tive, ou novamente ela iria se irritar dizendo que eu não queria ter um filho e tudo mais que ela jogou em minha cara nas ultimas horas. Ao chegarmos à sala de jantar, Irminha acabava de entregar um copo de água para Laura, que se levantou imediatamente quando nos viu.

- Pensei que as obras já tivessem acabado. – Ela sorriu, cumprimentando cada um.

- Ainda falta a sala, mas já está terminando. – Lety sorriu.

- E então...? – Não consegui evitar a ansiedade, e Laura suspirou.

- Está aqui. – Ela pegou um envelope sobre a mesa. – Peguei no laboratório agora a pouco e vim direto para cá. Não tive tempo de olhar. – Disse esticando o envelope para Letícia.

- Não. – Ela balançou a cabeça. – Não vou conseguir ler. Faça isso, por favor.

- Como quiser.

               Nos sentamos à mesa enquanto Laura abria o envelope e analisava o papel em sua mão. Tentei saber a resposta olhando-a enquanto estudava os resultados, mas foi impossível. Sua feição estava séria demais para interpretar qualquer coisa. O meu coração já estava em ritmo de escola de samba, e minhas mãos não paravam de suar. Letícia parecia estar igualmente tensa, e não parava de bater as unhas sobre a mesa.

- Bom... – Laura colocou o papel sobre a mesa e nos olhou.

- E então? – Perguntei nervoso.

               Laura permaneceu séria por longos torturantes e silenciosos minutos, até abrir um largo sorriso, empolgada.

- Você está mesmo grávida, Lety! – Ela comemorou.

               Olhei imediatamente para Letícia, esperando que tivesse a mesma reação que Laura. Mas, para minha surpresa, ela parecia magoada, com os olhos marejados e vermelhos. Antes que eu pudesse perguntar o que ela tinha, ela se levantou dizendo um quase indecifrável “com licença” e se retirando da sala as pressas. Olhei para Laura sem entender, e ela me olhava do mesmo jeito.

- O que foi que deu nela? – Ela perguntou.

- Eu vou ver. Pode me dar licença?

- É claro.

- Eu não demoro.

               Me levantei e saí atrás de Lety, imaginando que ela tivesse ido para o nosso quarto. Subi as escadas pulando os degraus, e acertei o meu palpite ao parar na porta do quarto e vê-la sentada na cama, de costas para a porta. Provavelmente estava tentando esconder que estava chorando, mas eu a conhecia bem para notar que seus ombros mexiam de acordo com os soluços quase silenciosos. Dando um longo suspiro eu me aproximei da cama, sentando-me ao seu lado e colocando a mão em seu ombro.

- Pensei que ficaria feliz. – Falei.

- E eu estou. – Ela respondeu sem me olhar.

- Não parece.

- Eu estou bem.

- Não, não está.

- Estou mesmo bem.

- Letícia, você não está!

- Por que você está se preocupando? – Ela me olhou com o rosto marcado pelas lagrimas e os olhos vermelhos. – Passou dois dias sem conversar direito comigo e de repente está preocupado?

- Eu...

- Sinceramente, eu não sei o que pensar de você. É impossível eu ficar feliz com uma notícia assim se não sei absolutamente nada do que você pensa sobre isso. Você não conversa, não desabafa, não diz se está feliz ou não. Como quer que eu fique diante de tudo isso? É impossível demonstrar qualquer tipo de felicidade no meio de tanta frieza e insensibilidade.

               Ela voltou a chorar, dessa vez, tampando o rosto com as mãos. Respirei fundo me sentindo péssimo com aquela situação, e me aproximei ainda mais, beijando seu ombro e abraçando-a pela cintura.

- Quer mesmo saber o que acho de tudo isso?

- Sim. – Respondeu ainda tampando o rosto.

- Eu estou morrendo de medo.

               Tirando as mãos do rosto, ela me olhou confusa.

- Medo? Medo de que?

- Medo de não conseguir.

- Conseguir?

- Porque eu não quero ser um pai ausente, como meu pai foi. Não quero cometer os mesmos erros que ele para que o meu filho cresça revoltado, assim como eu. Tenho medo de não conseguir ter uma boa relação com ele. Tenho medo de errar uma vezinha sequer com ele, e decepcioná-lo de alguma maneira.

               Ela limpou as lágrimas e virou-se totalmente para mim.

- Mas você não será assim. – Disse segurando minha mão. – Você é uma pessoa maravilhosa. Precisa parar de achar que não é suficiente para qualquer coisa. Você teve medo de não ser suficiente para mim, e olhe só como estou hoje. Você me faz feliz.

- Nem sempre. Eu te faço chorar às vezes. – Brinquei e ela riu.

- Não é bem assim. Você sabe que sou emotiva. Mas, sim... Algumas vezes você me deixa um pouco chateada.

- Me desculpe por isso. Eu tento o meu máximo, mas algumas vezes saio da linha.

- Eu sei. – Ela sorriu. – E isso te faz humano como qualquer outra pessoa.

               Sorri agradecido, apertando sua mão.

- E quer saber? Eu tenho certeza que você será um pai maravilhoso.

               Senti que meu coração explodiria a qualquer momento, e a puxei para um abraço, antes que eu me emocionasse mais do que deveria. Não apenas pelas palavras bondosas que ela me disse, mas por finalmente me sentir aliviado e conseguir aproveitar a notícia maravilhosa que recebemos. Me afastei do abraço e olhei em seus olhos, abrindo um largo sorriso.

- E você não sabe o quanto fiquei feliz quando soube que o resultado deu positivo.

- Mesmo?

- Muito. Não tenho... Como explicar. – Disse sincero. – Acho que é o momento mais feliz da minha vida.

               Ela sorriu e me puxou para outro abraço. Era definitivamente o momento mais feliz da minha vida. Embora ainda tivesse receio de como seria ser pai de primeira viagem, ter um filho da mulher que eu amava era a melhor notícia que eu poderia receber.

- Obrigado por me proporcionar isso, Lety. – Falei enquanto a abraçava.

               Eu precisava agradecê-la por me proporcionar momentos assim. Somente ela conseguia isso, e mesmo que simples palavras não fossem suficiente para agradecê-la, eu queria de alguma maneira dizer que graças à ela, eu era o homem mais feliz do mundo. E agora... Por completo. 



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