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História Desgarrados - Lobo Corvo - O Lobo Mesclado


Escrita por: rubiconvenus

Notas do Autor


Agora é que começa a ficar interessante hmmmmm!

Capítulo 4 - O Lobo Mesclado


Capítulo 03: Lobo mesclado

 

No horário do intervalo a lanchonete fica cheia. Bem, não é exatamente uma lanchonete, é mais uma cantina, um balcão cheio de salgados, doces, biscoitos caninos e garrafas de vidro com suco ou leite. Boa parte dos alunos acabam trazendo suas próprias comidas, preparadas em casa por seus pais, mas alguns se rendem às delícias preparadas pela Dona Kadee, a merendeira.

Eu sou uma dessas pessoas, quase nunca tenho paciência para aprontar alguma coisa e acho mais fácil comprar. Além disso a Dona Kadee prepara tudo em sua casa, junto com seu marido e filhos (que são nossos colegas) e sei que ela faz com muito carinho.

Caminho para perto do balcão com as mãos para dentro do bolso da minha jaqueta, para não assustar ninguém. Mesmo assim, só por eu encostar na fila, abre-se um vão, com as pessoas me dando passagem automaticamente. Sabe quando foi a última vez que eu precisei empurrar pessoas para elas saírem da minha frente? Pois é.

-- Oh, Sevan, muito bem vindo. - Dona Kadee abre um sorriso simpático na minha direção, tentando ser gentil comigo. Ela é uma mulher de cabelos grisalhos bem aparados e fortes olhos azuis. -- O que você vai querer para hoje?

-- Ahn... - Abaixo a cabeça empurrando os óculos com o polegar e olhando para todas as coisas que ela tem ali expostas. -- Uma panqueca de cenoura e um garrafa de leite, por favor.

-- Claro querido. - Dona Kadee pega o que eu pedi, coloca em um saco de papel marrom com um canudo e guardanapo e solta por cima do balcão.

Ninguém me dá as coisas na mão. É medo, eu acho, mas não posso culpar ninguém de querer se proteger. Eu já tentei explicar que não é assim que acontece, que não é por eu chegar perto ou encostar em alguém que o Mau-Presságio acontece, mas quem disse que adianta? Todas as vezes que eu causei mal involuntário a alguém, eu estava tocando na pessoa ou segurando um objeto ao mesmo tempo que ela, então a fama é essa.

-- Obrigado. - Eu pego o saco e coloco uma nota de dinheiro em cima do balcão. Ela pega a nota, registra na caixa, pega o troco e depois coloca o troco em cima do balcão, para que eu pegue.

-- Tenha um bom dia, querido.

Forço um sorriso e me afasto com a comida. A fila volta ao normal. Coloco o capuz na cabeça e atravesso o pátio, indo para o toldo que fica no prédio da biblioteca, onde meus amigos já estão sentados na parte seca dos bancos. Quer dizer, não Velvet, ela está literalmente dançando na chuva e rodopiando.

-- Ahhhh! Eu adoro a chuva! - Ela rodopia.

-- Estou vendo. - Eu me sento entre a irritada Chloe e Abel, que está mastigando um sanduíche feito por sua mãe. Abro o saco, tirando a garrafa de leite, abro, coloco o canudo e dou um gole. Está bem geladinho. -- Hmmm! Estava morrendo de fome. - Apoio a garrafa e pego a panqueca, que é um bolo oval bem gordinho com pedaços de cenoura dentro.

-- Você é o único não-lobo que eu conheço que toma leite! - Chloe faz uma careta enojada, mordendo uma maçã verde.

-- Eu gosto de leite. - Dou de ombros e arranco uma mordida da panqueca. Está quente, queimando a minha língua e eu preciso ofegar e abanar. -- Nossa, queimei a língua! - Pego a garrafa, bebendo e molhando um pouco.

Chloe dá uma risada sádica e Velvet se aproxima de nós:

-- Os lobos vão organizar uma festa de boas vindas no rio ao final da semana, acho que nós deveríamos ir. - Ela se segura na pilastra de madeira e chacoalha o corpo, jogando água em todos nós.

-- Aaaaah! - Fazemos ao mesmo tempo.

-- Por que você quer ir para uma festa dos fedidos? - Chloe pergunta, passando as mãos nos braços e limpando os respingos.

-- Eles sabem se divertir. - Velvet dá de ombros e sorri iluminando seu rosto.

-- Além disso, previ que você vai ser beijada nessa festa, Chloe.

-- Eu vou? - Chloe pisca os olhos surpresa. -- Parece promissor, tudo bem, vamos à festa! Mas você tem que ir comigo comprar um biquini bem sensual, que eu quero estar arrasando, ein!

-- E se chover? - Abel pergunta, só para provocar.

-- Vai chover? - Chloe enche as bochechas de ar.

-- Não vai chover tanto. E fazem sempre uma fogueira. Vamos, Abel? - Velvet chama.

-- Não é uma festa dos lobos? Se a gente invadir, vão achar ruim. - Abel salienta nossa pequena richa com a turma de lá.

-- Angeline estava convidando todo mundo, então não vejo problema. Ela quer fazer os novatos entrarem para o time de basquete e não tem melhor estratégia, poderia rolar um amistoso. - Velvet pergunta.

-- Desde quando algo entre lobos e corvos é amistoso? - Enfatizo.

-- É um jogo! - Velvet ergue as mãos.

-- Claro que ela quer recrutar, quase nunca tem jogadores novos! Assim que vi os dois essa manhã tive certeza que ela iria chamá-los só para ganhar alguma vantagem contra o nosso time. Estou dizendo, Sevan, você precisa entrar no time! - Abel exaspera-se.

-- Não vou entrar no time. - Mordo de novo minha panqueca.

-- Por que você está fazendo isso comigo? Quer que os lobos vençam esse ano também? - Ele ergue as sobrancelhas chateado.

-- Os lobos vencem todos os anos, Abel. Acostume-se! - Chloe revira os olhos castanhos cansada. Ele abre a boca, ofendido, como uma criança.

-- Eles são mais ágeis, mais fortes e mais tudo que a gente. - Digo. Eu sei o poder real que um desses lobos sei, falo por experiência. -- Se um dia os corvos ganharem, vai ser porque eles se cansaram e nos deixaram vencer.

-- Não se você entrar. - Abel contorce a boca em desgosto e murcha os ombros, derrotado.

-- Esse ano os corvos vão ganhar. - Velvet diz. Nós olhamos para ela assustados e rapidamente ela abre os olhos e estica a boca, como quem falou demais. -- Ou não, não sei. A garota nova estava treinando na quadra, ouvi que ela é muito boa e dá piruetas incríveis antes de enterrar a bola.

-- Eu vou para a quadra ver como está o time dos lobos. - Abel fica em pé imediatamente e atravessa o pátio na chuva mesmo. Awm! -- Até depois na aula! - Ele se vira para se despedir.

-- Por que ele precisa ser tão competitivo? - Chloe arfa impaciente, abrindo bem os braços e dá um soco sem querer na minha garrafa, antes que eu consiga dar um gole.

-- Ele é um Corvo do Sul, é típico. - Velvet dá de ombros.

-- Ai! - Com o encontrão do braço de Chloe, o líquido verte na minha perna. -- Chloeee!

-- Ih, desculpa! Foi mal! Eu te compro outra! - Ela fala abrindo os olhos.

-- Ugh! - Eu fico em pé, deixando o líquido escorrer, pego a garrafa e me afasto, um pouco. -- Vou me limpar.

-- Então, Velvet, fale-me mais desse garoto que vai me beijar na festa dos lobos! - Chloe já muda de assunto, interessando-se em outro tópico. Penso que ela só pensa em namorar alguém, mas que perde todo o tempo procurando alguém tão perfeito e acaba nem aproveitando o namoro em si.

-- Ahhh isso você fica sabendo no dia, não é mais legal? - Velvet pergunta, não querendo revelar.

-- Por acaso você inventou essa história só para eu topar ir nessa festa com você?

-- Nãaaao, claro que não!

-- Velveeeet! - E as vozes ficam longe demais para eu acompanhar a conversa.

Alcanço os fundos da biblioteca, atravessando um portão pequeno e de grade de madeira. Sei que perto do parquinho das crianças fica uma pia comunitária, com torneiras. Vou até o parquinho, parece meio vazio, abro o portão de grade verde e entro, me aproximando do quiosque. Eu adorava vir nesse parque quando era uma criança e me lembro de usar os balanços de madeira em forma de cavalos - e feitos com pneus de carro - por horas! Eu me sentia o próprio cavaleiro… Eram bons tempos, ninguém tinha medo de brincar comigo naquela época.

Há alguns arbustos fazendo uma cerca viva ao redor da grade e eu respiro fundo afastando aqueles pensamentos para não acabar transferindo energias ruins para as árvores. Já pensou secar o parque das crianças? Eu nunca me perdoaria!

Chego no quiosque e abro a torneira, coloco as mãos debaixo da água e escuto um rosnado. Um não, vários. Meu coração acelera, porque é o mesmo tipo de rosnado que eu ouvi naquela noite. Olho para os lados, mas não tem ninguém. Lavo as mãos, limpo a calça, tirando aquele grude do leite e fecho a torneira.

Escuto o que seria mais rosnados, mas agora, acompanhados de uns ganidos, como se os animais estivessem brigando. Que esquisito! Não lembro de ter cachorro no colégio, mas algum pode ter entrado e se prendido na grade.

Saio do quiosque e o contorno, chegando a uma área detrás, bem pequena, de cimento e quadrado, com algumas árvores. Dois grandes lobos cinzentos estão mostrando os dentes para um lobo todo encolhido, de pelagem mesclada.

Mesmo que o animal esteja abaixado, de orelhas baixas, focinho quase no chão e os rabos entre as pernas, os outros dois lobos cinzas ficam meio em cima, rosnando e dando pulos na direção dele, mordendo e fazendo-o ganir. Eu reparo que há feridas, mordidas doloridas e que estão sangrando, tingindo a pelagem de vermelho escuro.

Estão atacando ele? Por quê?

-- Ei! - Tiro o meu sapato e atiro no meio deles.

Os lobos olham para mim, rosnando, uma baba escapando de suas bocas cheias de dentes.

-- Deixem ele em paz! - Grito.

Os lobos rosnam vindo na minha direção. Eu pego outro sapato e jogo no meio deles, mas sem a decência de acertá-los porque sou ruim de mira, eu não enxergo direito e uso óculos. Eles recuam um pouco, olham para o lobo e depois para mim, como quem não vão embora. Estico as mãos abertas para o lado:

-- Vocês que sabem. - E ainda balanço os dedos, provocando, indicando o meu toque maligno. Engraçado que algo que eu odeio ter venha a se tornar útil de repente e eu até gosto do poder que tenho nas minhas mãos agora. -- Passo algo pior que catapora.

Os dois lobos cinzas se entreolham, rosnam e saem, mas não sem antes cheirar o fundo do meu Converse. Respiro fundo e exalo ar aliviado, ajeito os óculos no rosto, sentindo minhas meias ainda mais molhadas do que já estavam.

-- Está machucado? Precisa de ajuda? - Vou até o lobo encolhido, ele está ganindo, com as patas em cima do focinho, parece até que com vergonha. O lobo rosna, me avisando para não chegar perto dele, mas eu não ligo. -- Não seja mal-agradecido. - Ajoelho, me sentando sobre as pernas e estico a mão para fazer um carinho em seus pelos sujos e molhados.

É quando ele se transforma em um homem e segura no meu pulso, me impedindo de tocá-lo. Meu coração dá um salto e eu encaro Daxton, com a surpresa de vê-lo com mordidas pelos braços e ombros… inteiramente despido diante de mim.

 

(Continua)

 


Notas Finais


Obrigada por sua leitura!
Namastê!


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