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História Desejos Secretos - O Massacre


Escrita por: ValentinaEli

Notas do Autor


Essa história vai tomar um rumo mais sombrio. Descobertas, incertezas, suspeitas, surpresas...Espero que apreciem essa nova fase de Desejos​ Secretos!

Capítulo 16 - O Massacre


Fanfic / Fanfiction Desejos Secretos - O Massacre

Narrado por Elinór

– Igor, já estou indo pra aí – corri para o meu quarto enquanto ainda falava com ele. 

– Minha filha sumiu – ele chora pelo telefone e sinto um aperto no coração difícil de explicar. – Igor – chamei por ele, mas o mesmo se revolta e fala coisas desconexas. – Para! – gritei para que ele saísse do transe. – Em dois minutos eu estou aí, vou levar ajuda – ouvi sua respiração pesada. 

– Susana, minha filha é tudo o que eu tenho, eu não vou me perdoar se alguma coisa acontecer com ela – nunca o senti tão desesperado. – Igor, me escuta! – pedi tentando acamá-lo. – Quem está aí com você? – deixei o celular no vibracall e coloquei uma calça jeans preta, a primeira que encontrei, vesti uma blusa branca e uma jaqueta de couro preta. – Eu acho que tem mais gente morta na casa, tem muito sangue. Os seguranças não estavam na guarita. Agora estou no jardim da frente – peguei a chave do meu carro, minha pistola austríaca com as munições e saí de meu apartamento. 

– Saí daí agora, Igor! – fui efusiva. 

– Me espera do lado de fora da casa. Confia em mim! – desliguei e rapidamente liguei para Walter e Soniér, acionando o Código Vermelho. Dirigi em alta velocidade, já é madrugada e há pouco policiamento nas ruas. Meus pensamentos me levam há alguns suspeitos, mas por ora prefiro não me pronunciar, uma raiva imensa está tomando conta de mim ao lembrar a doce criança que é a filha dele. Onde está? A machucaram? Eu vou até o inferno atrás dela.

Quando manobrei o veículo na rua da casa de Igor, o avistei sentado na calçada, estacionei o carro e ele ergueu a cabeça. Desci do carro e andei rápido até ele. 

– Eu estou aqui – abaixei diante dele e vi seus olhos muitos vermelhos, hoje, além da filha, sei que sou um dos motivos. 

– Você está todo sujo de sangue – sua camisa está suja, assim como suas mãos. 

– Igor! – segurei seu rosto com as duas mãos, ele está aéreo. – Eu tentei ajudar a Rita, ela tinha um corte enorme na garganta, não dava pra estancar – suas palavras saem trêmulas. - Ela agonizou na minha frente, tentava falar e não conseguia – Igor pressionou as mãos contra a cabeça, buscando apagar a cena que viu. 

– Minha filha deve estar com medo, com fome e até mesmo ferida. Eu não aguento mais essa tragédia na minha vida – eu ia dizer mais alguma coisa, quando dois carros chegaram com toda velocidade, eram Walter, Vivian e alguns de nossos homens especialistas em sequestros e perícia criminal. Todos desceram de seus respectivos carros e se aproximaram. 

– Ok, vamos entrar ao meu comendo – todos empunharam suas armas devidamente carregadas e os peritos já traziam seus aparatos para análise do local. 

– A casa parece vazia, mas não sabemos se algo pode nos surpreender, então estejam preparados. – Igor ouvia tudo atentamente ao meu lado. 

– Vasculhem cada centímetro desta casa, se houver uma folha nesse jardim fora do lugar eu quero saber – fui enfática. 

– Walter, você entra pelos fundos com seus homens – apontei. – Vivian, você cobre as laterais da casa. Roger, Carlos e André vocês vão com ela - ordenei e todos assentiram positivos. – Rony, você vem comigo, vamos entrar pela frente – o homem se aproximou, ele é nosso contato fiel na polícia federal. – É uma honra trabalharmos juntos outra vez – apertamos as mãos. 

– Honra maior será mais uma resolução de nossos casos – completei ao lembrar-me de todas as nossas investigações em conjunto. – Lembrem-se, olhem os detalhes, os pormenores. Quem levou a criança certamente deixou alguma pista e eu a quero – olhei séria para todos. 

– Quero os telefones grampeados, as imagens das câmeras de vídeo da casa e das que estão voltadas para a rua – olhei para Igor e notei sua face abatida, amedrontada. Olhei a hora em meu relógio de pulso e o mesmo marca duas e meia da manhã. – Podem entrar! – autorizei e cada grupo saiu em direção ao seu local de investigação. – Você fica comigo – o encarei demonstrando confiança. – Todos os nossos contatos já foram acionados, estão todos em busca da sua filha. Quem a levou não vai fazer mal a ela – segurei suas mãos de maneira firme. - A Eduarda ainda não sabe. O que eu vou dizer a ela, que simplesmente a nossa filha sumiu, que eu a perdi – neguei com a cabeça. – Você vai falar com ela, mas não nesse exato momento – não quero dizer a ele o que se passa por minha cabeça, só digo algo quando tenho certeza. 

– Precisamos entrar! – fui categórica e nós três entramos observando cada mero detalhe a nossa volta. Na parte da frente da casa está tudo do mesmo jeito, mas quando subimos os primeiros degraus da casa, pude ver os rastros de sangue, provavelmente uma pessoa foi arrastada aqui. – Que merda essa? – perguntou Rony e olhamos na direção que ele falou. – Isso é? – não terminou sua fala, seguimos o caminho marcado por pegadas ensangüentadas. Pelo tamanho das mesmas, provavelmente devem ser de um homem que calça acima de quarenta. Elas levam para a lateral da varanda da frente da casa, onde há uma porta que dá acesso direto à sala, não sendo necessário passar pelo hall de entrada, empunhei minha arma e apontei para frente, pronta para atirar em quem quer que fosse. Rony fez o mesmo e Igor segue atrás de nós. – Quem faria uma barbaridade dessas? – Rony abafou o som da própria boca, ficamos os três perplexos com a cena. – Não, não – Igor repetiu desesperado ao ver seu cachorro morto e suas entranhas espalhadas. 

– Por que alguém faria isso? Eu nunca fiz mal a ninguém – falou com falta de ar. 

– Rony, me dá um minuto, pode ir entrando, vamos em seguida – ele assentiu que sim. Encostei Igor na parede e segurei seu rosto. Vejo sua palidez, ele exala medo e angústia. 

– Ei! – chamei firme por ele, o mesmo me olhou abatido. – Eu preciso que seja forte, pela sua filha e por você também – olho para este homem totalmente desolado e tudo o que pensava sobre ele se esfacelou, não há intenções dúbias em seus olhos, ele não os desvia de mim, sem sombra de dúvidas, é digno e está sendo injustiçado. 

– Cadê a minha filhinha? Ela é a única coisa boa que me resta – limpei suas lágrimas com meus polegares. – Eu vou trazer sua filha de volta, eu tenho certeza absoluta de que ela está bem. Confia em mim! – pedi serena. – Você confia, Igor? – insisti firme, ele silenciou por uns instantes, mas quebrou o silêncio. – Eu confio em você, é uma boa detetive, uma boa médica – puxou o ar. – Só precisa... – fomos interrompidos pelo barulho do mini walkie-talkie preso em minha calça. – Na escuta – respondi. 

– É melhor dar uma olhada aqui, é mais grave do que eu pensava – a voz de Walter amedrontadora nos deixou apreensivos. 

– Qual sua posição? – indaguei. – No jardim dos fundos, perto das árvores – desliguei o transmissor e segui com Igor para os fundos, desviamos do pobre animal destroçado e ao passar pela sala, visualizei a babá morta no meio do corredor que leva até a sala de jantar. Eu já presenciei muita tragédia e maldade em minha profissão, mas essa me choca principalmente pela suspeita que carrego comigo, meu desejo é de estar errada, mas não costumo me embrenhar em equívocos. A mais sangue na cozinha, o lugar está destruído, há utensílios de porcelana por todo o ambiente, a luminária está com a luz baixa e o rastro de sangue deixa no ar um cheiro enjoativo de ferrugem. 

– Ah, meu Deus! – quase não consegui pronunciar as palavras ao olhar o que meus colegas apontavam. 

– Susana, que loucura é essa? – a voz de Igor saiu incrédula e trêmula. Nem mesmo eu que pensei ter visto de tudo na vida, jamais cogitei a idéia remota da cena que vejo à minha frente. Os dois seguranças da casa estão enforcados na árvore, a corda no pescoço de um deles tem um nó de marinheiro, quem fez isso não queria nenhuma falha. Os peritos de minha equipe já fotografavam todo o local, e posso notar e semblante pálido e assustado de Igor, daria qualquer coisa para ele não presenciar isso. Suas mãos afrouxam o nó da gravata e ele parece esboçar ânsia de vômito. Andei até a árvore para olhar de perto a barbárie. 

– Olhe para as unhas – disse Vivian apontando uma lanterna para as mesmas. 

– Estão quebradas e roxas, houve muita luta corporal aqui. Eles tentaram proteger a casa – um dos homens transparece uma face de agonia, o medo da morte o assolou até o último segundo de sua vida. Ambos estão muito machucados. - Há marcas de unha até no queixo, certamente, além das escoriações causadas pela corda, deve haver muitas lesões pela tentativa de livrar-se dela – a tensão do ambiente é grande, minha boca já sente o gosto amargo do suspense e tudo à minha volta tem o cheiro do perigo. 

– Olhando o traçado do sangue, eles foram espancados na cozinha e arrastados até aqui – Dimitri se aproximou dizendo.

– Esses homens têm porte físico de atletas de alto rendimento. O da esquerda deve ter um metro e oitenta e aproximadamente noventa quilos – analisou. – O da direita, um metro e noventa e uns cem quilos – completou. – É necessária a força de no mínimo três homens para imobilizar um deles, enquanto o outro deve ter assistido o enforcamento esperando a sua hora – um de nossos investigadores disse analisando a cena. – A grama está amassada nesses três pontos próximos ao galho que recebeu as cordas. As pegadas aqui no jardim e acredito que na casa também, devem ter sido feitas por homens que calcem entre quarenta e dois e quarenta e quatro – enquanto ele falava, a brisa gélida da madrugada entorpecia o ambiente, espalhando o odor fétido do sangue. Tudo é caos por aqui. 

– Susana! – ouvi o grito apavorante de Igor, olhei para trás e o vi caminhando em direção ao caminho de flores que enfeitam toda a propriedade. Seus passos são desorientados, ele olha para o chão e põe as mãos na cabeça em sinal de assombro, corri em sua direção quando ele começou a gritar. – Patrícia! – olhei para o chão e notei o que o havia deixado assim. Há muitas mechas de cabelo loiro espalhadas pelo chão, parecem ter sido arrancadas pela raiz. Próximo a elas está uma sapatilha lilás, como um calçado que é deixado para trás numa fuga ou seqüestro. – Filha – choramingou o nome e agarrou-se a um objeto que não consigo ver o que é, ao ajoelhar-se na grama, abraçou o próprio tronco deixando seu choro carregado de magoa sair. Aproximei-me e me coloquei á sua altura; pude notar sua dor ao proteger com todo a afeto a bonequinha ruiva da pequena criança, um dos muitos objetos nesta casa manchados pelo vermelho do massacre. O abracei de lado e ouvi seu lamento, o apertei contra meu corpo e beijei seus cabelos. Aquele homem robusto, durão, agora está em estado de choque e meu coração sofre com ele. É como se um pedaço de mim também tivesse sido arrancado. 

– Mataram minha filhinha! – Igor embarga as palavras, as mesmas saem entre soluços e gemidos de dor. Sua cabeça está deitada em meu busto e as lagrimas caem em minha roupa. – Ouça bem o que eu vou lhe dizer – chamei sua atenção para mim. Ele me olhou de lado e seus olhos vermelhos deixam cair sua angustia. 

– Sua filha não morreu, eu vou trazê-la sã e salva nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida! – frisei convicta de minhas palavras. – Isso é uma promessa! – nos olhamos, algo em mim diz que coisas piores estão para acontecer. Como eu queria que meu sexto sentido estivesse errado, mas ele não costuma falhar – pensei tristemente. – É a boneca preferida dela – disse olhando em volta, buscando com o olhar perdido uma possível resposta. – Fique firme, eu estou do seu lado e sua filha espera isso de você – enfatizei. – Que Deus me dê forças, eu sinto que morri por dentro – passou a mão em seu peito. – A Paty precisa de você – alisei seus cabelos. – Eu também necessito – afirmei e senti seus olhos azuis pesarem sobre os meus. – Vamos achar a sua filha e por seus bens em segurança – sua respiração foi longa e profunda. – Eu não quero nenhum centavo desse maldito dinheiro se minha filha não estiver viva. De que vai valer tudo isso? – ouvi sua indignação. – Olha isso – mostrou a boneca. – Por que alguém machucaria uma garotinha? Por que isso tudo está acontecendo comigo? Por que minha família desmoronou? – as perguntas atropelam umas as outras, porém não quero dizer a ele tudo o que penso sobre este acontecimento em particular, vou esperar o momento oportuno. – Vem comigo – falei suave. 

– Levanta desse chão! – levantei e estendi a mão. – Eu vou estar ao seu lado, mas você tem que me ajudar – intimei. Os demais agentes vasculham a propriedade inteira em busca de pistas, enquanto Rony está no interior da casa analisando o cenário e grampeando os telefones. – Seja forte, Igor – chamei mais uma vez e ele ergueu-se com dificuldade, ainda segurando a boneca na mão. Entramos na residência e notamos os demais estragos. Passamos pela cozinha em estilhaços, a sala está em desordem e mais uma vez olhei para a babá caída no chão. Pelas marcas roxas no corpo, certamente foi esmurrada antes de ter seu pescoço cortado, sangrou lentamente, o que me leva a concluir que estava em estado de letargia, pelo tanto que apanhou, quando teve sua garganta ferida. Os outros empregados da casa só vêem na segunda de manhã. 

- Apaguem as luzes agora – Dimitri ordenou sério, e assim que as luzes foram apagadas, vimos por toda parte as inscrições na parede com tinta fluorescente. “Ela vai pagar por você sua vagabunda”, “O sangue de um inocente”, “Eles sabem”, “Tortura e dor”. As outras paredes estão marcadas com outras inscrições que intimidam e que me fizeram sentir uma sensação horripilante que nunca experimentei antes. Igor não consegue esboçar mais nenhuma reação, isso me preocupa demasiadamente. O IML não tardou, os corpos foram fotografados de todos os ângulos possíveis, assim como a casa toda. Vivian entrou em contado com nossos agentes externos que fazem a patrulha nas redondezas, os guardas nas fronteiras já estão avisados de um seqüestro e das características da criança, e internamente peço para que minha intuição sobre ela estar viva, se confirme. Há tanta movimentação na casa que não percebi a ausência de Igor, mirei os quatro cantos do andar de baixo e nada. Subi as escadas em direção ao segundo andar, que incrivelmente está intacto, nenhuma cômoda revirada ou sequer uma jóia roubada. Nem mesmo o cofre da casa foi violado. Reparei em uma luz saindo de um dos quartos e caminhei até ele. Ao olhar para o cômodo, vi Igor sentado na cama da filha, cabisbaixo e solitário. O porta-retrato com a foto dos dois é seu consolo para esta noite tenebrosa. Entrei e puxei uma cadeira que está no canto do quarto, sentei de frente para ele. 

– Eu sou um péssimo pai, Susana – nunca ouvi sua voz tão amargurada. 

– Não diga isso, você é o pai mais carinhoso que eu já vi – ele não me olha, apenas engoli seco a afirmação. 

– Como um pai não percebe isso? – disse ao entregar-me algumas folhas repletas de desenhos, analisei um por um. São desenhos de uma criança solitária, afastada das demais, chorando e, geralmente, não há sol e flores, mas noites e tons escuros. As poucas palavras escritas com a letra peculiar de uma criança mostram a garotinha atenta e sensível que é a filha dele. “Papai está triste hoje”, “Papai Noel, pede pra mamãe me contar uma história”, “Não quero mais ir pra escola." O encarei sem saber o que dizer. 

– Esse é novo. Olha! – me entregou outro papel e sorri emocionada com o desenho. A imagem ilustra duas pessoas trocando um selinho, a menina do desenho tem cabelos encaracolados e na lateral da folha li as frases: “Papai ficou feliz hoje”, “A namorada do papai”, “Queria uma mamãe assim”. Chorei ao notar que no desenho também havia um sol, pela primeira vez, seu desenho era colorido.


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui 😍
Espero que tenha gostado 😘


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