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História Desejos Secretos - A Perseguição


Escrita por: ValentinaEli

Notas do Autor


O capítulo era gigante, então dividi. Este é pequeno, marca a volta da fic, pois fiquei um bom tempo sem​ postar. O próximo já está pronto, postarei no decorrer da semana. Para aqueles que ainda tem a paciência de acompanhar a Madame e o Igor, o meu muito obrigada, de coração!

Capítulo 19 - A Perseguição


Fanfic / Fanfiction Desejos Secretos - A Perseguição

Narrado por Elinór

– Diz que é mentira? – respirei fora do ritmo com a pancada da notícia. 

– Infelizmente não! – falou com pesar, não consegui conter a angustia que me invadiu, comecei a chorar na frente dele, que sentou ao meu lado para me consolar. – Por que você não me avisou quando soube da notícia? – entrecortei as palavras, bastante entristecida. 

– Você estava em cirurgia o dia inteiro, eu não poderia arriscar a vida dos pacientes – no fundo ele tinha razão, mas nada me acalmava. A ideia de saber que Igor, por mais que não quisesse me ver, ficou sozinho velando o corpo da filha, me dilacera a alma. Eu prometi que traria a filhinha dele de volta. Jamais terei coragem de olhar em seus olhos novamente. 

– Em qual cemitério ela vai ser enterrada? – perguntei enxugando as lágrimas. – No que fica em Copacabana – respondeu com semblante abatido. 

– Há essa hora o cortejo está saindo da casa dele – completou para permear meu coração de culpas e dores. – Quem falou com você? – indaguei. – Foi a Vivian, não eram nem sete horas da manhã – por um bom tempo, Henrique me deu apoio como nunca meu próprio pai fez. Conteve o meu desespero e indignação pela morte da inocente criança. Tudo o que se passa em minha mente são as cenas de Igor no cemitério, chorando sem alento algum. 

 – Ele deve estar se sentindo muito sozinho – murmurei em meio à sofreguidão. – Ele está com a família agora, tem amparo dos amigos – tentou tranquilizar-me. 

– Eu preciso ir até lá! – levantei afoita, porém ele negou com a cabeça e segurou meu braço, impedindo meu ato impulsivo. 

– Não é uma boa ideia, ainda mais pela briga que você me falou – advertiu. Tive que concordar com ele, minha presença deixaria as coisas mais difíceis. Henrique e eu conversamos sobre perdas inestimáveis. Não conheci minha mãe e meu pai me criou como se eu fosse uma estranha no ninho. Contudo, sei que essas dores são ínfimas perto das que Igor está sentindo. Depois desse dia exaustivo e da pior revelação de todas, fui para minha casa. Meu pai não fala comigo desde minha expulsão do caso e Vivian está nas investigações. As coisas não pararam pela morte da Patrícia, porém, sem provas concretas contra Eduarda a respeito de seu interesse no seguro de vida do Igor e, somente com as evidencias da traição, é bem provável que este caso seja arquivado por Soniér e só a polícia padrão de continuidade. Meu pai é um excelente detetive, mas creio que Eduarda é ardilosa e planejava isso há bastante tempo. Sua mente perversa e psicopata distorce todas as coisas boas que dizem sobre ela. Contudo, sem provas, nada pode ser feito. Ela se camufla no meio de nós e não se sabe qual será seu próximo passo.

 Quando cheguei a meu apartamento, reparei no ambiente vazio de tudo, creio que até de mim mesma, sinto-me uma casca oca e cansada. A única coisa que fiz foi tomar um banho e dormir para esquecer um pouco da vida. No dia seguinte, levantei bem cedo, só preciso estar no hospital às oito. Tomei um café da manhã rápido e saí. Parei numa floricultura que fica a poucos metros de minha casa e comprei um buquê de rosas brancas e lírios. Coloquei com cuidado no banco de trás e fui em direção ao cemitério. Não demorei a chegar, adentrei e um rapaz que ali trabalhava me informou o local do último enterro. Andei cerca de um metro a leste e me deparei com um túmulo todo rodeado por granito preto, tirei os óculos escuros e visualizei a lápide com o nome e uma foto da garotinha. Depositei as flores em cima do túmulo e suspirei de remorso. 

– Me desculpa. Eu não consegui te ajudar – limpei as lagrimas que caíram por minha face. – Eu nunca tive oportunidade de te contar o resto da história, mas a princesa Lis encontra o príncipe Atos sim, ele viajou até a casa de Órion só para buscar a estrela mais brilhante para ela. Eu tenho certeza que daí você pode ver os dois brilhando todas as noites – jamais vou esquecer o dia que dormimos agarradinha uma a outra. E enquanto eles tomavam café da manhã comigo, senti uma felicidade imensurável dentro de mim. Parecia muito bom ter uma família. Permaneci em silêncio olhando para a foto dela na lápide e pedindo perdão. Saí do cemitério em direção ao hospital e no caminho só conseguia pensar no doce e meigo sorriso da menina. Recordo-me com afabilidade que ao presenciar o beijo ela se aproximou de mim e sussurrou em meu ouvido “Você podia ser a nova namorada do papai, eu deixo.” Eu não tive coragem de ver o Igor depois de tudo ocorrido e cumprir o aviso prévio é minha última tarefa no Brasil. Desliguei-me totalmente do caso, principalmente dos meus pensamentos. O que tiver que ser, será. Confio no trabalho da minha equipe. Pedi a Vivian que não me mandasse notícias dele, e pelo que sei a raiva que ele tem por mim só aumentou.

Levei minha vida totalmente concentrada no trabalho e nos pacientes. Chegava cedo ao hospital e ficava depois do horário nos laboratórios ou realizando trabalho voluntário na clínica filantrópica. Tudo para não ficar sozinha e mergulhar nas lembranças devastadoras que insistem em andar de mãos dadas comigo. Quando me dei conta do tempo, passaram-se vinte dias desde que pedi a demissão e desde que tudo aconteceu. Restam só dez até que eu volte para Lisboa. O novo neurocirurgião chegará dois dias antes de minha partida, e nesse tempo me encarregarei de mostrar como as coisas aqui funcionam. Durante esse período, além viver do trabalho para casa, fiquei entorno de uma completa solidão e mesmo cercada por tantas pessoas nesse ambiente, estou completamente deslocada. Até a bela e esplendorosa paisagem de minha sacada já não trás brilho aos meus olhos. Eduarda se ausentou do hospital assim como Igor. Doutor Edgar se mantém bastante recluso em seu trabalho com cirurgia plástica e na direção do hospital. Preciso sair logo deste país, pois não há mais nada que me prenda aqui, não sinto mais o gosto de nada. Sei que perdi minha identidade e não sou nem de longe a mulher altiva que andou pela primeira vez nas galerias de cirurgias, segura de si e de suas decisões. Olhei para meu relógio de pulso e vi que já estava perto de acabar o expediente. Andei pelos corredores do hospital de Santo Ângelo com a pressa de quem quer chegar o mais rápido possível em casa, ainda mais hoje que estou sem carro e tenho que tomar um táxi. Porém, parei num pequeno canto da ala norte que dispõe de um belo jardim, para atender meu celular que vibrava insistentemente, olhei o visor e não identifiquei o número. 

 – Alô! – atendi. – A mesma voz doce de sempre – instantaneamente reconheci a voz. Ela jamais passaria despercebida por mim mesmo que se passassem dez ou quinze anos.

– Fernando? – espantei-me e percebi as pernas bambearem. – Pelo visto ainda se lembra de mim – encoste-me na parede para não cambalear ou esboçar uma reação de fúria aqui neste ambiente onde o silêncio impera absoluto. – Eu vim passar uma temporada no Rio, gostaria muito de te reencontrar – disse naturalmente como se fosse uma grande amnésia não pensar em tudo o que já fez. – Eu não posso e não quero, seja lá quem te passou meu número foi inconveniente – fui ríspida e um tremor contraiu meu músculo cardíaco. Contrai o cenho e um filme da enorme decepção que este homem um dia me causou passou diante de meus olhos.

– Calma, só achei que depois de tanto tempo nós pudéssemos nos encontrar sem ressentimentos. Amadurecemos Susana – respirei fundo. 

– Você faz parte do meu passado, não guardo rancor, só não tenho vontade nenhuma de ter contato – categorizei. 

– Passar bem! – desliguei o telefone, ainda chocada com a ligação. Como ele me encontrou depois de todos esses anos? Como teve coragem de me ligar? Caminhei para minha sala ainda atordoada e comecei a arrumar minhas coisas, guardei os pertences dentro da bolsa e ajeitei alguns papéis na gaveta. Deixei a mesa livre de todos os exames, sentei na poltrona e apoiei os braços na mesa, deitando a cabeça sobre eles. Maldito telefonema que me deixou desconfiada e nervosa. Após alguns minutos. peguei minhas coisas e fui em direção à saída do hospital. Um taxista já está à minha espera, pois já havia solicitado seus serviços. Não demorou muito para estacionar em frente ao meu prédio. Nem mesmo o único trecho engarrafado conseguiu prender minha atenção, nada mais tem gosto ou atrativos aqui. Paguei e desci do veículo, dei passos largos até a portaria principal, porém, com assombro, deparei-me com um homem segurando um buquê de flores. Por alguns instantes voltei no tempo. Seus olhos se puseram sobre mim, não posso acreditar no que estou vendo.

– Está ainda mais bonita que antes – engoli amargas as palavras. Seus olhos e cabelos negros como a noite lhe conferem a beleza rústica que me encantou há anos atrás – Eu não estou acreditando nisso! – falei com ira. – Primeiro meu número de telefone, agora o endereço da minha casa – esbravejei. 

– Quem te passou estas informações? – indaguei com repulsa. – Você não mudou nada desde nossa última conversa – falou num tom malicioso e irônico aproximando-se de mim. – Estou aqui em missão de paz – ergueu as mãos e uma delas segurava um pomposo buquê. – Todos nós cometemos erros no passado, eu só estou aqui para rever uma velha amiga – ri sarcasticamente de sua fala. – Uma ex amiga... Totalmente – rebati de uma só vez sem paciência alguma. 

– Não precisamos repetir os mesmos erros do passado – o encarei incrédula pela petulância. – Qual a parte do eu não te quero na minha vida e muito menos te dar oi no meio da rua você não entendeu? – categorizei. Tenho ânsia só de olhar para ele, embrulha meu estômago e passeia por minha garganta o gosto amargo do fel. Eu havia esquecido o que era o sentimento de rancor, mas vê-lo esta noite trouxe uma parte do meu passado que tentei por muito tempo esquecer. É por ele meu medo iminente de me apegar a alguém. 

– Faz um favor – gesticulei e passei as mãos por meus cabelos tentando ter calma. 

– Dispenso as flores, não há necessidade dessa cerimônia. Eu não quero reatar nenhum tipo de contato – apontei grosseiramente. – Você é indiferente para mim – enfatizei o “indiferente”, Fernando me olha como há anos atrás. Sedutor, mas no fundo cínico. E sei que tudo o que sai de sua boca são promessas falsas. Típicas de um homem cafajeste. 

– Caramba, pela primeira vez na vida eu estou sendo sincero. Eu só quis rever uma velha amiga. Não precisa me tratar assim – dramatizou e silenciei. Olhei fixamente para comprovar se estava pleno de suas faculdades mentais. Apesar de Fernando continuar sendo um belo homem, contra esse tipo, estou vacinada. – Uma mulher como você não recusaria estas flores. Aceite, por favor. – implorou penteando os belos cabelos lisos com os dedos da mão esquerda.

– Não faça essa desfeita! – estendeu a mão com o buquê e fiquei estupefata pelo seu atrevimento. Eu estava pronta para responder à altura de seu caráter subversivo, quando no momento em que tudo conspira para que pensem errado sobre você, gelei ao notar que outro homem que nunca mais pensei em rever estava olhando para mim. Ele caminhava em minha direção com um pequeno embrulho nas mãos no instante em que visualizou a cena do buquê. Paralisei como um soldado golpeado a fio de espada na guerra e minha respiração faltou por alguns segundos. O que será que ele pensou sobre mim? Talvez o mesmo que já disse outras vezes. O homem olhou decepcionado a me ver com Fernando. 

– Não vai aceitar as flores? – Fernando perguntou impaciente. Notei com pesar a face de Igor se enfurecer, dei passos em sua direção, mas ele deu meia volta e entrou no carro, arrancando com o mesmo antes que eu pudesse dizer uma mísera palavra. O barulho dos pneus em atrito com o asfalto foi estridente, o que chamou a atenção dos pedestres e até dos motoristas nos veículos que passavam por aqui. Entrei em desespero instantâneo, porém por milagre o taxista que me trouxe ainda estava parado com o carro, ele combinava uma corrida com outro passageiro e decidi interromper abruptamente. 

– Por favor, siga aquele carro – eles me olharam assustados. – Senhora, preciso atender este cliente – não deixei que ele terminasse de falar. 

– É caso de vida ou morte. Me ajuda! – falei aflita e o rapaz cedeu a corrida para mim. – Tudo bem, pode ir – sem me importar com Fernando olhando minha atitude sem nada entender, entrei no carro e pedi para o motorista acelerar. Eu já tinha perdido as esperanças de encontrar o carro dele, mas por sorte paramos em um sinal de trânsito e vi seu carro mais à frente. Há muitos veículos e nós estamos atrás, quando a luz ficar verde nos perderemos de vista. 

– Não tire os olhos dele – pedi um pouco alterada. – Por que estamos seguindo aquele carro? – questionou o motorista quando o sinal abriu, ele acelerou e fez uma ultrapassagem para ficarmos mais próximos de Igor. – Eu preciso reparar um erro – falei prestando atenção no trânsito. Igor dirige em velocidade alta e tenho medo do que possa acontecer. Peguei o celular e disquei o número dele várias vezes, contudo chamou até cair. Nesse tempo todo que passei longe tentei esquecê-lo, mesmo com tentativas frustradas. Seu número ainda continua em minha agenda. 

– Atende Igor – falei em voz alta. 

– Segura, moça – fez a maior pressão que pode sobre o pedal do acelerador e guiou o carro até conseguir acompanhá-lo lado a lado. Com absoluta certeza seremos multados. Eu estava na direção de sua janela e abri o vidro para gritar por ele.

– Para, Igor – bati na lataria do táxi para fazer barulho. O vidro da Ferrari é escuro e não consigo ver sua reação, mas sei que é a pior. – Para esse carro! – esbravejei. Estamos literalmente em uma perseguição em plenas ruas do Rio de Janeiro. Os demais veículos desviam de nós, livrando os caminho para loucos passarem.

Segurei no apoio do teto quando o motorista fez uma curva muito fechada para seguir o doutor. Igor faz manobras perigosas e internamente peço aos céus que o protejam. Suei frio assim que ele passou na frente de uma enorme carreta que buzinou ferozmente demasiados segundos. Quem dirigia certamente se irritou com a atitude infracionária dele. Ao longo do caminho só ouço buzinadas frenéticas não só para o carro de Igor, mas para o taxista também. Tenho a impressão de que estamos em uma corrida clandestina onde nunca se leva em consideração os riscos de desfechos trágicos – Eu não posso fazer isso, dona. Aquele homem está querendo se matar – falou com receio e diminuiu a velocidade do carro. 

– Não! – protestei alto e veementemente. – Ele precisa de ajuda e eu também. Acelera isso agora – ordenei efusiva e ele voltou a pisar no acelerador. De repente, Igor entrou em uma rua isolada e o seguimos. Não sei a quantos quilômetros ele está, mas tenho a sensação de que o carro onde estou está prestes a sair do chão. 

– Que droga! – berrou o taxista ao frear violentamente. 


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui 😍
Espero que tenha gostado 😘


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