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História Desejos Secretos - Cativeiro: Os Últimos Momentos


Escrita por: ValentinaEli

Notas do Autor


Sim, eu ainda escrevo esta fic kkkkkkk e volteeeeei. Espero que este capítulo compense a minha demora. Para aqueles que não desistiram desse casal que amooo, está aí mais uma parte desta história.

Capítulo 24 - Cativeiro: Os Últimos Momentos


Fanfic / Fanfiction Desejos Secretos - Cativeiro: Os Últimos Momentos

Narrado por Igor

Saímos à procura de Susana por cada canto desta cidade. Bares, restaurantes, clubes e até pela casa de uma prima brasileira que ela mal vê. Qualquer mínimo detalhe era importante. Retornamos ao hospital e não conseguimos recuperar o vídeo do momento exato em que ela estava na garagem. Não há pistas e nem vestígios. Estou enlouquecendo e a única vontade que tenho é de dar​ fim à minha própria vida. As equipes de busca espalharam-se para obter uma cobertura ampla e assim termos chances de encontrá-la mais rápido. A cada segundo Vivian recebe ligações de informantes nas fronteiras e também de Rony, braço direito de Soniér dentro da polícia federal. Ela fala em códigos enquanto dirijo meu carro e sigo o veículo de doutor Henrique logo à nossa frente. Meus pensamentos recaem sobre a Madame a todo instante e não quero pensar o pior, mas é inevitável. Já perdi minha filhinha e tive falsas esperanças com aquela ligação. Eu não posso ficar sem ela. Definitivamente não vou suportar.

No fim da tarde, quando fui para casa, após horas de buscas frustradas, recebi conselhos de Vivian para que eu mantivesse a calma, em se tratando da filha, Soniér seria capaz de qualquer coisa para encontrá-la. O por do sol já é visível e deixa no céu um vitral alaranjado perfeito. Sentei-me na mesma cadeira de balanço que um dia a embalei e senti uma solidão tão forte capaz até de dilacerar a alma. Nunca estive tão desiludido em minha vida. Eu olho para a lua despontando no céu e tento imaginar onde ela pode estar. Quem faria mal a ela? Por que a vida é tão dura comigo? A noite já desce esplendorosa sobre mim, não há mais o clarão do dia e meu olhar contempla a pulseira de golfinhos que dei de presente para Elinór. Seu sorriso foi indescritível ao receber, além disso, ela estava usando o cordão de ouro, cujo pingente é uma menininha, presente de minha filha Patrícia quando ainda estava viva. Eu apenas observo as horas em meu relógio de pulso e elas avançam sem piedade, afligindo meu coração de uma maneira absurda. Falta pouco para a madrugada e não aguentando mais esperar, segui para o interior da casa. Liguei o notebook, conectei o cabo da impressora e procurei pela foto mais recente de Susana. Sem pensar duas vezes, imprimi tantas quanto pude com a inscrição de desaparecida e coloquei meus contatos, caso alguém tenha notícias. O processo demora e enquanto espero, coloco as fitas adesivas numa bolsa e procuro pela chave do carro. Assim que a impressão finalizou, peguei todas as fotos e saí em direção ao meu carro. Em poucos minutos eu já estava na estrada. A movimentação é escassa e não vejo ninguém pelas ruas. Ao me aproximar do hospital de Santo Ângelo, estacionai o veículo e preguei varias fotos dela nos postes. Coloquei também nos para-brisas dos carros e nas portas das lojas por onde passei. Entrei no carro novamente e saí para outros lugares. Afixei no bar onde a sequestrei do dançarino, nas praças, nas palmeiras das praias. Abri a janela e enquanto dirigia rapidamente, joguei os pequenos cartazes que voavam em direções desconhecidas por mim. Fiz isso tantas vezes quanto respirei e durante a madrugada inteira. Enfim, não desisti. Antes do raiar do dia eu já havia espalhado silenciosamente a notícia de seu sumiço. Alguém há de ter alguma informação em algum canto desta cidade. Fiz sem o consentimento de Soniér, mas que se dane ele e todos os outros que me repreenderem. Eu faço qualquer loucura por ela.  

Quando cheguei em casa já era manhã. Caminhei até o sofá, exausto e sonolento, mas antes que eu pudesse alcançá-lo, meu telefone tocou. Atendi o mais rápido que pude, imaginando notícias sobre ela, contudo, ouvi a voz de Henrique. 

– Está louco? – perguntou com voz agressiva. – Como espalhou fotos dela desse jeito? Soniér está uma fera, ele já sabe. Aliás, todo mundo já sabe! Você expôs a filha dele – ri desacreditado e com indignação. 

– É mesmo? Eu não estou nem aí. Mande ele vir falar comigo como um homem e não mandar um garoto de recados – desliguei o celular e deitei no sofá, desabando sobre ele o meu corpo cansado. Não tenho mais paciência para coisa alguma. Quando meu celular tocou mais uma vez, olhei para tela e dessa vez, era Vivian. Atendi com certa ignorância pensando que fosse represália. 

– Se me ligou por causa das fotos eu não quero ouvir nada! – minha voz saiu bastante ríspida. 

– Não é sobre as fotos Igor. A Eduarda também desapareceu. Só descobrimos agora que há dois dias ela não aparece no próprio apartamento e não saiu do país. Os dois detetives que a espionavam estão mortos. Ninguém sabe onde ela está – gelei de cima a baixo. Ela certamente está com a Madame. Não vejo e nem falo com Eduarda desde o dia do enterro. – Olhe o extrato de sua conta no banco, preciso de alguns documentos que atestem a posse dos imóveis e do clube – ela pede de forma rápida e sem respirar.  

– E a Susana? – questionei desesperado, sem sequer prestar atenção nos assuntos de meus bens. 

– Uma nova equipe de buscas está indo em direção ao interior do Estado por causa de uma denuncia anônima. Disseram ter visto o carro da Eduarda, mas não temos certeza de nada! – falou seriamente. – Os documentos estão na outra casa – comentei dando passadas impacientes pelo cômodo, deixando marcas fundas pelo carpete. 

– Então não perca mais nenhum segundo, nos encontramos lá – desligou em seguida. Paralisei ainda com o telefone em mãos e quando recobrei a consciência corri em direção ao carro e parti para a mansão. Parei em um sinal vermelho, abri o porta-luvas e olhei fixamente para a arma que ganhei de Soniér. Pensamentos desastrosos vaguearam por minha mente. Coloquei o objetivo onde estava e segui viagem, acelerando a cada segundo. Minutos mais tarde eu já estava próximo ao local, avistei o carro de Vivian e Henrique estava com ela. Estacionei e desci. 

– Está pronto para entrar? – ela questionou levando em conta o meu estado emocional. – Eu não sei de mais nada. Não me importo de perder cada centavo do meu patrimônio, a única coisa que eu quero na vida é saber se ela está bem – desabafei e Henrique deu leves batidas em meus ombros. – A cidade toda está sabendo do desaparecimento dela por causa das fotos, Igor. Uma delas parou num jornal de circulação local e eles estão divulgando – o olhei sem expressões em meu rosto. – Isso é bom, não é? – perguntei e eles se entreolharam. – A caçada aumentou e os envolvidos devem estar se sentindo acuados agora, não temos muito tempo. O sumiço de Eduarda só revela que ela está envolvida tanto no desaparecimento de Susana quanto... – ele pausou a frase e respirou fundo. 

– Quanto o que? – indaguei receoso. 

– Você conhece nossas suspeitas, doutor Igor. Não estamos aqui para ludibriar ninguém. Mesmo com sua recusa em acreditar e na ausência de provas, acreditamos que Eduarda está por trás do assassinato de sua filha – não era a primeira vez que ouvia isso, sempre me recusei piamente a acreditar, mas agora meu coração vacilou e um ódio descomunal invadiu minhas veias de maneira impiedosa. Respirei pesadamente com seu comentário e um arrepio louco subiu por minhas pernas. 

– Se isso for verdade eu mesmo quero matá-la com minhas próprias mãos – ditei cada palavra com ira. Eu não consigo acreditar que ela tenha feito tamanha maldade com a nossa filhinha, sei que nunca desejou ser mãe, mas a troco de quê mataria uma criança? Sua menina. O novo segurança que eu havia contratado liberou o portão e adentramos à propriedade. Entramos na casa e senti um calafrio percorrer minha espinha. Toda a cena do massacre voltou à minha mente e por mais que esteja tudo limpo, o cheiro do sangue está impregnado por todo o ambiente, mas apenas eu posso sentir.

Narrado por Elinór

Minhas costas doem por estar deitada nesta cama desconfortavelmente rígida. Sem travesseiros ou qualquer tipo de cobertor, o frio e a desolação são meus únicos companheiros. Só consigo ver um rastro de luz próximo ao teto, pois o único clarão do recinto invade o quarto pela janela gradeada que dista metros do chão. Isto não é um quarto de uma casa convencional, é como seu eu estivesse em um porão, uma sela, só que afastado da possível residência e nem sei se estou sob uma. Como aqueles labirintos subterrâneos que ligam um lugar a outro e que possuem pequenas torres ao longo do caminho, como saídas de ar. A penumbra do ambiente amedronta-me e estou sem comer a horas. Não almocei e meu corpo está fraco. Meu relógio de pulso foi arrancado no momento do sequestro e perder a noção do tempo neste cativeiro é o primeiro indício de uma possível alucinação. Encolhi meu corpo na cama ao sentir o gelo da noite. Uma pontada fina em meu ventre insiste em aparecer durante longos segundos e subitamente vai embora. Isso muito me assusta. Isso não pode estar acontecendo. Foi nesta solidão e pensando em Igor que acabei dormindo.

Meus olhos começaram a abrir com o barulho da porta de ferro. Com esforço, sentei-me e minha cabeça deu um forte giro, tudo está rodando diante de mim. Agora percebo os efeitos da privação das refeições. Minha boca está amarga e uma sensação de vazio assola-me por dentro. Ajeitei os cachos de meus cabelos, tirando-os do meu campo de visão, e assim que o fiz, pude ver Edgar no recinto. Ele trás uma bandeja em suas mãos e o segurança que vigia a porta colocou uma cadeira diante de mim, me olhou de maneira diferente e logo depois saiu, deixando-nos a sós. Edgar depositou a bandeja em cima da cadeira e sentou-se ao meu lado na cama, de modo que seu corpo tocava o meu. 

– Está gostando das novas acomodações? Espero que tenha passado uma noite confortável – disse debochando e com um risinho safado. 

– Sabe, Eduarda adorava trazer a menina para este lugar. Ela oferecia chás para as amigas enquanto deixava a Paty presa aqui embaixo só para estudar os efeitos do medo na criança. Ela ficava apavorada – o olhei espantada pela revelação. Como um lampejo de luz, recordei do dia do massacre onde vi seus desenhos dentro do armário embutido em seu quarto, um deles era exatamente de uma casa grande com outra menor dentro dela. Era este lugar, tenho certeza. O esboço desta masmorra pela visão de uma criança.

– Depois ameaçava dizendo que se ela contasse para o Igor ela seria deixada aqui para sempre – senti uma lágrima escorrer por meu rosto. O quanto aquela menininha deve ter sofrido nas mãos daquele ser humano desprezível que, infelizmente, é a mãe de sangue dela. Reparei que seus olhos passeavam por meu corpo, então fiz menção em pegar o primeiro pedaço de pão, mas fui impedida por ele quando segurou meu braço. – Vá com calma, doutora – falou sedutor. – Isso é uma recompensa se for boazinha comigo – o olhei desesperada. 

– Edgar... – pronunciei seu nome quase sem forças. – Você não é um monstro, eu não estou bem. Olha para mim – toquei suas mãos e ele me encarou em silêncio. Minha voz saiu tão baixa que ele se aproximou para ouvir. Pensei que se compadeceria, mas me enganei. Ele apenas sorriu malicioso. 

– Eu vou adorar teu corpo frágil à minha total disposição – o empurrei pelos ombros. – Eu reparo em você desde o dia em que conversamos na sala dos médicos. Eu já fiz coisas imaginando teu corpo no meu – respirei fundo, buscando os últimos resquícios de energia. – É muito simples, a gente brinca um pouco e depois você vai ter tudo o que quiser – quando ia me tocar algo em seu bolso vibrou, ele retirou o celular e rejeitou a ligação, guardando-o novamente. Encarou-me pervertido e rapidamente subiu por cima de mim, encurralando-me na cama. Senti um chupão nojento em meu pescoço e ele gemeu pressionando seu membro duro contra minhas pernas. Suas mãos passeiam em meu corpo e ele permite que as minhas fiquem livres, então massageei suas costas e também a lateral de seu corpo. Deixei ele fazer o que queria por alguns segundos e finalmente o golpeei com meu joelho em sua parte mais sensível. 

– Arg... Filha da puta! – saiu de cima de mim e caiu no chão, contorcendo-se de dor. Inclinei meu corpo e bati com o braço na bandeja, derrubando meu café da manhã no chão e boa parte em cima dele. 

– Você pode fazer tudo o que quiser comigo, Edgar, mas me mata primeiro – ele riu sarcástico em meio a dor. 

– Eu sou paciente, Madame. Ainda vou conseguir o que quero – revirei os olhos. 

– As consequências podem ser drásticas se não me obedecer – gargalhei de sua fala, mesmo fraca eu consigo manter a sanidade. Espero que até o fim. 

– Não obedeci nem meu pai quando era mais nova, acha mesmo que vou acatar as suas ordens? – gesticulei e repleta de cólera, ele levantou do chão ainda sentindo dores e me prensou na cama mais uma vez, imobilizando meus braços e travando minhas pernas pernas. Não tenho força alguma para revidar, ele segurou meus pulsos com uma mão apenas e com a outra tentou desabotoar minha calça. – Não! – gritei com toda a força que ainda me resta e tentei me soltar, porém em vão. – Hoje à tarde vou te levar para um breve interrogatório – passou a língua imunda por meus lábios e desviei o rosto várias vezes. – Você pode amenizar o que vai te acontecer se ficar quietinha – levou a mão direita até minha intimidade e a apertou por cima da calça. Senti asco na mesma hora. Ele subiu o toque até o cós de minha calça e invadiu o tecido, tocando-me intimamente. 

– Para! – esbravejei mais uma vez. 

– Vamos ver se você é gostosa! – falou maledicente e sorriu de lado. 

– Doutor Edgar – ouvimos a voz do moreno, ele invadiu o recinto ao ouvir meu pedido de socorro. 

– Saia de cima dela, isso já foi longe demais – Edgar virou o rosto e olhou irado para o homem. – Deixe-nos a sós – ordenou ríspido e encarei o homem como quem pede socorro. – Por favor! – pronunciei sem emitir nenhum som. Sei que ele fez leitura labial. 

– Obedeça rapaz! – ditou Edgar com voz grave e tirou sua mão de mim. O homem simplesmente apontou sua arma em direção ao médico e este, com cautela, saiu de cima de mim, aliviando a pressão que estava fazendo sobre meu ventre. Fechei o botão de minha calça – Você está sendo insubordinado, Leon. Acho bom obedecer às minhas ordens – chegou mais perto do homem. – Eu não recebo ordens suas! Sou pago pela doutora Eduarda e só a ela devo obediência. Tenho instruções bem claras de não deixar ninguém tocar nesta mulher. Ninguém! – falou sério e me senti um pouco aliviada. Edgar volveu o corpo em minha direção. 

– Salva pelo gongo, não quis cooperar, agora aguente as consequências – ditou raivoso e saiu do quarto. O homem recolheu parcialmente a sujeira do chão e também se retirou. Assim que me vi sozinha no quarto, coloquei a mão no bolso de trás de minha calça e peguei o celular que estrategicamente roubei do bolso de seu blazer quando deixei que se aproveitasse de mim por breves​ instantes​. Minha visão está turva pela fraqueza, mas ainda sim disquei o número de Vivian com desespero. Ergui-me da cama cambaleando e me apoiei na parede, na direção da janela alta. O sinal está fraco aqui embaixo, mas ainda sim o celular chama insistentemente. 

– Atende pelo amor de Deus! – supliquei baixinho esperando ouvir sua voz. É minha última esperança. Preciso ser rápida, logo ele vai perceber que perdeu o celular e virá atrás de mim. Um suor frio brota de minha pele na expectativa, uma adrenalina violenta é injetada em meu copo quase sem forças e por um milagre dos céus ela atendeu. 

– Vivian! – falei baixo para que o segurança do lado de fora não pudesse ouvir. 

Meu Deus, Elinór! Onde você está? – perguntou com voz eufórica e por trás, ouvi Igor aflito querendo tomar o telefone de suas mãos. Também pude reconhecer a voz de Henrique. A ligação está péssima e quase não escuto nada. – Rastreia essa ligação, Vivian – pedi quase que inaudível. 

De quem é esse... – sua voz corta a cada instante. – Os desenhos da Paty... Na casa – falhei a voz pelo cansaço. – Porão! – falei com um pouco mais de força – Eduarda e Edgar – sussurrei os nomes. 

Nós vamos te achar, aguenta firme – pediu encorajando-me. 

Susana, eu amo você. Eu não vou desistir – me emocionei com a voz dele. 

– Igor, os desenhos da Paty no armário, olha... – senti meu coração parar quando ouvi vozes altas vindo do corredor. Desliguei e de forma rápida apaguei a última ligação do registro, ainda com dificuldade de enxergar nitidamente. Olhei pela janela com grades e tomando impulso joguei o celular na esperança do mesmo passar por entre os pequenos espaços, mas não consegui de primeira e aparelho caiu em meus braços. Comecei a ficar nervosa e cada vez mais as vozes se aproximavam. Tentei mais uma vez e para a minha sorte, consegui. O celular passou pela janela e deitei na cama, disfarçando a tensão. Minha respiração está descompassada e só peço a Deus que eles tenham compreendido minha mensagem. Meu coração acelerou de maneira descomunal quando a porta foi aberta bruscamente, Edgar deu passos furiosos em minha direção e empunhou as mãos em meu pescoço. 

– Onde está o meu celular? – apertou ainda mais minha garganta. Olhei lateralmente e vi Eduarda parada próxima à porta.

Narrado por Igor

Minha cabeça começou a girar, ouvi sua voz, estava longe, mas era ela. Minha Madame. 

– Onde ela está Vivian? – perguntei exaltado, passando as mãos por meus cabelos. – Henrique, pega esse número e passa para o Rony, pede pra ele rastrear de onde veio essa última chamada – ele acatou e anotou o número de telefone do qual Elinór ligou. – Ela falou em Edgar e Eduarda, falou também em porão e sobre os desenhos da Paty – ditou firme. 

– Igor que desenhos são esses? – questionou-me neguei com a cabeça sem saber. 

– Eu não sei, ouvi ela falar de desenhos, mas não sei o que isso tem haver – raciocinei e decidi verificar o que ela havia desesperadamente pedido na ligação. – Vem comigo! – subimos as escadas da mansão com pressa, enquanto Henrique tentava descobrir a localização da chamada. Depois de muito tempo entrei no quarto de minha filha e meu coração apertou, mas não perdemos tempo. Reviramos cada centímetro do quarto até que me deparei com alguns desenhos em cima de um baú rosa. – Vivian! – a chamei pasmo e intrigado por nunca ter visto desenhos como esse. Agora vejo que minha menina sofria calada e eu mal conseguia enxergar por causa de minha obsessão doentia pela mãe dela. 

– Por que ela queria que eu visse esses desenhos? Como ela sabe disso? A minha filha está viva? – perguntei enlouquecido. Vivian também os olhou e os arrancou de minhas mãos. – Eu não sei Igor. Olha pra esses desenhos, isso te lembra alguma coisa? – balancei a cabeça negativamente. 

– Ela disse que estava em um porão, veja isto, é uma casa dentro da outra. Um porão desenhado por uma criança. Se ela está refém de Eduarda provavelmente sua ex mulher deve ter contado alguma coisa sobre ter lavado sua filha neste lugar. Ela maltratava a Patrícia, Igor – esmurrei a porta do armário. 

 – Por quê? – questionei angustiado. 

– Isso não é hora de se questionar, Igor. É hora de agir! – seu olhar desviou de mim e encarou o baú rosa. – O que tem aí dentro? – perguntou.  Não sei – nos olhamos, ela sacou a arma e com um tiro arrebentou o cadeado. Puxei-o para fora e nos abaixamos para olhar o que havia dentro. Nos deparamos com um conjunto de fotografias e outros desenhos. 

– Que lugar é esse? – apontou para uma foto onde eu estava com a Paty no colo e Eduarda abraçava-me de lado. Eu havia me esquecido desse dia e das inúmeras fotos que tiramos nesse lugar. Só não entendo o porquê estas fotos estão aqui. 

– Fica em Campos dos Jordão, mas é uma antiga propriedade da mãe dela, inclusiva já foi vendida. A Paty morria de medo... – minha mente voltou ao dia da visita a casa e de como minha filha teve receio de um lugar especifico da casa, o porão. O local interligava a casa principal e seguia numa espécie de túnel até uma casa de maquinas da pequena tecelagem da família. O espaço subterrâneo é enorme e praticamente é uma casa debaixo da terra.

– Vivian – a chamei atordoado. 

– Já temos localização, a chamada veio de Campos dos Jordão. Pasmem, do celular de doutor Edgar – disse Henrique ao entrar no quarto de maneira efusiva.

Saímos do interior da casa correndo em direção aos respectivos carros e sequer peguei documento algum.  

– Todas as unidades em alerta! Quero todas as equipes em direção a Campos dos Jordão agora! – ela anunciava em alto e bom tom rádio enquanto lia o endereço que estava no papel em minhas mãos. Direcionamos-nos o mais rápido que podíamos, pois se Deus nos ajudasse, teríamos quatro horas e meia de trajeto pela frente sem percalço algum.

Narrado por Elinór

Eles estão me levando à força para um local próximo á escada que direciona ao andar superior.  Eduarda abriu a porta e assim que entramos vi o local. É medonho, por toda parte há um terrível odor fétido e a umidade e mofo são visíveis por aqui. Tremi ao notar o tanque com água e as cordas.  Sem que eu pensasse muito, meus braços foram presos com as amarras e mesmo tentando me esquivar, é fora de cogitação tentar fugir. A possibilidade é remota, para não dizer irreal. Dois homens puseram-me diante do tanque e um deles empunhou as mãos em meus cabelos. 

– Eu nem sei por que ainda te mantenho viva? – Eduarda perguntou debochada. 

– Mas se não cooperar comigo, posso apagar você aqui e agora – engoli a seco a ameaça. Reparei que o segurança moreno estava de frente para mim, distante do tanque, encostado na parede.  Nossos olhares se encontraram e clamei silenciosamente para que me ajudasse. Edgar, próximo à sua cúmplice, esboça face de vingança pelo fato de não ter conseguido o que queria comigo. 

– Onde está o celular do Edgar? – indagou ríspida. 

– Eu não vi celular nenhum – falei demonstrando não saber do que ela está falando. Meu cabelo foi duramente repuxado e senti uma dor invadir minha cabeça. 

– Está me fazendo repetir uma pergunta. Eu odeio repetir qualquer coisa – apoiou os braços na borda do taque, do lado oposto ao meu e me encarou. 

– Vou reformular – disse pensativa. 

– Com quem você falou? E o que contou? – seu tom é autoritário, mas me neguei a responder o que quer que fosse. Vendo a minha recusa, ela deu a primeira ordem. Minha cabeça foi forçada para dentro da água e por alguns segundos fiquei sem respirar. Tento levantar meu tronco, mas com os braços amarrados não tenho chance. Uma sensação terrível percorre meu corpo e o deixa adormecendo, como se eu fosse perdendo o controle dos músculos corporais, principalmente o respiratórios. Quando acabaram com a tortura, respirei pesadamente para retomar o fôlego e senti muito medo.  

– Dizem que é uma sensação bem ruim, não é? – se aproximou de mim e aqueles que me prendem, giraram meu corpo para que eu pudesse encará-la. Permaneci calada. 

– Eu imagino que há essa hora o Igor esteja louco à sua procura. Já perdeu a filha e agora vai perder a mulher que ama – riu maléfica e me vi sem força para mover um dedo sequer. Tento a tudo custo usar toda a energia que me resta para falar.

– Eu ainda posso te dar mais alguns dias de vida. Só preciso que cooperes comigo – apontou severamente. 

– O que fez com o celular do Edgar? – perguntou austera. 

– Como eu esconderia um celular naquele quarto? Muito menos nas minhas roupas – falei ofegante e num tom muito baixo, ainda me recuperando do quase afogamento. 

– Mais uma! – ordenou e com brutalidade mergulhei no tanque da morte. Dessa vez sou forçada há ficar mais tempo e já sinto meus pulmões arderem pela falta de ar. Minha única vontade é de ver o Igor mais uma vez e de dizer que eu estou pronta para morar com ele, que o amo sem inseguranças. Sinto como se meu consciente se esvaísse aos poucos, uma ânsia medonha avança de meu estômago para a garganta. Meus olhos estavam prestes a fechar quando findaram com o flagelo. Foi inevitável, pendi a cabeça e vomitei ao lado ao tanque. Minhas roupas ficaram sujas, tento prender o choro, contudo não consigo. 

– Joguem um belo jato de água nessa imunda, não quero entrar naquele quarto com ela desse jeito – Eduarda ditou enojada e saiu do ambiente, olhei para o canto da parede e não vi mais o moreno que tanto me olhava. Cambaleei sem forças e mesmo assim eles me arrastaram para o centro do cômodo, me desamarraram e jogaram meu corpo no chão. Afastaram-se de mim e logo em seguida senti um forte jato d’água a me lavar o corpo. É tão intenso que me machuca a pele. Sem roupas secas vou adoecer muito rápido, não há a mínima possibilidade de me recuperar. 

– Para, por favor – supliquei entre soluços e protegi meu rosto do jato.  Eles não me ouvem, comecei a bater minha mão no chão inúmeras vezes até que a crueldade terminou. Um dos homens me puxou pelos braços e arrastou meu corpo pelo chão do local, saímos do cômodo e meus olhos detiveram-se no teto durante todo o caminho. A luz forte incide em minha retina e a queima. Quando meu corpo foi lançado num canto da parede da sela, minhas costas colidiram com o concreto. Os dois homens estão parados na porta à espera de alguma coisa e pude ver o que era assim que Eduarda entrou. Internamente me desesperei quando vi um aparelho portátil de choque. Ela se abaixou e apontou o instrumento de tortura. 

– Essa descarga de eletricidade no seu corpinho molhado não é uma boa ideia. Essa é a última chance de cooperar – pensei em dizer a ela as minhas suspeitas para que assim tivesse uma súbita compaixão, mas desisti, pois sei que será pior. 

– Abre o jogo, para quem você ligou? Falou sobre mim e Edgar? – pressionou o aparelho contra o meu corpo sem apertar o botão e sem obter a resposta, esbofeteou-me o rosto. – Eu não sei de que celular está falando – entrecortei a frase. – Então vai ser do meu jeito – encolhi meu corpo instantaneamente assim que a corrente elétrica passou por ele. 

– Aaarg! – gritei com os dentes trincados para aguentar.  

– Achei o celular! – o choque cessou imediatamente quando a voz do moreno ecoou pela sela. 

– O que? – Eduarda levantou e fiquei sem me mexer por causa da dor. – Encontrei caído lá em cima, estava perto do sofá.

– Eduarda pegou o telefone nas mãos e o analisou por um bom tempo. 

– Não há nenhuma chamada para número desconhecido. A última chamada foi para o meu celular – ouvi quando se comunicou com o segurança. 

– De qualquer forma, torturaram-na a toa – disse o homem. – Isso é pouco para ela Leon. Não foi um total desperdício. Cuide das coisas por aqui até que eu volte – ela passou a mão pelo rosto dele e mandou um beijinho no ar. Eles se olharam e em seguida ela partiu. A porta ia se fechando lentamente e os olhos dele caiam sobre mim de maneira ininterrupta. Assim que fiquei a sós no quarto, pressionei as mãos contra o meu ventre, não pude fazê-lo antes pela presença deles, mas agora não posso mais esperar. A dor voltou intensa devido o choque, meu corpo em posição fetal agoniza por tudo isso. 

– Por favor, não! – implorei baixinho, contorcendo-me no chão.

Passado algum tempo, não sei precisamente o quanto, acordei com alguém batendo de leve em meu rosto. 

– Acorda! – minhas pálpebras estão pesadas e mal consigo ver nitidamente, mas pela voz, reconheci o moreno. 

– Ela vai voltar, eu não quero – falei ofegante e com medo. 

– Calma, ela não vai voltar agora. Só amanhã na hora do almoço – ele me pegou no colo e me ergueu do chão, colocando-me sobre a cama. Ajeitou alguns travesseiros por trás de mim e puxou a cadeira para perto da cama. Notei que preparara uma bandeja com alguns alimentos que não consegui identificar e a depositou sobre a cadeira. Sentou-se ao meu lado e ofereceu-me água, levou um canudo até minha boca e instantaneamente, suguei o liquido. 

– Devagar! – ordenou por minha voracidade. Estou há tantas horas sem água ou alimento que beiro a insanidade. Sentir meu corpo sendo hidratado aos poucos me deixa aliviada e preciso estar consciente de tudo. Quando finalizei a bebida ele tomou o prato em sua mão esquerda e com a direita, me ofertou a primeira colherada de uma sopa. Comi cada pequena porção que me oferecia com esperanças de sair deste lugar. De poder fugir. Vejo nele um ponto fraco, preciso usar isso a meu favor. Só não sei como. Curioso é que seus olhos não possuem expressões de uma pessoa má. Ele é enigmático. 

– Leon, porque está fazendo isso por mim? – perguntei ao saborear a ultima colherada de sopa. O homem silenciou e colocou o prato de volta na bandeja. 

– Você pegou o celular que joguei pela janela. Como soube e por quê? – o questionei. – Era bem óbvio. Se o celular estava com você e tinha que se livrar dele, a janela era a única opção. Para a sua sorte, só não quebrou porque a queda foi amortecida pela grama – ouvi atenta. 

– Por que me ajudou? – ele esfregou as mãos uma na outra e respirou fundo quando insisti. – Eu nem sempre fui assim – pausou a fala. – Mas a necessidade nos obriga a muitas coisas, só que até agora a gente só tinha bandido em mãos, não inocentes – me posicionei melhor na cama. 

– Me ajuda a sair daqui – segurei em seus ombros, mas ele se esquivou. 

– Não posso. Não te deixar morrer de forme é o máximo que posso fazer – segurei na manga de seu blazer quando ia levantar. O puxei até que sentasse mais perto de mim e segurei seu rosto. 

– Eu preciso de um médico, acho que estou grávida – falei aflita. 

– Não estou bem, você me viu naquela sala. Eu passei mal e agora minhas roupas estão molhadas. Vou ficar doente! – ele ficou estupefato diante de mim. 

– Mas pelo que eu ouvi você é médica, sabe o que fazer – falou afobado e neguei com a cabeça. – Eu preciso ir para um hospital, estou sentindo muitas dores. Vou perder o bebê assim – ele retirou os travesseiros que me davam apoio e levou as coisas para o corredor. 

– Eu não posso, sinto muito. Se disser que lhe ajudei vai ser ver comigo – apontou nervoso. 

– Espera não me deixa aqui! Não vai embora – estendi os braços, mas foi em vão. Ele saiu batendo a porta do quarto. Depois disso apaguei por um bom tempo.

Quando despertei, estava um pouco mais disposta pelo fato de ter me alimentado, porém sei que não vou aguentar passar por nenhuma emoção ou tortura, pois certamente vou perder o bebê. Eu nunca quis filho, muito menos gostava de criança, mas diante de tudo que vivi com Igor e pelo sentimento bom que conheci quando Patrícia ainda estava viva eu quero muito ter esse filho.  Temo agora em adquirir uma pneumonia, pois meu corpo treme pelas roupas encharcadas e nada posso fazer para mudar isso. Fiquei apreensiva quando a porta foi aberta e vi o moreno entrar assustado. 

– Eu não quero ser cúmplice disso – disse ao gesticular e não compreendi. 

– Você tem que fazer alguma coisa! – me puxou pelo braço e o segui até o corredor, ele me segura firmemente como se eu fosse fugir. Viramos à esquerda e seguimos até uma porta no fim de um corredor, assim que paramos diante dela e me olhou com tamanha seriedade que estremeci. 

– Eu não quero carregar o peso dessa morte, só você pode ajudá-la – falou em suplícios. O encarei confusa, porém, no exato momento em que abriu a porta, cobri a boca com as duas mãos para conter o grito de espanto e incredulidade. Paralisei por completo diante do segurança, eu mal posso acreditar no que estou vendo. As lágrimas desceram com facilidade por meu rosto e mesmo sem condições físicas, corri em direção à cama no canto da parede e hesitei em tocar. Ajoelhei na cama e peguei o pequeno e magro corpo em meus braços, meu coração disparou sem controle e a apertei contra mim de maneira tão intensa que ouvi seus gemidos baixinhos. Olhei para o alto e depois volvi meu olhar para ela. Passei a mão por seu rostinho pálido e sem expressões, sem forças até para abrir os olhos e meu choro desabou pesadamente, saiu aliviado, mas ao mesmo tempo repleto de medo. Sinto-me feliz e triste. Sinto tantas coisas! 

– Ela está muito mal, há dias não come direito e só dorme. Ela chorava a noite toda até cansar, mas agora nem isso ela faz. Acho que está morrendo, a mãe bateu muito nela esses dias – eu ouvia suas palavras e pensava em Igor e no que eu um dia havia prometido a ele. Agora tenho chance de cumprir. E quanto mais ele contava, mas eu abraçava a garotinha que tentava tatear meu rosto com sua mão pequena e frágil. 

– Obrigada Deus! – eu repetia ininterruptamente e beijava seus cabelos, sua fronte. Nossos corpos estão à beira de fundir-se nesse abraço milagroso. 

– Paty! – chamei por ela com a voz embargada, a pobre criança mal reage, balbucia coisas sem sentido e está muito desidratada​. É bem provável que esteja entrando em quadro de desnutrição e há varias manchas roxas em seus bracinhos.

– Paty! Abre os olhos, meu amor. Sou eu a Susana. Eu te contei uma história, lembra? Por favor, não morre! – supliquei e encarei o moreno.  

– Tira a gente daqui, ela precisa ir para um hospital urgentemente e eu também – ele passou as mãos pela nuca e começou a falar sozinho, num tom baixo, dando passadas pelo quarto. 

– Patrícia! – chamei alto seu nome e fiquei aflita por não obter respostas. Chorei mais ainda por isso, mas ao notar seu esforço para abrir os olhos, prendi o choro para ver a cena. Aos poucos suas pálpebras afastaram-se e pude ver seus olhos tão lindos e azuis quanto os do pai dela, apesar de opacos pelo estado de saúde. Ela me olhou compenetradamente por um bom tempo e esboçou​ um sorriso com as​ únicas​ forças​ que tinha. Sua mãozinha acariciou meu rosto e senti seus dedos delinearem minha bochecha. 

– Mamãe! – assenti assim que ouvi, com toda a convicção do mundo. 

– É a mamãe querida, eu estou aqui! É a mamãe – seus olhos marejaram e mais uma vez me rendi a esse sentimento louco chamado amor. A embalei e meus braços, enquanto o moreno estava sentado no chão do quarto olhando toda a cena.    

              


Notas Finais


Obrigada por ler até aqui 😍
Espero que tenha gostado 😘


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