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História Depois de Ti - II Temporada - Ansiedade


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Pessoal, antes de tudo gostaria de enfatizar uma coisa. Como eu já disse das outras vezes, o intuito dessa fic não é fazer "hot" em todos os capítulos. Sei que muitas acham isso essencial, mas nessa fic sinto muito lhes dizer que não será assim. Os momentos íntimos de Fernando e Lety são especiais, e eu prefiro guardá-los para ocasiões também especiais. Então, desculpem dizer, mas não vai adiantar as cobranças de hot nos comentários hahaha. Mas espero que estejam gostando, e muito obrigada pelos comentários ♥

Capítulo 9 - Ansiedade


[8 MESES DEPOIS]

 

Lety

 

- Eu. Estou. Uma. Bola. – Olhei o meu reflexo no espelho, de todos os ângulos possíveis.

Por tanto tempo esperei ansiosa que a barriga crescesse, mas quando dei por mim, estava maior do que eu esperava.

- Eu não vejo a hora de te conhecer. – Suspirei sorridente, passando a mão em minha barriga.

               Costumava fazer isso grande parte do dia. Eu já não me sentia mais sozinha, mesmo pelo fato de Fernando continuar trabalhando e não me deixar ajudar de nenhuma maneira, dizendo que eu precisava de repouso. – Eu não estou doente! – Era o que eu respondia à ele. Mas Fernando pouco se importava com minhas reclamações sobre ficar “atoa” o dia inteiro. Ele dizia que não queria que eu me esforçasse naquele ultimo mês, mas na verdade desde quando a barriga começou a crescer ele estava policiando tudo o que eu fazia.

               Desci as escadas e para a minha sorte (ou de certa forma falta dela), Fernando ainda não tinha saído para trabalhar, e estava passando no mesmo momento.

- Ei! Ei! – Ele subiu o restante dos degraus, segurando minha mão. – Quantas vezes te disse que o corrimão serve de apoio?

- E quantas vezes eu já te disse que eu sei exatamente quantos degraus tem essa escada? – Perguntei revirando os olhos.

- E quantas vezes também já reclamou que não consegue olhar para os próprios pés, conseqüentemente não enxergando também os degraus?

               Preferi não responder. Fernando sempre teria uma resposta na ponta da língua para me dizer por que eu não deveria ficar andando pela casa. Eu já estava em um tédio extremo, sem poder trabalhar, sem poder mexer no jardim, sem poder fazer quase nada que eu estava acostumada a fazer. E tudo começou quando fomos à ultima consulta com Laura. “Letícia já está no ultimo mês de gestação. É bom que faça algumas atividades para a saúde dela e do bebê, mas não é bom se esforçar muito”. Eu tinha a impressão que Fernando deletou todo o início da frase e gravou apenas “ela não pode se esforçar”. Desde quando saímos daquela consulta, ele praticamente fez um termo de condições para que eu não fizesse nada.

- Já tomou café? – Ele perguntou assim que descemos as escadas.

- Não... Estou descendo justamente para isso. – Respondi um pouco impaciente.

- Lety, você sabe por que eu estou te enchendo tanto com isso, não sabe?

- Eu sei. – Suspirei e sorri. – E eu agradeço por se preocupar.

- Que bom. – Ele me beijou rapidamente. – Agora preciso ir à Construtora.

- De novo? – Perguntei quase espantada. – Você está indo todos os dias!

- Eu sei, amor. Mas essa semana está cheia, preciso estar presente.

- Tudo bem. – Respondi sem conseguir disfarçar a tristeza. – Você volta para o jantar?

- Farei o possível. – Novamente ele me beijou, no momento em que Irminha se aproximou. – Irminha, faça com que ela se...

- Alimente direito. – Ela o interrompeu, sorrindo. – Sim, Seu Fernando. Eu sempre insisto para ela comer o tempo inteiro.

- Desculpe. – Ele sorriu sem jeito. – Agora preciso ir. Eu te ligo mais tarde, tudo bem?

               Balancei a cabeça concordando.

- Até mais tarde.

- Até.

               O observamos se afastar e olhei para Irminha, que estava prendendo o riso.

- Ele está ficando mais neurótico a cada dia que passa. – Falei seguindo para a sala de jantar.

- Isso é normal, Lety. É a primeira vez que estão passando por isso.

- Mas ele está começando a exagerar. Sabe o que ele fez ontem?

- O que?

- Perguntou se eu não precisava de companhia ao tomar o meu banho, porque eu poderia escorregar e cair.

               Irminha gargalhou.

- Eu estou começando a ficar com medo! – Falei.

- Não se preocupe. Logo, logo isso vai passar.

- Não vejo a hora. – Suspirei, acariciando minha barriga. – Estou me sentindo tão... Pesada.

- Falta pouco, Lety.

- Sim... Muito pouco. – Suspirei sorrindo. – Não vejo a hora, Irminha.

- E pode ter certeza que nós também não. Ah... Por falar nisso... Bordei outro sapatinho!

               Preferi apenas sorrir e não dizer nada. Do contrário, perguntaria “mais um?”. Se por um lado Fernando exagerava em sua preocupação, por outro Irminha exagerava na ansiedade em bordar sapatinhos para o bebê, que nem ao menos sabíamos o sexo. Toda semana ela bordava um sapatinho diferente, e cada um de uma cor. Eu já não sabia mais onde guardar tantos sapatos, mesmo com o quarto do bebê já em andamento, e isso era algo que me preocupava.

- Eu preciso olhar o restante dos móveis para o quarto. – Falei olhando-a.

- Lety, Seu Fernando já disse para você não preocupar com isso.

- Mas, Irminha, eu preciso terminar o quarto do bebê antes que ele nasça! Nem ao menos compramos um berço!

- Você mesma disse que precisavam saber o sexo do bebê antes.

- Mas acontece que de ultima hora eu não quis saber o sexo. Eu... Prefiro que seja surpresa.

               A verdade era que eu estava tão ansiosa que preferi não saber o sexo quando Laura nos questionou. Se eu soubesse, a ansiedade aumentaria ainda mais e eu estaria ainda pior do que já estava. Preferia esperar até a hora certa de saber, já que tudo o que comprávamos era de uma cor neutra que combinaria com ambos os sexos.

- Eu não sei o que Fernando está pensando. – Escorei em meu braço. – Sinceramente, não sei se ele está fingindo ou se ele realmente não está tão ansioso quanto eu.

- Claro que está ansioso. Ele só demonstra de maneira diferente.

- Acha que toda essa preocupação é da ansiedade?

- Com certeza.

               Sorri abobada.

- Bom... Então eu não tenho o que reclamar, não é?

               Uma das coisas que mais me admirou durante todos aqueles meses foi a preocupação de Fernando. Embora de certa forma fosse sufocante, era apenas uma maneira de ele desabafar toda a ansiedade e nervosismo de esperar a chegada do bebê. Por várias vezes o peguei acariciando meu ventre enquanto eu “adormecia”, inclusive já o peguei diversas vezes conversando com nosso bebê. Pensar que ele estava extremamente ansioso para ser pai me animava, principalmente por saber de seus medos. E eu mal podia esperar a hora de ter nosso filho nos braços, e confirmar o que eu já temia: Fernando seria um pai maravilhoso.

- Eu acho que vou dar uma caminhada pelo jardim. – Me preparei para me levantar e Irminha logo correu para me ajudar.

               A olhei divertida e ela deu dois passos para trás, se desculpando. Só me restava rir da situação.

 

 

 

                                                                          •••

 

 

 

- Sim, mamãe. Eu estou me alimentando direito. – Balancei a cabeça rindo enquanto falava ao telefone.

- Não se esqueça de comer muitas verduras!

- Fernando, Marta e Irminha não me deixam esquecer. – Comentei rindo.

- Ótimo! E descanse, filha!

- Mamãe, é o que eu mais estou fazendo nesse ultimo mês.

- Assim fico mais tranqüila.

- Pode ficar. Tenha certeza de que não estou fazendo esforço nenhum.

               Nenhum... Para a minha tristeza. Nem mesmo Irminha me deixava ajudá-la nos trabalhos de casa mais. Só me restava passear pelo jardim, ler alguns livros que Fernando me presenteava toda semana (já que eu conseguia terminar de ler um livro em poucos dias) e fazer o que mais me animava no dia: Conversar com minhas amigas. Essa era, definitivamente, a parte mais emocionante e animada do meu dia. Graças à Deus eu tinha freqüentemente a visita de Carol, Márcia e Laura. Do contrário, eu já teria enlouquecido naquela casa.

- Eu fico assustada por ele não ter te amarrado em uma cadeira. – Márcia comentou em uma visita rotineira durante a tarde.

- Não falta muito para ele fazer isso. – Brinquei.

- Que horror! Fernando não está errado. – Disse Carolina. – É o primeiro filho deles, e ele só está preocupado.

- Carol tem razão. – Laura falou. – Todo mundo tem uma maneira diferente de demonstrar preocupação, e Fernando demonstra dessa maneira. Eu fico surpresa por você não estar assim, Lety.

- Eu?

- Sim, você! – Respondeu com firmeza. – Por que eu sei que de todos nós, você é a que está mais ansiosa.

               As três me olharam como se me acusassem de algo grave.

- Se querem saber, sou uma pessoa muito tranqüila quanto à isso. Estou ansiosa? É claro que estou! Mas estou conseguindo me conter muito bem!

- Sei... – Márcia riu. – Eu aposto que está tão neurótica quanto Fernando.

- É claro que não! – Me defendi de imediato.

- Não vamos estressá-la. – Carol disse.

- Estão vendo? É esse o problema. Me tratam como se eu estivesse doente ou algo do tipo. Eu sinto falta de me estressar, eu sinto falta de fazer os trabalhos de casa, sinto falta de trabalhar. E querem saber? Sinto falta das pequenas discussões que eu tinha com Fernando!

- Como assim? – Laura perguntou confusa.

- Fernando e eu discutíamos algumas vezes por coisas bobas. E querem saber? A melhor parte era a reconciliação. Nós não discutimos mais porque ele simplesmente não aceita discutir comigo. Se eu me irrito com alguma coisa, ele vai logo se desculpando e fim! Eu não consigo nem me estressar mais!

- Lety, isso era para ser uma coisa boa. – Disse Carol.

- É que eu... – Suspirei. – Eu estou entediada! Eu não posso fazer nada nesse ultimo mês, e isso me deixa tempo de sobra para ficar pensando no dia do parto, e eu simplesmente... Enlouqueço!

- Ah... – Laura riu. – Então é isso. Está tensa pelo parto.

- Claro! E quem não estaria?

- Sinceramente, eu só vou engravidar quando inventarem um aplicativo onde você pode ter o seu bebê via wifi. – Comentou Márcia. – Tenho pavor do parto.

- Ótimo, Márcia. Isso é muito importante para a Lety nesse momento. – Ralhou Carolina.

- Sinceramente, eu não sei o que pensar. – Disse sincera. – Tenho tanto tempo para pensar nisso que já pensei em várias possibilidades.

- Lety, não faça isso com você mesma. Eu já expliquei que o melhor é ter um parto normal, e por acompanhar sua gravidez desde as primeiras semanas posso afirmar com quase toda a certeza que vai correr tudo bem, e que será um parto tranqüilo.

- Laura, você mesma disse que tem algumas chances de dar algo errado durante, não disse?

- Sim, mas...

- E são essas chances que me tiram do sério nesse ultimo mês. E se algo der errado? E se eu não souber o que fazer? Eu... Simplesmente... Estou enlouquecendo!

               As três me olharam de uma forma que nem Fernando e nem Irminha jamais tinham olhado. Principalmente pelo fato de não saberem que todo aquele medo me perturbava todos os dias.

- Lety, eu sei que o ultimo mês é o mais difícil, e eu mesma te falei isso. Mas... Você precisa relaxar. Não vai conseguir pensar em nada mais se ficar com esse medo martelando sua cabeça. Vai dar tudo certo, e eu posso garantir isso.

               De certa forma consegui me tranqüilizar com os conselhos de Laura, mas a tensão e o nervosismo que eu estava sentindo, nem eu e nem ninguém conseguiria acabar com isso, exceto com a chegada do bebê. Uma mistura de ansiedade para finalmente segurar o meu filho nos braços e um nervosismo fora do normal pela hora do parto me incomodava todo o santo dia. E não ter nada pra fazer durante um dia inteiro era ainda pior. Fernando por vezes tirava um tempo a tarde para me fazer companhia, e costumávamos discutir o final da decoração do quarto do bebê. Mas, naquelas ultimas semanas, Fernando estava estranhamente com a cabeça nas nuvens, e mal prestava atenção quando eu lhe dizia minhas idéias para o quarto. Eu estava extremamente nervosa e também extremamente sensível. Qualquer mínima coisa que acontecia me deixava mal e eu logo sentia a inevitável vontade de chorar. Era algo que eu não conseguia controlar, e chegava sempre nos piores momentos.

- Por que está chorando, Lety? – Terezinha me perguntou enquanto olhávamos revistas de bebês.

- Por que... O meu avô... Se chamava Otávio. – Solucei.

- E o que tem isso? – Irminha perguntou confusa.

- Eu li aqui que é um dos nomes mais escolhidos para bebês.

               As duas se encararam e logo depois me olharam, esperando que eu explicasse aquela cena ridícula. Mas, obviamente, eu não saberia explicar. Estava daquele jeito há semanas, e simplesmente não conseguia controlar o choro.

- Desculpe. – Enxuguei as lágrimas. – Eu não deveria estar assim.

- Lety, está acontecendo alguma coisa? – Terezinha perguntou fechando a revista. – Estou notando que está um pouco... Diferente esses dias.

- Eu só... Estou preocupada. – Menti. – Ainda não terminamos o quarto do bebê.

               Na verdade, por mais que a pressa para terminar o quarto me incomodasse, não era exatamente por isso que eu estava nervosa e emotiva.

- Mas Fernando não já disse para você não se preocupar com isso? – Terezinha me olhou. – Não deveria estar tão nervosa, querida.

- Mas ele nem ao menos me deixa entrar no quarto! – Exclamei com certa raiva. – E sabe o que ele fez? O trancou! Disse que era para eu não me preocupar com isso e me aborrecer ainda mais.

- E ele está certíssimo! Você não pode se estressar.

               Achei melhor não responder. Todos diziam a mesma coisa, mas tudo o que acontecia era justamente o contrário: Eu me estressava. Estava cansada de todos dizerem o que eu não podia fazer, com o que eu não deveria me preocupar. Eu só queria ser tratada normalmente, fazer minhas coisas normalmente, e ao mesmo tempo ter o apoio de todas as pessoas em minha volta para a chegada do meu filho. Era a única coisa que eu precisava, e parecia que ninguém conseguia me entender.

- Olá!

               Assim que Fernando apareceu na porta da sala, senti um alívio tomar conta de mim. Ele sempre sabia as palavras certas para me acalmar, embora a maioria fosse “não se estresse” e “não se preocupe, falta pouco”. Mas, a falta que eu sentia dele naquelas ultimas semanas estava quase insuportável, principalmente quando ele passava tanto tempo na Construtora.

- Oi, filho! – Terezina o cumprimentou.

- Que bom que está aqui!

- Soube que você está proibindo a pobre da Lety de fazer tudo. Precisei vir para fazer companhia.

- Não é bem assim. – Ele riu, me cumprimentando com um beijo. – E vocês? Como estão?

- Bem. – Respondi com certo desanimo, mas sem querer preocupá-lo.

- Se alimentou direito?

- Sim.

- Evitou estresses?

 - Sim! – Revirei os olhos.

- Nando, você não precisa tratá-la dessa maneira também. – Terezinha disse se levantando. – Eu concordo que precisa ter certa atenção no ultimo mês, mas Lety não está doente.

- Obrigada! – Agradeci inevitavelmente e Fernando me olhou.

- Faço isso para o bem dos dois. – Respondeu colocando uma das mãos em meu ombro.

- Eu sei. – Sua mãe se aproximou tocando seu rosto. – Vou deixá-los à vontade.

- Não precisa ir agora. – Me levantei.

- Eu tenho um compromisso com umas amigas hoje. – Ela me abraçou, se despedindo.

- Ah... Os bingos. – Fernando prendeu o riso.

- Não adianta zombar da sua mãe dizendo que bingo é coisa de velho. – Ela o olhou com as mãos na cintura. – Saiba que nos divertimos mais do que vocês jovens.

- Tudo bem. – Fernando riu, se despedindo dela com um beijo no rosto.

- Eu volto depois, está bem? – Ela me olhou. – Sempre que meu filho ingrato a deixar sozinha, pode me ligar.

- Está bem. Obrigada. – Falei rindo.

- Eu a acompanho. – Irminha disse.

               Assim que as duas saíram da sala nos deixando a sós, caminhei até a parede mais próxima e observei o porta retrato que presenteei Fernando no fim da reforma. A foto que “tomei emprestada” na casa de sua mãe e a enquadrei para pendurá-la em nossa sala.

- Está tudo bem? – Ele perguntou se aproximando.

- Sim. – O olhei divertida. – Você acabou de perguntar.

- Eu quis dizer de modo geral.

               O olhei confusa.

- Tenho notado que está um pouco... Tensa essa semana.

- Só estou um pouco entediada.

- Eu sei, mas saiba que faço isso para o seu bem e para o bem do... – Ele tocou em minha barriga. – Do bebê.

- Eu sei. – Repousei minha mão por cima da sua. – Mas eu gostaria de conseguir fazer o que costumava fazer antes.

- Falta...

- Pouco. Eu sei. – Suspirei. – Não vejo a hora.

               Carinhosamente ele colocou uma mecha do meu cabelo por detrás de minha orelha.

- Que tal se jantarmos hoje?

- Eu já pedi Marta para...

- Não. Jantarmos fora.

- Mesmo? – O olhei admirada.

- Sim! Você disse estar entediada, então podemos fazer algo para melhorar isso, não é? Sei o quanto você gosta de jantar fora. – Sorriu.

- É, tem razão. – Retribuí o sorriso empolgada.

- Então vá se arrumar que eu vou dizer à Marta que não precisa preparar o jantar hoje.

- Está bem.

               Me preparei para me afastar, mas antes, lhe deu um beijo de agradecimento.

- Eu te amo. – Sussurrei.

- Eu também te amo. – Ele sorriu satisfeito.

 

 

                                                                          •••

 

Fernando

 

 

               Normalmente esperar era uma das minhas virtudes e para a minha sorte, Letícia não era o tipo de mulher que demorava horas para se arrumar. Mas, naquele dia em especial, estranhei sua demora. Já estava há quase quarenta e cinco minutos esperando por ela, e por mais que eu estivesse começando a me sentir ansioso pela sua demora, eu me senti obrigado à apressá-la ou perderíamos a reserva do restaurante. Subi as escadas e parei à porta do quarto, ouvindo um barulho estranho. Assim que abri a porta, para a minha surpresa, Letícia ainda não estava ao menos vestida.

- O que aconteceu? – Perguntei notando que ela jogava todas as suas roupas em cima da cama.

- Eu não encontro nada para usar. – Respondeu com a voz falha, e logo percebi que ela estava se segurando para não chorar.

- Como não acha nada? – Perguntei confuso. – Olha só esse tanto de roupa...

               Com certeza havia algo errado, já que Letícia nunca foi o tipo de mulher consumista e viciada em compras e roupas novas. Ela sempre se contentou com o que tinha e com o que ganhava.

- Mas nada fica bom.

               Esperei um tempo para entender o que se passava ali, até Letícia fechar as portas do guarda roupas furiosa e me olhar com os olhos cheios d’água.

- Nada fica bom em mim! – Choramingou, e antes que eu pudesse impedi-la de chorar, ela sentou-se pesadamente na cama.

- Como assim? – Perguntei ainda confuso, me sentando seu lado.

- Nada me serve!– Ela apontou para o próprio corpo. – Eu engordei ainda mais essa semana! Daqui a pouco eu vou explodir!

               Eu entendia o seu exagero como uma maneira de desabafar todo o seu nervosismo durante a semana. Laura já havia me alertado que o ultimo mês era sempre o mais difícil, e eu já estava preparado para qualquer tipo de reação vinda dela.

- Meu amor... Por que está falando assim? Você nunca se preocupou com isso. – Falei carinhosamente.

- Eu estou parecendo uma... Bola! – Ela suspirou meio à um soluço. – E quer saber? Vai chegar uma hora que você não vai me achar mais atraente, e então? O que acontece? – Ela se levantou, andando de um lado para o outro.

- Mas que bobagem, Lety! – Exclamei. – É claro que não vou achar isso.

- Sabia que a porcentagem de casais que se separam durante a gravidez é 12%? E sabe qual o principal motivo? O homem não sente mais atração pela mulher!

- Isso não vai acontecer com a gente. – Me levantei.

- E como sabe?

- Como eu sei? – Segurei seus ombros fazendo-a olhar para mim. – Como acha que eu sei?

               Ela limpou as lágrimas. Eu sempre me sentia mal quando ela chorava em minha frente, mas ao menos daquela vez eu sabia que a culpa não era minha, o que me deixava ainda mais forte para ajudá-la.

- Eu estou... Com muito medo. – Desabafou. – Da hora do parto. Sei que já aprendi muita coisa com Laura, com os livros. Mas... Eu estou apavorada!

- Eu vou estar ao seu lado. – Segurei em sua cintura. – Segurando sua mão, e te ajudando em tudo o que precisar.

- Promete?

- É claro que prometo.

               Ela sorriu meio as lágrimas e eu as enxuguei.

- E para de pensar que está gorda ou feia ou seja lá o que for. Eu não acho isso, e jamais irei achar que não é atraente. E você sabe isso melhor do que ninguém. Te acho atraente de todas as formas.

               E aquilo era a mais pura verdade, e mesmo que ela estivesse em um momento de fraqueza, ela provavelmente se lembrou de todas as vezes que a elogiei naquelas ultimas semanas, por simplesmente achá-la ainda mais linda naquele ultimo mês de gestação.

- Obrigada. – Disse sorrindo. – Desculpe por isso. Eu estou... Bastante emotiva.

- Você quer que eu cancele a reserva? Podemos ficar em casa hoje se preferir.

- Não! – Respondeu de imediato. – Eu vou encontrar uma roupa. – Ela olhou para a cama lotada de roupas.

- Quer ajuda?

- Você faria isso?

- O que eu não faria por você? – Sorri, beijando-a rapidamente.

               Me virei para a cama tomando fôlego para começar a procura da roupa perfeita que fosse agradá-la. Normalmente eu não fazia isso, mas eu precisava animá-la de alguma forma. Por mais que eu não tivesse um senso de moda e principalmente um gosto peculiar por combinações igual o dela, eu tentei o meu máximo.

- Que tal esse? – Peguei um vestido azul que estava próximo à mim.

- Ele não está me servindo nesse ultimo mês. – Respondeu desanimada.

- Tudo bem. – O joguei do outro lado da cama. – E esse? – Peguei um branco.

- Usei no ultimo fim de semana no jantar na casa dos seus pais.

- E o que é que tem?

- Eu não ligo de repetir roupas, mas usar a mesma dois fins de semana seguidos é demais. – Ela riu.

               Balancei a cabeça descartando o segundo vestido. Analisei cuidadosamente a montanha de roupas por cima da cama e encontrei um que com certeza ela iria gostar, e não tinha como criticá-lo.

- E esse?

               Ela me olhou e abriu um largo sorrindo, confirmando minhas suspeitas.

- Acho que esse vai ficar bom.

- Experimente. – Sorri entregando à ela.

               Letícia tirou o seu roupão imediatamente para colocou a roupa que eu escolhi. Enquanto vestia, não pude evitar admirá-la, como fazia todas as manhãs e todas as noites. Ela poderia não saber ou acreditar, mas vê-la daquela maneira me dava uma felicidade fora do normal, que mesmo se eu tentasse de todas as maneiras não conseguiria me explicar.

- O que achou? – Perguntou apontando para a roupa.

- Ficou ainda mais linda. – Sorri admirado. – De verdade.

- Obrigada. – Ela sorriu animada. – Eu tinha me esquecido desse macacão.

- Então é esse o nome?

- Sim! – Ela riu. – Ainda não sei por que nunca o usei.

- Porque estava esperando uma ocasião especial.

- Acho que sim. – Ela sorriu. – Eu termino de me arrumar em cinco minutos, tudo bem?

- Está bem. Vou esperá-la na sala.

- Ok!

               Lhe dei um rápido beijo e a deixei a sós no quarto. Eu era suspeito ao elogiar Letícia, porque qualquer pessoa ao meu redor, principalmente nossos amigos, sabiam o quanto eu a elogiava, tanto na aparência quanto na personalidade. Mas, definitivamente eu estava exagerando ainda mais ao longo daqueles meses. A medida que sua barriga crescia eu me sentia ainda mais admirado, e era impossível não me sentir emocionado toda as vezes que a olhava. Ao contrário do que ela reclamava, ela estava ainda mais radiante, e como dizia Irminha: Carregava um brilho diferente e único. Eu temia que não conseguisse parar de olhá-la todas as vezes que estávamos juntos, e de fato não conseguia. Era mais forte do que eu.

               Em poucos minutos ela desceu as escadas e eu a observei. Definitivamente aquela escolha de roupa tinha sido ideal, porque a deixou ainda mais deslumbrante.

- Podemos ir? – Perguntou ao descer as escadas.

- Com certeza. – Sorri, beijando sua mão. – Está melhor?

- Muito melhor. E... Me desculpe por isso. É mais forte do que eu.

- Não se desculpe. – Respondi sincero. – Vamos?

- Sim! – Ela sorriu.

 

 

 

                                                                          •••

 

Lety

 

 

               Meu humor estava definitivamente fora de controle. Há minutos atrás eu estava chorando e odiando o fato de nenhuma roupa me servir, e de repente estávamos em nosso restaurante preferido, dando gargalhadas sobre assuntos aleatórios que falávamos enquanto aguardávamos o jantar. É claro que grande parte dessa “felicidade repentina” era graças à Fernando, que estava sendo um verdadeiro anjo para mim principalmente naquele mês. Todas as vezes que eu saía do controle por causa dessa maldita mudança de humor, ele me ajudava da maneira mais carinhosa e compreensível. Por sorte.

- Eu fico feliz que Márcia e Carolina estejam te visitando com freqüência. Eu não gosto de deixá-la sozinha em casa, mas... Você sabe... Preciso resolver os problemas da Construtora. – Fernando disse enquanto falávamos sobre minhas crises de mudança de humor, que naquele momento era algo engraçado de se lembrar.

- Eu sei disso. Mas não se preocupe. – Segurei sua mão. – Irminha também é uma ótima companheira, embora seja tão rigorosa quanto você.

- E ainda bem por isso. – Ele riu. – Eu sei que pareço um louco e neurótico tendo tanto cuidado com você, mas... É que eu não sei lidar bem com meus medos e ansiedade.

- Nós dois estamos ansiosos, mas... Como você sempre diz para mim: Falta pouco.

               Ele riu.

- Sim, muito pouco. E não vejo a hora. – Disse acariciando minha mão.

- Também não vejo a hora. – Suspirei sorrindo. – Espero que saibamos ser ótimos pais.

- Eu tenho certeza que você será uma ótima mãe.

- E eu tenho certeza que será um ótimo pai.

- Então, já seremos ótimos! – Ele sorriu e eu gargalhei.

- Posso confessar uma coisa?

- Claro.

- Me sinto mal por não ter aceitado saber o sexo do bebê naquela ultima consulta.

- Por quê?

- Eu pensei que ficaria ainda mais ansiosa e tensa, mas acho que foi o contrário. Se eu soubesse o sexo eu já conseguiria imaginar exatamente o que poderia e não poderia fazer. Já poderíamos ter escolhido um nome, terminado de montar o quarto... – Suspirei. – Seria melhor do que deixar tudo para a ultima hora.

- Bom... Eu não quis dizer nada, mas eu sabia que você iria arrepender.

- E por que não me convenceu de saber?

- Achei que você já estava decidida. Não quis contrariá-la.

- Você precisa saber que sua esposa faz muita coisa sem estar decidida, e que precisa da sua ajuda para tomar algumas decisões. – Brinquei e ele riu.

- Mas eu sei que você fez por uma boa causa.

- Sim, mas... Agora acho que eu conseguiria ficar mais tranqüila sabendo o sexo.

- Como eu sempre digo...

- Falta pouco. – Completei sua frase e ele riu.

- Exatamente.

               O assunto foi finalizado com a chegada do nosso pedido. O restante do jantar se manteve animado e relaxante, principalmente para mim. Eu precisava de um momento como aquele para conseguir me manter tranqüila até chegar a hora, e com a ajuda de Fernando, aquilo não seria tão difícil. Após o jantar maravilhoso que tivemos, voltamos para casa, e eu já me sentia outra pessoa. Assim que subi as escadas pronta para ir para o quarto, fui surpreendida com Fernando colocando a mão em meu rosto, tapando meus olhos.

- O que é isso? – Perguntei divertida.

- Uma surpresa... – Sussurrou.

- Mas... Assim? De repente?

- Ah... Não foi você que disse que eu não conseguiria esconder uma surpresa de você? Não faz idéia do que seja?

- Não. – Respondi rindo. – É algo... Sensual?

- Não, longe disso.

- Então, não faço idéia.

- Tenho certeza que você vai gostar, mas... Tem que me prometer que continuará com os olhos fechados, está bem?

- Tudo bem.

- Promete?

- Prometo!

- Vou confiar em você...

- Fernando!

               Senti suas mãos se afastarem do meu rosto e continuei com os olhos fechados, como prometido. Realmente não fazia idéia de qual seria a surpresa, já que não tínhamos nenhuma data especial por perto, e principalmente porque não havia notado nenhuma diferença nas atitudes de Fernando, o que entregava totalmente suas surpresas. Enquanto permaneci de olhos fechados, ouvi o barulho de uma chave entrando em uma fechadura não muito longe.

- Eu não queria entregar a surpresa tão cedo... – Ele disse puxando minha mão, me colocando de frente para alguma coisa ou lugar. – Mas depois de hoje acho que isso fará bem para você, e ajudará a conter a ansiedade para a chegada do bebê.

               Eu já não conseguia mais conter a ansiedade de saber o que era a surpresa. Já sabia que era relacionada ao bebê, e para conseguir me deixar tranqüila até o dia do parto só poderia ser algo de tirar o fôlego.

- Pode abrir os olhos.

               Assim que o abri, notei que estávamos de frente à uma porta, que logo a identifiquei sendo a porta do quarto do bebê. Olhei para ele sem entender, e então ele sorriu, colocando uma das mãos na maçaneta.

- Eu espero que goste, porque eu fiz com muito carinho. E... Não foi nada fácil manter esse segredo de você. Estou satisfeito e assustado por ter conseguido chegar até aqui sem você descobrir.

               Balancei a cabeça rindo.

- Está pronta?

- Sim! – Suspirei ansiosa.

               Fernando girou a maçaneta fazendo um grande suspense, mas enfim abriu a porta do quarto, empurrando-a para que abrisse por completo. A minha reação foi a que qualquer pessoa teria ao se deparar com uma surpresa daquele tamanho. Eu não consegui me mover, e meus olhos ficaram paralisados no que estava em minha frente. A surpresa era nada mais nada menos do que o quarto do bebê completamente arrumado, inclusive com um berço, mas com um notável detalhe: A maioria das coisas eram rosas.

- Mas... Como...? – Não consegui formular minha pergunta. Estava admirada demais para isso.

               Fernando sorriu e adentrou o quarto, puxando minha mão para que eu o seguisse.

- Lembra-se de quando você não quis saber o sexo do bebê?

               Balancei a cabeça assentindo.

- Bom... Eu não consegui me conter, e pedi para Laura me contar. Não foi para contrariá-la, que fique claro. Mas, eu sabia que você estaria ansiosa nesse ultimo mês, e se preocupar com toda a arrumação do quarto talvez piorasse sua ansiedade. Tive a idéia de fazer uma surpresa, e arrumar todo o quarto para você. Mas, é claro que eu precisaria saber o sexo antes, e então...

               Ele olhou em volta sorrindo e segurando minha mão com carinho.

- Bem vinda ao quarto da nossa menininha.

               Eu mal podia acreditar no que via e ouvia. Saber que Fernando preparou tudo aquilo com carinho, dedicação e paciência fazia o meu coração se explodir de felicidade. Senti que não conseguiria fazer outra coisa a não ser deixar rolar aquelas lágrimas que estavam embaçando meus olhos. Fernando virou-se para mim e sorriu, tocando em meu rosto.

- Não vai chorar, não é?

- Não tenho outra opção. – Respondi com a voz rouca, já começando a chorar. – Fernando, isso é... É... Lindo! Eu... Não tenho palavras para expressar o que estou sentindo agora.

- Eu espero que isso possa ajudá-la a se manter firme até o dia do parto, que não falta muito. Precisamos estar preparados psicologicamente para a chegada da... Nossa filha. – Ele disse com orgulho.

               E então eu entendi porque naquele ultimo mês Fernando evitava dizer “nosso filho ou filha” e qualquer coisa relacionada ao sexo do bebê. Ele planejou tudo em cada mínimo detalhe, e conseguiu que aquela fosse a surpresa mais emocionante que já recebi na vida. Me aproximei do berço de cor branca com detalhes rosas, com vários bichinhos espalhados por ele. Toquei nas grades do berço e imaginei o momento que nossa filha estaria adormecida ali. Olhei em volta e tudo estava exatamente como eu imaginei. Além de fazer uma surpresa como aquela, ele ainda levou em consideração todas as minhas dicas de decoração.

- Ficou do seu agrado? – Ele perguntou se aproximando.

- Se ficou do meu agrado? – Perguntei limpando as lágrimas, sorrindo. – Meu amor, essa é a coisa mais linda que você poderia fazer para mim. Para nós. Eu estou simplesmente encantada e... Eu acho... Que não quero mais sair daqui.

               Ele riu, me abraçando.

- Daqui a alguns dias esse vai ser o lugar mais freqüentado da casa.

- E eu não vejo a hora.

               Retribuí o abraço, tentando de alguma maneira demonstrar à ele o quanto eu estava feliz.

- Obrigada. – Me separei do abraço, mas não me afastei. – Não só por isso, mas por tudo o que faz por mim.

- Você merece.

- Eu acho que não merecia tanto...

- É claro que merece. – Respondeu acariciando meu rosto. – E te ver feliz também me deixa feliz. Fique sabendo que também me emocionei quando terminei de organizar os detalhes.

- Eu tenho certeza que sim. – Respondi rindo, lhe dando um beijo apaixonado.

               Depois de agradecê-lo com um beijo, voltei a admirar todo o quarto, dessa vez conseguindo prestar atenção nos detalhes. Fernando me abraçou por trás e escorou sua cabeça em meu ombro, me mostrando as idéias que tinham partido dele. Suspirei admirada, sem palavras para dizer o quanto eu estava apaixonada pela notícia e pela maravilhosa surpresa. Como eu disse, não queria nunca mais sair dali, mas em certo momento tivemos que voltar para o nosso quarto para descansarmos. A imagem do quarto da nossa filha ainda ficava em minha cabeça, e a ansiedade, embora estivesse ainda maior, não me agredia como antes. Era um sentimento bom, tranqüilo, e que tirou todo o peso que carreguei naquele ultimo mês.

- Uma menina... – Sussurrei quando estávamos deitados.

- Sim... Uma menina. – Fernando acariciava meu cabelo enquanto me aninhava em seu abraço.

- Já podemos pensar em um nome?

- Quando você quiser.

- Eu tenho algumas opções, mas... Sabe o que eu penso?

- O que?

- Que só vamos saber mesmo o nome ideal quando a vermos pela primeira vez.

- Eu penso da mesma maneira.

- Mesmo?

- Sim.

- Tenho certeza que quando a segurarmos pela primeira vez vamos saber qual nome lhe dar.

- Eu também tenho certeza.

               Suspirei completamente satisfeita e fechei os olhos, ainda com um sorriso no rosto. Só me restava agradecer. Agradecer por ter uma vida tão boa, por ter um marido maravilhoso, e por estar há poucas semanas de ser mãe de uma linda menininha. E eu mal poderia esperar para segurá-la pela primeira vez.



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