Elena Gilbert
--Tia Elena, conta uma história? –implorou Alasca, com os olhos vibrando e brilhando. Os olhos mais bonitos que eu já tinha visto na minha vida toda. Meu olhar foi atraído pro nariz dela, e notei como ele era parecido com o meu.
--Tudo bem, vem cá. –chamei-a com a mão, trazendo-a pro meu colo e a aninhando ali mesmo. –Era uma vez, num país distante, um jovem principie que vivia num reluzente castelo.
--Principie? Cadê a princesa? –questionou a pequena, franzindo a sobrancelha.
--Espere aí pequena, e fecha os olhinhos pra você imaginar toda a história.
Ela assentiu e logo vi seus olhos azuis se fecharem.
Embora tivesse tudo o que quisesse, o principie era mimado, egoísta, grosseiro... Mas numa noite de inverno, uma velha mendiga veio ao castelo, e lhe ofereceu uma simples rosa em troca de abrigo para o frio. Repugnado pela feiura dela, o principie zombou da oferta e mandou a velhinha embora. Porem ela o aconselhou a não se deixar enganar pelas aparências, pois a beleza está no interior das pessoas, e quando ele voltou à expulsa-la, ela se tornou numa bela feiticeira. O principie tentou se desculpar, mas era tarde demais, pois ela havia percebido que não havia amor no coração dele, e como castigo, ela o transformou numa fera horrenda, e rogou uma praga no castelo e em todos que lá viviam. Envergonhado da sua monstruosa aparência, a fera se escondeu no castelo com um espelho magico, que era a sua única janela para o mundo afora. A rosa que ela o ofereceu, era encantada, e iria florescer até o vigésimo primeiro ano. Se ele aprendesse a amar alguém e fosse retribuído na época em que a ultima pétala caísse, então o feitiço estaria desfeito. Se não, ele estaria condenado a permanecer fera para sempre.
Com o passar dos anos, ele caiu em desespero e perdeu todas as esperanças.
Quem seria capaz de amar a um monstro?
Depois de contar a introdução de minha história favorita a Alasca, percebi que ela já suspirava controladamente. Estava dormindo.
Não percebi quando o cansaço do voo de Mystic Falls até a Itália se aproximou e me pegou, jogando-me em uma perfeita e relaxante cochilada.
*
--Ei! –senti mãos grandes em meus ombros. Abri os olhos, mas os voltei a fechar, pois o sono ainda era predominante –Gata, precisa levantar.
Damon tocou minha mão e puxou-me delicadamente. Sentei e pisquei diversas vezes, tentando acordar.
--Cadê a Alasca? –perguntei preocupada, ao notar que ela não estava mais na cama comigo.
--Lá embaixo com Adele e minha mãe, se arrumando pra festa.
Uma semana havia se passado desde a morte de Stefan, e aqui estávamos nós, nos preparando para comemorar o aniversário de dezenove anos de Alasca. Ela havia trocado uma gigantesca festa, com todos os seus amigos e até um cantor famoso, por um singelo jantar com a família. Não poderia ter escolhido melhor.
--Como você está? –quis saber de Damon, puxando-o para se sentar ao meu lado.
Ele deu de ombros, e apertou levemente meu pescoço com as suas mãos, massageando-o.
--Melhor do que os outros dias, e atrasado, só não mais do que você.
Pulei da cama ao me lembrar de que ainda precisava tomar banho, e corri pro banheiro.
--Vai tirando meu vestido e minha bolsa de maquiagens da mala! –pedi a Damon, já entrando debaixo do chuveiro.
*
Alasca brincava com os primos pequenos na sala, e o som da risada dele contagiava todos os presentes. Era algo mágico.
Lilian aproximou-se de mim com uma taça de champanhe nas mãos.
--Querida, você ainda não bebeu nada. –ofereceu-me a taça, mas eu neguei com um gesto de mãos e um sorriso gentil nos lábios –Alguma razão especial pra não estar bebendo? –minha sogra arqueou a sobrancelha.
--Estou tomando remédio, venho tendo dores de cabeça muito forte.
--Só tome cuidado pra não acostumar-se com antibióticos.
Assenti e beijei sua bochecha, afagando sua mão e procurando Damon no amontoado de gente. Sua família era enorme, diferente da minha. A casa parecia pequena ao ver tantos parentes reunidos em um lugar só.
--Elena? –ouvi alguém dizer o meu nome atrás de mim. Virei-me rapidamente e me deparei com Adele. Naquela noite quente, ela vestia uma saia preta na altura dos joelhos, com uma blusa de seda dourada e uma sapatilha da mesma cor nos pés. –Fico feliz que tenha vindo.
Sorri a ela e segurei suas mãos.
--Não perderia o jantar por nada.
Ela também sorriu, e logo se retirou.
--Parece que estão virando amigas, então? –surpreendeu-me Damon. Abraçando-me de costas, ele beijou minha orelha.
--Talvez, eu espero que sim. Alias, será que o jantar vai demorar muito? Estou morrendo de fome. –questionei.
Ouvi algo se chocar contra um vidro e logo notei que vinha da taça de George, meu sogro. Estava chamando a atenção de todos na sala.
--O jantar está servido, pessoal!
Glórias!!!
*
Damon descansou sua mão na minha coxa, enquanto bebericava do vinho branco antes de ir pro prato principal, enquanto Alasca esperava ao meu lado, comendo a adorando os tomates cereja.
--Tia Elena, eu posso comer a mesma coisa que você? –me perguntou.
--É claro que pode, mas sem pimenta, tudo bem?
Ela assentiu, e perguntou o que eu estava bebendo no meu copo.
--Suco de laranja. Bebe um pouquinho. –levei o copo perto dos lábios dela e o encostei, deixando a minha mão debaixo do seu queixo para evitar que sujássemos o seu vestidinho branco.
--Com licença, senhorita. –pediu um garçom, depositando a minha frente um prato que me fez ficar com agua na boca. Terminei de dar o suco a Alasca e posicionei nossos guardanapos em nossas coxas.
--Elena querida, é um prazer finalmente te conhecer! –ouço Mike, o namorado de Túlio (irmão de Lilian), dizendo a mim.
--Damon falou muito de você! Parece que é o tio favorito dele, hein? –brinquei.
--Até parece. Esse garoto é um pé no saco. –brincou o homem.
--Foi mau tio Mike.
Sorri e bebi um golinho leve de vinho, temendo cortar o efeito dos remédios, mas tomada pelo desejo.
--Eu queria agradecer a todos que estão aqui. –ouvi a voz de Adele dizendo –É um momento especial mas delicado, e a presença de todos você é muito importante, principalmente a de Elena, que escutou até mesmo o meu silêncio.
Todos sorriram e aplaudiram, contentes e prontos para devorar seus pratos, mas não sem antes gritarem em uníssono:
--Feliz aniversário, Adele!
Com a ajuda do garfo e da faca, abri o filé de frango com algum molho que eu não conhecia a minha frente. Peguei-o e o levei a boca, sentindo levemente o exótico gosto.
--O que achou? É meu prato favorito e só o chef Dustin sabe fazê-lo. –comentou Damon, se deliciando com o frango.
Realmente o gosto era diferente, e talvez por isso difícil de ser feito. Fisguei mais um pedaço, e meu olhar foi atraído pra dentro do filé. Estava rosado, parecendo que foi mal frito. Senti um embrulho no estômago e senti vontade de cuspir o que estava na minha boca.
--O frango é quase cru por dentro, estando só frio por fora. –continuou Damon, quase no final do seu filé. Foi o necessário para que eu tampasse o nariz e a boca para que não vomitasse na mesa, me levantando, assustando todos na mesa, e correndo ao banheiro. Joguei o pedaço de frango no vaso sanitário depois de fechar a porta e todo o restante do jantar, do suco e do vinho também. Ouvi alguém batendo a porta e imaginei que fosse Damon.
--Só um segundo.
Vomitei outras três vezes, e em uma delas veio um comprimido junto. Lavei minha boca e minhas mãos e então abri a porta.
--O que houve? –surpreendi-me ao perceber que era Adele na porta, e não Damon (embora ele olhasse-me preocupado da mesa).
--Não sei, acho que o frango não caiu bem. Só um pouco de enjoo.
Voltei à mesa, ao lado de Adele, mas só para dizer:
--Se me dão licença, precisarei me retirar. Não passo muito bem e não quero estragar vossos jantares! –todos, com sorrisos bobos nos lábios, assentiram e desejaram-me melhoras.
--Mãe, se me der licença também... –pediu Damon, se levantando.
Tentei impedi-lo, mas Lilian disse:
--Pode subir, querido. Cuide de Elena.
Assentimos e subimos as escadas, ouvindo um burburinho se iniciando na sala de jantar.
*
--Está se sentindo melhor? –perguntou-me Damon, na calada da noite. Abri os olhos, sonolentos, e confirmei com a cabeça. –Quando você dormiu, depois de tomar o remédio pra enjoo, fiquei aqui um pouco e depois voltei à sala. –contou-me. –Mamãe está fascinada com o seu enjoo inesperado no jantar.
Sentei-me na cama. Porque fascinada com um indesejado enjoou?
Como se entendesse e enxergasse minha dúvida, ele tratou de dizer:
--Depois de verem que você não bebeu nada durante o jantar inteiro, ao saberem que você ama champanhe, papai e mamãe acharam estranho. Depois você ficou enjoada, isso sem contar nas dores de cabeça constante.
Ah não...
--Elena, nós transamos sem camisinha faz uns dias.
Não me pergunte isso, Damon.
--Eu, e provavelmente toda a família, achamos que talvez você possa estar...
Levanto-me da cama, pois não quero ouvi-lo completar a frase. Entro no banheiro e fecho a porta. Jogo um pouco de água no rosto.
--Elena! –Damon bate na porta com cautela –O que tem de errado com você? –sua voz está ficando descontrolada e um pouco séria demais –Porque é que sempre toco no assunto construirmos uma família, você foge? Não quer ter a porra de um futuro comigo?
Suspiro fundo e abro a porta, irritada com a falta de privacidade.
--Damon, eu não quero falar sobre isso agora, tá bom?
--E quando você vai querer falar, hein? Você sempre desliga ou simplesmente sai de perto Elena.
--Damon...
--Qual é o problema? Você acha que eu não vou amar o nosso filho só porque eu já sou pai?
--Damon! –grito um pouco alto demais. Ele para de falar imediatamente.
Com cautela, o vejo se sentar na cama e passar as mãos no rosto.
--O que tá acontecendo, Lena? Você está doente?
--Não, não estou doente.
Ele assente.
--Está grávida, Elena?
Suspiro. Não posso lhe contar toda a história agora, mas ele merece saber uma parte. Sento-me ao seu lado. Eu devo isso a ele, já que ele quer um futuro ao meu lado.
--Damon?
--O que foi? –seus olhos me imploram por uma resposta.
--Eu não estou grávida e provavelmente nunca estarei. Damon, eu sou estéril.
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