História Desculpa Pela Demora - Desculpa Ser Só Agora

Desculpa Pela Demora

Capítulo 1

Desculpa Ser Só Agora

As lágrimas escorriam-lhe pela cara, aquilo que ela tinha vindo a sofrer ao longo dos últimos anos, aquilo que ela tinha vindo a saber, aquela que ela tinha vindo a ver, e ainda por cima aquilo que ela tinha vindo a guardar.

Depois daquela noite ela estava farta. Para ela tinha acabado, tinha sido desta vez, finalmente a última, chegava agora de desculpas, o que quer que ele lhe pudesse dizer “Não é o que estás a pensar, Hermione.” A porra. Era o que ela pensava, era o que ela via, era o que ela ouvida. “Não é o que parece, Hermione.” O caralho. Era o que parecia, era o que era, era a verdade. "Eu posso explicar, Hermione." Foda-se. Não se podia explicar o óbvio, tal como não se pode explicar que o rosa é azul quando não é. Ela estava farta, ia tudo voltar ao mesmo depois de mil desculpas, de mil perdões e de mil juras. Tudo iria voltar ao mesmo e todos os dias iria haver a mesma sova, a mesma dúvida, a mesma desconfiança. Ela sentia-se a ficar louca, a ficar uma marioneta, a ser uma boneca. Não. Não desta vez. Ela era mais, ela sempre foi mais. Ela sempre foi a melhor e mais inteligente bruxa da sua idade, não era por uma rapaz ruivo que ela se iria diminuir. Não assim, não a este nível.

Ela estava a sentir o soalho frio debaixo de si, queria dormir, chorar até adormecer para ser mais exata, mas não podia voltar aos dormitórios e sentir toda aquela vergonha e humilhação, era como se quisesse estar ali para sofrer, ainda por cima na cama que estava mesmo ao lado da sua? Como é que ele foi capaz? Como é que ela foi capaz? Mais uma vez sentia lágrimas a caírem pela sua cara abaixo, os olhos e a ficarem pesados. Será que ela tinha passados pelo menos uma única vez no pensamento de ambos? Alguma vez se teriam lembrado que a cama ao lado era a delas? Ou será que ela era assim tão descartável que nenhum dos dois quis ao menos saber? Precisava de beber alguma coisa, alguma coisa forte, mas em Hogwarts não existiam bebidas alcóolicas, afinal era uma escola.

Sentia-se dormente, todo o corpo dormente mas a tremer de frio, as suas costas doíam por estar tanto tempo sentada na escadaria, as pernas doíam de estarem dormentes e dobradas, sem qualquer movimento seguinte, os braços doíam por estarem tanto tempo em volta dos seus joelhos, agarrando-se a si mesma como se todo o mundo estivesse a ruir, a sua cabeça doía de cansaço e de tando chorar, os seus olhos doíam de choro e cansaço, queriam-se fechar enquanto ela recusava que eles o fizessem. Foi quando começou a pensar em ganhar coragem para se levantar e sacudir os pensamentos dessa noite que começou a ouvir passos.

Um loiro que sempre a observou na sombra estava agora a observá-la à luz suave da lua que adentrava no corredor pelas janelas grandes que estavam presentes em quase todos os corredores daquele castelo. 

-Que se passa, Granger? - Ele perguntou com uma tentativa falha de ter um tom de voz neutro e sem sinal de preocupação.

-Quem está aí? - A sua voz ainda se encontrava tremida pelas longas horas de choro a que se tinha proporcionado.

-Eu. - Ele limitou-se a sair da sombra em que se encontrava para finalmente a encarar.

-Oh, Draco. - Ela estava surpreendida, não podia dizer que o odiava ver à sua frente porque ao contrário do que toda a gente poderia pensar, a menina de cabeços cacheados sempre teve sentimentos sem ser de ódio pelo loiro, mas nunca os poderia admitir pela simples razão do seu melhor amigo, o famoso Harry Potter, e o seu suposto namorado que supostamente amava, Ron Weasley, serem inimigos quase mortais do Draco Malfoy. - Eu estava já de saída, não precisas de chamar o Sr. Filch.

-Não ia. - O rapaz sorriu de lado para ela, porque é que ela teria a cara inchada? E os olhos vermelhos? Será que o Weasel tinha feito mais alguma das dele? Relembrou-se de uma vez em que os apanhou no meio de uma discussão onde o ruivo lhe ia acertar de mão cheia na face, mas o loiro conseguiu intervir a tempo com uma das suas simbólicas frases "Pensava que feitiços de luta se praticassem com uma varinha"  disse ao ruivo de modo a fazê-lo esquecer de Hermione.

Hermione revirou os seus olhos enquanto observava Draco sentar-se a seu lado, com a sua devia distância, do lado completamente oposto ao degrau onde ela estava.

-Foi o Weasley? - Perguntou bruscamente.

-Sim.

-Bateu-te? - Temia a resposta e por isso mordiscou o seu lábio inferior.

-Não. Pelo menos não desta vez. - Ela riu suavemente de ironia.

-Então?

-Porque haverias de querer saber? Nunca te preocupas-te comigo, não te preocupas comigo nem nunca irás preocupar. Sai. O que queres? Humilhar-me? Não, espera, chamar-me Sangue de Lama porque não tenho sangue puro? - Ela soltou outra risada sentindo duas finas lágrimas de raiva e pesar escorrerem pela sua cara. - É que se é para isso eu realmente não estou para aí virada, Malfoy. 

Ela começou a levantar-se, cambaleando um bocado por causa de todo o seu corpo se encontrar dormente, até que conseguiu recuperar o seu equilíbrio. Ele despachou-se a levantar acompanhando os movimentos dela, rapidamente a puxou pelo pulso, fazendo com que os seus corpos chocassem e com que ele acaba-se por a abraçar.

-Sei que precisas disto, desculpa ser só agora. - E abraçou-a forte, sentindo-a retrair-se ao seu toque de início mas depois acabando por sentir a sua camisa a ficar molhada na zona do seu peito. Ela estava a chorar. Ela estava a chorar e estava incontrolável. Ela estava a chorar e era um choro que valia mais que palavras. Ela estava a chorar e tudo o que ele conseguia e podia fazer era mantê-la ali, nos seus braços e a acariciar-lhe o cabelo. Tudo o que ele podia fazer agora era mantê-la perto, aliás, tudo o que ele queria fazer desde o seu primeiro ano de Hogwarts era mantê-la perto. - Desculpa ser só agora que estou aqui. Ele murmurou enquanto a segura ali no escuro, nos seus braços.