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História Desencontros - Lábios Rosados


Escrita por: MoonWitch

Notas do Autor


Oiii, meus amores.
Esse capítulo é, com certeza, meu favorito até agora.
Trabalhei bastante nele, espero que gostem <3

Capítulo 15 - Lábios Rosados


Magali andava dispersa pelos corredores do colégio, tinham poucos alunos em circulação, o que lhe deixou aliviada, ainda estava nervosa e não precisava dos vários olhares acusadores. Seu corpo travou assim que chegou em frente as portas do auditório, com todo o embaraço em sua mente, parecia que tinha simplesmente esquecido de qualquer coisa que não o envolvesse.

Sua turma tinha sido liberada para os ensaios da peça, no mínimo, sentia-se menos intimidada por estar somente rodeada por pessoas conhecidas, entre tanto, a ideia de encenar com Cascão lhe dava enjoou, sua preocupação era evidente e ela nem quis disfarçar, estava exausta até mesmo de fingir que aquilo não estava lhe afligindo.

Abriu as portas acinzentadas, entrando discretamente, tentando ao máximo não chamar atenção dos outros alunos, o que se tornou inútil assim que a professora percebeu sua presença.

— Magali, suba imediatamente ao palco – ela lhe gritou, parecia extremante irritada, a garota não quis contraria-la — Você também, senhor Cássio, a cena de vocês é a que menos rendeu até agora.

Magali sentiu seu corpo gelar ao escutar o nome do garoto, acelerando o passo e evitando olhar para quem estivesse ao redor, esbarrando algumas vezes em alguns colegas, aos quais nem se importou em se desculpar, quase correu até o centro do palco, mantendo a cabeça baixa.

Sentia os olhares lhe fulminando, fazendo seu coração palpitar mais forte. Não conseguia encarar seus colegas, fitando distraidamente o piso de madeira já envelhecido do palco, sem nem mesmo perceber os murmúrios e comentários ao seu redor.

— Magali? – suas defesas se desestabilizaram assim que pode sentir a presença do rapaz perto de si, resmungou para si mesma, odiando o efeito que ele lhe causava.

Acabou por ceder, levantando os olhos até os seus, mas ainda sem coragem de encarar a plateia, que agora estava silenciosa e tensa, com exceção da professora: ainda estava reclamando com alguns outros alunos, até que voltou a atenção para a dupla.

— Vocês já podem começar – ela anunciou impaciente.

Magali deixou que o sentimento de frustação lhe tomasse, ajeitando a postura e forçando-se mentalmente para lembrar as falas, porém não teve dificuldade, o último ensaio, que a pouco tempo não se passava de uma memória vaga, agora parecia vivo em sua mente. Tão vivo, quanto as emoções abandonadas e esquecidas, a traição de Quim, sua reputação caindo, seus amigos se afastando, os problemas familiares, tudo formava um grande bolo em sua garganta, a sufocando.

— Então, o que tem a me dizer sobre o paradeiro de minha irmã? – ela deixou as palavras saírem naturalmente de seus lábios, soando mais convincente do que esperava, quem os observavam de fora nunca imaginaria a confusão que tomava a mente da garota.

— Me desculpe, minha senhora – a voz dele era firme, diferente dos outros ensaios, em que ele se mostrava tímido e inseguro com a cena. Cascão curvou-se majestosamente aos pés de sua senhora, imitando um verdadeiro cavaleiro, fazendo seu coração acelerar e suas bochechas corarem — Não achamos nada.

— Não pode ser – ela deixou a voz sair propositalmente mais embargada, surpreendendo a si mesma com a convicção que colocava nas palavras. Talvez, tendo que mascarar tantos problemas, ela tenha melhorado sua performance como atriz. Ela virou as costas para o rapaz, transparecendo uma decepção quase palpável — Eu confiei em você, Júlio – cuspiu as palavras, mordendo os lábios em seguida num ato de pânico, ela sentia-se desmoronar, porém não poderia mostrar-se frágil novamente.

— Peço-te que mantenha a calma, iremos achá-la – ele continuou com a voz firme, deixando a garota inebriada, ela nem mesmo se lembrava daquela fala, provavelmente teria saído da adaptação da professora, a qual ela nem lerá, teria que improvisar, deixando-a ainda mais nervosa.

— Se algo acontecer a ela, eu não poderei me perdoar – choramingou baixinho, insinuando lágrimas falsas. A professora não pareceu ter reagido mal a fala improvisada, o que a deixou mais tranquila.

— Odeio te ver assim, Melissa – ela sentiu o rapaz se aproximando atrás de si, fazendo virar-se assustada com a proximidade. Ele deixou seus olhos, cor de avelã, penetrar os dela — Eu sei que me pediu para esquecer tudo o que tínhamos, para não se preocupar contigo, mas não posso suportar lhe ver deste jeito – suas bochechas coraram violentamente e, desde vez, sua reação surpresa era totalmente real. Aquilo se encaixava tão perfeitamente a sua situação atual: ela queria esquecer tudo, queria deixar para trás, mas o destino parecia conspirar contra si, trazendo à tona todos os seus erros e pecados, mastigando seus sentimentos até virarem pó.

— Você não vê que é loucura? – improvisou novamente, desta vez, recebendo um olhar desconfiado da professora.

O casamento – Cascão sussurrou baixo, provavelmente reparando o quão ela se sentia perdida na cena. A dica não era clara, mas ela conseguiu elaborar algo, preenchendo o silêncio tão rapidamente que ninguém pareceu perceber.

— Eu estou noiva, em alguns dias não pertencerei mais a este reino – suspirou, tentando pesar as palavras em magoas. Magali concordou consigo mesma que realmente era uma boa atriz, apesar da improvisação, as falas se encaixavam perfeitamente ao cenário e ela conseguia transmitir todos os sentimentos com uma precisão incrível. Ao menos era com isso que ela tentava se convencer, contudo sabia o quanto se sentia estranha perto do amigo, o quanto se sentia mal por estar presa ao namorado, o quanto lhe magoava a reação de seus amigos, o quanto cada fala levava um pouco e si.

— Aquele desgraçado não te ama – igual tinha feito no último ensaio, ele agarrou os ombros da garota, porém dessa vez, usou esse movimento para aproximá-los mais, assustando-a. Aquela proximidade remetiam as cenas da festa, o quanto estavam envolvidos em dançar com o corpo do outro, ela repreendia a se mesma por ter o desejado, por o desejar agora.

— Você não sabe de nada – ela falou conforme o roteiro, empurrando as mãos do garoto e se afastou brutalmente, talvez um pouco impulsivo demais, pois o mesmo lhe encarou em confuso, lendo seus olhos em busca de respostas — Você não sabe o que é amar.

Cascão deixou que seu corpo pendesse para trás com o empurrão, mantendo seu olhar tão intenso, que por um segundo ela se perguntou se aquilo era realmente uma encenação.

— Você não tem nada a dizer, Júlio? – desafiou, aparentando mais segura por saber essa parte do roteiro, porém a única coisa que queria era sair correndo do auditório.

Igual a última vez.

— Na verdade, isso não é o tipo de coisa que simples palavras podem expressar – despejou as palavras, mas, por mais estranho que fosse, Magali sentiam como se fossem para ela, deixando-a intensamente intrigada.

É só uma encenação, pare de imaginar coisas.

Em meio aos seus devaneios, Cascão lhe puxou pelos braços, os aproximando perigosamente, seus corpos estavam colados, deixando as sensações da festa retomarem com uma força brutal em ambos, deixando-os completamente sem ar. Magali sentia sua cabeça dar voltas, evaporando todos os problemas que lhe incomodavam, ele parecia tão desnorteado quanto a comilona, deslizando suas mãos pelos braços da garota, numa carícia rápida e suave.

— Seria muito pouco dizer que te amo, minha senhora? – sua mão subiu até bochecha rosada da garota, acariciando demoradamente o lugar, o que só fez elevar o nível de tensão no pequeno corpo.

— Não, não me ama – a fala saiu quase inaudível, estava tão inebriada com a proximidade, que quase esquecia da existência dos outros colegas ali, daquela plateia atenta — Você nunca tinha tempo para mim – ela voltou a se concentrar, ainda com certa dificuldade, em encenar, repreendendo-se por alimentar uma ilusão, Cascão só estava seguindo o roteiro, nenhum daqueles sentimentos eram reais — Nunca me ajudou em nada, nunca tomou uma atitude, só ficava escondido atrás de palavras doces todas as vezes que dava mancada. Eu estou cansada, Júlio – falou amargamente, tanto pelo personagem, tanto quanto pelo bolo de sentimentos presos a sua garganta.

— Perdoe-me – ele manteve-se próximo, o que deixou-a sem orientação, afinal, não lembrava exatamente o que deveria ocorrer depois — Mas eu te amo e nunca vou te abandonar – sua mão segurou firme seu queixo, obrigando-a a continuar o encarando — Se você vier comigo, prometo não te decepcionar.

Pela primeira vez durante toda encenação, Cascão pareceu ficar receoso, o que também deixou Magali aflita, afinal, ela tinha que lhe dizer algo? Porém, suas dúvidas evaporaram quanto ele, lentamente, deixou seus rostos intimamente próximos, usando a mão livre para segura-la pela cintura, impedindo-a de tentar escapar.

Magali quase explodiu de êxtase com a atitude do rapaz, deixando todo seu corpo amolecer, o roteiro original exigia um beijo no fim do diálogo, um beijo que ela crerá nunca ocorrer. Mas lá estavam eles, tão próximos a ponto de suas respirações se misturarem.

— Você vem comigo, Melissa? – ele perguntou, sua voz parecia mais embargada, mas mesmo assim, clara e audível — Diga que sim – ele sussurrou tão perto de seus lábios, que seu coração parecia querer parar em seu peito.

— Eu te amo, Júlio – as palavras escaparam repentinamente de seus lábios. Os olhos do garoto estavam tão confusos quanto o dela, sentiu seu corpo tremer perto do seu, deixando o clima cada vez mais intenso e perigoso entre eles.

O que você pensa que vai fazer? Ele é seu amigo.

Numa atitude desesperadora, ela pôs fim entre o espaço entre suas bocas, dando-lhe um selinho tímido no canto de sua boca carnuda. Ela se sentiu consumida por um louco desejo de beijá-lo ali mesmo, provar seus lábios e descobrir seu sabor, mais o silêncio da plateia, tão intenso quando o clima entre eles, lhe fez empurra-lo devagar, afastando seus corpos quentes.

Ela sentiu seu corpo explodir em desespero, deveria considerar aquilo um beijo? Cascão parecia tão pasmo quanto ela, seus olhos encaravam o nada, o que a fez baixar a cabeça e secar uma lagrima discreta e teimosa.

O que eu fiz?

Ambos se encaram por mais alguns segundos antes de se virarem para seus amigos curiosos e intrigados, dando um banho de realidade que os fez temer, se a festa tinha repercutido por uma simples foto, aquela peça poderia deixá-los ainda mais encrencados.

— Ficou incrível – a professora finalmente se pronunciou, quebrando o silêncio e assustando levemente os outros — Tudo bem que esse beijo final poderia ser melhor, mas pelo que estou vendo, não precisarei de muitos esforços para que isso aconteça – ela ri divertida, totalmente contraria há minutos atrás. A dupla no palco se retirou apressadamente após o comentário infortuno da professora, sobre olhares acusadores, enquanto a mesma nem parecia perceber a situação constrangedora em que estava colocando-os.

Magali se apressou em sair do auditório, agarrando sua mochila e saindo rapidamente, como tinha feito em todos os ensaios, escutou alguém lhe chamar, contudo isso só lhe fez correr mais em direção a saída, o barulho das batidas de seu coração soava tão alto, que a impediam de perceber o que ocorria ao seu redor.

O fato de interpretarem um casal já era estagnante devido aos boatos sobre eles, aquele beijo não seria facilmente esquecido, o que piorariam as coisas para ambos. Ela não podia continuar na peça, nem que isso lhe custasse uma nota final péssima, afinal, se a cena saísse mais de seu controle, como a professora teria insinuado, eles estariam condenados.

Saiu tão rápido do auditório, que nem percebeu que estava sedo seguida, Cascão também se recusava a ficar ali e ter que ouvir mais reclamações e exigências de Cascuda, que teve de ser contida pelas outras garotas da turma para que não fizesse um escândalo. A única coisa que realmente lhe preocupava era Magali.

Odiava vê-la triste, e saber que era o motivo principal dos boatos que estão arruinando seus dias, era tão doloroso como receber uma facada em seu peito. Ele precisava de seu perdão, precisava cuidar dela e pouco se importava o que aquilo poderia causar nos respectivos namoros, só queria fazê-la se sentir bem.

Assim que se afastaram do auditório, ele se aproximou o suficiente para que ela percebesse sua presença e se virasse assustada, com os olhos marejados, prestes a praguejar algo.

— Magali – ele não conseguiu dizer nada além de seu nome, deixando que seus olhos encontrassem novamente os dela.

— Cássio – ela deu um sorriso de leve, secando algumas lágrimas que teimavam em escorrer por seu rosto. Ele não pode evitar encarar seus lábios rosados, fazendo-o querer aproximar-se novamente daquela boca.

— É estranho ver alguém, além da minha mãe, me chamando pelo meu nome – ele não aguentou segurar a piada sem graça, mas, de certa forma, ficou feliz por ter conseguido arrancar uma risada suave da amiga — Estou preocupado com você – sentia-se mal pela enorme atração que tinha por ela, afinal, eles eram melhores amigos, nunca tinha tido más intenções pela garota, mas era como se, após as crises amorosas, após os momentos juntos, um sentimento insistente estava sendo alimentado sem que eles percebessem, até aquele fim de semana. Ela estava tão linda, tão alegre, ela o deixou tão alucinado.

Se controle, não estrague o que restou da amizade de vocês.

— Estou tentando, Cas – Magali suspirou pesado, conferindo se tinha mais alguém por perto, por sorte, ninguém resolveu incomodá-los por enquanto.

— Poderíamos conversar em um lugar mais reservado? – reparou o quanto a garota encarava os longos corredores de forma atenta, não demoraria muito para que um de seus amigos, ou até mesmo Cascuda, viesse atrás deles. Magali assentiu, ambos não poderiam fugir para sempre, tinham que resolver as coisas.

Cássio agarrou sua mão, receoso com a reação da amiga, não queria que ela pensasse mal sobre si, afinal, eles ainda tinham seus supostos namoros, não era certo deixar que qualquer clima estranho surgisse entre eles, contudo, ela parecia tão emergida em seus pensamentos, que nem pareceu reparar o ato, deixando-o mais confortável.

Ele os guiou rapidamente para a área abandonada do colégio, dificilmente alguém lhe procuraria ali, o que lhe daria tempo suficiente para que conversassem. Apesar de transmitir uma certa segurança, não sabia ao certo o que dizer a comilona, sua mente borbulhava, eles deveriam tirar sua duvidas, esquecer todo aquele sentimento estranho e indesejável, tinha quase certeza que concordariam que tudo aquilo só ocorria pela falta que sentiam nos namoros desgastados, que iriam esquecer tudo, que os outros iriam esquecer e eles voltariam a ser os velhos amigos de sempre. Porém, seu corpo gritava pelo dela, gritava pelos seus lábios, os quais estavam tão próximos há pouco tempo, fazendo um arrependimento lhe queimar, arrependimento por não ter lhe beijado de verdade, arrependimento por continuar num namoro sem futuro com uma garota que não amava. Não, a que ele tanto desejava lhe era impossível, eles nunca poderiam ficar juntos e Cascão faria seu bom papel de amigo, ajudando-a da melhor forma possível.

Logo chegaram ao corredor escuro e deserto, o rapaz abriu a porta de uma das salas com certa dificuldade, era a mesma sala que ela tinha usado para fugir do colégio, o que a fez sorrir instantaneamente com as lembranças. O local ainda se encontrava num estado lamentável, como se ninguém fosse ali há anos. Assim que entraram, Cascão fechou a porta, cuidadosamente, atrás de si, deixando-a apreensiva, afinal, ela tinha o beijado há pouco e agora estavam sozinhos numa área pouco provável de lhe encontrassem.

— Não faça essa cara – ele riu da reação da comilona, fazendo-a corar levemente.

— Só estou com medo de ser pega, nossa reputação não anda muito boa – ela deu de ombros, tentando esconder o quanto aquilo lhe deixava triste.

Contudo, o rapaz percebia o péssimo estado em que a amiga se encontrava, afinal, eles se conheciam há anos, e, mesmo que fosse bastante discreta, algo do tipo nunca passaria despercebido. Magali desviou o olhar, incomodada com o silêncio que se formou na sala.

— Sobre a festa – ele tentou iniciar a conversa, ainda sem jeito — Eu não posso mentir, pedir o controle, ultrapassei os limites – as palavras saiam arrastadas, relembrar a noite fazia sua vontade de tocá-la aumentar cada vez mais.

— Você não foi o único – ela corou ainda mais ao admitir isso — Nós dois erramos – ambos estavam com os pensamentos a mil, pelo que exatamente estavam se desculpando? Pela dança, pela foto ou por se desejarem intensamente?

— Eu não queria que as coisas acabassem desse jeito – mordeu seus lábios, nervoso, observando com cuidado as reações da garota conforme ia dizendo — Você sabe, a peça, os boatos.

— Nem eu – ela sentiu seus lábios arderem, enquanto observava discretamente o rosto do rapaz, concentrando-se no local onde tinha depositado um beijo suave, no canto de sua boca, deixando-a ainda mais arrependida — Não consigo entender mais nada, está tudo sendo muito rápido – dessa vez ela conseguiu encara os olhos avelã.

— Eu te entendo – ele suspirou cansado, enquanto arrastava seu corpo até a mesa mais próxima, apoiando-se nela — Não quero perder nossa amizade – assumiu por fim, sem saber ao certo o que dizer.

— Nós somos amigos – dessa vez ela abriu um pequeno e tímido sorriso — Confundimos o conforto que sentimos um com o outro com uma certa carência, por causa dos problemas nos namoros – ela tentou elaborar, sentindo-se mais convencida no que dizia, afinal, aquela atração era avassaladora e repentina demais, para pessoas que se conhecem a tanto tempo, seria estranho só repararem de uma forma mais sexual no outro naquele momento e daquele jeito desesperado.

— Desculpa por isso – ele coçou a nuca, claramente envergonhado — Eu estava pensando o mesmo – admitiu.

Ambos mantiveram o silêncio por um tempo, se haviam chegado a mesma conclusão, isso só poderia significar que sim, estavam alimentando um sentimento ilusório, que não estavam ferindo somente seus companheiros, como a própria amizade entre eles.

— Não sei como está sua relação com o Quim – ele reiniciou, parecendo embaraçado para falar do assunto — Mas, eu... Eu e a Gabriela... – sua garganta se contorceu um nó.

A garota entendeu onde ele queria chegar e se aproximou, apoiando-se na mesa ao seu lado, ainda mantendo uma distância menos intimidante.

— Olha, eu não quero que nossa amizade interfira no seu namoro – ela deixou as palavras saírem, mesmo sem encará-lo, pode perceber que não tinha gostado do rumo da conversa.

— E não vai – assegurou, tomando uma postura mais rígida — Nem sei mais se tenho namorada.

— Como assim? – perguntou por impulso, arrependendo-se logo em seguida.

— Nós brigamos depois da foto – ele estreitou os olhos em sua direção, os olhos nevoados, refletindo o quanto estava conflitante — Eu falei sobre terminarmos, mas ela não aceitou muito bem – Magali continuava estática diante a fala, digerindo as informações e sofrendo pela culpa que lhe consumia.

— Me perdoe – ela afundou o rosto nas mãos, estava completamente envergonhada, afinal, tinha sido o estopim para o fim de um namoro tão longo. Sentiu-se à beira de um choro, porém se conteve, não tinha direito de chorar, o único realmente prejudicado seria ele — Meu namoro já estava no fim, não medi as consequências.

— O que? – questionou incrédulo e percebeu o rumo estranho e confuso que aquilo estava tomando. Ele pareceu estático por um tempo, fazendo uma careta, mas logo voltou a encarar a amiga, com uma expressão totalmente indecifrável — Magali, pare de se culpar, nós não fizemos nada demais na festa – ele riu em nervoso, deixando a comilona incrédula.

— Como não? – ela lhe encarou, desta vez, com raiva — Como pode se livrar da culpa tão rápido?

— Então me diz o que nós fizemos de errado – ele desafiou, sem nem mesmo entender sua mudança repentina. Contudo, admitia o quanto era ridículo ficar se culpando e carregar as dores de algo que nem fizeram.

— Nós quase nos beijamos – Magali gritou com força, sem se importar se sentiria vergonha depois, o sujinho havia passado os limites, eles poderiam se desculpar e tentar concertar as coisas, porém fugir e fingir que nada ocorreu era infantil.

— Na verdade – ele saiu de sua postura, voltando seu corpo para frente dela — Na festa não ocorreu nada, só tiraram uma foto totalmente tendenciosa, além de que não estávamos muito sóbrios.

— E o que teve na peça agora há pouco? – suspirou cansada, sem entender onde o amigo queria chegar, era fato que algo tinha rolado entre eles, ao menos era isso que achava.

— Estava no roteiro da peça – ele deu de ombros, mostrando total desinteresse — Magali, não foi nem um selinho – assegurou, assustando-a com os fatos — Nós estamos tensos, levando tudo muito a sério por causa dos boatos, mas no fim, não fizemos nada demais, talvez eu tenha falado algumas bobagens na festa e teve essa coisa de confundir a amizade, mas isso não foi nada comparado ao que está sendo espalhado, não é nada perto da culpa que estamos consumindo – Magali arregalou os olhos, desnorteada com tudo.

— Mas você mesmo disse que tínhamos passado dos limites – ela balançou a cabeça, fitando o chão confusa.

— Maga, eu passei dos limites com você – ele reafirmou — Porém isso não tem nada a ver com meu namoro, ou o fim dele, teríamos chegado a esse ponto de qualquer forma.

Magali tentava digerir as informações, tentando entender exatamente onde ele queria chegar, sem muito sucesso. Por fim, resolver ser sincera e ver onde aquilo iria dar.

— Eu também já ia terminar com o Quim – balbuciou, enquanto tentava entender a lógica do rapaz.

— Exato – ele assentiu, parecendo mais animado — Eu devo me desculpar contigo, por me sentir atraído – ele deixou as palavras saírem de forma tão natural, que Magali ficou zonza, afinal, estava assumindo que também se sentia envolvido naquela atração sem fundamento — Mas isso não tem nada a ver com a Gabriela e o Quim, ao menos não com o estado crítico dos relacionamentos.

— Acho que você tem razão – ela não sentia nenhum remorso pelo namorado, era evidente o quanto o possível término não lhe atingia da mesma forma, ela nem se preocupava mais se Quim estava ou não lhe traindo, sentia que tinha feito o mesmo, o respeito entre eles não existia mais.

O amor não existia mais.

Cascão não teve nada a ver com isso, mas não tinha total certeza se saia isenta de culpa quando se tratava do contrário, por mais que o casal já tivesse problemas, era como se Magali conseguisse piorar, criar brechas entre eles. Era impossível não se sentir culpada.

— E se não isso não for o fim? – acabou pensando alto, corando violentamente em seguida.

— Seria estranho admitir que isso me deixa contente? – Cascão murmurou, parecendo confuso com suas próprias palavras, evitando o olhar curioso que a garota lhe lançou.

Repentinamente, a sala pareceu mais abafada e quente, ambos começaram a se sentir incomodados pela conversa que estavam tendo, afinal, tinham ido ali para ser acertar, mas nem conseguiam discutir sem voltar para o mesmo ponto: eles eram somente amigos? Talvez, o problema fosse que nenhum dois dos tinham coragem para dizer o quanto não se arrependiam de nada, o quanto estavam loucos um pelo outro, uma atração sexual repentina e forte, que deixava ambos fora do eixo.

— Melhor voltarmos – ela sussurrou, sentindo-se sufocada de repente, recebendo como resposta um leve acenar de cabeça.


Notas Finais


Vocês acham que a história está desenrolando muito rápido??
Eu não aguento mais essa enrolação pra rolar um beijo </3

Comentem o que acharam ^-^


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