História Depois do fim - Duas semanas

-- Não. Não.

-- O que foi?

Me afasto do seu abraço e o empurro, mas ele é forte demais, musculoso demais. Era melhor empurrar a parede.

-- Caramba!

Ele segura os meus pulsos, espantado com minha violência e com um pouco de medo, talvez.

-- Vai embora! - eu grito.

-- Porra, não! - ele rosna, irritado. -- Desculpa, me desculpa. Eu fui um grosso, um cavalo, um idiota, eu... eu... Não quis dizer aquilo. Anne... Anne... Por favor. Eu me irritei. - ele sussurra, passando a mão pelos cabelos daquele jeito nervoso.

Eu vejo como ele está sofrendo, confuso, magoado. Eu mesma estou muito confusa agora.

-- Você se droga? - pergunto, tentando ser firme, mas não passou de um sussurro.

Registrei o espanto em seu rosto como se ele houvesse gritado.

-- Mais que porra!

-- Fala a verdade pra mim, foi por isso que houve o acidente, por isso a Holly morreu?

Vejo ele tremer com a confirmação, meu corpo se arrepia. Não vou mais chorar, não agora. Fecho as mãos em punho, sinto as minhas unhas fincarem na palma da minha mão.

-- Foi, foi por isso. - ele admiti.

-- Porque não contou pra mim?

-- Eu fiquei com vergonha.

-- Você ainda faz isso?

-- Não.

-- Jura pra mim.

Ele se cala e vejo meu medo virar realidade.

-- Matt?

-- Eu fiz uma vez, quando você sumiu da  casa dos meus pais sem avisar, foi por desespero. - ele suspira.

Eu me sinto frustrada.

-- E da próxima vez que você se desesperar? Você vai fazer de novo, não é?

-- Não!

-- Você não pode prometer isso.

-- Posso sim, posso sim. - ele resmunga, confirmando com a cabeça.

Minha mente voa longe, para o passado.

-- O homem que me estuprou, ele não parecia normal, sempre me perguntei se ele estaria drogado. Claro que eu nunca vou saber. Não posso passar por  isso de novo, não suportaria. - eu engasgo no final. Ele se aproxima e enterra o rosto no meu cabelo.

Me sinto despedaçada.

-- Anne... - ele murmura.

-- Não!

Me afasto para olhar seu rosto.

-- Por favor, não faz isso. - ele pede desesperado, agarrando minha mão.

-- Vai embora.

-- Não... Anne...

Liberto minha mão da dele, mas não consigo olhá-lo.

-- Preciso ficar sozinha Matt, sai!

Respiro fundo quando ele levanta da cama, querendo que ele vá, querendo que ele fique.

Antes dele sair do quarto eu vejo seu rosto. Lágrimas escorrem.

Matt é durão, mas eu deixo ele fraco, vulnerável.

*** Pov Matt ***

Naquela noite eu sonhei com Anne, como em quase todas as noites, mas esse sonho foi diferente.

Estávamos no lago da casa dos meus pais, ríamos e jogávamos água um no outro, até quase perder o fôlego, era a imagem da felicidade.

Quando acordei e me vi sozinho, a dor foi tão arrebatadora que me encolhi. Eu nunca perderia a esperança, nunca desistiria dela, mais se ela não voltasse  pra mim... Eu não me recuperaria.

Passamos esse tempo apaixonados, respirando a companhia um do outro.

Como se tivéssemos fugido desse mundo e ido para outro bem distante, onde o sol brilhava mais forte. Como se ela sempre tive sido meu destino. Mas como o idiota que sou, estraguei tudo.

Achei que ela tivesse esquecido Simon e me deixado entrar em seu coração. Talvez tivesse mesmo, mas eu deixei minha mãe me envenenar.

Anne queria distância de mim.

Eu poderia dar espaço a ela. Eu sinto tanta raiva de mim, minha vida volta a ser uma merda sem ela.

Duas semanas sem ela, são duas semanas vazias.