Ela estava com medo.
A clareza de suas lembranças iluminava sombriamente sua mente e seu coração. Os olhos marejados se continham em derramar uma lágrima. A alegria da descoberta de seu passado era o espanto e a tristeza do seu presente.
Como ele pôde ...?
A lágrima finalmente deslizou sobre sua face, queimando seu rosto por onde escorria, até cair solitariamente no ar e evaporar ao tocar a luz de seu sabre. Era assim que tudo terminava, sempre.
A luz do sabre se recolheu e Rey ficou a olhar para a grama aos seus pés. Escuras. Tão diferente quando na ilha desembarcou, o verde vivo, um tapete natural e acolhedor, um alento na ansiedade e esperança daquele momento. Mas agora, no meio da noite, com apenas algumas estrelas brilhando indiferentes no céu, nada mais era a não ser uma sombra.
O peso da verdade era terrível. Como tudo poderia ser o mesmo motivo para tanto amor e tanto sofrimento? Ben a protegera sempre. Não era preciso nenhum esforço para sentir novamente o calor de seus braços quando ele a carregava, o calor de seus olhos quando disse que tudo acabaria bem e que ele voltaria. Mas nada terminou como lhe dissera e ele não mais retornaria, pois havia se perdido dentro de si mesmo.
Naquela época, não havia como Rey saber exatamente o que acontecera. Hoje ela sabia. Ben vislumbrara um futuro aterrorizante – o futuro dela. O futuro que viria por causa dela. O futuro causado por ela. E prontamente ele partiu para se entregar ao lado sombrio em seu lugar, imaginando que teria a capacidade de manter um refúgio interno, um abrigo que ocultasse seu verdadeiro eu enquanto imergia nas trevas. Um pedaço de si incólume, brilhante, pronto para ressurgir no momento certo e eliminar Snoke e pôr fim à toda violência e terror que se espalharia pela galáxia, antes que...
A moça se levantou, impaciente. Todo aquele sacrifício o destruiu.
Luke lhe dissera que ainda existia Ben dentro de Kylo . Que poderiam ainda resgatá-lo. Que a morte de Han, por mais horrível que fosse, não pervertera Ben, pois ele lá existia ainda. Kylo fizera a atrocidade, não Ben.
Ela não tinha mais certeza disso.
Esse pensamento a fez tremer de raiva. Luke participara desse plano. Luke orientou seu aprendiz nos mínimos detalhes desse estratagema perigoso e ariscado. E agora ele a treinava para salvar a quem mandara para as trevas.
Um suor frio tomou seu corpo. Ela quase o matara na floresta. A Força desperta nela era selvagem e o ódio a guiava. Talvez tivesse sido melhor tê-lo feito... mas, não. O que a deteve naquele escuro segundo foi a percepção das próprias sombras dentro dela rindo, satisfeitas. Faça, faça...! Sussurros... a energia correndo em seu sangue, dominando-a e rasgando seu rosto em uma careta de satisfação.
Não.
Rey relaxou as mãos, a umidade vermelha escorrendo por elas. Confusão. Raiva por Luke ter orquestrado tudo. Raiva por Ben ter aceitado. Raiva por Ben ter sucumbido. Raiva de si mesma por ser o motivo de toda aquela dor. E amor. Amor por aqueles dois homens que tanto a amavam. E tristeza por aqueles dois homens que sofriam. E tristeza por si mesma por não saber o que fazer para consolá-los, redimi-los e salvá-los desse desastre.
Rey deu as costas para o mar que circundava Ahcho-To. A única forma de saber se Ben ainda existia em Kylo Ren era encontrá-lo. E, para tanto, ela precisava estar pronta em seus treinamento com Luke. Pois, se Ben não mais existisse e apenas o monstro se mostrasse à sua frente, ela teria que estar pronta para matá-lo.
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