Terças-feiras são cheias de surpresas, você ainda não se recuperou de segunda, nem está pronto para que o dia seguinte venha, ainda assim, consegue ver através do véu que cobre a cabeça de tantas pessoas, como se visse todos vivendo suas vidas minúsculas presos no chão, enquanto está no alto de um balão em chamas, eu não caio. A vista é bela, porém o coração rígido me mantém frio perante a beleza, as casas em volta simplesmente são poeiras que mancham o cenário.
– Você está bem? - A voz sincera que voltava a minha cabeça de vez em quando, que me fazia imaginar toda aquela cena.
– Estou bem. Só me dê um segundo.
– Imagine de novo o balão, meu pequeno.
Minha cabeça ia flutuando até as memórias, construindo muros e labirintos que me levavam de novo a cena, eu estava no balão segurando o cesto de vime com firmeza, observando o caos na cidade e as infinitas necessidades desnecessárias de um ser humano, eu era apenas um ponto no céu, queimando, sem ter para onde ir, as gomas do balão iam murchando conquanto permanecesse no alto, entre as nuvens macias e brancas e o sol quase se pondo, tingindo o horizonte de amarelo, laranja avermelhado e o azul quase esquecido.
As cores vibrantes do balão tinham se transformado em uma cor de carvão queimado e a saia quase intacta, começava a se desfazer.
– Preciso parar. – eu dizia com os olhos vidrados nas pessoas embaixo de mim, elas eram tão pequenas, insignificantes, não saberiam nunca o que há além delas.
– Continue, você consegue.
O balão finalmente descia em direção aquelas pessoas, por alguns segundos achei que fosse morrer, nos outros eu apenas pensava que não queria me tornar inútil como elas, no entanto, eu já era uma delas. Um pequeno ser humano inútil se escondendo nas cortinas da vida. – Você conseguiu.
– Sim.
– Como se sente?
– Morto.
– Bem vindo a sua nova vida Paciente 302.
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