História Despertando Sentidos - Mudanças.

Assim que entrei na grande casa, pude me ver refletida no chão de madeira lustrado e brilhante. O salão, iluminado por lâmpadas de cor alaranjada, dava a impressão de que haviam apenas velas no local. 

Alice pediu que eu subisse as escadas e fosse em direção à primeira porta que eu visse quando chegasse ao segundo andar, e assim o fiz. Não sei o porquê de eu confiar nela, ela poderia fazer qualquer coisa comigo, eu estava vulnerável, mas eu sentia que poderia confiar nela como se já a conhecesse há muito tempo.

Chegando à porta indicada, esperei que ela chegasse. Ainda parada ali, olhei para os lados e pude ver várias portas, parecia que os corredores não tinham fim.

Alice chegou e abriu o cômodo, revelando uma sala imensa, cheia de livros do chão ao teto. Ao centro da mesma, havia uma mesa cheia de pastas, uma poltrona de frente e duas cadeiras de costas para a sala. Na parede do fundo, duas janelas e, entre elas, uma lareira apagada. 

Alice se sentou na poltrona e pediu que eu fechasse a porta e me sentasse em uma das cadeiras. Ela abriu uma das grandes pastas e ficou repetindo "S" enquanto procurava um nome.

-Samantha... Samantha Morris? É você? - perguntou ela.

Assenti, mesmo achando estranho ela ter meu nome numa lista na sala dela.

- Bem, Samantha, como eu já disse: estamos em um lugar que o tempo não nos alcança. O tempo que passa no seu mundo não está passando pra você agora, entende? - explicou ela.

- Em partes. É meio difícil assimilar isso, já que eu só tinha ouvido falar dessas coisas em livros. Parece até um sonho.

- Pode parecer estranho no começo, mas você se acostuma. Eu só gostaria de saber como você quebrou uma barreira sozinha... - disse, olhando curiosa para uma ficha que lia enquanto falava comigo.

Perguntei o que era uma barreira e então ela explicou: barreiras são como "portas" que humanos normais não conseguem atravessar, colocadas em certos lugares estratégicos (como por exemplo entre duas árvores); para atravessar essas portas, alguém do outro lado deveria te convocar, mas ninguém havia me convocado.

Eu estava achando tudo aquilo muito estranho. O que ela quis dizer com "humanos normais"? Isso não fazia nenhum sentido.

- Você deve estar se perguntando o que significa ser um "humano anormal", já que conseguiu atravessar a barreira, certo? - perguntou e eu assenti - Pois bem, você é especial, Samantha. Você é uma Motuhake.

"Uma o que?" era a única coisa que passava pela minha cabeça.

- Motuhakes são pessoas que nascem com algo diferente em si, pode ser qualquer coisa, mas essa coisa geralmente é poderosa. Estas pessoas só descobrem isso quando passam por momentos difíceis onde não vêem pq estar mais no mundo onde nasceram. Eu gostaria, antes de mais nada, pedir desculpas por você estar numa situação dessas e não poder te ajudar, mas é assim que funciona. - disse ela com uma pontada de dó perceptível em seu rosto - Mas, o que eu realmente quero saber é: você vai aceitar saber qual sua diferença para que sua vida mude? Assim que começarmos a treinar, você não poderá voltar atrás.

Eu estava realmente cansada. Meus amigos iriam pra longe, minha mãe nunca estava comigo. Não tinha mais nada que me mantesse lá. 

- Eu ainda vou voltar para meu mundo? - perguntei

- Sempre que quiser, mas não poderá revelar o que acontece aqui e nem que este "aqui" existe, para ninguém.

Então, quase que involuntariamente eu aceitei sua proposta. Eu me tornaria uma Motuhake.