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História Desgarrados - Lobo Corvo - Prólogo


Escrita por: rubiconvenus

Notas do Autor


Olá sejam bem vindos a minha noveleta do NaNoWriMo 2016! Espero que gostem desse universo criado especialmente para participar do concurso!

Capítulo 1 - Prólogo


Fanfic / Fanfiction Desgarrados - Lobo Corvo - Prólogo

Prólogo

 

Acordei com a vibração de um rosnado. Encarei o teto, reconhecendo o lustre quadrado. Tinha sido um sonho? A casa estava em total silêncio e apenas a luz da lua cheia invadia pela janela do quarto. Feixes de luzes que quebravam a escuridão. Escutei o barulho da chuva derramando sobre o telhado, as gotinhas pipocando em ritmo lento, relaxante.

Ergui-me pelos cotovelos, percorri todo o perímetro. As sombras alinhavam-se com perfeição no chão, um quadrado que era o meu armário, o triângulo do abajur apagado... meu computador estava desligado em cima da mesa de estudo, mas havia aquela irritante luzinha azul piscante, a qual atribui imediatamente a quebra do sono. Tive preguiça de levantar e apenas cobri o meu corpo com o lençol, virando na cama, afofando o travesseiro com um soco.

A vibração voltou a acontecer e dessa vez, parecia muito perto. Dentro do quarto, nas minhas costas.

Eu senti a presença dele. Um peso a mais na atmosfera tranquila do quarto, perturbando a paz. Abri os olhos, mas não me mexi. Encarei na parede sua sombra cobrindo vagarosamente o meu corpo, rastejando conforme ele se inclinava sobre mim, uma sombra humanóide, de pelos arrepiados, focinho cheio de dentes, mãos como grandes garras... orelhas e cauda de lobo.

Era um Desgarrado. Eu nunca tinha visto um lobo antes, não de perto. O que eu sabia sobre eles era o que as crianças sabem sobre os monstros nos armários.

Eles te farejam.

Te caçam.

Te destroçam.

O bafo quente estourou contra o meu pescoço como um alarme, fazendo o meu corpo inteiro reagir, girei, encostando as costas pela parede e o lobisomem afundou a cara no travesseiro, onde estaria repousando a minha cabeça. As penas brancas explodiram flutuando.

O choque foi tão grande que não gritei, apenas saí da cama e me encostei contra a janela fechada, as cortinas brancas estavam paradas. Ele não me viu e aproveitei para fugir. Alcancei a porta. Lobos não enxergam, dizem. Mas eles possuem um faro do qual você não escapa.

-- Mãaaaae! Paaaaai! - Gritei, chamando por aqueles que tinham o hábito de me proteger.

O lobo percebeu que sua presa tinha fugido e virou o nariz na minha direção. Ele farejou, sentindo o meu cheiro e uma baba espessa escapou por entre os seus dentes monstruosos, os caninos ferozes, com fome. Eu tremi e fugi, adentrando o corredor.

-- Sevan? - A porta do fim do corredor abriu e vi meu pai de pijama, pronto para me socorrer. Ele estava com os cabelos castanhos escuros bagunçados, calça de pijama listrada azul e branca, camiseta regata branca, com uma mancha enorme de café que teimava em não lavar.

Acho que meu pai imaginou que eu estivesse tendo um pesadelo e em uma noite normal, seria exatamente isso! Meu pai iria me colocar para dormir, afagar meus cabelos e contar uma história sobre um reino que ficava em outro planeta alcançável apenas por com um foguete. Eu dormiria antes de chegar ao final da história e ele deixaria a luz do corredor acesa para eu não me assustar mais.

Naquela noite porém, não havia nada de normal e eu não estava tendo um pesadelo. O monstro do armário era bem real, era um lobisomem.

Corri até meu pai, vi quando os olhos castanhos dele abriram com terror ao ver a fera sair do meu quarto atrás de mim. Então, o lobo me alcançou, me derrubando no chão, dando uma mordida intensa na minha lombar.

-- Aaaaaaaaaah!

A dor foi excruciante e ele pareceu que estava mastigando a minha carne, certamente me devoraria vivo. Uma luz verde envolveu meu pai e ele estendeu a mão para frente, empurrando com o poder do vento do norte o Desgarrado. A fera ganiu, meu pai correu até onde eu estava e as lágrimas escorriam do meu rosto. Pensei estar salvo, que seria apenas ir até um hospital e eu ficaria bem, mas a fera uivou bem alto, fazendo as paredes da casa tremerem, viva.

-- Amor? - Minha mãe apareceu na porta do quarto, acordada pela confusão, fechando o penhoar amarelo por cima da camisola de cetim.

-- Você tem que andar Sevan! - Meu pai me colocou em pé. -- Mirna! - Ele chamou pela minha mãe, uma mulher de cabelos loiros e olhos verdes os quais puxei.

Ela correu na minha direção, analisando rapidamente aquela situação estarrecedora. Meu pai me jogou aos braços dela.

-- Joren! - Minha mãe protestou, me segurando e tremendo. -- Oh, ele está sangrando! - E me colocou no colo.

Eu gritei mais e chorei, abraçando-a como um filhotinho assustado.

-- Vá, vão! Saiam daqui. - Meu pai empurrou minha mãe pelas costas, em direção as escadas da casa, onde ficavam os inúmeros porta-retratos de família.

Ela se virou para descer e eu vi o momento em que meu pai nos olhou como se fosse a última vez, antes de girar para enfrentar a fera. O Desgarrado chacoalhou sua cabeça cinzenta e ergueu-se farejando, ficando em pé nas duas patas. Ele correu em direção ao meu pai.

-- Paaaai! - Gritei.

Minha mãe me arrastou pela porta de casa, tentei segurar no batente, mas ela não parou. A sensação que eu tive foi de tristeza e raiva, ela tinha abandonado meu pai com aquele monstro terrível. O que escutei foi uma série de gritos, berros e sons de coisas quebrando.

A casa ficou em silêncio novamente.

Eu sabia que tinha perdido o meu pai para sempre.

Mamãe correu pelo jardim, atravessou o portão e chegou na rua sem asfalto, morávamos em um vilarejo pequeno e vazio. A próxima casa, a do Coven do Sul, estava muito distante para ir a pé.

Mesmo assim mamãe correu, pisando descalça na lama, enquanto eu chorava. A lua estava enorme no céu, por entre as nuvens de chuva, sua luz banhava a rua o suficiente para que ela soubesse para que lado seguir. A segunda lua cheia no mesmo mês é conhecida como Lua Azul, um fenômeno que muitas pessoas admiram ou esperam com alegria. Para nós, era como um inferno. Quando os Lobos transformam-se em monstros e não há escapatória se ele tiver elegido uma presa.

Eu ainda não entendi muito bem o que estava acontecendo e apenas chorava:

-- Mamãe! O papai! O papai, mamãe! - Eu berrava.

-- Shhh, Sevan, não faça barulho. - Mamãe sussurrava, mas os soluços escapavam de mim. -- Fique bem quietinho!

-- Auuuuuuuuuuuu! - Um grande uivo cortou o som da noite.

A fera estava vindo atrás de nós.

Mulher corajosa que era, mamãe se embrenhou pela mata, pegando um atalho até a residência do Coven do Sul iluminada apenas por sua janelas e no alto da montanha mais íngreme do vilarejo. A luz da lua reluzia contra as gotas grossas de chuva e iluminava minimamente o caminho naquela noite, passamos por galhos e folhas que pareciam querer nos agarrar.

Mamãe tropeçou numa pedra e caímos ao chão. Eu choramingando, gritando de dor. Eu percebi que não estava conseguindo mover minhas pernas, que tudo o que eu podia era rastejar pelo chão, como um verme covarde, se quisesse fugir daquela fera. Ela se sentou, tentou me alcançar mais uma vez, se erguendo escorando-se em um tronco, me pondo mais uma vez em seu colo.

Ela recomeçou a andar, subir pela colina, alcançar a residência que estava muito distante e dali da base do monte não podíamos ver. Mamãe foi forte, segurando nas árvores, mas eu sentia suas pernas fracas do peso extra por ter que me carregar.

Nem vi a hora que o Desgarrado nos alcançou, apenas senti o impacto que me forçou para longe dos braços da minha mãe.

-- Sevan! - Ela gritou.

Escutei os gritos de minha mãe, aterrorizantes berros e pedidos de socorro que me puseram imediatamente imóvel e incapaz de reagir, apenas fiquei chorando. Eu caí em uma poça de lama entre as raízes das árvores e rastejei para me esconder debaixo delas.

Uma passada firme se deu na minha direção, fazendo a floresta se curvar a sua presença. Lobos são os reis da selva, mas nós somos os guardiões da natureza. Vivemos em guerra.

Olhei para trás e vi a besta surgindo por trás de mim, lambendo a boca vermelha, babando sangue que eu sabia que era dos meus pais. Eu desviei o rosto, encarando a árvore e fechei os olhos, chorando.

Eu ia morrer, tive certeza.

A fera me empurrou com o focinho, me fazendo virar de frente para ela. Encarei seus olhos inteiramente negros que engoliam qualquer luz. O monstro cego farejando a lama em meu pijama, cheirando minha pele. Tentei prender a respiração, mas o choro estava engasgado na minha garganta e eu era apenas uma criança assustada. Com as mãozinhas pequenas e brancas, procurei proteger o meu rosto e então… O lobo lambeu meus dedos.

-- Hm? - Estranhei, mas encarei aquela fera que me lambia como se eu fosse uma de suas crias, fungando meus cabelos, meu pescoço, lambendo minha orelha.

Por um breve segundo eu senti cócegas e ri, até me lembrar com uma pontada na ferida em minha lombar de que aquele animal não era um cachorro ou um amigo, mas meu predador.

Lobos engolem os corvos, meus avós já me diziam. Eles no farejam, nos caçam, nos destroçam.

Recomecei a chorar. Estava com as costas na lama, com dor e sem mover as pernas, a chuva lavava meu rosto e o medo que eu estava sentindo arrancava de mim a alma, ainda assim, eu não desmaiei, apenas fechei os olhos esperando que a morte viesse me abraçar, que ela me cobrisse com meu manto azul escuro e eu pudesse viajar pelas estrelas.

-- Shhhh… Passarinho. - Um sussurro me fez abrir os olhos novamente e agora aquela fera era um homem totalmente nu em cima de mim, de cabelos castanhos como o pelo caramelo do lobo, seus olhos de um intenso azul, o rosto um pouco alongado e as sobrancelhas compridas, juntas para cima, o rosto de feições agradáveis, com uma barba por fazer. A fera, era um homem, como um daqueles que a gente encontra na cidade. -- Não vou machucar você.

Ele já tinha machucado. As lágrimas escorreram quente dos meus olhos, marcando minha pele. O homem abriu a boca e passou a língua áspera na minha bochecha. Meu corpo todo estremeceu de medo, arrebatado pelos soluços do choro.

-- Eu vou te colocar em uma gaiola e vou cuidar de você. Sabe por quê? Por que você... é... meu.

Um tiro ecoou na madrugada.

O homem foi atingido e pulou para trás, ganindo. Seu corpo ficou cheio de pelos e a última coisa que vi, foi o lobo caramelo, escapulindo por entre os troncos retorcidos das árvores da floresta. Ele deixou para trás uma pegada, em forma de pata de cachorro, vermelho-sangue.

 

(Continua)

 


Notas Finais


Obrigada por terem lido e comentado! Se gostarem, deixe votinho e um comentário!
Beijos


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