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História Depois de Ti - II Temporada - Atarefado


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


3 meses depois...

Capítulo 7 - Atarefado


Fernando

 

 

               Letícia estava há exatamente sete minutos se olhando no espelho de todos os ângulos possíveis. Eu não sabia se ela tinha notado que eu a olhava, mas chegou um momento que não consegui mais prender o riso, e ela virou-se para mim.

- O que foi? – Perguntou inocente.

- Você está aí na frente do espelho há quase dez minutos. – Falei ainda rindo.

- Tudo isso? – Ela sorriu sem jeito, virando-se novamente para o espelho. – É que... Notou alguma coisa diferente? – Perguntou virando-se de lado.

- Diferente como? – Me levantei da cama, caminhando até ela.

- Parece que cresceu mais um pouco, não acha?

- De ontem para hoje?

- Sim!

               Todos os dias desde que descobrimos a gravidez, Lety fazia questão de se olhar no espelho esperando ansiosamente que a barriga crescesse. No auge dos três meses e meio era notável uma diferença, mas Letícia tinha certeza que todos os dias o tamanho aumentava, o que era de certa forma impossível. Mas, eu não queria desanimá-la, e muito menos parecer desinteressado, principalmente pelo fato de adorar a maneira que ela se admirava no espelho.

- Eu acho que tem razão. – Me posicionei atrás dela, olhando seu próprio reflexo no espelho. – E quer saber? Você está cada dia mais linda.

               Ela sorriu e eu a abracei por trás, repousando minhas mãos sobre sua barriga.

- Acha que será um menino ou uma menina? – Perguntei escorando minha cabeça em seu ombro.

- Hum... Eu ainda não sei. Às vezes penso que é um menino, porque tenho fome o tempo inteiro.

- E o que tem de mais?

- Ora, para querer comer tanto só pode ser um menino.

               Balancei a cabeça rindo.

- Mas algo me diz que é uma menina. Sabe... Como uma intuição.

- Quer saber? Eu também voto em menina.

- É mesmo? Pensei que quisesse um menino.

- Por quê?

- Porque imagino que a maioria dos homens queira um menino.

- Na verdade, ficarei feliz de qualquer maneira, sendo um menino ou uma menina.

- Eu também. – Disse virando-se para mim, me envolvendo pelo pescoço e me beijando logo depois. – Hum... Sabe que essa gravidez me deixa um pouco... Fogosa?

- Sei. E como sei. – Ri entre o beijo. – E eu gostaria muito de aproveitá-lo, mas... Tenho uma reunião marcada e preciso me arrumar.

- Ah não... – Reclamou ainda me beijando seguidamente. – Você não pode faltar hoje?

               Enquanto me beijava e tentava me convencer, ela me guiava na direção da cama, e só Deus sabe o quanto tive que ser forte para tentar resistir.

- Você sabe que eu queria. Queria muito. – Apertei sua cintura.

- Então fica, por favor...

               Ouví-la implorar daquela maneira tão manhosa enquanto me enchia de beijos e me conduzia até a cama era definitivamente uma prova de fogo da qual eu não conseguiria escapar. Eu não conseguia simplesmente dizer “não” para ela, principalmente quando o que eu mais queria era tê-la em meus braços logo pela manhã. O meu dia sempre começava melhor quando isso acontecia. Sem conseguir resistir a sua súplica, assim que senti a cama atrás de mim, me deitei, puxando-a para cima de mim. Ela gargalhou e logo depois posicionou-se por cima de mim, voltando a me beijar.

               A mudança de Letícia quanto à nossa relação sexual me surpreendia. Desde nossa primeira vez eu já estava admirado por ela saber fazer tantas coisas e de uma maneira que me enlouquecia, mas, ela definitivamente conseguia me surpreender mais a cada dia. Essa mulher me dominou por completo, e eu não seria capaz de resistir às suas provocações, principalmente por serem freqüentes naquelas ultimas semanas.

               Enquanto nos beijávamos, não consegui me controlar e logo passei minhas mãos por suas coxas, subindo vagarosamente sua camisola. Ela cessou o beijo e me olhou provocativa, mordendo os lábios. Ela sabe! Sabe que isso me enlouquece! Assim que subi sua camisola na altura de sua coxa, toquei o seu quadril e o apertei, fazendo-a suspirar e sorrir logo depois. Uma das coisas que mais me excitava era vê-la sorrindo maliciosamente enquanto fechava os olhos de prazer. Sentindo o meu corpo inteiro ferver, afaguei uma das mãos entre os seus cabelos e o segurei sem muita força. Ela voltou a me beijar, dessa vez com mais gana. Podia-se ouvir nossas respirações ofegantes por todo o quarto, e eu sabia exatamente onde aquilo levaria. Com uma das mãos livres, toquei na lateral de sua lingerie e me preparei para abaixá-la, mas fomos interrompidos pelo maldito toque do meu celular. Letícia parou o beijo e me olhou, mas por alguns segundos torci para ser apenas coisa da nossa cabeça, e voltei a beijá-la, sem querer interromper aquele momento maravilhoso.

               Mas o toque estava infernal, e era impossível ignorá-lo. Mais uma vez Letícia parou o beijo e me olhou, dessa vez chamando minha atenção.

- Você precisa atender. – Falou com a respiração ofegante.

- Depois. – Tentei beijá-la novamente, mas ela riu, se inclinando sobre mim para pegar o celular sobre a cômoda, e aquilo me deixou ainda mais excitado.

- Pode ser importante. – Disse sentando-se sobre mim, me entregando o celular.

               Revirei os olhos e praguejei a maldita pessoa que estava atrapalhando aquele momento. Dei um longo suspiro passando a mão em meu rosto e sem olhar o numero apertei furioso o botão de atender.

- Pronto! – Falei com certa arrogância.

- Filho!

- Papai?

- Está ocupado?

               Olhei para Letícia que ainda estava sentada sobre mim, e baixei os olhos para o volume em minha calça.

- Não. Não estou ocupado.

               Letícia colocou as mãos à boca prendendo o riso.

- Que bom! Na verdade, preciso de um favor. Se não for muito incomodo, preciso que traga alguns contratos aqui em casa para revisarmos. Já está chegando a data de renovação de alguns, mas eu queria fazer isso com você.

- Precisa ser... Nesse instante?

- Gostaria que fosse o mais rápido possível. Não quero ter que fazer isso na Construtora, e acho que trabalharemos melhor aqui em casa. Não quero ter que aborrecer a Lety com essas coisas também, principalmente agora.

- Tudo bem. Eu chego aí em alguns minutos.

- Certo, obrigado!

- Até logo!

- Até!

               Desliguei o celular jogando-o sobre a cama. Olhei para Letícia e ela colocou as mãos sobre meu peito, sorrindo divertida.

- Eu sinto muito por isso. – Ela me olhava com ternura.

- Não é culpa sua. Mas... Vou querer uma recompensa por isso depois. – Sorri.

- Como você quiser. – Ela se inclinou sobre mim, me beijando carinhosamente. – Agora, é melhor você ir. Não me atrevo a fazer você se atrasar com um compromisso com seu pai.

- Uma pena.

               Ela riu e se levantou, me deixando completamente desnorteado, tanto em pensamentos quanto fisicamente.

- O que vai fazer hoje? – Perguntei me levantando, ajeitando minha calça e o resultado de tantas provocações.

- Bom, já que estou impedida de ficar trancada no escritório sozinha... Acho que vou...

- Ah, droga! – Bati em minha própria testa. – Me esqueci da reunião.

- Ela é tão importante assim?

- Sim! É um cliente importante, e hoje ele iria nos apresentar o seu novo Presidente. Precisava estar mesmo presente.

- Eu posso representá-lo.

- Não. – Falei rapidamente.

- E por que não? – Perguntou contrariada. – Eu sou a sua assistente ainda!

- Você é mais do que isso, mas nós combinamos. A partir do terceiro mês você não iria mais se sobrecarregar com o trabalho.

- Mas eu não vou me sobrecarregar. É apenas uma reunião, e eu vou estar te representando. Não tem nada de mais nisso...

- Lety...

- Meu amor, eu sei que você só quer o meu bem. O nosso bem. – Ela se aproximou, acariciando meus ombros. – Mas realmente é necessário me excluir de tudo sobre a Construtora? Laura já disse que não tem necessidade disso.

- Eu sei... – Suspirei. – Eu só... Me preocupo com vocês.

- E nós agradecemos por isso. – Ela sorriu. – Mas acredite, se me deixar sozinha em casa sem fazer nada o dia inteiro será muito pior.

- É mesmo?

- Com certeza!

- Bom, sendo assim... Acho que não tenho como negar, não é?

- Que bom! – Ela ficou na ponta dos pés e eu me inclinei para beijá-la.

- Vou esperar você se arrumar e te levo lá.

- Não precisa. Eu vou de carro e...

- Por mais que eu tenha certeza absoluta que o carro é um dos meios mais seguros para você, já que você não passa de 10km por hora... – Ela torceu a boca. – Mas a reunião começa em uma hora. É melhor que eu te leve.

- Tudo bem. – Ela suspirou emburrada. – Eu não demoro.

               A observei andar até o banheiro e me sentei pesadamente na cama, olhando para baixo onde a conseqüência das provocações de Lety ainda estava visível.

 

 

                                                                          •••

Lety

 

 

 - Você me liga quando terminar e eu venho buscá-la, ok?

- Tudo bem. – Sorri beijando-o. – Até mais tarde.

- Até.

- Eu te amo!

- Eu também te amo!

               Desci do carro e acenei para Fernando antes de entrar na Construtora. Ao chegar à recepção, Paula Maria parou de lixar sua unha sobre o balcão e me olhou sorrindo.

- Lety! Que surpresa!

- Olá, Paula! – Sorri me aproximando do balcão.

- Menina, o que é isso? – Ela olhou para minha barriga e eu não pude evitar colocar as mãos na cintura, exibindo-a. – Como cresceu tão rápido?

- Pois é! Está mesmo passando muito rápido.

- Já está de quanto tempo?

- 18 semanas.

               Paula Maria olhou para sua mão sobre o balcão, provavelmente contando quanto tempo isso daria.

- Quase quatro meses. – Sorri.

- Mas que maravilha! Devem estar ansiosos, não é? Soube que Seu Fernando está encantado.

- É verdade. Nós dois estamos na verdade. – Sorri.

- É realmente uma benção.

- Bom, preciso ir. Vou representar Fernando em uma reunião.

- Ah! Os clientes já chegaram. Devem estar aguardando.

- Ok, obrigada!

- Até logo!

               Apertei o botão chamando o elevador e não demorou para que as portas se abrissem. Entrei e esperei que ele chegasse ao Hall. Quando o fez, fui diretamente em direção ao balcão de Sara e Lola, que assim como Paula Maria me elogiaram e me desejaram felicidades. A ultima vez que tinha ido à Construtora a barriga ainda não havia aparecido, e isso com certeza causaria um reboliço entre os funcionários, já que eu fazia questão de manter uma relação de amizade com todos eles. Enquanto segui para a sala de reuniões, recebi elogios, felicitações e mais elogios, e eu não poderia me sentir mais realizada.

               Bati à porta da reunião e a entreabri, olhando para todos os presentes.

- Ah! Lety! – Omar se levantou vindo em minha direção.

- Desculpem se eu me atrasei. – Falei entrando na sala assim que Omar abriu ainda mais a porta.

- Na verdade, nós estamos adiantados. – Um Senhor de cabelos grisalhos se levantou, e logo eu o reconheci de outras reuniões, embora nunca gravasse seu nome. – E onde está o Fernando?

- Eu sinto muito, mas ele teve outro compromisso, e eu vim representá-lo. Espero que não haja problemas com isso...

- De maneira alguma. – Ele sorriu.

               Me preparei para sentar quando um homem mais jovem se levantou rapidamente, puxando a cadeira para mim. Sem reação, apenas sorri em agradecimento, me sentando logo depois. Márcia me olhou divertida e sentou-se ao meu lado, provavelmente segurando ao máximo alguma piada que queria fazer.

- Como já deve saber o motivo da reunião... A Construtora Mendiola presta serviços para nossa empresa há muitos anos. Humberto e eu somos amigos de longa data, portanto confio plenamente nos seus serviços. Mas, infelizmente por questões de saúde tive que me afastar um pouco do trabalho.

- Mas não é nada grave, não é? – Perguntei talvez passando um pouco dos limites.

- Obrigado pela preocupação. Mas, não. Não é nada grave. – Ele sorriu, e percebi que o rapaz ao seu lado que havia puxado a cadeira para mim também sorria. – De qualquer maneira, coube ao meu filho mais velho ficar com a Presidência da empresa. Acontece que Tiago ainda é novo no ramo, porque... De certa forma trabalhar na empresa nunca o agradou. – Ele virou-se para o rapaz ao seu lado, e só então percebi que ele era seu filho.

- Não é bem assim, papai. Sempre achei meus outros dois irmãos tivessem mais vocação para Presidenciar a empresa. – Ele explicou-se diretamente para mim.

- De qualquer modo, quero que Tiago tome conta de tudo para mim, porque sei que é um rapaz maduro e responsável. E por isso eu pedi essa reunião para que apresentemos as propostas futuras para que ele fique a pá de tudo, e que também se familiarize com a Construtora, que é nossa parceira de longa data.

- Com certeza, fez muito bem Carmo. – Omar disse, e só então consegui me lembrar do nome dele, que juntando com o sobrenome me lembrava muito um tipo de chá.

- Então, quero que conheçam meu filho, Tiago Lima. O meu sucessor e agora novo Presidente das Empresas Carmo Lima.

               O rapaz notavelmente jovem acenou um pouco envergonhado, mas sorria diretamente para mim, o que me deixou totalmente desconfortável.

- Eu espero que os serviços da Construtora sejam do seu agrado, Tiago. – Márcia disse, mas ele continuava com sua atenção voltada para mim.

- Eu tenho certeza que será.

 

 

                                                                          •••

 

 

               Depois de aproximadamente trinta e cinco minutos de reunião e desconforto com os olhares daquele rapaz sobre mim, finalmente saímos daquela sala de reuniões. Senhor Carmo parecia satisfeito com as futuras propostas da Construtora para sua empresa, e Tiago à todo o tempo apenas dizia “eu confio no trabalho de vocês”. Parecia que não estava ao menos prestando atenção no que apresentávamos para ele.

- Que tal você conhecer um pouco a Construtora? Eu já me sinto bem familiarizado aqui. Talvez seja importante. – Carmo bateu no ombro do filho.

- Seria uma ótima idéia. – Ele me olhou. – Letícia poderia me apresentá-la.

- Eu?

- Claro!

- Bom... De fato ela é uma das melhores pessoas para fazer isso. – Márcia disse. – Mas se quiser, Omar também conhece a empresa como a palma da mão. Poderia apresentá-lo tudo e...

- Com todo o respeito... Mas eu gostaria que ela me mostrasse.

               Por mais que sua frase tenha soado indelicada, a maneira como ele falava e sorria não parecia ter ofendido Márcia. Pelo contrário. Ela apenas sorriu e concordou, para o meu desespero. Eu não sabia quais eram as intenções daquele rapaz para que insistisse que eu lhe mostrasse a empresa, mas eu não gostava nada daquilo.

- Bom, então melhor deixá-los a sós para começar o tour. – Carmo sorriu. – Obrigado pela paciência e pela recepção.

- Nós agradecemos. – Sorri.

- Nos vemos em outra oportunidade.

- Até mais, Carmo. – Omar apertou sua mão.

- Comporte-se. – Ele olhou para seu filho, mas eu entendi que foi apenas uma brincadeira dos dois. Ou esperava que fosse.

               Assim que Carmo se afastou, Omar e Márcia continuaram ao nosso lado, ambos em silencio. Com certeza já haviam percebido que eu estava sem jeito de ficar a sós com o rapaz, mas não tinham muito que fazer quanto à isso.

- Podemos começar? – Ele perguntou sorrindo.

- Ah! É claro! – Sorri.

- Nos vemos depois então, Lety! – Márcia sorriu passando por mim. – Omar!

- Com licença.

               Omar se afastou, ainda nos olhando. Provavelmente desconfiado do que Tiago pudesse fazer.

- Então, por onde quer começar? – Perguntei tentando demonstrar educação, mas sem muita intimidade. – Acho que já conhece o hall e a recepção. Podemos pular essas partes.

- Na verdade já conheço um pouco da empresa. Gostaria de conhecer os departamentos.

- Ótimo! Vamos por aqui.

               Seguimos em silencio pelo corredor, até pararmos diante da primeira porta.

- Aqui é o... O... – Droga! Eu me esqueci o que é aqui! Obviamente estou tensa com essa situação. – Desculpe.

               Tiago riu.

- Não se preocupe. Eu não tenho muito interesse em saber mesmo. Só quis parecer educado.

- Ah... – Sorri aliviada. – Bom, mas há um lugar que posso apresentá-lo, e eu não me esqueci!

- Ótimo! – Ele riu.

- É por aqui.

               Que mico, Letícia! O que ele vai pensar de você? Que é tão burra que não conhece a própria empresa que seu marido Presidência? Paramos diante da porta escrito “Presidência” e eu a abri.

- Aqui é a Presidência, como pode ver. – Apontei para ele. – Quer entrar?

- Nós podemos?

- Claro que sim!

               Ele adentrou a sala, olhando em volta e eu o segui.

- O que achou?

- Bem grande, não é? – Ele riu.

- Sim, um pouco. – Sorri. – Na verdade, ele não fica muito aqui...

- Quem?

- Fernando...

- Ah! Fernando Mendiola, é claro! E ele não vai se zangar por termos entrado em sua sala?

- Não. Por que se zangaria?

- Eu não sei. Parece errado entrar aqui quando ele não está. Parece que estamos... Espionando.

               Não entendi o que ele quis dizer, mas achei que seria educado sorrir.

- Você é engraçada, Letícia.

- Pode me chamar de Lety.

- Lety... – Ele sorriu, cruzando os braços. – Você parece ser a única por aqui que não tenta puxar o saco de algum cliente.

- Na verdade ninguém aqui faz isso.

- Às vezes tenho a impressão que sim.

- Acho que teve a impressão errada, então. – Tentei não parecer grosseira. – Todos tentam ser apenas... Educados.

- Mas você é diferente. Você é mais... Espontânea.

- Isso seria no caso um defeito meu. – Sorri sem jeito.

- Eu achei admirável. – Ele continuou sorrindo. – Para dizer a verdade, não acho que merecia estar em um cargo tão baixo.

- Qual cargo?

- O de assistente. Você não é assistente do Presidente?

- Bom... Sim.

- Acho que merecia um cargo mais alto.

- Na verdade, não é do meu interesse isso. Fico feliz apenas em ser o braço direito do Fernando.

- E ele está lhe pagando bem por isso?

- De certa forma sim... Já que sou sua esposa.

               Ele pareceu surpreso e seu sorriso diminuiu.

- O que foi? – Perguntei.

- Você... É... Casada?

- Sim! – Apontei para minha mão esquerda, como se a aliança estivesse óbvia, além do realce de minha barriga por baixo do vestido.

- Eu não sabia! Você... Parece tão... Nova.

- Bom, não sou tão nova assim. – Sorri envergonhada e coloquei a mão sobre a barriga.

- Não me diga que também está... Oh meu Deus! – Ele bateu na própria testa. – Como eu fui tão despercebido?

               Não soube o que dizer naquela situação.

- Me desculpe por isso. – Ele sorriu sem jeito.

- Imagina. Não se preocupe. – Sorri.

- Então... Casada com o Presidente. Ouvi dizer que ele é um pouco... Explosivo.

- Costumava ser antes, não é mais.

- É claro. Não tem como ser tendo uma mulher como você ao lado.

               Preferi ficar em silencio.

- Desculpe, estou sendo indelicado não é? Não foi minha intenção. É que... Há muito tempo não converso com uma mulher tão espontânea e inteligente. As mulheres com quem tenho contato exceto minha irmã e minha mãe são... Digamos... Um pouco interesseiras.

- Entendo. – Sorri. – Bom... Tem mais algum lugar que queira conhecer?

- Não. Acho que... Não precisamos de mais constrangimentos hoje. – Ele riu, e dessa vez não pude evitar e também ri.

- É verdade.

- Eu vou indo. Espero vê-la em breve, Lety.

- Igualmente.

- Obrigado pela... Apresentação.

- Ao menos a sala da Presidência você conhece, não é? – Nós rimos.

- Então... Até logo!

- Até!

               O observei se afastar e suspirei aliviada, me escorando à mesa de Fernando. Jamais tinha passado por um constrangimento tão grande, e finalmente ficar a sós era um verdadeiro alívio. Mas, menos de cinco minutos que ele havia saído, Márcia entrou correndo na sala e fechou a porta.

- Conte-me tudo não me esconda nada. – Ela disse eufórica.

- Ficou louca? Do que está falando?

- Ah, por favor, Lety! Ele estava claramente babando por você. O que foi que ele fez? Porque se ele tiver te tratado com desrespeito eu...

- Não! Pelo contrário... Ele... Foi até bastante respeitoso.

- Típico filhinho de papai que acha que pode conquistar qualquer mulher que quiser. Mas aposto que você o colocou no lugar, não é?

- Por que eu faria isso? Como eu disse, ele não me desrespeitou.

- Mas, Lety... Homens assim você precisa cortar logo! Não pode deixar criar uma intimidade.

- Provavelmente não o veremos tão cedo, Márcia. Além do mais, eu disse que sou casada e obviamente ele percebeu que estou grávida. Não teria por que ficar tentando algo que sabe que não conseguiria.

- Ele não sabia que era casada?

- Aparentemente não.

- Mas olha o tamanho dessa aliança!

- Pois é!

- Bom, sobre a gravidez não vou mentir... Seu vestido da para disfarçar bem, e homens costumam não reparar nisso. Mas... Ainda bem que você deixou isso claro para ele.

- É claro que deixei. Além do mais, acho que isso é coisa da sua cabeça. Por que um rapaz jovem como ele se interessaria por mim?

- Você está falando como se tivesse quarenta anos!

- Não, mas eu sou claramente uns dez anos mais velha do que ele.

- E é isso que os jovens de hoje gostam, sua boba.

- Mas que papo chato! Ele já foi embora, e provavelmente ficou tão constrangido que não vai querer voltar aqui tão cedo.

- Sei... Se Carolina estivesse aqui ela diria a mesma coisa.

- Você e Carolina são duas malucas! E não a aborreça com esses assuntos. Deixe ela aproveitar as férias!

- Tudo bem. Eu só espero que Fernando não saiba disso...

               No mesmo instante senti o meu celular vibrar em meu bolso. O peguei e olhei sorrindo para a tela do celular.

- Falando no diabo... – Márcia cruzou os braços rindo.

- Oi meu amor! – Falei ao atender o telefone.

- Oi! Já acabou a reunião?

- Sim! E como estão as coisas por ai?

- Na verdade não tinha muita coisa a se fazer. Meu pai achou que seria mais trabalhoso. Já estou saindo para te buscar.

- Tudo bem. Não está dirigindo enquanto fala no celular, não é?

- Não, não estou.

- Fernando...

- Eu chego aí em alguns minutos. Um beijo!

               Revirei os olhos e desliguei o telefone.

- Ele não tem jeito! Já disse várias vezes para não dirigir enquanto fala ao telefone.

- Tá, mas agora... Me conte como estão as coisas com meu futuro sobrinho ou sobrinha! – Márcia se aproximou tocando minha barriga.

               Nos entretemos com a conversa sobre a gravidez que mal vimos o tempo passar, e logo Fernando chegou à Construtora. Conversamos por mais um tempo e logo depois fomos embora. Ao menos poderíamos almoçar em casa e passaríamos o restante da tarde juntos. Ou ao menos era o que eu pensava.

- Teve um problema em uma das obras. – Fernando disse desligando o celular, voltando à mesa. Havia recebido uma ligação durante o almoço, e apenas algo urgente o faria atender o telefone em momentos como aquele. – Preciso ir até lá. – Suspirou nervoso.

- Tudo bem... – Tentei parecer compreensível para não aborrecê-lo, mas a verdade é que eu estava chateada por termos que cancelar os planos para àquela tarde.

- Não está tudo bem. Tínhamos planejado passar a tarde juntos.

- Mas imprevistos acontecem. Eu entendo...

- Não vai ficar chateada?

- É claro que não. A culpa não é sua.

- Eu prometo que a recompenso depois, tudo bem? – Ele segurou minha mão.

- Eu sei que sim. – Sorri.

- Preciso ir. – Disse se levantando.

- Mas não vai ao menos terminar de comer?

- Não posso, amor. Preciso ir o mais rápido possível.

               Suspirei desanimada.

- Não faz essa cara... – Ele se aproximou, abaixando-se e beijando minha testa. – Não me faz sentir pior.

- Não foi minha intenção.

- Prometo que no fim de semana desligarei todos os telefones e serei apenas seu, um dia inteiro.

- Promete?

- Claro que sim. – Ele sorriu e tocou minha barriga. – Se cuidem.

- Você também. E coma alguma coisa quando chegar lá, por favor.

- Tudo bem. – Ele se levantou, me beijando carinhosamente. – Eu te amo.

- Eu também te amo.

- Até mais tarde.

               O olhei enquanto ele se afastava e olhei para minha comida, sem a mínima vontade ou apetite para continuar comendo sozinha.

- Onde ele está indo? – Irminha entrou na sala de jantar.

- Precisou resolver um problema de uma obra.

- Mas agora? Durante o almoço?

- Pois é. – Suspirei desanimada, brincando com a comida no prato. – Há dias estamos tentando passar a tarde juntos, mas o trabalho está sempre apertado.

- Normalmente é assim durante essa época.

- É, eu sei.

- Mas não se preocupe. Logo passa e ele terá mais tempo para vocês.

- Assim espero. – Sorri. – Irminha, quer olhar algumas coisas para o quarto do bebê comigo?

- Eu?

- É claro!

- Mas...

- E não aceito desculpas como “preciso cuidar da casa” e “tenho muito que fazer”. Que fique claro. Vamos apenas andar no shopping pesquisando algumas coisas. Eu preciso me distrair.

- Bom... Então... Eu acho que sim!

- Ótimo! – Me levantei animada, aliviada por não precisar ficar em casa o restante da tarde caminhando no jardim ou brincando com Spike (por mais que eu gostasse). Fazer coisas para o bebê me animava, e ter a companhia de uma amiga era ainda melhor.

 

 

                                                                          •••

 

 

               Depois de uma tarde inteira andando por todo o shopping em busca de todas as coisas necessárias para a chegada do bebê, Irminha e eu voltamos para casa com mais sacolas do que imaginávamos. Mas, eu não conseguia resistir. Tudo era tão lindo que eu pensava que se não comprasse naquele momento, não teria mais outra chance.

- Ah, finalmente! – Me sentei pesadamente ao sofá. – Acho que nunca andei tanto!

- Nem eu! – Irminha riu, sentando-se ao meu lado. – Mas, acho que compramos bastante coisa.

- Uma pena não poder comprar roupinhas ainda por não saber o sexo.

- Mas ao menos o restante você pôde comprar a vontade. – Ela riu.

- Acha que eu exagerei? – Olhei para as sacolas. – Fernando vai dizer que eu exagerei.

- É claro que não! Quanto mais coisas ele tiver para sua chegada, melhor!

- Tem razão. – Sorri satisfeita. – Quem diria que eu estaria fazendo compras de bebê. É quase... Inacreditável.

- E eu fico feliz por ter ajudado.

- Que bom, porque daqui a alguns meses voltaremos às compras, dessa vez para comprar os móveis para o quarto.

- Será um prazer. – Ela se levantou. – Acha que Seu Fernando vai almoçar em casa?

- Eu espero que sim!

- Vou pedir Marta para...

- Não! – Me levantei rapidamente. – Eu... Quero preparar uma coisa especial para ele hoje.

- Tem certeza?

- Sim!

- Bom... Então tudo bem. – Ela sorriu. – Quer ajuda?

- Seria abusar demais de você?

- De maneira alguma!

- Que bom! – Sorri satisfeita. – Vou guardar as coisas do bebê para mostrar ao Fernando depois, e já desço para pensarmos no cardápio.

- Tudo bem!

               Peguei todas as sacolas que estavam em cima do sofá e as levei para o nosso quarto. As coloquei em um canto, para que depois pudesse mostrar ao Fernando todas as coisas que compramos naquele dia. Com certeza ele ficaria tão empolgado quanto eu, e a melhor hora do nosso dia era quando caíamos na real que realmente seríamos pais, e isso acontecia todas as noites ao falarmos sobre nomes, sobre a cor do quarto do bebê, e sobre toda e qualquer coisa que envolvia o nosso filho ou filha. Assim que coloquei as sacolas no chão corri para o primeiro andar para ajudar Irminha (ou para ela me ajudar) a prepararmos um jantar especial para Fernando. Ele provavelmente chegaria cansado depois de um longo dia de trabalho, e tudo o que eu queria era deixá-lo feliz com uma simples surpresa.

               Decidimos preparar o seu segundo prato favorito: Estrogonofe. Com certeza ele ficaria feliz e grato pela “surpresa”, e fazê-lo feliz era gratificante para mim. Enquanto preparávamos o jantar, falamos ainda mais sobre a gravidez e sobre o bebê. Quanto mais falávamos, mais queríamos falar sobre aquele assunto, e eu estava satisfeita por Irminha se empolgar tanto quanto eu nesses assuntos, do contrário nenhuma outra pessoa me suportaria falar tanto disso. Assim que terminamos de preparar a refeição, arrumei a mesa à luz de velas para que tivesse um clima agradável e romântico. Estava empolgada para a chegada de Fernando, mas também preocupada pelo seu atraso. Ele não costumava trabalhar até tarde sem ao menos avisar, e todas as vezes que tentei ligar para seu celular, caía na caixa postal.

               Achei melhor controlar a ansiedade e o esperei. Quinze minutos... Vinte e cinco... Quarenta minutos. Uma hora... Uma hora e meia... Olhei para a vela sobre a mesa e ela estava praticamente na metade, o que indicava que eu já o esperava por muito tempo.

- Lety... – Irminha parou ao meu lado.

- Você já pode ir, Irminha. Não quero segurá-la aqui por muito tempo. – Falei tentando não demonstrar a minha vontade de chorar.

- Não, eu não vou deixá-la sozinha.

- Não se preocupe, ele já deve estar chegando.

- Como sabe?

- Ele... Mandou uma mensagem. – Menti.

- Tem certeza?

- Sim. – Forcei um sorriso. – Pode ir, e obrigada pela ajuda e pela tarde.

- Se precisar de alguma coisa, me ligue.

- Tudo bem. Obrigada.

- Boa noite, Lety.

- Boa noite.

               Suspirei triste, esperando que Irminha se afastasse. Mas, só quando ouvi o barulho da porta batendo que percebi que poderia desabafar. Aquilo não era um verdadeiro motivo para chorar, mas eu estava me sentindo mais sensível do que o normal, e por mais que eu não soubesse o motivo do atraso e da falta de comunicação de Fernando, eu me sentia sozinha, e aquela era a pior sensação para uma mulher grávida. Achei melhor subir para o quarto e me entreter com outra coisa. Tirei todas as coisas do bebê de dentro da sacola e comecei a olhá-las. De certa maneira aquilo me animou, mas também me deixou ainda mais sensível. Olhar para um ursinho de pelúcia ou ao menos uma toalhinha me fazia chorar ainda mais, e tudo apenas piorou quando tentei ligar para ele pela ultima vez e novamente caiu na caixa postal.

 

 

                                                                          •••

 

Fernando

 

 

               Eu nunca tive tanta pressa para chegar em casa como naquele dia. Maldita hora que o celular havia descarregado, e maldita hora que me seguraram naquela porcaria de obra até mais tarde. Eu não costumava fazer isso, mas temi que se não ficasse até tudo ser resolvido, perderíamos muito dinheiro e provavelmente teríamos um cliente insatisfeito, e isso não era aceitável. Quando finalmente cheguei, mal dei atenção para Spike e corri para dentro de casa, na esperança de encontrar Letícia ainda acordada para me desculpar pelo atraso e por não ter dado notícias. Mas, assim que passei pela porta de entrada, notei que tudo estava silencioso. Procurei por ela na sala de estar, e não estava. Procurei no escritório, e ele estava vazio e escuro. Quando segui para a sala de jantar, senti o meu coração partir ao ver uma mesa posta para um jantar, decorada com velas, mas já apagadas. Suspirei me sentindo um idiota, pensando que era o pior dos homens.

               Subi as escadas esperando encontrá-la no ultimo lugar que poderia estar, e ao chegar na porta, não sei o que me doeu mais: Vê-la adormecida com o celular na mão imaginando o quanto ela teria esperado por mim, preocupada. Ou perceber que seu rosto estava um pouco avermelhado, entregando que ela havia chorado, provavelmente até cair no sono. Balancei a cabeça me sentindo ainda pior e me aproximei, com cuidado para não acordá-la. Ao me aproximar da cama, notei algumas coisas ao seu lado, e as olhei curioso. Alguns bichinhos de pelúcia, toalhas e coisas de bebê que não consegui identificar no momento. Sorri abobado olhando para aquelas coisas e novamente a olhei magoado.

               Com cuidado tirei o meu paletó e os meus sapatos, e me deitei ao seu lado na cama, beijando seu ombro e acariciando-o. Demorou um tempo para que ela acordasse, mas logo abriu os olhos e virou-se para mim.

- Onde estava? – Perguntou sonolenta.

- Desculpe. Fiquei até tarde resolvendo o problema da obra e o meu celular descarregou. Não foi minha intenção não dar notícias.

- Você está bem?

               Estanhei a pergunta, mas relevei por saber que ela provavelmente estava com mais sono do que aparentava.

- Sim, estou bem.

- Viu os presentes que comprei?

- Acabei de vê-los.

- Você gostou?

- Sim, muito.

               Sem dizer mais nada ela virou-se para o lado e voltou a dormir. Mais uma vez me senti o pior dos homens, mas não me restou fazer mais nada a não ser envolve-la em meus braços, tentando de alguma maneira matar toda a saudade que senti enquanto estivemos longe. E assim, também adormeci. 



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