História Descendentes - Vamos Brincar?

Kiara, Anmy e Jade são melhores amigas desde o ensino fundamental e só faltava mais um ano para que terminassem os estudos e começassem uma nova etapa em suas vidas. Com mais responsabilidades, compromissos, dedicação, independência e é claro o começo da jornada pela procura de emprego.

As pressões psicológicas da vida já começavam a bater em suas portas antes mesmo que o seu último ano acabasse, mas antes de embarcar e ir para essa nova jornada, elas iriam aproveitar cada segundo daquele ano e todo o tempo que lhe era proporcionado.

Bom, pelo menos era isso o que elas mais queriam e no momento quem desejava mais entre as meninas, era Kiara, que refletia sobre seus planos para o futuro, enquanto ignorava descaradamente seu professor de geografia, que em vez de explicar sobre os tipos de vegetações que havia na África, acabou abordando um assunto totalmente diferente da matéria e sem prazo para o fim da sua explicação. Já que ele decidiu se inspirar justamente hoje!

— Estou com tanto sono... — Bocejou Anmy, sentada em uma cadeira a frente de Kiara.

— Está falando comigo? — Perguntou a amiga totalmente distraída e perdida na conversa que acabará de ignorar sem perceber.

— Para de me ignorar! — Anmy bufou pela falta de atenção.

— Desculpa...

Anmy aparentava ser bem mais nova que Kiara por ter um rosto angelical e feição infantil, diferente da amiga que apenas tinha o rosto de uma adolescente normal. Era bem comum as pessoas acharem que Anmy era a mais nova, mas ninguém acreditava também quando a mesma dizia ser três anos mais velha que Kiara... Anmy estudava na mesma classe que a amiga, era baixinha, magra com exceção das coxas grossas, tinha a pele clara, era loira dos olhos castanhos escuros. Era a amiga agitada, tímida e de muitos amigos.

Diferente de Kiara que era morena, magra, dos olhos verdes, pele pálida e tinha uma estatura normal para a sua idade. Era uma menina que sempre tinha assunto para conversar com quem quer que seja, era falante com pessoas próximas, mas ao mesmo tempo era calada com pessoas que não aparentavam simpatia! Não gostava de ficar envolta de muitas pessoas, especialmente pessoas barulhentas, gostava que as pessoas respeitassem o seu espaço...

O sinal da última aula soou fazendo com que os alunos murmurassem contentes e logo muito  barulho começaram a soar, assim que todos em sua classe se manifestaram para arrumar as suas coisas. Em seguida, uma boa parte dos alunos se apressaram em sair da sala de aula, fazendo com que um alvoroço se aglomerasse na pobre porta, da qual só se tinha espaço para um ou dois alunos saírem por vez.

E assim como a maioria dos alunos da maioria das escolas, os estudantes começavam a se dispersar no portão de saída. E foi ai que as duas amigas se encontraram com Jade que aguardava impacientemente no portão da escola.

Jade era uma menina alta, de cabelos ruivos, de pele morena claro, olhos azuis meio acinzentados, corpo cheio de curvas e completamente impaciente. Era um pouco preguiçosa, mas sempre bancava a esperta para se safar de algumas situações, dava desculpas de forma convincente e tinha uma imaginação muito fértil.

E sabe o que as três tinham em comum? Elas odiavam o calor, o verão, lugares muito iluminados, abafados, com muitos raios solares e pouca sombra! Eram o tipo de meninas que adoravam o frio, dias nublados, escuro e a sombra. Amariam a chuva também, se não acabasse com seus penteados.

— Finalmente em? — Reclamou Jade, sobre a sombra de uma árvore.

— Culpe o nosso professor de Geografia! — Respondeu Kiara, entediada ajeitando a mochila nas costas.

— Ele não parava de falar e ainda não queria nos liberar... — Bufou Anmy.

— Ele sempre fala demais! — Comentou Jade, ao se lembrar de que também tinha aulas com esse mesmo professor.

— Vocês tem tempo livre hoje? — Perguntou Kiara, abrindo uma sombrinha para se esconder do sol, que estava incrivelmente quente.

— Já tenho compromisso... — Comentou Anmy.

— Vou ter que ficar em casa ajudando meu pai. — Respondeu desanimada Jade.

— Ah, que pena! 

— Amanhã depois do colégio estaremos livres! — Confirmou as duas.

— Eu não sei... Tenho que ver, aviso vocês amanhã então! — Respondeu Kiara, pensativa sobre sua agenda de compromissos.

Todas conversaram por mais algum tempo e logo depois se despediram já que suas casas não eram muito longe uma da outra. Em casa Kiara chega de forma silenciosa e passa pela sala a qual não havia ninguém, olhando de relance em direção a cozinha, percebeu que a casa estava com um leve cheiro de fritura ao ver sua mãe fritando alguma coisa para o almoço.

Não querendo atrapalha-lá, apenas disse que havia acabado de chegar e então subiu a escada a sua frente, que levava para os quartos. A última porta do corredor era a do seu quarto, entrou e jogou a mochila de qualquer maneira no chão ao lado do seu guarda roupa, trocou de roupa e se jogou na cama tentando relaxar um pouco depois de um longo dia.

— Hoje, está realmente calor! — Murmurou para si mesma sentindo suas bochechas sensíveis arderem.

Kiara estava despreocupada em seu quarto, quando sua mãe começou a gritar seu nome no andar de baixo, há assustando um pouco. Gritou de volta e apenas pode ouvir reclamações da mesma... Pegou uma de suas almofadas que estavam sobre a cama e as colocou sobre a cabeça, desejando mentalmente ser teletransportada para bem longe de sua família que só sabia reclamar da vida.

Sem muitas opções desceu para a cozinha para saber o que sua mãe queria e como sempre reclamava e ordenava que, lavasse a louça, limpasse a casa e entre outros afazeres que Kiara insistia em dizer ser obrigações de sua mãe! Achava também tão injusto ter que limpar toda a sujeira que sua mãe fazia após preparar as refeições, da qual não fazia nem uma questão em evitar de sujar, ou que pelo menos, tivesse o bom senso de lhe ajudar a por a casa em ordem! Mas é claro que não, Kiara tinha que fazer o serviço, enquanto sua mãe ficava na sala assistindo TV.

Kiara muitas vezes se perguntava, porque sua mãe não podia colaborar com a faxina, já que todo mundo contribuia um pouco em sujá-la. Ainda bufando e murmurando inconformada pegou a vassoura e varreu toda a casa, depois pegou um balde e um pano e começou a passar sobre o piso cor de creme da cozinha e sobre o chão de madeira da sala. Pegou um pano de poeira e começou a limpar todos os objetos e móveis da sala incluindo o lustre, quando finalmente acabou seus afazeres se jogou na cama de seu quarto exausta. Mas não demorou muito para que sua mãe lhe chamasse novamente para que fizesse mais alguma coisa, hoje realmente não era o dia de sorte de Kiara...

Enquanto isso na casa de Anmy, a mesma terminava de se arrumar. Mal tinha chegando em casa e já estava se arrumando para sair novamente, não só para passear, mas para pagar as contas e fazer compras. Assim que saiu do banheiro arrumada sua mãe lhe entregou as contas e o dinheiro para que pudesse pagar, desceu as escadas de casa até o portão e logo se encontrava na rua novamente...

Cada cinco passos, Anmy olhava para ver se encontrava mais alguma sombra em sua rua, pois não havia muitas árvores para lhe refrescar, já que seus vizinhos fofoqueiros e fuxiqueiros que tanto detestava sempre as cortavam. Sem contar de que os muros das casas não eram grandes o suficientes para fazerem sombras grandes o bastante para tapar todo o seu corpo e quase nunca também estavam em um bom ângulo.

Anmy já começava a se abanar com as contas de luz e de água que estavam em suas mãos, quando finalmente chegou em um dos lugares que queria! Parece que Anmy vai ter um longo dia ainda...

Já Jade ainda teimava com seu pai de que não foi sua culpa o arroz ter queimado na cozinha, após um descuido. Depois de muita discussão de ambas as partes, Jade decidiu sair e deixar seu pai sozinho em casa, para que resfriasse a cabeça. Enquanto andava na rua inconformada, acabou esbarrando em um garoto, que assim que parou para encará-lo, percebeu que se tratava de seu vizinho mais bonito da vizinhança e que continha uma leve atração.

Ficou um pouco envergonhada com o incidente e pode o ver sorrir de uma forma encantadora. Alguns segundos de transe se passaram e quando seu vizinho distanciou-se e entrou no portão de casa, Jade apenas pode suspirar e voltar andar na rua, dessa vez se iludindo...

Assim que conseguiu chegar no joalheiro, perguntou se o mesmo poderia consertar o seu celular, disse também que uma outra loja que consertava celulares acabou o estragando e o piorando. O Velho senhor que a atendeu educadamente pediu para que esperasse um pouco e após quinze minutos ele voltou com péssimas notícias, havia lhe informado de que a tal loja de que a menina citou, tinha queimado a placa mãe do celular e não havia conserto. Transbordando de ódio e raiva, Jade agradeceu ao senhor em sua frente que lhe atendeu e começava a seguir em direção a maldita loja que destruiu seu celular novo e que havia sido super caro quando comprou. Estava pronta para matar as pessoas que trabalhavam nela e pronta para fazer um escândalo... Aquilo realmente não iria ficar assim...

Quando finalmente a noite caiu sobre a cidade, as três amigas encontravam-se cada uma na sua casa e conversavam por redes sociais super animadas e esperançosas sobre seus futuros planos. Até que em um dos grupos de conversas, um de seus amigos propôs que todos fizessem um jogo para se divertirem um pouco e esquecer da correria escolar.

Um teste de coragem! O jogo era bem simples, todos iriam se encontrar em um lugar marcado, todos teriam que ir de preto e usar máscaras para que ninguém reconhecesse uns aos outros, levariam lanternas e alguns objetos de que seriam necessários, ficariam em um círculo no começo da brincadeira e invocariam um espírito. O Jogo deveria ter uma duração de uma hora e caso alguém acabasse reconhecendo uns aos outros, teriam que remarcar para um outro dia e começar a brincadeira novamente.

— VOCÊS FICARAM LOUCOS? — Questionou Anmy, já amedrontada.

— Eu brinco, mas sem invocar espíritos — Responde Kiara.

— Sem espíritos não tem graça! — Reclamou Kaio um de seus colegas.

— Poxa vai ser legal! Sentir um pouco de adrenalina! — Insistiu Pietro.

— Podemos sentir adrenalina de outra forma... — Comentou Jade um pouco insegura sobre isso, pelo seu ipad enquanto não conseguia um novo celular.

— Ué! E de que outra forma é essa? — Perguntou Alex, se aproveitado do duplo sentido que continha na frase.

— Vai ver se eu to na esquina! — Respondeu Jade com raiva.

— Por favor! Eu nunca pedi nada. — Pietro insistiu novamente.

 — Não vamos ganhar nada com isso, do que nossa morte antecipada. — Protestou Anmy

— Se bem que... Brincar individualmente é aterrorizante e eu tenho medo — Respondeu Kiara.

— Eu dou dez reais para cada um de vocês, eu juro! E ficaremos brincando, só por quarenta minutos, nem vai ser uma hora! Tá bom assim para vocês? — Perguntou Pietro, provavelmente mentindo.

— Só por vinte! — Respondeu rapidamente Alex.

— Está bem... Está bem... — Comentou.

— Por vinte eu também participo. — Disse Kaio.

— Eu posso pensar... — Kiara respondeu pensativa.

— Você está falando sério? — Perguntou Anmy incrédula.

— Safada! Só, porque eu ia dizer que só participaria se alguma de vocês fossem, acreditando que vocês não topassem também. — Reclamou Jade.

— Ah, gente! Fantasmas não existem e espíritos vão estar ocupados demais para ir “brincar” com seis adolescentes sem o que fazer... Então... Porque não? — Questionou Kiara mais para si mesma do que para seus amigos no Chat.