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História Desencontros - Desencontros - capítulo único


Escrita por: Zoona

Capítulo 1 - Desencontros - capítulo único


Fanfic / Fanfiction Desencontros - Desencontros - capítulo único

Eu estava bêbada. Não sabia como isso havia acontecido, eu nunca bebia e odiava álcool. Mas eu estava bem bêbada. Havia experimentado algumas bebidas dos meus amigos, mas não sabia quais nem quantas, havia sido uma quantidade considerável. O fato era que eu estava bêbada. E carente. Mas eu queria ele. Peguei meu celular e, embora eu tivesse apagado seu número, lembrava de cor. Sabia que não esqueceria, com certeza não. Ele atendeu logo depois do primeiro toque, como sempre. Eu gostava tanto dele que doía.

 

– Oi. – eu disse.

– Oi. – ele disse, com aquela voz incrível que sempre me quebrava por dentro.

– Como você tá?

– Bem e você?

– Sentindo sua falta.

 

Ele não respondeu. Só riu. Não parecia que estava rindo de mim, mas aquele riso que você dá quando não sabe o que dizer. Ao menos parecia. Sei lá.

 

– Eu tô bebada. – falei.

– O que? – ele parecia não acreditar. Nem eu estava acreditando, na verdade.

 

Eu havia saído andando pelas ruas e não sabia exatamente onde estava. Duvidava que tivesse saído do bairro, mas meus amigos estavam consideravelmente longe e eu não sabia para onde ir. Fora que a essa altura eu não possuía nenhuma noção de espaço.

 

– Não sei onde eu tô. – falei, arrastando. Eu conseguia raciocinar bem, mas meu corpo não me obedecia por completo, do jeito que eu queria.

– Você tá sozinha?

– Aham.

– Me descreve o que você tá vendo.

– Árvores. Prédios. Poste de luz. Um ou outro carro estacionado.

– Seja mais específica.

– Uma pichação escrita "saudade é amor, te sigo esperando".

 

Ele não disse nada por alguns segundos.

 

– Estou indo aí te buscar, está bem?

 

Hã? Totalmente inesperado.

 

– Não dê um passo! – e ele desligou.

 

Eu queria chorar. Depois de um ano, não acredito que eu havia ligado para ele. Sentei no meio fio, perto de um carro. Me encostei nele e comecei a chorar. Ligar para ele havia sido uma enorme estupidez. Há exatamente um ano, eu havia me declarado e sido deixada de lado. E agora eu estava o ligando outra vez, dizendo que sentia a falta dele. Patético. Eu estava com sede. Com fome. Com frio. E com saudades dele. Não tinha como piorar. Me levantei e pensei em voltar a andar ver onde dava, quando lembrei que não deveria sair dali. Não sei ao certo quanto tempo demorou, mas ele chegou apenas alguns instantes depois. Enxuguei meu rosto molhado na manga do moletom e levantei. Não queria que ele me visse chorando. Ele sorria. Quando vi seu rosto, depois de dez meses – havíamos nos esbarrado na rua uma vez, mas não chegamos a conversar – foi como se eu tivesse levado um belo soco no estômago. Fiquei enjoada, com vontade de vomitar. Porém, também havia borboletas. Queria vomitá-las também.

 

– Ei. – ele disse sorrindo.

– Ei. – respondi, sorrindo.

 

Ele me deu um abraço. Qual era o problema mental dele? Era gentil e doce comigo, mas em outros momentos desdenhava e agia como se eu fosse uma completa idiota.

 

– O que houve? –  ele perguntou.

– Eu não sei.

– Vou te levar pra casa. Quer comer algo antes?

 

Apenas balancei a cabeça afirmando que queria. Ele começou a andar e eu o segui, cambaleando. Depois do que pareceu uma eternidade, encontramos uma barraquinha de cachorro quente. Ele comprou dois e continuamos andando. Nenhum de nós havia dito nada. Eu queria gritar que o odiava. Seria parcialmente verdade. Mas era eu mesma quem me levava até minha própria desgraça.

 

– Vamos sentar? – ele disse, ao chegarmos na orla, onde se encontravam diversos restaurantes e lugar para sentar.

– Vamos – respondi, mais seca do que pretendia. Eu estava com a visão embaçada, tentando enxergar o banco. Além de estar bêbada, meus olhos estavam marejados.

 

Sentamos num banco de madeira, daqueles que tem nos parques e podemos encostar. Estava vazio, mas sentamos bem perto. As pessoas e os objetos giravam.

 

– Como vão as coisas? – ele perguntou.

– Bem.

 

Silêncio.

 

– Você anda bebendo muito?

– Eu não bebo.

– E eu posso perguntar como você ficou bêbada?

– Para falar a verdade nem eu sei.

 

Silêncio. Eu comecei a chorar. Ele parecia não saber o que fazer, assustado. Se aproximou ainda mais e se virou, permitindo que eu o visse melhor. Não sei se isso era bom ou ruim.

 

– Ester! Ahn... – ele me encarava, preocupado. Mas eu só conseguia olhar para o chão e derramar lágrimas. – Por favor, me fala o que houve... O que eu posso fazer?

– Só me diz o que aconteceu.

– O que aconteceu? Como assim?

 

Queria dar um tapa na cara dele.

 

– Eu odeio você. – eu havia aumentado um pouco o tom de voz, o que chamou sua atenção.

– Achei que sentisse minha falta – ele disse, com um sorriso irônico.

– Isso me deixa com ainda mais raiva.

 

Ele parou de sorrir. Silêncio. Silêncio. Silêncio.

 

– Eu gosto de você. – ele falou, sério. Isso, sim, me fez olhar no fundo dos seus olhos. Como em todas as vezes que conversamos no ano retrasado. Os olhares que me perfuraram, e ainda perfuram. – Não sei como gosto. Mas gosto.

 

Doía tanto. Ele passou o braço pelas minhas costas e eu encostei minha cabeça nele. O medo de começar a tremer e ele perceber só me deixava mais nervosa.

 

– Você continua chorando. – ele falou.

– Você não fez o que eu disse que ajudaria.

 

Ele respirou fundo, mas continuou calado.

 

– Por que você não me diz de uma vez? Disse que tem milhares de pessoas no mundo, mas tudo o que faz é me deixar confusa. Você insinua, mas não deixa certeza de nada. Sempre assim. É tão irritante!

 

            Eu não conseguia encará-lo diretamente. Eu deveria estar firme, segura e determinada, como quando o liguei para me declarar. Mas eu só estava perdida.

 

– Você não entende que eu estou confuso? – ele me soltou.

– Há mais de um ano? Como consegue? Sério, não entendo mesmo.

– Você gostou de mim por esse tempo todo. Nem sequer nos falamos mais, nem uma única vez. – ele disse como se estivesse zombando de mim.

– Não diga no passado. E não preciso de mais ninguém pra me lembrar do quanto sou idiota.

–Não foi isso que quis dizer.

–Tá.

 

Ele riu. Mais silêncio.

 

–Vou te levar pra casa – ele disse. Mas nem se mexeu.

 

Eu o beijei, antes que fosse tarde. Meu primeiro beijo. Ele não se afastou, mas também não continuou. E então eu parei. Foi tão rápido...

 

– Não queria que meu primeiro beijo fosse bêbada. – meus olhos se enchiam outra vez – Não queria nunca ter ficado bêbada.

– Não queria que uma garota só quisesse me beijar quando estivesse bêbada.

– Não teria coragem de fazer isso sóbria. Falta de vontade não é. Acho que achei o lado bom.

 

Ele riu de novo, parecia nervoso. Ele acabou com o espaço que havia entre nós e me beijou. E esse sim foi um beijo de verdade. E depois ele deitou no meu ombro. Não queria que acabasse. Fechei os olhos e senti a brisa gelada da noite bater no meu rosto.

 

– Eu sei que o idiota sou eu. Mas eu só não quero nada agora, sabe?

– Isso não é motivo pra a gente ficar tão afastado.

– Não?

– Claro que não.

 

Ele olhou para mim, ainda encostado no meu ombro. Deu um sorriso suave, que logo se desfez, ao mesmo tempo em que ele desviou o olhar.

 

– É melhor a gente ir. – ele levantou num pulo, me assustando. – Só me explica exatamente onde você mora que o resto eu resolvo. Você tem dinheiro pra passagem? 

– Não.

– Tudo bem, eu tenho.

 

Eu me levantei, não entendendo nada, mas o seguindo, ainda tropeçando no meu próprio pé. Dessa vez ele me ofereceu o braço como apoio, eu aceitei. Podia não o entender agora, mas de uma coisa eu sabia: nossas bocas se entendiam, e nossos olhos também. Nathan, o único garoto da face da Terra de quem eu já havia gostado, havia me beijado. Talvez eu não estivesse em tanta desvantagem assim.



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