O zoológico da pequena cidade abriu os grandes portões de madeira ao público, e mesmo sendo há pouco tempo, já estava cheio. Típico de um sábado em família.
Pelo caminho de cascalho entre os recintos as famílias iam caminhando, observando os animais, e as crianças, em si, eram as que mais se divertiam.
— Olha o leão! O macaco! O hipopótamo! — A gritaria era constante e cada um falava de um animal, espantado pelas suas diferenças, seus jeitos e outros.
Uma das crianças ali presente não era diferente: era uma garota de longo cabelo castanho que andava entre a multidão com um sorriso enorme na boca banguela, olhando tudo ao redor, com os olhos arregalados e brilhantes, e a cada animal exclamava um: “Oh!” surpreso.
Era seu primeiro passeio por ali...
— Olha mãe, que pescoção! — Disse encostando-se a grade olhando cada detalhe da girafa, mas não durou muito, pois logo voltou à caminhada puxando sua mãe.
Seguiram, até pararem em frente à grade de um recinto com gramado aparado e reluzente, e grandes árvores podadas, mas nenhum animal apareceu. Olhou a placa de metal para saber quem ali habitava, todavia nada havia escrito.
Observou mais uma vez, com atenção, e realmente estava vazio, até que, escondido atrás da árvore, surgiu um animal, estranho em sua opinião: era pequeno e coberto por uma pelagem marrom; tinha um bico de pato e uma cauda de castor, linda cauda coberta também por pelagem e olhos amendoados e esbugalhados. Suas patas eram quase escondidas pelo corpo, mas eram como a de um pato, sendo dois pares, ou devia ser, porque o animal havia perdido uma. Ele era manco.
A criança sentiu um aperto no coração ao vê-lo mancar para fora do esconderijo, sentindo os olhos desse fitar-lhe, expressando algum sentimento, talvez dor.
“Que animal é esse?” Se questionou, observando-o a procura de adivinhar: tentou recordar de algo visto na escola ou programas, mas nada lhe veio. Após um tempo recordou de um desenho: “Phineas e Ferb!” lembrou-se com alegria. Realmente, aquele animal era igual ao Perry!
Sim, era um ornitorrinco manco. Como não havia reparado?!
— Mãe, esse lugar é do ornitorrinco — disse Chris, chamando a atenção da mãe com um puxão no braço.
A morena lhe olhou com a sobrancelha arqueada e em seguida olhou a plaquinha que continuava sem nada escrito.
— O que filha?
— É o lar do ornitorrinco manco. Vou dar o nome de Perry — e sorriu largamente achando graça.
Sua mãe forçou os olhos analisando o recinto, do começo ao fim.
— Onde?
— Perto da grande árvore. — Apontou para o animal.
Sua mãe nada comentou, mas dava para perceber sua confusão.
No fim do passeio a mãe de Chris levou-a a uma consulta no oftalmologista, e após conversar com a doutora, qual lhe disse, com todas as palavras, que não tinha nada de errado com a visão de sua filha, levou-a ao parque. Sentadas em um dos bancos de madeira, a mulher telefonou a alguém, enquanto Chris olhava ao redor: as pessoas que ali passavam; os cachorros que saíam correndo e rolando pela grama, e o ornitorrinco parado sob a sombra da árvore.
Calma...
Chris levantou-se e caminhou de encontro ao animal, analisando-o do focinho a cauda, até ver um pé em falta. Era o Perry!
— Hey Perry! — A garota se ajoelhou na grama sorridente e surpresa, pois nunca imaginou vê-lo novamente. — Como saiu do zoológico?
— Chris! — Sua mãe lhe gritou assustada, correndo ao seu encontro, ao perceber sua ausência. — Não faça mais isso!
— Desculpa mãe, é que vim ver o Perry — falou olhando para o animal. — Ele saiu do zoológico para nos seguir. Talvez tenha gostado da gente — e soltou uma risada achando graça.
Sua mãe pareceu não achar o mesmo e sem ao menos olhar o animal, pegou Chris pela mão, levando-a para longe.
Após o incidente no parque a mãe de Chris decidiu passar a garota em um médico. Nesse momento os adultos conversavam, e a morena contava tudo sobre hoje, enquanto o doutor concordava com a maioria com um aceno de cabeça. Chris não queria ouvir a conversa dos dois — até porque não entenderia —, então decidiu ficar olhando para a janela.
— O que tanto vê queria? — o doutor, ainda sentado, perguntou, observando-a intrigado. Esperava um: “Olhando as pessoas passando”, mas não fora isso que recebeu.
— O Perry — e fez menção de apontar para esse.
A expressão sorridente do doutor desfez e sem mais, pegou um bloco de papel e uma caneta, e escreveu algo, entregando logo para sua mãe.
***
Após todos os passeios feitos naquele dia, os outros resumiram-se em consultas e exames, o que fez Chris perceber que nenhum adulto conseguia ver o Perry, porque o animal escondia-se para não estragar seu disfarce de espião. Todavia, toda vez que tentava explicar para os adultos, eles davam-lhe um olhar indecifrável e um tic-tac, que muitas vezes fazia o Perry sumir de medo.
Todavia, a verdade era mais surpreendente, e Chris não entenderia mesmo que os adultos explicassem-lhe: o Perry, seu amigo Ornitorrinco Manco, nunca existiu, já que era um fruto de um problema mental que causava-lhe alucinações.
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