Desastre Perfeito
Can I Be Him – Capítulo 1
Existe algo em Naruto que seu melhor amigo, Sasuke Uchiha, sempre admirou. Por onde o rapaz loiro, alto e forte passa, esse “algo” é visto facilmente em suas expressões. Esse quê tão evidente no Uzumaki não é a sua felicidade natural, que por si só é uma das outras grandes qualidades do mesmo. A admiração de Sasuke vem da força de Naruto, porém não trata-se da força exterior expressa em seu rosto bem emoldurado, tampouco das estruturas atléticas de seu corpo. Não, não mesmo. Trata-se única e exclusivamente da força interior que ele carrega, de seu espirito sem igual. É visto por todos, é admirado por todos e todos querem um pouco dessa força.
Sasuke é um homem tão bem formado quanto o amigo, os rasgos de sua face são mais quadrados que os do Uzumaki, a pele mais clara e os cabelos de uma negatividade tão oposta a iluminação do loiro. É pouquíssimos centímetros mais alto, cerca de 3cm a mais que os 1,82M de Naruto. E não existe algo tão admirador no Uchiha quanto no Uzumaki, exceto que ele é o superior do melhor amigo e definitivamente alguém de quem não se sabe muito sobre a vida particular.
Naruto e Sasuke sendo pessoas tão opostas criam questionamentos na 8ª corporação de bombeiros em que trabalham. Como tornaram-se amigos, os melhores parceiros de trabalho com ideias, julgavam, tão diferentes? Como formam a melhor dupla de trabalho quando enviados a sós em missões? Aos dois pouco importa o que falam de suas vidas ou da maneira como lidam com o dia a dia que partilham. A eles o mais importante está em outras pessoas além de si mesmos.
A vida.
A vida de todos que precisam da força interior de Naruto e do talento de Sasuke para serem salvas. As vidas que eles carregam em mãos agora, cada um com uma, a tentar abandonar uma casa em chamas.
Destroços começam a cair e eles precisam cuidadosamente desviar-se deles e das chamas mais fortes. O traje de ambos os protegem das labaredas mais fortes, no entanto não poupam as duas últimas crianças que carregam.
O menino nos braços de Sasuke começa a tossir fortemente. Neste momento o Uchiha sabe que a intoxicação pode tornar-se perigosa, senão fatal. Então, procura por um caminho, uma saída mais próxima da casa. A visão do ambiente é difícil, muita fumaça e o laranja das chamas infernais a encobrir o caminho. Sasuke também pode escutar Naruto a gritar de algum canto, clamando por ajuda. Neste instante ele não sabe o que fazer, ou como agir ou sequer o que falar. Suas pernas travam junto com sua mente indecisa entre ir e voltar. Se escolher ir salvará uma vida, se voltar poderá perder três ou até quatro com a sua própria.
A lógica grita que ele deve ir e salvar a vida da criança em seus braços, mas o coração de quem já foi salvo pelo amigo diz que deve ajuda-lo. Contudo, ele é Sasuke Uchiha e não Naruto Uzumaki. Ele não tem as qualidades do amigo, ele não tem a força interior do mesmo. Força essa que, em outro ambiente daquela casa em chamas, faz com que Naruto ressurja como uma fênix tão furiosa quanto aquele fogo, a retirar um caibro em chamas de sua perna, agora ferida.
Naruto respira e inspira fundo dentro de seu traje, a notar que logo o oxigênio do mesmo acabará. A criança que carregava está deitada ao lado, desacordada e com sangue a escorrer pela face. Com dificuldades o loiro arrasta-se até a menina, a encaixa em seu colo e levanta do solo tendo-a em seus braços.
Por conta do uniforme Naruto não consegue constatar se a garotinha está viva. A fumaça tampouco o deixa concentrar-se no movimento do abdômen da menina, a fim de saber se a mesma ainda respira. Mas, ele confia. Confia na vida e na vontade que toda criança tem de viver, ainda mais aquela que ele carrega nos braços.
“ — Qual o seu nome? – Naruto questiona uma pequena garotinha, chorosa no canto de um quarto em chamas. — Eu vou te salvar, não se preocupe. — Sorri.
A menina vê os dentes brancos alinhando-se vagarosamente e move tão veloz quanto positivamente a cabeça. A paz instantânea a abraça quando os braços dele circulam o seu corpo e a pequena menina firma seus braços em torno do pescoço dele.
— Clara. — Ela grita em lágrimas, questionando a si mesma internamente se ter um pai é assim, algo tão aconchegante e calmo.
— Eu vou te salvar, Clara. Prometo! Nem que custe a minha própria vida eu farei isso.
E se ele também daria a vida por ela, como aquele estranho de dentes branquinhos.”
Ele havia dado a sua palavra e não falharia com ela. Conta também que Sasuke tenha feito a sua parte ao não correr para salva-lo, espera ao menos isso do Uchiha.
Naruto não o julga por isso, sabe que o trabalho deles é salvar a vida dos civis primeiro, ou seja, somente após isso Sasuke poderia pensar em seus colegas.
Com dificuldades e tendo a perna queimada, ele arrasta-se para o feixe de luz.
“Vamos lá. Só mais um pouco, você não pode falhar... Você não vai falhar”. Pensa consigo mesmo para cada passo dado. Quando a luz alcança os olhos dele em toda sua plenitude, Naruto sorri outra vez. Sem a permissão do loiro, suas pernas falham e ele cai de joelhos na calçada. Colegas vão por ele, assim como paramédicos para a menina que é retirada de seus braços.
— Sasuke ainda está lá dentro.
O choque percorre todo o corpo de Naruto ao ouvir a voz de Kakashi, o Capitão deles. Instantaneamente ele ergue-se do chão e empurra os amigos, a correr de volta para o fogo.
— Volte Naruto, já é tarde!
— Para o inferno! — o loiro gritou.
Por Deuses, se é que existem, Naruto não sabe como seu corpo é capaz de mover-se tão veloz e indolor neste momento. Talvez a carga de adrenalina o tenha dopado de tal maneira que nada sentia, exceto desespero por não encontrar o amigo em meio a chamas e destroços.
— Sasuke!
Grita. Grita mais uma centena de vezes. E, em nenhuma delas há respostas.
As lágrimas começam a escorrer dos olhos azuis. Naruto gira de um lado para o outro com as mãos na cabeça, perdido. Um apito percorre os ouvidos dele, logo o mesmo sabe que seu traje não dará mais a ele o oxigênio necessário para respirar.
Soluços começam a escapar e furioso ele arranca o capacete, a expor seus pulmões a fumaça escura.
— Maldito, maldito! – grita, chutando o ar. — Não era pra você tentar me salvar, infern...
Ele interrompe suas maldições ao chutar o que claramente é o corpo do amigo, ao chão.
— Sasuke! — abaixa-se, a retirar o capacete do moreno. Naruto expõe também as próprias mãos ao calor, a tocar o pescoço do Uchiha à procura de batimentos. — Merda, seu bastardo! Ainda está vivo!
Sorriu, secando as lágrimas que brincaram de mal gosto há poucos instantes. Logo, tratou de levantar o amigo. Mas, não havia mais forças para tanto, assim contentou-se em arrasta-lo entre destroços, chutando o que conseguia para limpar o percurso. Em algum instante tropeçou no caminho, a cair em algo macio.
Chocou-se ao constatar ser uma criança, desacordada. Imediatamente Naruto verificou o pulso da mesma, identificando o óbito.
Lágrimas tornaram a divertir-se da tristeza dele, que sem tempo para mais deixou o menino para trás, a carregar apenas o amigo. Quando ele alcançou a luz novamente, tentou não pensar em como as coisas seriam dali em diante. Naquele momento ele só queria salvar Sasuke.
— Afastem-se todos! — gritou.
Estava cansado, tão fisicamente quanto interna. Suas mãos pairavam sobre a cintura enquanto médicos chegavam para levar o moreno ao hospital. Naruto assistiu todo o processo dos profissionais, mas manteve-se à distância quando os mesmos o colocaram numa maca e o levaram à ambulância.
— Kakashi...
O homem grisalho escutou ser chamado pelo jovem loiro enquanto preenchia a prancheta dada pelos enfermeiros, com as informações de Sasuke. Ao terminar, encaminhou-se para próximo de Naruto com a constatação de que o loiro merecia definitivamente estar ao mesmo nível do melhor amigo, como 2º sargento do Corpo de Bombeiros.
— Bom trabalho hoje! — Kakashi cumprimentou, a pousar as mãos no ombro do Uzumaki.
De uma maneira estranha para o Capitão, Naruto não sorriu ou mostrou-se feliz pelo cumprimento. Alguém como ele no mínimo agradeceria o elogio, no entanto o loiro mantinha a cabeça baixa e parecia pensativo, julgou o Hatake.
— Você está merecendo uma nova insígnia¹, Naruto.
O loiro levantou a cabeça para o céu, olhos semicerrados mirando o mesmo azul que preenchia seu globo ocular. Respirou fundo e fechou os olhos.
“Uma nova insígnia...”. Ele sorriu. Tudo o que sempre quis, sonhou e almejou ali, dito por seu superior, o que já fazia dele agora um 2º sargento, alguém da altura e competência do melhor amigo. Amigo que deixara uma vida se perder para salvar a de Naruto, este tinha certeza.
Não, por mais que sonhasse com aquilo ele não se sentia merecedor. Uma vida importante se fora por um erro seu, um erro crucial de pedir ajuda. E sabe-se lá o que passou na cabeça de Sasuke para escolher a ele e não a uma criança.
“ — Eu v... vou retribuir. Cof... — Sasuke tossia, água ainda jorrava para fora dele enquanto Naruto mantinha a cabeça do moreno sobre o colo.
Estavam à deriva em um barco de madeira no meio do nada no mar, ao aguardo de um helicóptero de resgate.
— Eu... n-não vou deixar você morrer, Naruto.
O loiro sorriu, chamando o amigo de bastardo.
— Salvar você não faz parte de um saldo para ser quitado, bastardo. — socou-lhe levemente o peito.
O Uchiha sorriu levemente, fraco e tão branco quanto já é.
— Não me importa. — Sasuke respirou fundo, fitando as nuvens nubladas a trazer uma nova tempestade.”
— Eu quero me afastar da corporação por tempo indeterminado.
Naruto declarou tão determinado quanto seus olhos claros vibraram ao fitar Kakashi. Os orbes escuros deste saltitaram de forma surpresa à declaração inesperada do subordinado. Por alguns instantes o Sargento superior não encontrou o que dizer, ficara até constrangido. Contudo, Kakashi sabe que a corporação não pode ficar sem um homem como Naruto.
— Pedido negado, Sargento! — exclamou calmamente. — Está dispensando por hoje.
Kakashi aguarda Naruto bater continência a ele, no entanto o loiro sequer move a posição de seu corpo. A determinação ainda brilha firme nos olhos de Naruto, entretanto o mesmo não espera que o Capitão apenas mude de ideia. Como desafio não faz o seu dever, sabendo que deve ser punido com afastamento pelo ato de desrespeito.
— Infantilidade não resolve as coisas, Uzumaki. — o capitão respirou, a retirar a boina com todas as suas insígnias de poder. — Porém, você está dispensando por este final de semana. Precisa passar no hospital e dar uma olhada nesse ferimento em sua perna. Sasuke também precisará de você, de qualquer forma. Dito isso, retiro-me.
Naruto enfim entende, logo faz o seu dever como Sargento e despede-se do capitão a bater continência às costas do mesmo.
Exausto ele se vai, ao lado de outros colegas que o parabenizam, elogiam e o paparicam desnecessariamente sem pensar no quão ruim psicologicamente ele se encontra. Afinal, por trás de toda sua força interior existe também alguém tão frágil quanto um recém-nascido após a chegada ao mundo.
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