1. Spirit Fanfics >
  2. Depois de Ti - II Temporada >
  3. Apoio

História Depois de Ti - II Temporada - Apoio


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 8 - Apoio


Lety

 

 

               Finalmente estava chegando o fim de semana, e eu mal podia esperar para termos o nosso “dia de descanso”. Fernando trabalhava todos os dias até tarde, e na maioria das vezes mal almoçávamos juntos. Estava sendo uma semana corrida, mas eu sabia que valeria a pena. Para a minha sorte, minha mãe resolveu me fazer visitas freqüentes no restante da semana, e isso me entretia durante toda à tarde para que eu não morresse de tédio. Passávamos a tarde planejando coisas para o quarto do bebê, que seria montado em breve, juntamente com Irminha e Marta. Aquele assunto sempre me animava, e ter alguém para conversar sobre isso comigo foi ainda melhor. Mas, na sexta feira, justamente o dia que minha mãe não foi me visitar, recebi uma ligação de Fernando um tanto quanto surpreendente.

- Quem é você e o que fez com meu marido? – Perguntei divertida assim que ele me pediu o favor.

- Eu sei, não é algo que eu pediria, e acredite, se houvesse outra opção...

- Tudo bem, não precisa me rebaixar também.

- Não foi minha intenção.

- É brincadeira. – Falei rindo. – Tudo bem, eu posso representá-lo de novo hoje. Mas, isso vai te custar caro.

- Ah é? Bom... Estou disposto a pagar o preço. Temos um longo fim de semana pela frente...

- Mal posso esperar.

- Eu também não.

               Ouvi algumas vozes ao fundo.

- Meu amor, preciso desligar. Está uma confusão aqui.

- Tudo bem.

- Qualquer coisa me ligue. E por favor, peça um táxi ou ligue para o Ramón. Não gosto que fique dirigindo sozinha.

- Está bem. – Revirei os olhos. – Não se preocupe.

- Nos vemos mais tarde.

- Ok. Um beijo.

- Outro.

               Estava admirada por Fernando ter me pedido para mais uma vez representá-lo em uma reunião na Construtora. Mas, eu sabia que se ele não estivesse tão apertado com tanto trabalho ele jamais teria pedido isso. Por mais que ele estivesse tentando melhorar o seu jeito “controlador” e “preocupado”, fizemos um combinado de que quando eu completasse três meses de gestação, eu não me sobrecarregaria com trabalho. Mas, de certa forma aquilo não me incomodava em nada. Pelo contrário. Eu ficava feliz de além de ajudá-lo, ainda poder me entreter com alguma coisa, principalmente quando estava tão ansiosa para o fim de semana.

               Por mais que eu achasse a preocupação de Fernando de certa forma “fofa”, algumas vezes ele exagerava, como pedir para que eu não dirigisse o meu próprio carro. Eu tinha total condição de dirigi-lo, sem me preocupar com chamar um táxi ou ligar para Ramón, que provavelmente estava por conta de Terezinha. Mesmo dirigindo tão devagar, consegui chegar à Construtora a tempo da reunião.

               Como esperado, foi uma reunião simples e que mal precisei falar, já que Omar já fazia corretamente o seu trabalho de vice-presidente. Anotei apenas algumas coisas para depois repassá-las ao Fernando, e me preparei para acompanhar todos que saíam da sala de reuniões.

- Já está indo embora? – Márcia perguntou quando saímos da sala.

- Acho que vou ficar mais um pouco. Organizar algumas coisas na sala do Fernando.

- Você é mesmo muito prestativa. Ele nem fica aqui. – Omar riu.

- Mas em casa eu não tenho nada mesmo para fazer. Melhor que eu faça algo útil aqui.

- Pode arrumar minha mesa se quiser, eu não me importo. – Márcia brincou e nós rimos.

               Seguimos conversando pelo corredor, até que nos encontramos com a ultima pessoa que eu esperava encontrar naquele dia, ou mais precisamente, qualquer outro dia.

- Tiago? – Márcia o olhou. – Que surpresa!

- Boa tarde. – Ele sorriu. – Espero não ter interrompido nada.

- Não. Na verdade acabamos de sair de uma reunião. – Respondeu Omar.

- Ah! Que bom!

               Ninguém disse mais nada por alguns segundos.

- Então... Podemos ajudá-lo em alguma coisa? – Márcia perguntou.

- Ah! É claro! Eu... Precisava falar com o Presidente. Ele está aqui hoje?

- Infelizmente não. – Márcia respondeu.

- Mas Lety está aqui para representá-lo. Se ela puder ajudar em alguma coisa...

               Olhei para Omar desejando estrangulá-lo.

- Isso seria ótimo! – Ele sorriu.

- Mas, se preferir falar com o vice presidente... – Márcia com certeza percebeu que fiquei sem jeito.

- Na verdade, seria melhor falar diretamente com Fernando Mendiola, e já que ele não está aqui... Melhor será sua representante.

               A maneira que ele sorriu para mim me deixou completamente envergonhada, que nem mesmo consegui forçar um sorriso.

- Bom... Sendo assim... – Márcia me olhou.

- Ah, é claro. – Falei rapidamente. – Podemos conversar na sala dele.

- Seria ótimo.

- Nos falamos depois. – Márcia disse.

- Certo. Podemos? – Olhei para Tiago.

- É claro!

               Nos afastamos dos dois e seguimos o corredor até a sala da Presidência. Eu não me sentia nada a vontade de ficar a sós com Tiago, mesmo que ele parecesse um homem respeitoso e bem educado. Desejei que seja lá o que ele precisasse falar fosse rápido, para evitar ainda mais constrangimentos.

- Fique a vontade. – Abri a porta e gesticulei para que ele entrasse.

- Obrigado. – Sorriu, adentrando a sala.

- Deseja um copo de água? Um café? – Perguntei ao fechar a porta.

- Não, obrigado.

               Segui até a mesa de Fernando e tomei a liberdade de me sentar em sua cadeira, já que seria antiético conversar com ele em pé.

- Então, em que posso ajudá-lo? Ou melhor... Em que o Presidente pode ajudá-lo.

- Depois da nossa reunião há alguns dias eu fiquei pensativo, Lety...

- Pensativo?

- Sim! Como sabe, a Construtora e as empresas do meu pai trabalham juntas há muito tempo, e agora como Presidente eu pretendo trazer mais lucros para nossa empresa, sendo assim, nada melhor do que novas filiais, não é? Eu gostaria de fazer um novo acordo com a Construtora.

- Ah, é claro. – Sorri animada. – Seria um prazer fazermos esse acordo.

- Mas tem um porém...

- Qual?

- A filial não é aqui. Seria em... Nova York.

- Ah...

- Acha que podemos fazer isso?

- Bom, aí certamente eu teria que consultar Fernando primeiro, e também o orçamento da empresa.

- Eu estou disposto a pagar muito, isso posso garantir.

               Estranhei o “desespero” de Tiago para que aceitássemos aquele acordo, já que primeiramente precisaríamos falar dos gastos e custos de ambas. Mas, ele não parecia se preocupar com os gastos, e isso era preocupante.

- Mas ainda assim, precisaria conversar com Fernando antes.

- Lety, serei sincero com você... – Ele sentou-se à cadeira e aproximou-se da mesa. – Eu gostei muito da maneira como a Construtora lida com seus clientes, e gostei ainda mais por ter sido tão bem tratado por você naquele dia.

- Na verdade, eu não teria motivos para maltratá-lo.

- E é por isso que eu me encantei com... Digamos... Sua personalidade.

               Estávamos saindo totalmente do assunto, e aquilo não me agradava. O que a minha personalidade tinha a ver com os serviços que seriam prestados para sua empresa?

- Serei ainda mais sincero... Eu... Não paro de pensar em você desde aquele dia.

- O que? – Perguntei abismada. – Isso... É...

- Eu sei! É estranho! Eu te vi apenas uma vez, mas acredite! Você... Você é doce, você é gentil e muito, muito bonita! É diferente de qualquer outra mulher que já conheci, e talvez seja por isso que... Que eu me encantei por você.

- Tiago, esse assunto está fora de questão. – Me levantei sentindo um misto de náusea, vergonha e impaciência. – Por favor, se quer conversar sobre um novo contrato com a Construtora, fale com Fernando.

- Me desculpe por isso. – Ele se levantou e seguiu em minha direção. – Eu sei que acha que eu sou indelicado e louco...

- É exatamente isso que eu acho.

- Mas eu só estou querendo ser sincero com você. Eu não esperava encontrá-la aqui hoje, e... Quando te vi no corredor... Uau! – Ele suspirou, passando a mão em sua cabeça. – Eu senti algo que jamais senti antes.

- Por favor, Tiago. – Dei alguns passos para trás. – Eu sou uma mulher casada, grávida e bem mais velha do que você...

- Velha? – Ele riu. – Quantos anos acha que eu tenho?

- E quantos anos você acha que eu tenho?

- Isso não tem nada a ver com a idade, e eu respeito o seu relacionamento e principalmente sua gravidez. Eu só queria ser sincero com você.

- Obrigada. Agora que foi, pode se retirar, por favor.

- Não precisa ter medo de mim.

- Eu não tenho medo de você. Tenho medo do que possa fazer.

- Não vou fazer nada que você não queira.

- Tiago, por favor!

               Me senti completamente frágil diante daquela situação. Eu não queria gritar para não causar um escândalo, mas também não queria mais ficar sozinha com aquele maluco! Afinal, que tipo de pessoa desperta “sentimentos” por outra em apenas um dia? Ele mal me conhecia, ele mal sabia quem eu era. Eu estava confusa e irritada com tudo aquilo, e só queria que ele fosse embora e me deixasse em paz. Mas, parecendo não se importar com o meu desconforto, ele se aproximou ainda mais.

- Você consegue perceber que é uma mulher maravilhosa, Lety?

- Sim! E meu marido me diz isso todos os dias!

- Preciso dizer que ele é um homem de sorte.

- Imagino que ele saiba disso, do contrário não teria se casado comigo.

- Está sendo fria para tentar me afastar? Saiba que não funciona, e que você fica ainda mais bonita quando faz isso.

- Tiago, pelo amor de Deus! Eu não quero causar um escândalo aqui, mas se você não se afastar...

- Você vai fazer o que?

               Mas que louco! Quem tirou esse garoto do hospício e deixou ele solto por aí?

- Eu vou gritar se você se aproximar mais!

- Lety, eu disse que não farei nada com você.

- Então se afasta!

- Você não precisa ter medo de mim.

- Tiago!

               Por mais que eu pedisse, ele não se afastava. Já estava próximo o suficiente de mim e eu não sabia mais o que fazer. A ultima coisa que queria era gritar e fazer com que toda a Construtora soubesse do ocorrido, mas eu não teria outra alternativa. Quando o vi próximo o suficiente de mim, me senti vulnerável e tomei fôlego para gritar. Mas, quando me preparei para pedir por ajuda, senti uma de suas mãos agarrar meu pulso e com a outra ele tampou minha boca.

- Não precisa gritar, Lety!

               Resmunguei tentando xingá-lo de todos os nomes possíveis, mas era impossível com sua mão abafando o som.

- Eu disse que não vou fazer nada! Acha que eu teria coragem?

               Revirei os olhos impaciente.

- Fique calma! Eu só quero conversar com você...

               Sem o mínimo de paciência para lidar com suas loucuras, encontrei uma maneira de morder sua mão, e enfim ele a tirou de minha boca, balançando-a enquanto reclamava. Tentei passar por ele para conseguir sair daquela sala, mas novamente ele segurou meu pulso, mas, dessa vez, ao invés de tampar minha boca ele me puxou tentando me beijar. Por sorte consegui virar o rosto, mas ele não se cansou. Tentou de várias formas, enquanto eu tentava me afastar lhe dando socos no peito e virando o rosto. Enquanto tentava acreditar que aquele absurdo estava mesmo acontecendo, senti que já não tinha mais forças para lutar contra ele assim que ele segurou minhas duas mãos. Mas, para a minha sorte, antes que conseguisse finalmente me beijar à força, a porta se abriu.

- O que é isso? – Omar perguntou nos olhando abismado.

- Omar! – Sussurrei prestes a chorar.

- Solta ela, seu idiota!

               Finalmente Tiago me soltou e eu pude me afastar dele o máximo possível, me escorando à mesa tentando me recuperar do susto. Omar segurou Tiago pela gola da camisa e gritava, pedindo para que ele se explicasse. Não tive forças para interrompe-los, principalmente quando Tiago revidou os gritos como se tivesse no direito de dizer alguma coisa. Márcia chegou no mesmo instante e olhou assustada para a cena.

- Lety! – Exclamou correndo até mim. – O que foi que aconteceu?

               Não tive fôlego para respondê-la naquele momento. A falta de ar e o nervosismo me deixaram fraca, e para minha sorte Márcia percebeu sem que eu precisasse dizer nada.

- Omar, ela está passando mal! – Gritou.

               Percebi quando os dois pararam de gritar um com o outro e me olharam. Tiago ainda teve a audácia de tentar se aproximar de mim, mas Omar o segurou pela camisa, impedindo-o.

- Vou levá-la para o hospital!

- Não! – Respondi de imediato. – Só preciso... Sair daqui!

- Tem certeza?

- Sim!

- Vamos para a minha sala.

               Concordei e deixei que ela me ajudasse, já que estava com medo de perder as forças no meio do caminho. Assim que andamos em direção à porta, ouvi Omar dizer à Tiago que resolveriam aquele problema com a polícia. Por um instante pensei se precisaria de tudo, mas só de me lembrar que por pouco aquele louco não me beijou, percebi que ainda era pouco para ele. Não estava tensa e nervosa apenas por mim, mas por medo de que aquilo de certa forma tenha afetado a saúde do meu bebê.

               Assim que entramos na sala de Márcia, ela me ajudou a sentar e ligou para Sara para que ela levasse um copo de água para mim. A observei quando ela tirou o celular do bolso e discou rapidamente um numero.

- Para quem está ligando? – Perguntei ainda com certa dificuldade de controlar a respiração.

- Para quem você acha? Para o seu marido!

               Por mais que eu soubesse a confusão que aquilo acarretaria, eu realmente precisava ter Fernando ao meu lado naquele momento.

- Fernando! – Márcia exclamou. – Onde você está?

               Obviamente Márcia não sabia dar notícias ruins por telefone, e imaginei que só pelo modo como ela falou com ele, já o deixou totalmente desnorteado.

- Ai, que bom! Não... Não é... Nada grave. Mas preciso que venha a minha sala assim que chegar. Certo. Até logo.

               Márcia desligou o telefone mais rápido do que pensei, e mais calma do que eu esperava.

- Ele já estava vindo para cá. Achei melhor não dizer nada, é perigoso.

               Por sorte ela teve esse pensamento. Eu já odiava o fato de Fernando falar ao celular enquanto dirigia, quem diria recebendo uma notícia como aquela?!

- Com licença. – Sara abriu a porta. – Dona Márcia, Seu Omar está lá fora gritando com um homem. Eu devo ficar preocupada?

- Não.

- Mas ele está chamando até a polícia. – Sara me entregou o copo de água. – O que aconteceu com você, Lety?

               Sem responde-la, peguei o copo de água e o virei em poucos segundos. Minhas mãos ainda estavam tremulas, e cada vez que a cena voltava em minha cabeça, o meu coração se apertava e o meu coração disparava.

- Ela só está se sentindo mal. Sara, me faça um favor... Quando Fernando chegar, e caso a polícia já esteja aqui, peça para que ele venha imediatamente na minha sala. Ele provavelmente vai querer saber o que aconteceu, mas se ele insistir, diga que Lety está passando mal e precisa dele.

- T... Tudo bem.

               Pobre Sara. Não sabia de nada, e ao mesmo tempo precisava saber de tudo. Ela se afastou, totalmente confusa e enfim nos deixou a sós.

- Você está melhor? – Márcia me olhou.

- Um pouco... – Voltei a tomar o restante da água.

- Meu Deus! Que cara louco! Quem ele pensa que é?

- Como chegaram lá?

- Eu chamei a atenção de Omar por ele ter dito que você se encarregaria de ajudar aquele desmiolado. Eu já não fui com a cara dele logo no primeiro dia, e alguma coisa me disse que não deveria deixá-la sozinha com ele. Mas, como Omar é lento, tive que explicar que existem homens loucos como esse tal de Tiago, e quando enfim ele percebeu que tinha sido um erro deixá-los sozinhos, ele resolveu ir atrás para lhe fazer companhia. E graças à Deus por isso.

- Sim. Graças à Deus.

               Márcia havia sido minha salvação, mesmo que indiretamente. Eu mal conseguia pensar no que poderia ter acontecido se Omar não tivesse chegado, e meu corpo inteiro se arrepiava apenas em pensar nas hipóteses. Balancei a cabeça tentando não pensar naquilo e piorar ainda mais a situação, e aguardamos a chegada de Fernando em silencio, enquanto eu me recuperava do susto.

 

 

                                                                          •••

 

Fernando

 

 

               Algo me dizia que uma coisa grave tinha acontecido. Márcia não me ligaria apenas para saber se eu estava à caminho da empresa, e principalmente não pediria que eu fosse diretamente para sua sala. Sabendo que Lety estava na empresa, era impossível não pensar em mil possibilidades de ela ter se sentido mal ou Deus me livre que fosse algo pior. Por sorte, não demorei chegar à Construtora, e desci do carro praticamente correndo. Entrei na Construtora e mal tive tempo de olhar para Paula Maria, e fui logo apertando o botão do elevador.

- Seu Fernando! Ainda bem que o Senhor chegou! Acabou de chegar uns pol...

- Agora não, Paula Maria. – Sem paciência para a demora do elevador, achei melhor subir as escadas.

               Com a pressa de saber o que tinha acontecido, subi dois e até três degraus de uma vez, e finalmente cheguei ao andar do Hall, com a respiração ofegante, sem saber se o calor insuportável que comecei a sentir foi graças ao exercício de subir as escadas correndo ou por conta do meu nervosismo e ansiedade. Assim que abri a porta que dava acesso às escadas, notei logo uma confusão no hall, envolvendo alguns funcionários, Omar, um rapaz desconhecido e... A polícia.

- O que está acontecendo aqui? – Perguntei me aproximando do bolo de gente.

- Fernando! – Omar me olhou. – Que bom que está aqui!

- O que aconteceu, Omar?

               Antes que ele pudesse me explicar, Sara entrou em sua frente.

- Seu Fernando, o Senhor precisa ir para a sala de Dona Márcia.

- Sim, eu já estou indo. Mas o que...?

- É urgente!

- Sara! O que está acontecendo?

- A Lety!

- O que tem a Lety? – Meu coração disparou.

- Ela está passando mal, e está precisando do Senhor na sala de Dona Márcia.

               Que se dane o que estava acontecendo ali e por que a polícia estava envolvida. Sem me preocupar com mais nada corri pelo corredor seguindo em direção à sala de Márcia. Sem tempo para bater ou me anunciar, abri a porta meio à um estrondo e notei quando Letícia pulou em sua cadeira, colocando as mãos ao peito. Parabéns, Fernando! Se ela já estava passando mal antes, agora está pior!

- Fernando! – Márcia suspirou aliviada. – Que bom que chegou.

- O que aconteceu? – Me aproximei de Lety, abaixando em sua frente e segurando sua mão. – Está se sentindo mal?

- Agora estou melhor.

               Por mais que ela parecesse aliviada ao me ver, sua feição não me agradava em nada. Ela parecia magoada, assustada e tensa, e rapidamente liguei com a situação estranha do hall.

- Eu a trouxe para minha sala e ela parece melhor. – Márcia disse.

- Precisamos ir ao Consultório.

- Não... Agora não, por favor. – Ela apertou minha mão.

- Mas, Lety...

- Fernando, você pode levá-la ao consultório depois. Temos algo mais difícil para nos preocuparmos.

- Mais importante do que a saúde da minha esposa e do meu filho? – Perguntei com certa ignorância.

- A saúde dos dois é sim importante, mas você precisa saber o que aconteceu!

- Eu posso saber disso depois que me certificar de que os dois estão bem.

- Fernando...

- Vamos, Lety. – Me levantei, mas ela continuou sentada.

- Fernando, você precisa me ouvir! – Márcia aumentou a voz.

- Márcia! Letícia está pálida! Como eu não vou me preocupar com isso? – A olhei indignado.

- Precisa se preocupar primeiramente com o que aconteceu para ela ficar assim!

- E o que foi que aconteceu?

- Lety foi agarrada a força por um idiota!

               Sem acreditar no que havia acabado de ouvir, continuei intacto, olhando para Márcia, esperando que ela explicasse melhor o que acabara de dizer.

- Um idiota chamado Tiago Lima tentou agarrá-la. – Márcia suspirou.

- C... Como isso aconteceu? – Perguntei ainda incrédulo.

- Ele é o novo Presidente das empresas Carmo Lima. Nós o conhecemos no início da semana. Por algum motivo ele se interessou por Lety, e simplesmente enlouqueceu! Provavelmente aproveitou que você não estava na empresa.

- E onde é que estavam todos quando isso aconteceu? – Perguntei com certa raiva. Imaginar aquela cena só fez o meu sangue ferver, e a raiva que eu sentia por uma pessoa que eu nem ao menos conhecia aumentar.

- Estávamos conversando a sós em sua sala. – Lety se pronunciou. – Ele disse que queria assinar um novo contrato, e como eu estava te representando... – Ela suspirou tremula, e eu senti ainda mais raiva. Como alguém seria capaz de tentar fazer isso com alguém, e principalmente, com a Lety? Que por acaso era a minha esposa, e estava esperando um filho meu.

- Omar chegou a tempo e por sorte ele não conseguiu fazer nada com ela, a não ser segurá-la a força... Agora estão lá fora provavelmente conversando com a polícia sobre o que aconteceu. Omar não o deixou ir embora.

               Omar foi sensato. Eu iria até o inferno se fosse preciso para tirar satisfações com aquele idiota, e fazer ele pagar pelo que fez com minha Lety. Baixei os olhos para olhá-la, e imediatamente vi as marcas das mãos daquele filho da mãe em seus braços. Não tive tempo de pensar em mais nada com clareza, e imediatamente saí feito um touro em direção ao hall. Márcia e Lety me chamaram, mas suas vozes estavam distantes. Eu praticamente não ouvia e nem via nada em minha frente. Estava tomado pela raiva, pelo desejo de vingança e louco, mas louco para fazer aquele desgraçado pagar pelo que ele fez.

               A confusão no hall prevaleceu, e assim que avistei a cara do idiota em meio à tantas pessoas, inclusive à policia, não pensei em mais nada além de andar em sua direção como um furacão. Quando perceberam minha presença, já era tarde, e a primeira coisa que fiz ao ficar frente a frente com ele foi lhe dar um belo soco no rosto. Ele tombou sobre a poltrona que havia ao seu lado, com as mãos à boca que sangrava, mas eu ainda o segurei pela gola da camisa e preparei para lhe dar outro soco, mas fui impedido por um dos policiais e Omar, que seguraram meu braço.

- Fernando, não faça isso! – Omar gritou.

- Senhor, se acalme! – O policial dizia.

               Mas ninguém, ninguém tiraria aquela raiva que me dominava por inteiro, de uma maneira que jamais senti antes. Eu queria ter a sensação de lhe dar outro soco, para que de certa forma ele pagasse pelo que fez com Lety, mas como estava impedido, pude apenas desabafar aos gritos.

- VOCÊ NÃO SE ATREVA A COLOCAR AS MÃOS NELA DE NOVO! – Gritei olhando-o furioso.

               Ainda com as mãos à boca, deitado na poltrona, ele me olhou como se aquilo ainda fosse pouco. Meu sangue ferveu e tomado pela raiva, tive forças o suficiente para me soltar e ter a chance de lhe dar outro soco.

- SENHOR! SE ACALME OU TEREMOS QUE ALGEMÁ-LO! – O policial gritou se colocando em minha frente.

- COLOQUE ALGEMAS NESSE IDIOTA QUE ESTÁ SANGRANDO AÍ! ELE AGARROU UMA MULHER À FORÇA! UMA MULHER GRÁVIDA! A MINHA ESPOSA!

- Nós já sabemos de tudo isso e iremos tomar providencias!

- SE AS PROVIDENCIAS NÃO FOREM BATER NA CARA DESSE DESGRAÇADO ATÉ ELE SE ARREPENDER, ENTÃO NÃO VALE DE NADA.

- Fernando, se acalme, por favor! – Omar segurou meu braço.

- Fernando... – Letícia se aproximou, e senti uma vontade enorme de tirá-la dali o mais rápido possível, para que ela nunca mais precisasse olhar para a cara daquele imbecil. Mas, ela nem ao menos olhou para ele, e me suplicava para que eu me acalmasse.

               Embora não fosse tão simples assim, tomei um tempo para respirar e tomar fôlego para conseguir parar de gritar, e não deixar a situação ainda pior do que já estava.

- Como dissemos, iremos tomar as devidas providencias, e agressão não faz parte. – O policial disse e eu revirei os olhos. – De qualquer maneira, precisamos de algumas testemunhas, e precisamos também que a Senhora nos acompanhe para dar queixa e...

- Não. – Letícia respondeu rapidamente e todos nós a olhamos curiosos. – Eu... Não quero fazer isso. A única coisa que eu quero é me esquecer do que aconteceu.

- Mas...

- Por favor! – Ela não suplicou ao policial, e sim à mim. Eu não queria que nenhum outro mal acontecesse com ela, e só me restou concordar, apesar de querer que aquele cretino pagasse por tudo o que fez.

- Tudo bem. – A respondi em baixo tom.

- Então... Não vai querer prestar queixa contra esse Senhor?

- Não. – Lety respondeu. – Só quero que ele me deixe em paz.

- E é isso que ele irá fazer! – Omar disse olhando-o com raiva. – Não vai mais pisar os pés aqui.

               Por sorte ele parecia ter bom senso, porque não respondeu à nenhuma de nossas provocações. Apenas se levantou ajeitando sua camisa e limpando o restante do sangue que escorria de sua boca.

- Então, nós iremos acompanhá-lo até a saída. – O policial o segurou pelo braço.

- E aconselho a prestar queixa caso ele volte a perturbá-los. – O segundo policial disse, enquanto seu parceiro se afastava com o imbecil.

- Ele não vai. Posso garantir. – Falei olhando-o com ódio enquanto se afastavam.

- Se precisarem de mais alguma coisa... Nos acionem.

- Obrigado. – Omar apertou sua mão.

- Não há de que. Precisam de... Alguma ajuda médica? – Ele olhou para Letícia, que estava abraçada à mim.

- Não. Eu... Vou cuidar disso.

- Certo. Tenham uma boa tarde.

- Obrigado. – Respondemos em uníssono, e ele se afastou.

- Meu Deus! Que coisa mais horrível! – Lola exclamou voltando para detrás do balcão.

- Espero que ele não volte mais aqui. – Sara disse.

- Ele não vai. – Respondeu Omar. – Ele não é louco de fazer isso.

- Se ele voltar, eu não respondo por mim. – Disse envolvendo Lety em um abraço mais apertado.

- Fernando... – Márcia se aproximou. – É melhor levá-la ao Consultório agora, não acha?

- Sim. – A olhei. – Melhor termos certeza de que está tudo bem.

               Ela apenas balançou a cabeça concordando.

- Nos dê notícias. – Márcia disse.

- Obrigado. Pelo... Que fizeram. – Olhei para os dois.

- Não há de que. Fique bem, Lety. – Omar sorriu.

- Eu ficarei. – Lety respondeu sorrindo triste. – Obrigada.

               Eu queria uma forma de apagar toda àquela confusão horrível de sua cabeça, mas infelizmente, só me restava ficar ao seu lado e tentar fazer com que ela se esquecesse aos poucos, tentando fazê-la sorrir de alguma maneira.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

- Graças à Deus, está tudo bem com o bebê, e com você Lety. – Laura disse enquanto fazia o ultrassom. – Por sorte foi apenas um susto, e você provavelmente se sentiu mal pela situação, mas não afetou em nada o bebê, o que é algo muito bom já que infelizmente ou felizmente eles de certa forma sentem o que acontece aqui fora.

               Lety apenas olhava para a tela do ultrassom enquanto segurava minha mão.

- Mas, por sorte nada aconteceu, e ele ou ela está tão saudável quanto antes. – Laura sorriu, desligando os equipamentos.

- Ainda bem. – Respondi aliviado.

               Permanecendo em silencio, Lety esperou que Laura limpasse o gel de sua barriga e abaixou sua blusa, sentando-se à cama.

- Eu sinto muito que tenha passado por isso, Lety. – Laura a olhou com pesar.

- Obrigada. – Respondeu apenas.

- Então... Nós... Podemos ir para casa? – Perguntei. - Quero que ela descanse depois do que aconteceu.

- Sim, é claro! E ela deve descansar. Vá para casa, tome um banho relaxante e tente se entreter com outras coisas. Tenho certeza que Fernando irá ajudá-la.

- Com certeza. – Respondi rapidamente.

               Lety apenas sorriu pelo canto dos lábios e se levantou da maca. Laura nos acompanhou até a porta, mas assim que Letícia saiu, sinalizou que queria falar comigo.

- Ahm... Pode ir na frente. Eu vou tirar algumas dúvidas com Laura. – Falei esperando que ela perguntasse “que tipo de dúvida?” ou “o que estão escondendo de mim?”, mas ela apenas balançou a cabeça e com as mãos em seu ventre, se afastou.

- Está tudo bem mesmo, não é? – Perguntei à Laura, temendo que ela quisesse me dizer algo grave longe de Lety.

- Sim, está tudo ótimo! Mas, no momento não estou preocupada com o bebê, e sim com a Lety.

- Nem me diga. – Suspirei colocando a mão à testa. – Eu não sei como fazer para que ela tente esquecer o que aconteceu.

- Ela não vai se esquecer tão cedo, acredite. Mas, você precisa arrumar alguma forma de animá-la, de deixá-la para cima. O bebe está super saudável, mas se ela continuar sentindo-se mal por muito tempo, sem animo, é possível que isso possa afeta-lo de certa forma. Os dois têm uma ligação mais forte do que qualquer coisa, e é provável que tudo o que Lety sinta seja passado à ele. Você sabe... Tristeza, desanimo... E tudo isso indiretamente afeta na alimentação. Pelo amor de Deus, Fernando, não deixe que ela se recuse a se alimentar corretamente. É muito importante que ela se alimente bem.

- Não se preocupe. Vou fazer tudo para ajudá-la.

- Ótimo. – Ela sorriu. – E espero que você fique bem também. Imagino como isso o deixou abalado.

- Eu... Preciso ficar bem para deixá-la bem também.

- Se precisar de alguma coisa, me ligue. E ligue para Eduardo também. Imagino que precise desabafar.

- Sim, tem razão. Vou ligar para ele assim que possível.

- Ótimo.

- Obrigado, Laura.

- Não há de que. E me dê notícias.

- Pode deixar.

               Me despedi de Laura e saí de sua sala, me encontrando com Lety na recepção. Meu coração se cortava a cada vez que eu olhava para ela, e não via o seu sorriso animado de todos os dias. Lety estava visivelmente abalada, e não era para menos. Minha função era fazer com que ela não se sentisse mais assim. Seguimos para casa em silencio, e quando chegamos, Lety foi diretamente tomar um banho. Aproveitei esse tempo para contar tudo à Marta e Irminha, e pedir a ajuda das duas para que Lety se entretesse com outros assuntos, e se sentisse feliz novamente. Embora abaladas com a notícia, elas concordaram em me ajudar, e me restava a parte mais difícil: contar aos nossos pais.

               Com certeza seus pais ficariam assustados e provavelmente preocupados, mas era minha função acalmá-los e ao mesmo tempo tranqüilizá-los de que sua filha estava bem. Não foi tão difícil quanto imaginei, e nem tão fácil quanto poderia ter sido. Sua mãe me encheu de perguntas, inclusive algumas das quais eu nem ao menos sabia a resposta, mas por fim consegui acalmá-la e tranqüilizá-la de que usaria o fim de semana para ficar ao lado de Lety todo o tempo, tentando entretê-la com outras coisas. Para a minha surpresa, ao final da conversa, Dona Julieta me agradeceu por ser tão bom para sua filha.

               Com minha mãe foi mais fácil. Ela ficou chocada com a notícia, mas apenas pediu para que eu ficasse ao lado de Lety nesse momento, e fizesse o possível para ela ficar bem. Era exatamente o que eu faria. Ela me disse algumas palavras de incentivo, e por fim nos convidou para um almoço em sua casa domingo. Tínhamos o costume de almoçarmos na casa dos pais de Lety no fim de semana, mas na casa dos meus pais nem tanto. Por mais que o convite fosse tentador, tive que recusar, alegando que passaria o fim de semana com Lety em nossa casa, descansando. Minha mãe pareceu entender, e finalmente me senti mais leve por ter avisado à todos sobre o ocorrido. Não foi nada fácil, já que eu mesmo ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido.

               Pedi para Marta preparar um jantar reforçado para Lety se alimentar bem, e enquanto ela preparava a refeição, subi para saber como ela estava. Não ouvi nenhum barulho vindo do banheiro exceto do chuveiro. Letícia costumava cantarolar enquanto se banhava, mas claramente naquela situação ela não o faria. Mas, apenas para garantir, abri a porta do banheiro para saber se ela estava bem, e a vi escorada à parede do Box, enquanto a água do chuveiro caía sobre seu corpo.  Uma cena dolorosa para alguém que está acostumado a vê-la tão animada e de bom humor. Letícia não estava só “mal” como pensei. Ela estava péssima.

- Lety... – Adentrei o banheiro e parei do lado de fora do Box, olhando-a.

               Ela me olhou em silencio, e de repente percebi que iria chorar. Não demorou muito para isso acontecer, e afagando as mãos em seu rosto, ela soluçou. Sem saber o que fazer e não suportando vê-la daquela maneira, abri a porta do Box e entrei de roupa e tudo, puxando-a para um abraço. Era isso que ela precisava, ao menos naquele momento, e eu percebi pela força com que ela apertava o abraço. Eu queria poder fazer alguma coisa para ajudá-la além de um simples abraço, mas era tudo que eu poderia fazer naquele momento.

               Depois de alguns minutos daquela maneira, ela se afastou do abraço e suspirou, cruzando seus braços diante do corpo. Saí do Box com a camisa e os sapatos molhados e peguei o seu roupão. Ela desligou o chuveiro e seguiu em minha direção, virando-se de costas para mim. Coloquei o roupão em volta do seu corpo e ela o vestiu, virando-se para mim logo depois. De repente, inesperadamente, um sorriso triste surgiu em seu rosto, e aquilo para mim significava muito. Retribuí o sorriso e abri a porta do banheiro, saindo abraçado à ela. Letícia seguiu diretamente para a cama e sentou-se, dando um longo suspiro. Me abaixei em sua frente e segurei suas mãos, olhando-a.

- Eu vou ficar bem. – Ela disse, sem precisar que eu perguntasse. – Só precisava... Desabafar.

- Você pode desabafar o quanto quiser.

- Eu sei. – Ela tocou em meu rosto e mais uma vez sorriu. – Mas, no momento eu só quero me esquecer disso.

- E eu vou ajudá-la com isso. Agora... Você vai colocar uma roupa que você gosta, vamos descer, ter um ótimo jantar juntos e depois planejaremos o nosso fim de semana.

- Vamos passá-lo juntos?

- Eu prometi, não foi?

- Foi. – Seu sorriso aumentou. – É tudo o que eu preciso.

- Então... Vamos começar com um jantar que por minha culpa não aconteceu antes, não é?

- Não diga isso...

- E por falar nisso, devo desculpas à você por aquele dia.

- Não foi sua culpa. Você não poderia saber que eu estava preparando uma surpresa.

- Não é minha intenção trabalhar muito, mas você sabe... Não tenho exatamente uma escolha.

- Eu sei, e o admiro por isso.

               Eu não tinha palavras para elogiá-la. Letícia conseguia me surpreender mais a cada dia, e todas as vezes que isso acontecia, eu queria agradecer pelo dia que tomei a decisão de torná-la minha esposa. Letícia conseguia ser duas mulheres: A primeira, decidida, compreensível, madura, forte. A segunda, humana, como todos os outros, que se magoava, se entristecia, mesmo que fosse raro disso acontecer. E eram nessas horas que ela mais precisava de mim. Eram nessas horas que ela precisava ter o meu apoio e ajudá-la no que for preciso. E assim como ela fazia comigo, eu a ajudaria a qualquer custo.

 

 

                                                                          •••

 

Lety

 

 

- É a sua vez! – Falei rindo.

- Mas isso não é justo. Você é muito melhor do que eu!

- É só você prestar atenção nas dicas!

- Está bem... Vamos tentar mais uma vez. – Fernando pegou um papel e o colocou em sua testa. – Eu sou um... Animal?

- Sim! – Respondi rindo.

- Eu sou... Quadrúpede?

 - É!

- Eu sou... Extremamente bagunceiro?

- Sim! – Gargalhei.

- Eu sou o Spike?

- Acertou!

- Até que enfim! – Ele comemorou.

- Então agora está sete a um.

- Sete? Você está roubando, Lety!

- Não estou não! Que absurdo!

- Como pode estar tantos pontos na frente?

- Isso se chama... Jogar! – Joguei o meu cabelo e ele riu.

               O sábado havia começado animado, como eu esperava e como Fernando havia prometido. Depois de Fernando passar toda a noite abraçado à mim (isso já era um costume, mas naquela noite, senti que ele não queria me largar de maneira alguma), acordamos e Fernando me surpreendeu preparando o nosso café no jardim. Havia dispensado Irminha e Marta para passarmos o fim de semana a sós e durante o café, conversamos sobre o futuro quarto do bebê e trocamos algumas idéias. Fernando estava mais empolgado do que eu esperava, e decidimos começar a montá-lo na semana seguinte. Depois do animado café da manhã, dei a idéia de jogarmos alguma coisa para passarmos o tempo, ao menos até o horário do almoço, que Fernando prometeu que daria o seu máximo para conseguir cozinhar alguma coisa.

               Estávamos a alguns minutos jogados no sofá, nos divertindo com os jogos. Eu já me sentia renovada, principalmente depois de tanto carinho e preocupação. O acontecimento do dia anterior ainda me perturbava algumas vezes, mas nada que um abraço ou uma palavra carinhosa de Fernando não me fizesse esquecê-los. Minhas pernas estavam sobre as de Fernando, e eu estava me sentindo nos céus daquela maneira.

- O que teremos no cardápio hoje? – Perguntei divertida.

- Será uma surpresa.

- Você ainda não pensou, não é?

- Está me acusando? – Ele me olhou divertido e eu gargalhei.

- De maneira alguma. Só te conheço a tempo suficiente para saber quando você tenta disfarçar alguma coisa.

- Pois fique sabendo que eu tenho sim um cardápio e que você vai adorar!

- Quero só ver. E que fique claro, estou faminta.

- Então acho melhor começar a preparar agora, não é? Não sei quantas horas ou dias vou demorar para conseguir fazer uma refeição. – Ele olhou em seu relógio e mais uma vez gargalhei.

- Você é um bobo.

- Quer me ajudar ao menos a picar as coisas?

- Por favor! Não quero ninguém perdendo um dedo hoje.

- Que bom!

               Nos levantamos do sofá e o celular de Fernando vibrou sobre a mesinha. Assim que o pegou, ele me olhou e eu esperei por um segundo que ele o atendesse. Mas, apertando o botão de desligar, ele não só encerrou a ligação como também desligou o celular, jogando-o do outro lado do sofá.

- Sem celulares! – Ele sorriu me puxando pela cintura.

- Está me surpreendendo Fernando Mendiola. – Sorri.

- Ótimo! Era o que eu queria.

               Seguimos para a cozinha à gargalhadas, e eu o ajudei a picar algumas verduras para a salada. Foi a única coisa que tive permissão de fazer. O restante do tempo fiquei sentada ao balcão da cozinha, olhando-o cozinhar. Para a minha surpresa ele não parecia ser tão ruim nisso, e o cheiro já estava fazendo o meu estômago roncar. Não demorou tanto tempo como esperávamos, e Fernando me surpreendeu ao preparar uma bela mesa para o almoço. Obviamente não poupei elogios, principalmente quando provei do seu estrogonofe e ele estava definitivamente maravilhoso, mil vezes melhor do que o meu. É claro que ele estava adorando todos aqueles elogios, mas eu não poderia deixar de exagerar. Fernando Mendiola conseguia me surpreender.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

               À tarde foi destinada à filmes, de todos os tipos. Fernando escolheu alguns, e eu escolhi os outros. Como sempre, eu não entendia absolutamente nada dos seus filmes, e no fim Fernando me fazia um resumo. Após os meus filmes, eu tinha que agüentar as longas críticas e observações dele, onde ele conseguia notar o tipo de olhar do ator quando na verdade eu só estava prestando atenção nas bonitas palavras que ele dizia à sua amada.

- Esse filme é um exagero. – Fernando comentou cruzando os braços. – Quando é que um homem consegue fazer uma surpresa assim para a mulher?

- O que quer dizer com isso? – O olhei erguendo as sobrancelhas.

- Você, por exemplo, é o tipo de mulher que não dá para fazer uma surpresa. Você descobre antes, e pior: Você descobre errado.

- Isso é uma calunia! – Joguei uma pipoca nele. – Eu não tenho culpa se você não sabe esconder as surpresas.

- Ah é? Então isso é um desafio, Letícia Mendiola?

- Sim! Eu duvido que você consiga fazer uma surpresa tão bem feita que eu não possa desconfiar de alguma coisa.

- Então estamos apostados! E eu vou querer um pagamento depois.

- Ótimo!

               Fernando esticou sua mão para mim e eu a apertei. Assim que o fiz, ele me puxou para cima dele, me beijando logo depois. Soltei uma gargalhada e ele me olhou com ternura.

- Eu te amo. – Sussurrou.

- Eu também te amo.

- Acha que podemos pausar o filme por alguns minutos. Ou... Horas? – Sorriu malicioso.

- Você não tem jeito, Fernando Mendiola. – Falei rindo.

- Isso é um sim?

- Bom... Estou te devendo, não é?

- Preciso verificar a conta. Tem o café da manhã, o almoço...

- Que absurdo! – Me inclinei sobre ele, olhando-o divertida. – Fez tudo isso pensando no pagamento?

- Claro que não. Mas... Já que estamos falando sobre isso... – Sorriu maroto.

               Balancei a cabeça rindo e o beijei. Definitivamente Fernando conseguiu melhorar o meu humor e me deixar feliz, com pequenos gestos e grandes carinhos. Ele merecia um agradecimento digno, afinal, eu também estaria me presenteando com isso. Enquanto nos beijávamos, senti suas mãos tocarem em minha cintura apertando-as, me puxando para que eu me sentasse em seu colo. Afaguei minhas mãos em seu cabelo e ele suspirou, passando os beijos para meu pescoço, descendo até meu busto. Eu costumava colocar a culpa de todo aquele fogo na gravidez, mas a verdade é que eu não conseguia resistir ao meu próprio marido. Como resistir à um homem que está todos os dias de alguma forma querendo deixá-la feliz, sentindo-se amada, e ainda ser sedutoramente lindo? É impossível! Fechei os olhos e me permiti sentir o toque dos seus lábios em minha pele, e sorri inevitavelmente. Fernando conseguia me fazer a mulher mais feliz do mundo, e na cama não era diferente.

- Vamos subir... – Sussurrei com a respiração já ofegante.

- Não. Vamos ficar aqui... – Respondeu entre os beijos.

               Não tive tempo de insistir. Com uma das mãos Fernando segurou em minha coxa, fazendo subir o meu vestido. Ele provavelmente sabia o quanto eu gostava daquilo, e todas as vezes que o fazia, me olhava com malicia. Com a outra mão ele afagou meu cabelo, puxando-o levemente, me fazendo fechar os olhos de prazer. Percebi que ele também já estava extremamente excitado quando ele descorou-se do sofá e voltou a me beijar, dessa vez com mais gana. Seus toques carinhosos e lentos começaram a se intensificar, e eu já sentia sua sede de irmos mais além. Eu não estava diferente, e tudo o que mais queria era sentir o calor de seu corpo no meu. Logo abaixo de mim, percebi que Fernando já estava mais do que animado, e quando o senti, sorri satisfeita para ele.

- Viu só como você me deixa? – Perguntou ainda segurando em minha cintura.

- É exatamente o que eu quero. – Sorri.

               Fernando riu e em apenas um movimento me deitou ao sofá, posicionando-se por cima de mim. Sem perder tempo ele depositou beijos pelo meu pescoço e os desceu, à medida que subia suas mãos por minha coxa, que há essa altura já estava totalmente despida. Meu vestido estava mais acima do que eu me lembrava, e Fernando aproveitou para encostar-se ainda mais em mim, deixando o mínimo de distancia possível entre nossos corpos. Tombei minha cabeça para trás e mordi os lábios ao sentir que sua mão já não estava mais em minha coxa. Soltei um suspiro abafado e não pude evitar em puxar levemente seu cabelo enquanto suspirava de prazer. Eu já estava pronta para senti-lo por completo, quando...

               Fomos interrompidos pelo som do interfone. Fernando parou o que estava fazendo e ergueu a cabeça, esperando que fosse apenas uma alucinação, assim como eu. Mas, o barulho persistiu, até suspirarmos irritados e Fernando sentar-se pesadamente no sofá.

- Mas que... Merda! – Exclamou irritado.

- Quem será? – Perguntei abaixando o meu vestido, enquanto recuperava o fôlego.

- Espero que seja alguém que tenha sete vidas, porque eu mato!

- Fernando! Pode ser um de nossos pais.

- Eu deixei claro que passaríamos o fim de semana só nós dois.

- Mas... Você sabe. Podem estar preocupados.

               Contrariado ele passou a mão em seu rosto, enquanto o barulho infernal do interfone ainda soava por toda a casa.

- Vem aqui. – Me ajoelhei no sofá e ajeitei o cabelo dele, que estava completamente bagunçado.

- Obrigado. – Suspirou levantando-se, ajeitando sua calça e sua camisa. Fernando olhou para baixo e prendi o riso ao ver seu olhar decepcionado. – Será que você poderia...

- Eu atendo. – Balancei a cabeça rindo.

               Deixei que Fernando se “acalmasse” na sala e fui até a entrada para atender o interfone, mas não consegui ouvir absolutamente nada.

- Fernando! – Gritei.

- Oi!

- O interfone estragou de novo!

- Ah...

- Vou até o portão, está bem?

- Mas você nem sabe quem é! – Ouvi sua voz se aproximando e logo ele estava próximo à mim. – E se for um ladrão?

- Por que um ladrão tocaria o interfone?

- Eu não sei!

- Spike não está nem latindo. Óbvio que não é um ladrão. Eu vou lá atender, e você fica aí me olhando pela janela enquanto... – Olhei para baixo e ri. – Enquanto volta ao normal.

               Fernando suspirou e eu passei por ele, saindo de casa. Assim que me viu, Spike correu até mim e me acompanhou até o portão. Não o abri por completo, e olhando pela pequena abertura logo me surpreendi com a pessoa que estava parada diante do nosso portão.

- Olá! – Ele sorriu, parecendo tenso.

- Senhor Carmo?

- Desculpe aparecer assim de repente, Lety, mas eu precisava conversar com você e com seu marido. Eu liguei mais cedo, mas ninguém atendeu e depois não consegui completar mais a ligação.

- Ah... Nós... Estávamos ocupados.

- Eu estou incomodando alguma coisa?

               Só a nossa segunda chance de prazer naquela semana.

- Não. – Forcei um sorriso.

- Eu posso entrar?

- É claro! Por favor! – Abri o portão por completo e Carmo passou por ele, sorrindo o tempo inteiro. Notei certa tensão vinda dele, mas estava mais curiosa para saber o que ele estava fazendo ali.

- Ah! Que cachorro bonito! – Disse passando a mão na cabeça de Spike. – Qual o nome dele?

- Spike.

- Ah, Spike! – Ele sorriu.

               Provavelmente não era uma pessoa ruim, do contrário Spike não estaria tão à vontade com ele. Ele costumava conhecer a índole das pessoas, assim como fez com o antigo carteiro, que costumava roubar as correspondências da vizinhança. Precisávamos segurá-lo para não jogar o portão no chão todas as vezes que recebíamos alguma correspondência. 

 – Por aqui, por favor. – Caminhei em direção à casa e vi que Fernando estava parado à janela, nos olhando. Subimos as escadas e eu fiz sinal para que ele adentrasse a casa.

- Com licença. – Disse ao entrar.

- O Senhor aceita alguma coisa? Água? Suco?

- Um copo de água apenas, obrigado. – Sorriu.

               Logo Fernando apareceu, e olhou para Carmo com as sobrancelhas erguidas.

- Fernando! Quanto tempo! – Exclamou esticando sua mão para ele.

- Como vai, Carmo? – Fernando apertou sua mão.

- Bem! Na verdade, não tanto quanto gostaria, mas vamos falar sobre isso.

- Eu vou buscar sua água. – Sorri.

- Obrigado.

               Temi deixar os dois a sós porque sabia exatamente o que se passava na cabeça de Fernando. Apesar de não ter conhecido Tiago antes, Fernando já conhecia Carmo provavelmente desde quando começou a freqüentar a Construtora, já que era um cliente antigo de Humberto. Eu não o culpava pelo que aconteceu, pelo contrário. Tinha pena por ter que passar por uma situação tão constrangedora assim. Mas, eu estava curiosa para saber o que ele diria, e com certeza seria sobre esse assunto. Peguei o copo com água e voltei, percebendo que já estavam acomodados na sala.

- Aqui está. – Entreguei a água para ele.

- Ah, muito obrigado. – Ele sorriu, tomando um gole.

- Então... A que devemos a honra, Carmo? – Fernando perguntou sem rodeios assim que me sentei ao seu lado.

- Eu sei que parece estranho. Acho que a ultima vez que vim aqui seus pais ainda moravam aqui, certo?

- Acho que sim.

- Na verdade não era minha intenção vir aqui e atrapalhar o sábado de vocês, mas como eu disse à sua esposa, eu liguei antes, mas não consegui me comunicar com você.

- Ah... – Fernando me olhou. – Estávamos um pouco ocupados pela manhã.

- Entendo. Espero que eu não esteja atrapalhando nada agora.

- Não...

               Eu conseguia imaginar a verdadeira resposta que Fernando queria lhe dar, e me segurei para não rir com meus pensamentos.

- Bom... Não vou enrolar muito porque não quero tomar o tempo de vocês. – Ele se ajeitou no sofá e nos olhou com seriedade. – Vim conversar sobre o que aconteceu ontem.

               Fernando e eu ficamos em silencio.

- Quero que saibam que venho aqui com a melhor das intenções, mas completamente envergonhado pelo que aconteceu. Na verdade, eu acho que nenhum pedido de desculpas será suficiente...

- Não foi sua culpa. – Falei de imediato.

- De certa forma foi, porque ele é meu filho. Mas, espero que saibam que de maneira alguma eu aprovo esse tipo de atitude. E, lamento dizer, não foi a primeira vez.

- Não? – Perguntei abismada.

- Tiago é o meu filho mais velho e dos seus dois irmãos, acreditem, é o mais responsável. Por isso deixei as empresas em suas mãos. Mas, eu já conheço sua fama desde adolescente, e Fernando deve se recordar de algumas vezes que o nome da nossa família foi envolvido em algum escândalo.

- Tenho uma breve recordação... – Fernando respondeu.

- Tudo isso por causa de Tiago. Ele não é uma pessoa fácil de lidar, e só Deus sabe por que faz esse tipo de coisa, já que eu e sua mãe sempre lhe demos tudo. Mas, infelizmente, ele acha que pode fazer o que quiser com as mulheres, e está acostumado a tratá-las dessa maneira. Imagino que o tipo de companhia que ele anda o influencia muito nessa questão, e como as mulheres de outro tipo costumam ceder às suas tentações, ele deve pensar que todas são assim.

               Me mexi inquieta no sofá e Fernando segurou minha mão.

- Por favor, não pense que eu estou dizendo mal de você. Pelo contrário. Sei que é uma mulher de respeito, de princípios, e que mesmo que não fosse casada e esperando um filho teria esse mesmo pensamento, estou correto?

- Seu Carmo, nenhuma mulher deve ser agarrada à força. Sim, o Senhor tem razão ao dizer que eu teria me recusado da mesma maneira, mas, o que o seu filho precisa aprender é que não se deve tratar uma mulher como um objeto. Se dizemos “não”, significa não. E ele precisa entender isso.

- Estou totalmente de acordo. E saibam que ele foi afastado do cargo de Presidente por tempo indeterminado. Vou mandá-lo para a Inglaterra, e espero que lá ele aprenda a ter bons modos.

- É uma boa idéia. – Fernando disse.

- Bom, na verdade só vim aqui para me desculpar, e dizer que vou entender se você quiser quebrar o acordo que temos, e a aliança entre a Construtora e minhas empresas.

- Existe uma diferença do pessoal para o profissional, Carmo, e eu entendo isso. Por mais que eu esteja com nojo do seu filho, sei que você não teve culpa nisso, e principalmente sua empresa. O acordo continua, assim como a aliança. – Fernando pela primeira vez sorriu, e eu tive orgulho de suas palavras.

- Fico muito feliz que pense assim, Fernando. – Carmo sorriu. – Então... Acho que já tomei muito o tempo de vocês dois. Sinto muito a demora para falarmos sobre isso, imagino que queiram esquecer o mais rápido possível, principalmente você, Lety.

- Eu já estou trabalhando nisso, Seu Carmo. – Sorri.

- Que ótimo! – Ele se levantou e esticou apertou nossas mãos. – E mais uma vez, sinto muito. Espero que fique bem. – Disse diretamente para mim.

- Eu ficarei. Obrigada.

- Eu o acompanho até o portão. – Fernando disse.

- Até logo, Lety.

- Até.

               Observei os dois se afastarem e suspirei satisfeita. Ao menos alguém daquela família tinha boas intenções, e sinceramente, Senhor Carmo parecia ser uma pessoa boa demais para ter um filho como Tiago. Mas, do fundo do coração, eu esperava que isso mudasse.

 

 

 

                                                                          •••

 

Fernando

 

 

               Eu já estava a algum tempo “brincando” com a barriga de Lety. Estávamos deitados à cama, logo depois que a chuva começou a cair. Nada melhor do que terminar o sábado chuvoso em baixo das cobertas. Mas, Lety diferente de mim, estava sentindo um calor fora do normal, e para se refrescar ela colocou apenas um top, o que deixou sua saliente barriga de fora, me tirando toda a atenção.

- Foi bem legal da parte do Senhor “Camomila” ter vindo aqui, não é? – Ela perguntou enquanto me observava passear os dedos sobre sua barriga.

- Senhor quem? – A olhei divertido.

- Não consigo ouvir seu nome completo sem pensar isso.

               Balancei a cabeça rindo.

- Sim, foi muito legal.

- Ele é um bom homem.

- É. O vi poucas vezes desde que comecei a trabalhar na Construtora, mas me parece ser um homem de bem. Do contrário não teria vindo aqui se desculpar pelas imbecilidades do filho.

- É verdade.

               Ficamos em silencio, enquanto desenhava em sua barriga com a ponta dos dedos. Estava com a cabeça escorada em uma das mãos, deitado um pouco abaixo de Lety. Enquanto conversávamos eu não conseguia deixar de imaginar em como o bebê estaria lá dentro.

- Acha que ele ou ela já consegue distinguir nossa voz? – Perguntei aleatoriamente.

- Imagino que sim. Laura disse que em certo momento ele consegue nos conhecer, porque ele se acostuma a ouvir nossas vozes todos os dias.

- Quer dizer que ele difere pelas vezes que a escuta?

- Eu não sei. Não entendi muito bem. Mas, imagino que sim. Você está ao meu lado na maioria das vezes, inclusive à noite. Ele deve saber que deve te chamar de “papai” quando nascer. – Ela riu, e eu senti o meu coração palpitar. Imaginei como seria a primeira vez que ouvisse a palavra “papai” ser dirigida à mim, e senti uma felicidade inexplicável.

- Vou me certificar que Márcia e Carolina não fiquem tão perto de você então.

- Que maldade. – Ela riu.

               Novamente ficamos em silencio, apenas ouvindo o barulho da chuva que caía lá fora, enquanto me perdia nos pensamentos.

- Sabe o que eu estou com vontade de comer? – Ela perguntou.

- O que?

- Comida japonesa.

- Mas você detesta. – A olhei incrédulo.

- Eu sei, mas... Fiquei com vontade.

- Isso é mesmo muito estranho. Mas... Amanhã saciarei seu desejo. A não ser que queira que eu saia debaixo dessa chuva para saciá-lo agora.

- Não, de maneira alguma. – Ela riu. – Eu não faria isso.

- Ótimo. – Sorri.

- Apesar que não seria uma má idéia...

               A olhei.

- É brincadeira. – Ela riu acariciando meu cabelo.

Me ajeitei na cama e me deitei mais próximo à ela, deixando nossos rostos frente à frente, enquanto continuava com a mão em seu ventre.

- Sabe a única parte que não gostei do dia de hoje? – Ela perguntou olhando em meus olhos.

- Não diga que foi o almoço... Estava mesmo muito bom e...

- Não. – Respondeu rindo. – O almoço estava delicioso.

- Então o que foi?

- Interrompemos o nosso momento mais importante...

- Ah... – Sorri. – É verdade. Não estamos com sorte nesses últimos dias.

- Mas, ainda temos amanhã, não é?

- Amanhã? – Perguntei me inclinando sobre ela. – Ainda temos a noite inteira para isso.

               Ela me olhou divertida e eu puxei o edredom para cima de nós dois. Lety soltou uma gargalhada que fez o meu coração disparar, e eu a beijei, tentando demonstrar à ela o quanto ela me fazia feliz. O quanto os dois me faziam feliz.         



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...