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História (Des)Encontros - Sentimentos não nomeados


Escrita por: HANA_NIM

Notas do Autor


BREAKING NEWS: autora vai viajar e esquece atualização no churrasco. Mas calma, já está tudo sobre controle.

Boa leitura!

Capítulo 15 - Sentimentos não nomeados


 

 

 

 

Parecia irônico para Jongin a forma como até poucos meses atrás não se imaginaria em um relacionamento sério tão cedo, quem dirá pensava em constituir uma família, ter filhos... Aquilo se parecia com uma realidade longínqua para si.

Acabara de voltar para seu país de origem, seu único foco era se estabelecer ali e retomar a sua carreira com o mesmo prestígio que a conduzira até então. A Coreia do Sul era um país de muitas oportunidades e as conexões de sua família lhe garantiram que não tivesse nenhuma dificuldade em se adaptar naquele novo país depois de passar tanto tempo longe. 

Estava tudo indo de acordo com o planejado. 

E então encontrara Kyungsoo. 

O reencontrara na verdade.

Fora impossível não se lembrar dele, claro.

Aquela noite de ano novo fora muito memorável para si. Estava na cidade por poucas semanas e não tinha muitas expectativas para aquela noite, uma vez que sabia que se estivesse no ocidente provavelmente iria se divertir muito mais, entretanto, aquele desconhecido atrevido do bar havia roubado toda a sua atenção e também havia dado um desfecho inesquecível para a sua estadia ali. 

Reencontrá-lo na rua tanto tempo depois, porém fora algo completamente inesperado.

Jongin sequer sabia o que havia dado em si, contudo, quando menos percebera já havia cruzado a distância entre si e Kyungsoo, o abordando daquela maneira completamente despreparada. Lembrava-se de seu coração batendo eufórico no peito por causa daquela inesperada coincidência e do pensamento que cruzara a sua mente ao se dar conta de como sua memória não fizera jus a beleza de Kyungsoo. Lembrava-se também da forma contida e quase tímida com que ele  lhe respondera, fazendo um sorriso nascer em seu rosto apenas de saber que ele lembrava-se de si também. 

Se lhe perguntassem o que havia dado em si para abordar um estranho na rua, Jongin não saberia responder. Não saberia responder também porque nenhum contato que tinha com o outro parecia o suficiente. 

Ele era fechado, discreto e difícil de ler. Ele possuía aqueles lindos olhos negros que se pareciam com um poço cheio de mistérios na visão do moreno e não parecia disposto a revelá-los a si. O que o Do não sabia, porém era que Jongin amava mistérios. Principalmente quando não conseguia desvendá-los.

Kyungsoo se tornou o seu mistério predileto, o seu enigma, mesmo que nem tivesse se dado conta e, por mais difícil que aquele homem de sorrisos codiformes e olhos bonitos pudesse ser, Jongin se viu caindo por aquela dificuldade, por aquele desafio. 

Ele queria também. Jongin sabia que Kyungsoo não estava alheio à si, entretanto, toda aquela dificuldade e barreiras envolvidas só tornava tudo ainda mais empolgante. Cada pequena conquista, sorriso roubado, mensagens trocadas, encontros esporádicos e raras demonstrações de afeto, cada pequeno ato lhe era um sinal de que estava fazendo a coisa certa.

E quando Kyungsoo finalmente cedeu a si... Jongin soube que tudo havia valido a pena. 

Foi só então que percebeu o abismo cavado em seu peito com o tamanho do sentimento que nutria por ele também. Não era só por diversão, nunca fora. 

E fora por isso que doera tanto também. Porque doía de forma infernal repentinamente descobrir que a pessoa que mais te faz bem estava mentindo o tempo todo para si.

Aquele era o pensamento mais recorrente a si. Havia sido fodidamente sincero com Kyungsoo desde o início, para ele lhe retribuir daquela maneira? 

E era irônico pensar também que para alguém que nunca havia pensado em constituir uma família, quando colocara os olhos sobre o pequeno Minjoon, até então o filho de Kyungsoo, aquela ideia não se pareceu tão ruim assim. Porque tudo que vinha de Kyungsoo o fascinava também. 

Não, não era mais irônico, era trágico da pior maneira possível. Porque o tempo inteiro aquele filho também era seu. 

E Kyungsoo vira tudo, testemunhara cada momento, e mesmo sabendo de tudo, não tomara atitude alguma. Passivamente assistira toda aquela cena pitoresca como se ele não soubesse toda a verdade nem a forma como aquela situação era cruel. 

Porque era cruel demais. Jongin não conseguia imaginar que aquele Kyungsoo por qual se apaixonara tivera a capacidade de fazer aquilo consigo. 

Porque aquilo era um tipo de traição. A pior traição que uma pessoa poderia sofrer.

Tinha um filho.

Em todo aquele maldito tempo, sem sequer imaginar, tinha um filho vivendo longe de si sem seu conhecimento, e o pior, se dependesse do pai dele, sequer iria descobrir. 

Não. Jongin não conseguia se enxergar perdoando Kyungsoo. 

As últimas semanas haviam passado como um borrão perante seus olhos desfocados. Era como se seu corpo estivesse ali presente, mas não sua alma ou sua mente. Estes estavam distantes, destruídos, meio despedaçados e espalhados entre um passado e presente que lhe foram negados e um futuro que fora arrancado de si. 

Minjoon.

Ainda era muito novo e estranho para si toda aquela história de ser pai, principalmente quando haviam sido pego de surpresa daquela péssima maneira. Não podia dizer que tipo de sentimento era aquele que o tomava, pois não era como se, a partir do momento que se torna pai, um sentimento mágico brota em seu coração. Não era dessa forma que as coisas funcionavam. 

Entretanto, Jongin sabia que poderia ser de outra forma. Quando olhou para aquele bebê inocente adormecido pacificamente no silêncio do seu quarto naquela noite fatídica, soube que se lhe tivesse sido dada a oportunidade, o amaria mais do que tudo no mundo. Teria cuidado dele com todo o carinho que possuía e teria também aprendido como ser o melhor pai possível. 

Porém Kyungsoo havia lhe negado todas aquelas oportunidades. E mesmo depois de semanas, ainda doía tanto quanto os primeiros dias quando aquela suspeita chata começou a passear por sua mente. 

Desde então estava vivendo como se tivesse constantemente uma adaga cravada no peito e um bolo de lágrimas preso na garganta. Aquela sensação não passava ou ia embora. E o pior era que também não conseguia ver uma solução aparente.

Sua caixa de entrada de e-mails estava lotada, assim como a quantidade de processos que precisava revisar continuava se acumulando, no entanto, sua mente parecia querer vagar por qualquer lugar, menos se concentrar no trabalho que deveria ser feito. 

Não ajudava muito o fato de estar contando as horas até o resultado do exame de DNA finalmente sair. 

Quando sentiu seu celular vibrar sobre a mesa, sobressaltou-se de imediato, apenas para se decepcionar ao ver o contato da mãe brilhando no visor. 

– Mãe? Aconteceu algo? – Perguntou, estranhando a ligação repentina. 

Geralmente era Jongin quem iniciava qualquer tipo de contato por causa da diferença de fuso horário, então uma ligação no meio do dia da mãe para si era atípica. 

– Tem algo de errado em uma mãe querer saber como o filho está? 

– Claro que não. É que você não tem o costume de me ligar nesse horário. 

– Realmente eu liguei apenas para te avisar da novidade. Eu deveria fazer surpresa, mas não aguentei guardar a notícia para mim por mais tempo – ela confidenciou em tom de segredo. 

– Novidade? 

– Nós estamos indo passar um tempo aí! – Anunciou. – Você sabe, seu pai precisa resolver os últimos detalhes da filial em Seoul e achamos melhor estender um pouco a estadia.

– Nós? – Jongin estranhou.– Quem exatamente está incluído nesse plural?

– Todos nós, é claro! Seu irmão não queria vir, mas eu bati o pé pois queria ver a família reunida pelo menos uma vez na vida. 

Oh, Jongin bem sabia como sua mãe podia ser persuasiva quando queria. 

– Claro, mãe, vai ser ótimo ter todos vocês na cidade – falou, o que não era de todo uma mentira. Não era o melhor momento, claro, mas ter sua família por perto era sempre algo bom. – Quando chegarão? 

– Na semana que vem. Você vem nos ver, certo? – Ela perguntou em expectativa.

E se tinha algo que sua mãe gostava mais do que bolsas de grife era de seus filhos, isso Jongin nunca poderia negar. 

O que será que ela faria ao descobrir que tinha um neto? 

Bom, cada coisa em seu momento. Primeiro o moreno precisava receber aquele maldito resultado dos exames, para só então se preocupar com os outros pormenores. 

– Claro que sim – afirmou. 

– Estarei esperando, então. Aliás, está tudo bem com você, meu amor? Não está trabalhando demais, está? – Perguntou em tom acusatório. 

– Está tudo ótimo, não se preocupe – mentiu. Teve de mentir. 

Como dizer tudo aquilo que estava lhe angustiando para sua mãe? Não poderia dividir suas preocupações, não quando tudo ainda estava tão recente e mal resolvido. 

– Ótimo. Até logo então, filho, estou morrendo de saudades. 

– Até, mãe.

Desligou com um sorriso amargo no rosto.

Mentir para alguém que amava não era a melhor sensação do mundo, entretanto, como Kyungsoo conseguira fazer aquilo consigo por tanto tempo? 

Aquele era um mistério da qual ainda não havia desvendado. 

 

 

 


***

 

 

 

Kyungsoo esperava qualquer coisa quando o telefone em cima de sua mesa tocou, menos o anúncio de que Kim Jongin estava ali para lhe ver. 

Mil coisas se passaram por sua mente nos curtos segundos entre o momento em que autorizou a entrada dele até quando ouviu as batidas em sua porta anunciando sua chegada. Sequer teve tempo de preparar-se psicologicamente para o que estava por vir, pois quando deu por si estava frente a frente novamente com o causador de todas as suas noites mal dormidas. 

E o desgraçado continuava tão apaixonante quanto sempre. Não que em seu coração ferido houvesse espaço para algo além de mágoa para se deixar levar por todas as boas lembranças que Kim Jongin evocava em si. Todas elas pertenciam a um passado não muito longe, mas que pareciam muito distantes agora.

– Não consigo imaginar o motivo que te trouxe até aqui, pensei que meu advogado tivesse sido sucinto ao dizer que todos os assuntos deveriam ser tratados diretamente com ele a partir de agora – disse ácido. 

Aquela não era uma boa maneira de se iniciar um encontro. Definitivamente também não fora a forma como imaginara que trataria Jongin em um possível reencontro, entretanto, a realidade nunca seguia as expectativas de qualquer maneira. E tinha algo dentro de si, a parte mais infantil e pouco racional, que não sabia agir de outra forma senão aquela: como uma criança birrenta e contrariada. 

Aquela revolta e sentimentos conflitantes continuavam habitando Kyungsoo ocomo companhias mal quistas e insistentes e ele precisava colocar aquilo para fora de alguma maneira. Mesmo que fosse em forma de palavras rudes que apenas piorariam a situação em vez de melhorar algo.  

– E ele foi. Mas hoje saiu o resultado dos exames e eu me senti na necessidade de vir até aqui pessoalmente – Jongin respondeu em uma seriedade atípica.

Era estranho demais todo aquele clima entre eles. Era desconfortável e tenso e não ajudava muito o fato de Jongin estar próximo o suficiente a si a ponto do perfume dele lhe tomar como uma onda impiedosa de nostalgia. 

Entretanto, aqueles olhos castanhos lhe fitando tão firmemente tinham o efeito de adagas cravando-se em sua pele, fazendo Kyungsoo se sentir exposto de uma forma desconfortável. 

Porque seu maior segredo havia sido exposto e Kim Jongin parecia lhe enxergar com outros olhos desde então. 

– Por acaso eles apontaram algo de que eu já não tivesse certeza? – Rebateu rude. 

– Não – Jongin sorriu cínico. – E eu também sabia qual seria o resultado de qualquer maneira. 

Aquilo fez o sangue de Kyungsoo ferver nas veias. 

– Qual a necessidade de me fazer passar por isso tudo, então? Sadismo? 

– Burocracia – o moreno disse simplista. – Eu preciso de provas para pedir o reconhecimento legal do meu filho. 

E Kyungsoo sentiu um frio na barriga se apossar de si, quase como se tivesse sido atingido por um soco no estômago ao ver o moreno se referindo a Minjoon como "seu filho". Aquilo pareceu acordar todos os seus demônios interiores, o medo, a culpa, o remorso. 

– E o que? Você veio esfregar isso na minha cara? – Quis saber, cruzando os braços na frente do peito apenas para ter mais uma barreira entre si e todos os perigos que aquele homem a sua frente representava. 

Era uma situação difícil para ambos e Jongin parecia estar tão desgastado com tudo quanto à si quando ele suspirou fundo desviando o olhar por curtos segundos. 

– Eu não quero dificultar as coisas, Kyungsoo – foi sincero. – E eu não estou fazendo nada para te atingir, estou fazendo apenas o que é certo. Eu não vou me apressar ou exigir a guarda do Minjoon se é isso que você teme – explicou calmamente.

E a reação que o moreno esperava foi exatamente a que recebeu. Surpresa e alívio se fizeram presente nos traços do rosto do menor que tentava se manter impassível. 

– Não? 

– Não – negou. – Mas eu quero vê-lo regularmente. Nós não precisamos envolver a Justiça nisso, tenho certeza que podemos resolver isso como dois adultos.

– E qual seria a sua proposta? – Kyungsoo perguntou claramente desconfiado. 

– Só preciso da sua autorização para ver o meu filho algumas vezes por semana. Você decide os horários. 

E Kyungsoo não poderia dizer que não ficou surpreso com aquela decisão vindo por parte de Jongin, porque, depois de todos os últimos atos repentinos de sua parte, aquela súbito trégua era inesperada e o Do se viu sem palavras por alguns segundos. 

Pelo menos dessa vez ele estava sendo razoável, entretanto, não era como se Kyungsoo se visse pronto para passar uma borracha em tudo de ruim que Jongin havia o feito passar. As coisas não funcionavam assim na vida real e também não era como se o moreno parecesse minimamente compadecido de si. 

Apesar da lucidez de suas palavras, suas feições ainda refletiam uma máscara fria e sem expressão. 

– Você por ir quando quiser, mas prefiro que seja enquanto eu não esteja presente – disse frio e objetivo. – Você poderá contar com a ajuda da babá dele de qualquer maneira. 

Era bobo e sádico, mas havia algo em si que se satisfazia ao agir tão cinicamente. Porque a perspectiva de magoar Jongin tanto quanto ele lhe machucara era reconfortante da maneira mais distorcida possível. 

Será que o moreno sabia o quão mal ele lhe fazia? 

– Como quiser. Você ainda tem o meu número, certo? Me mande uma mensagem quando estiver tudo resolvido – se Jongin se importou, contudo, ele não demonstrou em seu tom de voz monótono. – Estamos de acordo, então?

– Claro.

Era uma resolução melhor do que poderia ter pensado, não tinha porque Kyungsoo discordar no final das contas, por mais que a perspectiva de ter Kim Jongin entrando e saindo de sua casa não fosse a mais agradável. 

– Ótimo – Pontuou o moreno, que estendeu os documentos em suas mãos a Kyungsoo. – Eu já dei entrada no processo de regulamentação do registro do Minjoon. Você pode ficar com essas cópias, acredito que seu advogado vá precisar. 

E do mesmo modo repentino que chegou, o moreno fez sua saída. Sem um cumprimento, uma explicação, apenas sua frieza e objetividade.

Mas por que Kyungsoo odiou tanto aquele sentimento de distância que pairara entre ambos?

Aquilo era definitivamente melhor do que uma discussão acalorada. Entretanto, para a raiva líquida em suas veias esperando por uma oportunidade para serem aliviadas, toda aquela passividade era um obstáculo.

Aquela falta de expressões por parte de Jongin o irava, aquele ar distante, o olhar frio e cortante fez o seu estômago embrulhar em raiva.

Os documentos em seus dedos foram amassados sem que sequer se desse conta, antes que, em um pico de adrenalina atirasse todos os papéis contra a porta fechada da qual Jongin havia passado segundos atrás.

O perfume dele ainda estava em seu olfato, e pior, a figura dele continuava fixa por trás de suas pálpebras como um fantasma, ele não estava ali, mas a sua lembrança sim. 

 

 

 

 

***

 

 

 

 

Ao contrário do que imaginava, Jongin não se sentiu aliviado quando finalmente recebeu o resultado positivo dos exames e estabeleceu aquela espécie de trégua com Kyungsoo. Seu interior continuava tão inquieto quanto antes, apesar de boa parte de suas preocupações terem diminuído conforme todos os processos judiciais avançavam sem qualquer impedimento e com a cooperação dos advogados de Kyungsoo. 

Ele não parecia querer impedi-lo de reconhecer judicialmente Minjoon como seu filho, o que era algo bom, mas também era algo que fazia mais dúvidas surgirem em sua mente. 

Se ele não parecia se importar de ter o seu nome adicionado no registro de nascimento do filho, por que então ele havia lhe escondido a sua paternidade? 

Por mais que se esforçasse para se colocar no lugar de Kyungsoo, Jongin não conseguia entender o seu modo de pensar. Era difícil também esquecer da própria mágoa e do sentimento de traição para tentar enxergar a situação do ponto de vista do outro. 

Ser paciente era uma qualidade sua, contudo, a compreensão nunca fora muito seu forte. 

Em sua cabeça era fácil: ia resolver toda aquela situação legalmente, conseguir a autorização de Kyungsoo para participar da vida do filho, ia esforçar-se também para aprender a ser um bom pai do zero e bem, iria seguir em frente com sua vida da melhor maneira possível. Era um bom plano em sua cabeça, mas ele não era nenhum pouco sustentável na realidade.

Na primeira vez que foi visitar seu filho um nervosismo atípico tomou conta de si. Era apenas um bebê no final das contas, porque aquela palpitação no peito, então? 

Porém, quando voltou a colocar os olhos sobre aquele bebê risonho e de bochechas vermelhas, compreendeu um pouco do próprio nervosismo. Era um pouco de medo misturado a insegurança. E se ele estranhasse a sua presença? Se ele sempre preferisse o outro pai? E se não soubesse lidar com ele? Não tinha experiência nenhuma com bebês para começo de conversa...

Mas como o próprio Kyungsoo havia lhe avisado, a babá dele lhe auxiliara todo o tempo, desde a patética tarefa de segurar o pequeno no colo da maneira correta, quanto identificar cada resmungo diferente que ele dava e as melhores brincadeiras para lhe distrair. 

Percebeu de repente que era muita coisa para aprender, contudo, cada momento que passava com seu filho se pegava notando mais um traço que ele havia herdado de si, lhe trazendo também um tipo de afeto que nunca havia sentido até então. Era cansativo, mas era o tipo de cansaço que estava disposto a ter sempre que possível, arranjando espaço em sua agenda para ver Minjoon regularmente.

E aquilo deveria ser o suficiente, certo? 

Mas por que ainda sentia um vazio o invadir toda vez que adentrava aquele apartamento que possuía tantas memórias e lembranças de Kyungsoo? 

Achou que seria melhor não mais se encontrarem como ele havia sugerido, entretanto, a cada vez que chegava ali e se deparava com apenas Seulgi e Minjoon a sua espera, algo dentro de si lhe fazia sentir-se estranho, como se a parte muito importante de um quebra-cabeça estivesse faltando.  

Ia contra o racional ou todos os ideais que seguira até ali, mas Jongin era inteligente e no fundo sabia exatamente do que se tratava aquele sentimento que não ousava nomear. 

Preferia continuar ignorando tudo aquilo porque era conveniente, no entanto, a vida não parecia cansar de lhe presentear com obstáculos. 

Estava voltando do fórum para seu escritório quando sua secretária lhe parou no meio do caminho com a expressão angustiada.

– Tem alguém na sua sala à sua espera. Mesmo quando eu disse que você não estava, ele insistiu em te esperar – ela lhe explicou, parecendo apreensiva de levar alguma bronca por causa de tal motivo. 

– Ele não se apresentou? – Estranhou Jongin. 

– Não, senhor. Mas parece ser urgente.

O moreno não conseguia imaginar quem poderia ser que desejava tratar de algo tão importante consigo que sequer poderia esperar, entretanto, ao abrir a porta de sua sala e ver o perfil da pessoa parada ao lado de sua mesa, sua mente clareou. 

– Byun Baekhyun.

O outro virou-se em sua direção ao ouvir seu nome sendo chamado e, mesmo não o conhecendo muito além do pouco que Kyungsoo havia lhe contado, Jongin sabia que aquela expressão que ele trajava no rosto não demonstrava exatamente simpatia. Não precisava conhecê-lo para fazer um pouco de ideia das intenções dele ali. 

Ele era o melhor amigo de Kyungsoo, aquele fato dizia o suficiente.

– A que devo a sua ilustre presença? – Perguntou irônico, dando a volta na própria mesa e sentando-se atrás dela de forma relaxada. 

Já Baekhyun não parecia tão relaxado ou calmo ao todo. 

– Minha visita aqui é breve, mas eu precisava te dar um aviso – ele disse no que não foi exatamente o tom mais amigável que o moreno já ouvira. – Eu não sei o que você quer, nem quais são suas intenções, eu só sei que é bom você não querer dar uma de espertinho para cima de Kyungsoo. Você pode até achar ser bom, mas saiba que Kyungsoo conta com o melhor time de advogados desse país e eles não vão pegar leve com você.

Uh. Aquilo não era exatamente um aviso. Era uma ameaça. 

– Eu não entendo. Em momento algum eu fiz Kyungsoo se sentir ameaçado – rebateu, esforçando-se para manter a própria calma. 

– E é bom você sequer sonhar com isso – Baekhyun pontuou. – Entenda, ele não precisa de mais problemas, Jongin, e isso é exatamente o que você faz, o dá mais problemas. Você sabe o que é enfrentar uma gravidez sozinho? Cuidar de um filho por si só? Tenho certeza que não. Você pode não entendê-lo, mas eu só te peço: não complique ainda mais a vida dele. Kyungsoo já tem preocupações o suficiente sem a sua interferência.

– Ele que te mandou vir me dizer essas coisas? – Quis saber. Porque aquilo não se parecia com algo que Kyungsoo faria. 

– Kyungsoo sequer sabe que estou aqui e eu conto com você para manter essa conversa apenas entre nós – falou com um olhar duro em sua direção. – Espero que eu tenha me feito entender. 

– Eu entendi claramente – respondeu a contragosto. 

– Ótimo, passar bem, então, acredito que não temos mais motivos para nos encontrar a partir de agora – Baekhyun despediu-se de forma firme e sucinta. 

E Jongin não gostou nada do tom prepotente que o menor se dirigira a si. 

Normalmente rebateria na mesma intensidade, porque se tinha algo que não suportava, isso era ser provocado sem revidar. Porém a única coisa que conseguiu fazer ao observar o outro se retirando em passos duros e decididos, foi respondê-lo com seu próprio silêncio enquanto o via desaparecer porta afora. 

Deveria se sentir ultrajado, não deveria? Desde quando se tornara aquele covarde? 

O problema era que a única coisa que sua mente gravara de todo o sermão de Byun Baekhyun fora aquela parte específica a respeito de Kyungsoo: ele não precisava de mais um problema. E era exatamente aquilo que representava para ele. Um problema. 

Deveria sim sentir ultraje ou fúria, mas a única coisa que Jongin conseguiu sentir foi miséria. 

Era saudade o nome daquele sentimento ingrato em seu peito. 

 

 

 

***

 

 

 

 

A noite se transformava em dia na frente de seus olhos escuros direcionados à janela aberta, mas esses se encontravam desfocados, sem exatamente absorver os bonitos tons de violeta que começavam a se pintar junto dos primeiros raios solares no céu. Seu celular continuava em sua mão, girando-o entre os dedos nervosamente sem sequer se dar conta dos próprios atos, vez ou outra desbloqueando a tela apenas para fitar seu novo papel de parede, uma fotografia sua e de Minjoon em uma de suas visitas ao filho. 

Muitas coisas se passavam por sua cabeça e pesavam em seu peito e pela primeira vez Kim Jongin não reconheceu a si próprio. Indecisão e medo não eram sensações da qual estava acostumado a sentir. Mas por que abandonar o próprio orgulho era tão difícil? E por que negligenciar os próprios sentimentos era tão dolorido? 

 

 

 

***

 

 

 

 

Kyungsoo ainda estava envolvido pela preguiça matinal quando ouviu a campainha ressoar alta demais para seus ouvidos acostumados com o silêncio das primeiras horas do dia. Minjoon ainda dormia tranquilamente no berço e justamente por causa do filho, correu até a porta para não correr o risco de ele acabar acordando com aquele barulho atrapalhando seu sono leve. 

Baekhyun tinha a senha da porta então ele não precisava daquele tipo de formalidade para entrar em sua casa, entretanto, sequer passou por sua cabeça quem poderia ser o seu visitante. Não passou pois aquela seria a última alternativa possível. 

O ar ficou preso em seus pulmões ao abrir a porta e se deparar com Kim Jongin do outro lado, porém Kyungsoo não soube se aquilo era devido aos passos apressados que dera até a porta ou a presença inesperada do pai de seu filho ali.

– Você não avisou que viria – disse surpreso. – Minjoon ainda está dormindo, mas você sabe o caminho – avisou, abrindo caminho para o outro entrar, achando que o outro estava ali para mais uma visita ao pequeno. 

Jongin estava ciente dos seus horários e de quando poderia aparecer para visitar o filho, momentos esses da qual nunca estava presente e ouvia por cima a respeito por parte da babá que tecia elogios para o esforço do outro pai de Minjoon. Preferia não pensar muito a respeito também, porque tudo que envolvia Jongin ainda era recente demais, doloroso demais, como mexer em uma ferida aberta. 

Era masoquismo. 

Assim como estar novamente frente a frente com aquele homem causador de todo o caos de sua vida e ainda assim sentir borboletas no estômago. 

– Eu não vim para ver o meu filho – ele negou, porém, parado a sua frente, os olhos escuros inexpressivos fixos nos seus e o rosto ilegível. – Eu vim para falar com você. 

Kyungsoo sentiu seu estômago afundar. 

– Comigo? 

– Sim, Kyungsoo, nós precisamos conversar. 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Eita carambaaaaa, quanta tensão em um capítulo só. Mas e aí, quem mais amou esse Baek macho alfa defensor de amigos indefesos? Porque eu amei <3

Gostaram?

Beijos e até o próximo!


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