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História Desejos Secretos - Me Perdoa


Escrita por: ValentinaEli

Notas do Autor


Olá, amores! Estou de volta com mais um capítulo. Espero que não tenham desistido desta história! Os dias estão corridos, mas aos poucos vou escrevendo.

Capítulo 17 - Me Perdoa


Fanfic / Fanfiction Desejos Secretos - Me Perdoa

Narrado por Igor

Enquanto a doutora olha o desenho eu a observo, as palavras duras que ouvi de sua boca ainda ecoam em meus ouvidos, latejam como a verdade que eu não queria saber. Senti uma estranheza ao notar o restante do quarto de minha filha, as prateleiras onde ficam os outros brinquedos estão praticamente vazias. 

– O que será que houve com as outras bonecas? – sussurrei meus pensamentos. 

– O que disse? – perguntou enxugando as lágrimas que lhe caem de forma discreta. Ela quer demonstrar uma fortaleza que acredito não possuir. – Minha filha adorava os brinquedos, mas esse quarto está vazio – por um minuto me dei conta do que acabei de dizer, como um “estalo” de consciência. 

– Você ouviu o que eu acabei de falar? – ela assentiu triste. – Me referi à Patrícia como se ela tivesse morrido – puxei com força o ar para que este pudesse preencher meus pulmões cansados de tanto chorar, a falta de ar me fatiga. – Ela adora, é a palavra certa – Elinór completou ao chegar mais perto de mim. – Sua menininha está viva, Igor! Viva! Eu vou trazê-la de volta – acariciou meu rosto e fez menção em me abraçar, mas segurei seus braços a impedindo. 

– Não faz isso, faz só o seu trabalho – falei sério. – Igor, por favor – a interrompi. 

– Só encontra a minha filha, sua única obrigação é essa – minha voz saiu ríspida. 

– Eu não queria que as coisas entre nós tivessem chegado àquele ponto – pronunciou as palavras pesadamente, as mesmas saem embargadas. – Deixa eu te explicar uma coisa, por favor – implorou angustiada. 

– Só me dirija à palavra se essa tiver relação com a minha filha, caso contrário fique bem longe de mim – apontei o dedo. 

– Pela consideração que tem por mim, só escuta – juntou as mãos como se fizesse um pedido, uma prece. – Minha consideração por você morreu, sendo assim, ponha-se no seu lugar – ela protestou. 

– Caramba, Igor, não faz isso comigo! – a encarei furioso. – Quer saber, você tem toda razão – dei passadas pelo quarto. 

– Me envolver com você foi um erro, olha a minha vida agora. Achei que você fosse competente – esbravejei. 

– Mas até agora não resolveu nada do meu caso, a Eduarda pode dar um jeito de roubar todo o meu dinheiro e minha filha pode estar morta – gritei. – Então eu não tenho como ter consideração por você, Susana, Elinór, seja lá quem você for – gesticulei em sinal de dúvida e ela chorou, senti uma pontada no peito ao direcionar toda a minha fúria e desapontamento sobre ela, saí do quarto escutando seu choro lamentoso que me doeu até a alma. A deixei em prantos, mas parte de mim chorou com ela. Peguei meu celular e disquei o número de Eduarda, ela precisa saber que nossa filha desapareceu.

Narrado por Elinór

Um misto de dores recai sobre mim de forma avassaladora, olho o quarto da menina, o desenho, e estranhamente, é como se uma parte de mim tivesse sido arrancada também. Pelo jeito como ele me tratou, sinto um grande aperto em meu coração, algo que nunca senti antes e não podia imaginar que era tão ruim assim. Entrei no banheiro do quarto da criança e liguei a torneira da pia, lavei meu rosto e olhei para o meu reflexo no espelho, não me reconheço mais como A Grande Madame, a destemida, e tantos outros adjetivos que atribuíram. Por dentro eu não passo de uma mulher excepcionalmente comum, nada de extraordinário há em mim. Porém, há tempos atrás eu não estava tão dividida, tão frágil. Foquei em minha imagem no espelho, porém meus olhos se detiveram em um ponto no quarto atrás de mim, volvi meu corpo e caminhei em direção a um armário embutido na parede. Na porta há inúmeros desenhos feitos à mão, na própria madeira branca, todos extremamente desconexos, bem escuros, mas a figura que mais me chamou atenção foi a de uma “casa com outra casa pequena dentro dela”, abri o armário e observei as prateleiras com acessórios infantis: tiaras, laços, caixinha de jóias. Em outra parte, inúmeras roupas nos cabides e na parte debaixo os sapatinhos delicados. Já ia descer para me juntar aos outros quando reparei em um baú rosa de tamanho médio na parte de baixo, tentei abrir, mas está fechado. Vasculhei as caixinhas, gavetas e não encontrei nenhuma chave. Busquei desviar meus pensamentos destes pormenores e decidi dar procedimento ao que é importante, não posso me preocupar com isso agora. Fechei os olhos, relaxei os ombros, me recompus e saí do local, desci as escadas e observei Igor ao telefone num canto afastado da casa, pela sua feição sei que está dando a notícia a alguém. Respirei fundo e fui em direção a Walter. 

– Como andam as coisas? – indaguei. 

– Já fotografamos tudo, cada centímetro da casa – explicou apontando. 

– O IML já levou os corpos – falou analisando as fotos das vítimas na câmera. 

– Não tenho boas notícias – Vivian se aproximou dizendo. – O que aconteceu agora? – indaguei com medo. – Recebi uma notícia através do nosso informante na polícia rodoviária – ela pausou a frase. 

– Fala! – ordenei impaciente, porém entendi seu recado quando vi Igor se aproximar. – Eduarda está vindo pra cá, ela ainda estava no clube – sua face esboça desolação, está aflito e pode desabar a qualquer momento. – Doutor Igor, quantos carros o senhor tem na garagem? – Rony questionou ao se juntar a nós. 

– Neste exato momento apenas um, o outro ficou no estacionamento do clube. Mas por que a pergunta? – questionou intrigado. 

– É uma garagem típica americana e fechada, contudo está vazia, há marcas de pneus por todo o chão, eles levaram seu carro e pelo visto saíram em alta velocidade – o clima de tensão ao nosso redor é pior do que a própria morte, cujo cheiro está por toda parte. – Por favor, venha comigo, preciso de algumas informações – Rony chamou Igor que prontamente o seguiu. 

– Vivian o que foi que você descobriu? – insisti mais nervosa. 

– Vem comigo! – me puxou pela mão e fomos até o jardim. – To aflita, me diz logo! – segurei seu braço e ela olhou repreendendo minha ansiedade. – Se controla você está no comando aqui. O que está havendo? – foi dura nas palavras. – Eu estou bem, como sempre estive. Por que esta pergunta agora? – rebati. 

– Ah, por favor, Elinór, não subestime minha inteligência e a de ninguém lá dentro. Todo mundo já percebeu o clima entre vocês dois – desviei o olhar. – Vá direto ao ponto, não é hora de falarmos da minha vida pessoal e muito menos da dele – ela chegou mais perto. – É do máximo interesse dele, e agora do seu, eu percebo o quanto o sumiço dessa criança te deixou abalada – senti um gelo na barriga. – Fale logo o que é. Isto é uma ordem! – categorizei. Ela olhou em volta, respirou fundo e prosseguiu.

– Há uns vinte quilômetros daqui, numa estrada bem deserta um corpo foi encontrado – engoli seco. – Um corpo? – meu coração acelerou. – Qual a descrição? – ela hesitou. 

– Pelo amor de Deus, Vivian! – supliquei angustiada. – Não da pra saber muita coisa ainda – explicou. – Como assim não dá? Eles só te disseram isso? – questionei irritada. 

– Não dá pra identificar o corpo a olho nu – andamos para uma área no jardim onde ninguém pudesse nos ver. 

– O corpo foi queimado – coloquei as mãos sobre a boca desacreditada do que acabara de ouvir. 

– Aparentemente é uma criança, sete a oito anos – tentei controlar minha respiração. – Dá pra saber pela arcada dentária – falei temendo minhas próprias palavras. 

– Estou esperando o retorno dele, tinha acabado de checar a cena e me ligou – olhei para o céu sem saber nenhuma oração, mas meus pensamentos estão todos com a linda garotinha. – Se gosta mesmo desse homem, é melhor permanecer forte por ele, não é hora de desabar – ela falou tentando me acalmar. Tremi de cima a baixo quando o celular dela tocou. – Pode falar! O que você descobriu? – pediu receosa. Ela permanece em silêncio enquanto recebe as informações, Vivian sabe disfarçar muito bem o que está sentindo, sua face não demonstra nenhum tipo de reação, sabe ser imparcial, fria e até dissimulada. Sabe jogar e conhece as táticas, coisas que talvez eu tenha desaprendido.

– Ok, obrigada! – desligou o telefone e esperei pela resposta ansiosamente, ela olhou para o chão e ficou em silêncio, depois me olhou. – O corpo encontrado é de uma criança, aparentemente sete ou oito anos, nove no máximo. Eles suspeitam que seja de uma menina porque acharam um sapatinho lilás perto do local – algo dentro de mim morreu com a notícia. – Não Vivian! Não pode ser – meu estômago embrulhou e entrecortei as palavras. – Não pode ser a filhinha dele. Tem o exame de DNA da arcada dentária para saber quem é o indivíduo – fui esperançosa, mas ela negou com a cabeça. 

 – Ai é que está toda a face macabra da história. – suspirou ao dizer. – Do que você está falando? – meu corpo inteiro sente os calafrios desta noite fria e do medo que se apodera de mim, medo esse que nunca senti antes com tamanha magnitude. 

– Os dentes foram arrancados ou simplesmente a criança não tinha dente nenhum – não aguentei o baque da notícia, minhas pernas perderam as forças e sentei na grama apoiando meus cotovelos nos joelhos para suportar a terrível ânsia que sobe e desce por minha garganta. Vivian sentou ao meu lado, segurou minha mão e me amparou. – Você sempre me ensinou a nunca tirar conclusões precipitadas sobre nada, vamos esperar pelo resultado final, eles vão tentar fazer outros testes, analisar mais vezes – olhei lateralmente para ela. 

– Mas eu te ensinei também a enxergar o óbvio, a não duvidar das circunstâncias, a desconfiar de tudo – falei triste e sem forças. – Grande paradoxo isso! – apertou minha mão e chorei recostando minha cabeça em seu ombro. – Ele está me odiando, Vivian. Eu descobri que sou um completo fracasso – se eu pudesse descrever as sensações que estou sentindo agora, eu poderia muito bem dizer que se assemelham àquelas como quando não encontramos mais nenhuma saída na vida. – Olha pra mim! – disse séria segurando meu queixo. 

– Você não é um fracasso, é a melhor investigadora que eu conheço. Uma pessoa incrível! Tudo o que sei eu devo a você – seu tom de voz firme tenta me convencer. 

– Eu falhei com ele, Vivian! Eu não tive forças para resistir e acabei me envolvendo. Agora acontece isso com filha dele e ainda por cima, não consegui pegar a Eduarda – me angustiei e minha amiga me olhou pensativa. – O que você sente por ele? – suei frio com a pergunta. – Eu não sei explicar o que sinto, mas ele disse que me ama e eu falei as piores coisas do mundo pra ele – entrecortei as palavras. – Você está apaixonada, Madame – encostou a cabeça na minha. 

– Eu sempre me blindei contra isso, eu não nasci para essas coisas, meu pai tem toda razão – falei com pesar. 

– Não se pode conter esse tipo de coisa, é mais forte do que a gente. Já está na hora de enfrentar seu pai, você parece uma garotinha assustada que nunca se impõe e veste uma capa para parecer quem não é – explicou carinhosa, porém de forma enfática. – Mas agora ele não quer olhar na minha cara, me quer longe e no fundo tem toda razão. A forma como eu sempre encarei os homens, o relacionamentos me fizeram achar que ele era como todos os outros – senti minha cabeça quase explodir com tanta reviravolta. – No início era só sexo e muita loucura, mas eu já percebia algo diferente, e comecei a negar para mim mesma. Depois eu já estava contando sobre a minha vida e dormindo com ele – fechei os olhos e lembrei especialmente no dia em que Igor cuidou de mim e me fez dormir na cadeira de balanço. 

– Isso explica tudo, não é só paixão e no fundo você sabe, mesmo dizendo que não nasceu pra isso – Vivian antecipou-se. 

– Acho que eu estou amando e estraguei tudo – finalmente fui sincera e o peso das palavras me fez cair na real. 

– Eu amo aquele homem. É isso o que tem aqui dentro – declarei baixinho para mim mesma. – É amor sim – sorri com misto de tristeza, alegria e me permiti soltar as lágrimas libertadoras, as últimas, para continuar firme e forte por ele. Ficamos um tempo no jardim até que eu pudesse me recuperar, mas voltamos rapidamente para o interior da casa quando vimos um carro ao longe, na portaria. 

 – A Eduarda chegou – anunciei em alto e bom tom. – Rony, você se encarrega de passar o caso – apontei para ele e lhe entreguei minha arma e o mini walkie-talkie para não chamar atenção. – Os demais sejam discretos, eu quero mais agilidade nesta investigação – completei e Igor se aproximou de mim. – Ela vai achar estranho te ver aqui, o que eu falo? – questionou tremendo pelo nervosismo. – Deixa que... – não concluí minha fala ou ouvir Eduarda gritar. 

– Igor!!! – entrou pela porta principal aos berros. Todos pararam para observar a cena, a mulher caminha em direção a ele a passos largos e com um semblante de sofrimento profundo. 

– Cadê a minha filha, Igor? O que você fez com a minha filha? – enfurecida, ela se jogou para cima dele batendo várias vezes e fortemente em seu peito com os punhos fechados. Ele tenta se esquivar segurando seus punhos, mas Eduarda está ensandecida. – Eu nunca faria mal à nossa filha! – Igor a segurou seus braços e gritou. – Então onde ele está? Você nunca soube cuidar da Patrícia! – ousou dizer alterando a voz. 

– Você me critica senhor correto, mas sempre foi um pai ausente – apontou o dedo. – Isso é mentira, sua hipócrita. Você nem sonhava com a maternidade, a nossa filha não teria nascido se não fosse por insistência minha – falou alto e num tom bem agressivo. – É até em aborto você pensou quando estava grávida, acha que eu não sei? Eu não sou idiota! – se enfureceu. 

– Eu odeio você, Igor! – a mulher se encheu de raiva e o atacou com socos novamente. 

– Calma Eduarda! – Walter e eu a seguramos, ela chora descontroladamente, se debate e quer se soltar. 

– Susana? O que você está fazendo aqui? – perguntou muito confusa, se afastou de nós e olhou em volta a cena toda, o sangue da babá ainda no chão, as pessoas verificando o ambiente. 

– O que fizeram com a minha filhinha? – indagou chorando e meu sexto sentido vacilou. A mulher sentou no sofá, exaurida e sem forças. – Se acalme, eles vão achar a sua filha – sentei ao seu lado e segurei sua mão. – Você não deveria estar na festa? Eu te vi de longe e com ela inclusive – apontou para Vivian. Minha mente em questão de segundos formulou uma resposta. 

– Logo no início da festa eu recebi um chamado da emergência, um acidente com trauma torácico e cranioencefálico. Tive que sair correndo e o doutor Igor também foi avisado. Vivian foi um anjo, eu estaria com a roupa da festa até agora se ela não tivesse providenciado essa – falei naturalmente e ela me ouvia atenta. – Meu carro tava no fim do estacionamento, como o dela estava do lado de fora eu peguei carona, saímos às pressas – completou Igor. 

– Passamos umas duas horas na sala de cirurgia e na volta, a doutora Susana me deu uma carona. Quando chegamos, a guarita estava vazia, o portão aberto, entramos e encontramos isso aqui – passou a mão pelos cabelos penteando-os para trás. 

– Quem faria uma coisa dessas? Por que levariam a Patrícia? – à medida que Eduarda articula as palavras eu fico a duvidar de minha própria intuição. Por sua expressão, gestos e tom de voz, chego a conclusão de que ela pode ser inocente deste sumiço. Mas se ela não está por trás disso, quem está? 

– Me acompanhe um instante, senhora, preciso colher algumas informações – Rony intimou Eduarda que o obedeceu. Os dois seguiram para um canto isolado da sala e Igor me olhou por alguns segundos, é como se ele me chamasse, como se implorasse por ajuda, só que ao mesmo tempo seu coração se endureceu para mim. A essa altura do campeonato, todas as equipes de busca fazem varreduras pela cidade, os telefones grampeados apenas esperam por algum telefonema com pedido de resgate. Reparei em Vivian admirando os porta-retratos em uma estante da sala, me aproximei dela quando vi Igor se retirar da sala e se trancar em um cômodo, que provavelmente pode ser um pequeno escritório ou biblioteca. 

– A garotinha é linda! – exclamou serena ao contemplar a criança abraçada ao pai. – É tão meiga e doce – sorri ao lembrar quando dormiu juntinha comigo ouvindo a única história que sei. 

– Quando passou a gostar de crianças? Até onde sei você não suporta nenhuma delas – afirmou efusivamente. – A Paty é diferente, Vivian, eu não sei explicar o que acontece, eu só vi essa menina duas vezes e ela mexeu muito comigo – ela olha atenta para todas as fotografias, como se buscasse algo. 

– Acho que futuramente você terá uma escolha a fazer! – encarou-me ao dizer. – Que escolha? – perguntei confusa e ela voltou a analisar as imagens. – É esse tipo de pergunta que eu não esperava – Vivian está me estudando, logo eu que lhe mostrei o caminho da investigação comportamental e psicológica. – Eu não consigo te enganar, eu to sofrendo. Se aquele corpo for realmente da Patrícia o mundo dele vai acabar e eu estou com medo do que vai se passar dentro de mim – declarei. 

– Eu sei, pode contar comigo, eu estou aqui para te dar forças – segurou minhas mãos de maneira firme. 

– Obrigada por tudo! – agradeci. Eduarda conversava com Rony e posteriormente se aproximou de nós. – Igor ama esses porta-retratos, se pudesse enfeitaria a casa com fotos dela, mas só deixamos esses, as outras fotos estão todas em um álbum que ele fez questão de montar – pegou um deles na mão e beijou a foto. 

– Obrigada por seu apoio, Susana! Por estar aqui – me abraçou e retribui. 

– Achei que ficar aqui fosse o certo, afinal de contas você me recepcionou tão bem e tem sido tão amável. Foi a primeira pessoa que me acolheu naquele hospital – ela sorriu com minha fala. 

– Eu gosto de você, é uma pena que tudo isso esteja acontecendo e eu não consiga te dar toda atenção – Vivian se afastou um pouco e vi que digitava alguma coisa no celular. – Que isso, Eduarda! Agora não é momento para me dar atenção, tem que pensar na sua filha! – ela assentiu positiva e suspirou. – Eu não estava aqui, Igor e eu nos separamos, nem deu tempo de te contar. Nada disso teria acontecido se eu estivesse com a menina – senti amargura em sua voz. – Não se culpe pelo que aconteceu, seja forte – encorajei e notei Roger, um de nossos homens, se aproximar. 

– Com licença! – olhamos para ele. 

– A senhora poderia me fornecer uma foto recente da criança, uma que esteja só ela – pediu. – Eu tenho várias no álbum, vou pegar – Eduarda saiu em direção ao andar de cima, mesmo divorciada de Igor, esta casa ainda tem traços dela, além de saber onde está cada mínimo detalhe. 

– Uma foto dessas serve, por que quer outra? – Roger questionou curioso. Olhei para ela sem entender. 

– Eu mandei uma mensagem para ele pedir isso a ela. Se eu pedisse não teria cabimento, sou só sua amiga, doutora Susana – falou baixinho ao ver que Eduarda voltava com o álbum em mãos. Prontamente ela abriu e escolheu uma foto, entregando a mesma ao homem. – Que linda ela é! Eu posso ver o álbum? – Vivian perguntou fazendo-se de encabulada. 

– Claro que sim – sem pestanejar, Eduarda entregou o álbum com a capa de veludo lilás. Vivian sentou-se no sofá e começou minuciosamente a ver foto por foto. – Vamos! – chamou Rony. – Sim! –respondeu ela. Igor saiu da sala onde permaneceu trancado por um tempo, estava com os olhos mais vermelhos e com aspecto cansado, o relógio já marca quatro e meia da manhã, exatamente duas horas após a ligação de Igor avisando-me do ocorrido. 

– Doutor Igor, preciso que fique aqui porque alguém pode entra em contato por telefone – Igor concordou. 

– A doutora Eduarda vai comigo até a delegacia prestar depoimento formal ao delegado e depois será a sua vez – os dois ouviam atentos os avisos. 

– Por favor, eu posso te pedir um favor? – ela voltou-se para mim. 

– Se estiver ao meu alcance! – falei calma. – Eu sei que você está cansada por causa da cirurgia e depois veio direto pra cá, mas seria demais se eu te pedisse para ficar aqui? Eu preciso de uma amiga! – estranhamente ela fez o pedido. 

– Eu vou ficar aqui, vocês terão todo o meu apoio – ela respirou aliviada e agradeceu, logo após se direcionou até a saída com Rony. Ele deixou minha arma e o transmissor com Vivian, discretamente. Depois de alguns minutos me aproximei de Vivian e sentei ao seu lado. 

– Por que essa fixação pelas fotos da menina? Aquelas já serviam – falei sem entender sua atitude. 

– Aquela mulher por um momento me pareceu convincente, mas há algo de errado. O tom que ela usa para falar da filha é estranho e olha essas fotos – me mostrou algumas fotografias. 

– Ela é a minha primeira suspeita, Vivian e foi por isso o Rony a levou. Sinceramente, se aquilo não foi reação de uma mãe que se preocupa, então ela é ótima atriz. – recordei do dia em que a conheci, sua indiferença disfarçada ao falar da filha e o modo fútil como avaliei sua postura. 

– Essas fotos são bastante reveladoras para quem tem um olhar clínico – me espantei ao observar as imagens, a maioria delas são de viagens ao exterior, entretanto a criança sempre fica ao lado do pai ou em seu colo, esboçando um sorriso alegre. Nas poucas fotos com a mãe, o sorriso não é o mesmo e a face de Eduarda é peculiar, projetada e até mesmo falsa. 

– Isso só reforça os desenhos que vi no quarto da Paty – nos encaramos. 

– Essa pobre criança deve ter mais traumas psicológicos do que gente acredita – disse Vivian ainda olhando foto por foto. 

– Olha isso aqui – uma das imagens mostrava Eduarda apertando o braço frágil da filha, há mais pessoas na ocasião e talvez ela achasse que tal gesto passaria despercebido, pois estão um pouco mais afastadas. 

– Maldita! – sussurrei com raiva. Os peritos já se organizam para lavar todo o material colhido para análise. A casa inteira foi vasculhada e até o menor dos fios de cabelo foi coletado para posterior análise. Observei Igor sair em direção à varanda da frente, levantei-me para ia atrás dele, quando mais uma vez o telefone de Vivian tocou, causando-me um grande mal estar. 

– É ele novamente – ela disse concentrada. Fez sinal para que eu esperasse e se retirou por uns minutos. Sinto um gosto muito amargo em minha boca, um pavor tenta me paralisar. Olhei para uma foto em específica, estava solta no álbum, Igor e a filha estão um jardim com grama bem verde, ela está de vestidinho vermelho e um laço branco no cabelo. Ele está abraçado com ela, consigo vislumbrar o brilho no olhar dos dois, os mesmos lindos olhos azuis. E a menina está com a bonequinha ruiva. Peguei a foto e guardei no bolso interno de minha jaqueta. Estremeci ao reparar Vivian voltar para perto de mim, porque desta vez ela demonstra certa apreensão. Não perguntei sobre a ligação, não tive coragem, só fiquei em silêncio e a deixei falar. 

– Além do sapatinho lilás eles acharam um dente de leite no local ainda com resquícios de sangue, como se tivesse caído há pouco tempo. Sobre a grama que ficou intacta, onde o fogo não alcançou, há gotas de sangue e eles recolheram esse material. É preciso que o Igor colha uma amostra para o teste de DNA – minha respiração findou e por incrível que pareça não chorei, apesar de meus olhos marejarem, mas um ódio tomou conta de mim e senti vontade de matar Eduarda. – Aquele homem lá fora vai morrer de tristeza quando eu disser isso – olhei em direção à varanda. – Elinór, são suspeitas, ele vai fazer um teste. Toda aquela cena, o corpo, o sapato, podem ter sido forjados por ela – advertiu minha amiga. – Forjado ou não é só olhar a sua volta, não temos provas concretas de que foi Eduarda, mas o massacre que encontrei aqui nunca vi em lugar nenhum. Ela é fria, calculista e matar a própria filha seria fácil – respirei fundo. 

– Eu só não entendo o porquê disso tudo, se é o dinheiro que ela quer, matar a Patrícia anularia as chances de um pedido de resgate – fui interrompida. 

– Agora não é hora de especular tanto, você tem que falar com ele sobre o teste e inclusive da suspeita que temos da ex esposa! – levantei do sofá, tomei coragem, segui para a varanda e acabei esbarrando com Igor no hall de entrada. 

– Alguma notícia? – perguntou sem me olhar. – Precisamos conversar – falei calmamente. – É sobre a minha filha? Se não for eu não tenho mais nada pra falar com você – busquei forças para dizer, mas travei no momento, quando ele foi ríspido, se desviou de mim, porém o puxei pelo braço. 

– Espera! – pedi. – É sobre o caso sim – Igor me olhou amedrontado. 

– O que houve? – olhei fixamente para ele e engoli seco. Como falo isso pra ele? 

– O que aconteceu com a minha filha? – perguntou enfático se aproximando de mim e me assustei. – O que houve com a Paty? – segurou firme meus braços e balançou meu corpo no desespero. 

– Calma, eu preciso explicar – supliquei e notei seus olhos marejarem, ele começou a repetir freneticamente a pergunta “fala o que aconteceu?”, mas paralisei na hora, por fim ele repetiu mais uma vez. 

– Fala o que aconteceu, Susana? – esbravejou apertando meus braços. 

– Eu não sei! – gritei na mesma intensidade que ele. 

– Solte-a imediatamente! – olhamos para a entrada da porta e suei frio quando vi Sónier passar pela entrada. Igor me soltou e encostou-se na parede tentando recobrar a consciência. 

– Você não seguiu os meus conselhos – meu pai está acompanhado de Dimitri e outros dois seguranças, que só pelo tamanho eu tenho medo. 

– Que vergonha! – desabafou balançando a cabeça negativamente. A voz mansa de meu pai torna a conversa ainda mais misteriosa e Igor me olhou intrigado com a situação. 

– Tudo o que eu lhe ensinei foi em vão, é tão estúpida quanto a sua mãe! – falou num tom grosseiro e misterioso. 

– Aqui não é hora e nem lugar, Soniér – nesse momento Vivian se aproximou juntamente com Walter. 

– Ainda ousa em me dar ordens – a tensão está aumentando, me sinto despedaçada por dentro, ele sabe justamente o meu ponto fraco. – Ao invés de fazer o seu trabalho, você acha mais interessante transar com seu cliente – suas palavras me acertaram como navalha e senti todos os olhares em cima de mim. 

– Você não tem o direito de falar assim com ela, meça suas palavras. Está na minha casa! – Igor encarou meu pai de maneira séria e tomou a frente para me defender, pois eu não consigo pronunciar uma palavra sequer. 

– Olha como fala comigo, doutor Igor – Sónier falou efusivo. – É com o sumiço de sua filha que deve se preocupar e não se meta no que não lhe diz respeito – meu pai se aproximou de Igor. 

– Não interessa, respeite a minha casa e quem aqui estiver – rebateu com semblante de indignação. 

– Então fale com respeito com ela – apontou o dedo e meu pai riu baixo e irônico. – Eu sei bem como devo ou não falar com a minha filha – pairou sobre nós um silencio mortal por uns segundos, Igor me olhou mais uma vez incrédulo com a informação. 

– Filha? – perguntou surpreso. – O que mais você não sabe sobre ela, doutor? – indagou para me deixar mais constrangida. 

– Chega Soniér! – pedi envergonhada. 

– Isso não é assunto para discutirmos agora – olhei para os demais à minha volta. 

– Podem continuar o que estavam fazendo, isso aqui não é um espetáculo – ordenei, mas eles se intimidaram com a presença de Soniér e ninguém saiu do lugar. – Venha comigo, vou lhe passar as informações do caso – tentei sair do desconforto desta pressão que fazem sobre mim. 

– Não se preocupe mais com o caso – o olhei tentando entender o que acabara de dizer. 

– Como assim? – olhei para Igor com receio do que estava por vir. 

– Você está fora deste caso – anunciou em alto e bom tom e senti um gelo percorrer meu corpo. 

– Pegue suas coisas e vá embora imediatamente. A partir de agora quem assume o caso sou eu! – decretou sem volta. Olhei mais uma vez para Igor e seus olhos pareciam suplicar pelos meus, mas agora eu nada posso fazer. 

– Me perdoa! – pedi baixinho e em seguida caminhei em direção à porta.  


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui 😘
Espero que tenha gostado 😍


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