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História Despertar Sin Tí - Trendy - Hoy hace un año...


Escrita por: dmsabss

Capítulo 2 - Hoy hace un año...


Fanfic / Fanfiction Despertar Sin Tí - Trendy - Hoy hace un año...

Era apenas mais uma manhã comum em Chicago. O ponteiro do relógio já batia 10h e os termômetros espalhados pela cidade marcavam 30º C, um calor típico daquele final de julho. Pessoas tomavam as calçadas, andando apressadas para seus compromissos; os adultos em seus locais de trabalho não viam a hora do almoço chegar; as crianças nas escolas já deixavam seus professores loucos. Enfim, tudo tipicamente comum.

Todavia, no 5º andar de um condomínio de classe alta, na região Norte da cidade, mais especificamente no apartamento 506, nem tudo ia como o esperado. Uma figura masculina, com os cabelos emaranhados e uma carranca em sua feição, adentrava a sala de estar irritado, pisando em algumas peças de lego espalhadas pelo tapete branco da sala.

- Porcaria. – resmungou, pegando um punhado das peças e jogando em cima da poltrona.

Caminhou até a janela da sala, seu destino original, fechando-a com uma forte batida. A mesma vinha fazendo, há algum tempo, um ranger incômodo, devido à brisa de verão que por ali entrava, tendo acordado o dono do apartamento. Ele também fez questão de puxar as cortinas e fechá-las, extremamente incomodado com a luz que entrava pela janela e deixava a sala demasiadamente iluminada.

Sentiu a dor de cabeça que o incomodava desde a noite anterior ficar um pouco mais forte e foi até a cozinha a fim de tomar qualquer remédio que encontrasse para a dor. Encontrou uma cartela quase vazia de dipirona e decidiu termina-la com um copo de whisky.

Vocês podem estar um pouco assustados com essa combinação, mas nesse apartamento, era algo que havia virado rotina no último ano. As garrafas vazias espalhadas pela cozinha e os copos sujos de bebida se tornaram parte da decoração do lugar.

- Senhor Alfonso? – uma voz doce e bondosa foi ouvida na cozinha, logo após a abertura da porta de serviços. Uma senhora de pouco mais de 50 anos adentrava a cozinha, os cabelos levemente grisalhos amarrados em um coque perfeito, seu semblante naturalmente tranquilo se transformando em uma expressão preocupada ao colocar as várias sacolas que trazia do supermercado sobre a bancada e observar o patrão, à sua frente, virando um copo de whisky àquela hora da manhã.

- Oi, Madalena. – ele se virou, cumprimentando a senhora um pouco cabisbaixo, tentando não encontrar aquele olhar maternal de sua governanta que o faria se sentir culpado pelo resto do dia.

- Pensei que o senhor já teria ido para a agência. – Madalena o fitou com uma expressão de interrogação enquanto tirava as verduras frescas e as guardava na geladeira. Ao se aproximar mais do patrão, sentiu o cheiro inebriante de álcool que emanava de suas roupas, torcendo um pouco o nariz.

- Não irei hoje. – ele se aproximou da bancada para ajuda-la. – O Dan deu trabalho para acordar? Ele foi dormir um pouco tarde.

- Não, estava bem tranquilo. – ela lhe lançou um sorriso, tentando tranquiliza-lo. – Só sentiu a falta do senhor, quando o deixei na escola. Perguntou se o senhor o buscaria hoje.

Alfonso suspirou, entristecido com o que acabara de ouvir. Era verdade que nos últimos meses vinha dando pouca atenção ao filho, deixando-o mais por conta de Madalena, que o criava como uma mãe. Sua cabeça girava tanto ultimamente, que preferia se manter um pouco afastado do filho, com medo de afetá-lo. Mas o que não se dava conta era que essa distância também fazia mal ao menino.

- Vou busca-lo hoje. Pode tirar a noite de folga, se você quiser. – ele sorriu para a senhora, que balançou a cabeça negativamente.

- Não precisa, farei o jantar para vocês e ajudarei com o menino, não tem problema nenhum, é o meu trabalho. – ela sorriu de volta, solícita.

- Não precisa, Madalena. – ele pousou a mão sobre o ombro da senhora. – Você já nos ajuda muito e trabalha mais do que deveria. Pode deixar que eu cuido de tudo.

- O senhor tem certeza? – ela perguntou, relutante.

Alfonso apenas piscou, rindo e se virando para a pia, pegando o copo com sua bebida.

Ele caminhou de volta até a sala, deixando seu corpo cair sobre o sofá, totalmente desanimado. Tomou um gole da bebida, sentindo sua garganta arder e ao mesmo tempo seu corpo começar a ficar mais leve. Pegou o controle da TV, ligando-a em um noticiário local, enquanto coçava a barba cheia que estava por aparar.

“A previsão é que hoje seja o dia mais quente do mês em Chicago, com as temperaturas atingindo a casa dos 34º C no meio da tarde.”

Alfonso suspirou, se afundando mais no sofá, enquanto os apresentadores davam um punhado de informações nas quais ele não conseguia prestar muita atenção.

“E hoje faz um ano do segundo maior ataque à mão armada da história do nosso país. Esse ataque aconteceu aqui mesmo, em Chicago, em um dos shoppings de maior prestígio da cidade, deixando mais de 30 mortos e 50 feridos.”

Tudo o que se ouvia naquele ambiente eram as vozes dos apresentadores que continuavam falando, enquanto Alfonso permanecia imóvel em seu lugar, sentindo sua respiração falhar.

Queria ele ter se esquecido qual dia era. E talvez realmente tivesse conseguido, se não fosse aquele maldito noticiário que o fez mergulhar, instantaneamente, em um mar de tristeza e desespero, águas bem conhecidas para ele.

Travou a mandíbula, fechando os olhos com força, tentando não regurgitar tudo que estava dentro de si.

“Será feita hoje uma homenagem às vítimas do ataque em frente ao memorial localizado na entrada principal do shopping...”

Alfonso tateou o sofá em busca do controle da TV e a desligou antes de terminar de ouvir o que o noticiário ainda tinha a dizer sobre aquele acontecimento. Ele pegou o copo com o resto da bebida em frente à mesa de centro e o terminou de beber, desejando que o líquido queimasse a dor que começava a sentir em seu peito.

-

Foi uma tarde silenciosa no apartamento 506. Tão silenciosa a ponto de deixar a governanta preocupada.

Quando Madalena entrou na suíte, sentiu um frio percorrer sua espinha com a temperatura do ambiente. Olhou o ar condicionado que marcava 15º C e imediatamente buscou o controle para aumenta-lo. O patrão só poderia ter perdido o juízo de vez, o que não seria uma surpresa para ela. O via definhar dentro daquele apartamento dia após dia, sem nada que pudesse fazer.

Ela se aproximou a passos cuidadosos da cama, tentando distinguir o homem em meio à tantas cobertas.

- Senhor Alfonso? – tentou chama-lo pela primeira vez, mas sem resposta. – Senhor Alfonso? – ela chamou outra vez e ele começou a abrir os olhos.

- Hm? – ele coçou os olhos, passando a mão pelo cabelo em seguida, tentando tirar os cachos que caíam sobre seu rosto. – O que foi, Madalena?

- Já são duas da tarde, o senhor não vai almoçar? Não comeu nada o dia inteiro...

- Duas da tarde? – ele suspirou, sabendo que logo teria que buscar o filho na escola. – Eu já vou me levantar. Obrigado.

- E não deixe esse ar tão baixo, menino. Vai acabar ficando doente. – ela o repreendeu, fazendo o rir de seu instinto maternal para com ele. – Ah, a senhora Ruth, sua mãe, ligou faz algum tempo. Está preocupada com você.

- Com certeza vocês ficaram falando mal de mim, não é? – ele brincou, enquanto tirava as cobertas de cima de si, fazendo a governanta rir.

- Nós só queremos o seu bem, mi hijo.

Alfonso conversou mais um pouco com Madalena e depois decidiu tomar uma ducha para tentar melhorar o ânimo.

Não se tardou muito debaixo do chuveiro, e em 30 minutos já estava de banho tomado, barba aparada e roupa limpa no corpo, pronto para comer alguma coisa e ir buscar o filho. Mas antes que pudesse chegar à cozinha, o telefone tocou, fazendo-o revirar os olhos, já sabendo os sermões que ouviria de Dona Ruth.

- Poncho? – respirou fundo ao ouvir a voz aflita da mãe do outro lado da linha.

- Oi, mamãe. – ele tentou forçar alguma animação em sua voz, mas mãe não é mãe por acaso.

- Como você está, meu filho? Liguei a pouco e Madalena me disse que você estava dormindo, que não havia comido nada, que não tinha ido trabalhar... – ela falava rapidamente, demonstrando o desespero em que se encontrava.

- Mamãe, mamãe, espera... – ele tentou interrompe-la, sem êxito.

- Cadê o Dan? Como ele está?

- Mamãe, o Dan está bem. Eu estou bem. Está tudo bem. A senhora pode se acalmar? – ele respondeu, irritado, deixando sua mãe incrédula com seu tom de voz.

- Alfonso Herrera, isso é jeito de falar comigo? Justo eu que te carreguei 9 meses na barriga e sempre fiz tudo por você? – seu tom extremamente magoado fez Alfonso se entristecer.

- Desculpa, mamãe. Eu não quis falar assim com você. Hoje não está sendo um dia muito fácil, entenda... – ele respirou fundo, deixando sua mãe mais preocupada.

- Poncho, eu sei que hoje faz um ano...

- Eu não quero falar sobre isso. – ele a cortou, começando a ficar inquieto.

- Filho, você precisa conversar com alguém, procurar um psicólogo, não sei... – sua mãe tentava, novamente, ajuda-lo, mas já sabia que esse esforço seria em vão, o que a deixava ainda mais frustrada.

- Mamãe, não preciso de nada. As coisas vão se ajeitar. – Alfonso buscava falar calmo a fim de não magoa-la novamente, mas sentia que era quase impossível. Seu temperamento estava horrível, e ele sabia disso.

- Você fala isso há meses, e está cada dia pior. Agora nem trabalhar está indo, Poncho.

- Eu não fui hoje, pois já havia combinado na agência. Eu me mato de trabalhar lá, hoje não significa nada.

- Não sei o que é pior, você assim ou enfiado no trabalho.

- Mamãe... – ele sentia sua paciência se esvaindo aos poucos e sabia que logo começaria a brigar com a mãe se aquela conversa não fosse encerrada. – Eu preciso ir, ok? Você tem alguma coisa a mais para dizer? – ouviu-se apenas o silêncio por alguns segundos, quando sua mãe decidiu quebra-lo.

- Volta para o México, meu filho. Nós sentimos tanto a falta de vocês. – a voz dela era embargada, fazendo com que Alfonso fechasse os olhos tentando segurar suas próprias lágrimas.

- A senhora sabe que eu tenho uma vida aqui e que não posso largar tudo. – ele suspirou, sabendo que nem tudo o que a mãe falava era, na verdade, más ideias.

- Você pode recomeçar aqui. Por favor, volte para perto da sua família, meu bem.

- Eu realmente preciso ir.

Alfonso não queria admitir, mas estava totalmente tentado àquela ideia, e já havia pensado nisso algumas vezes. Não tinha feito nenhum progresso continuando em Chicago, naquele apartamento que parecia mais sufoca-lo com tantas lembranças do que acolhe-lo e faze-lo se sentir bem.

Mas tinha o trabalho na Leo Burnett. Como largar o posto de diretor de arte de uma das maiores agências de publicidade do mundo?

Também tinha o filho pequeno. Será que ele se adaptaria?

Além de tudo, tinha sua governanta. Como sobreviveria sem a ajuda daquela que foi sua mãe durante toda sua estadia nos Estados Unidos?

Que belo impasse dona Ruth havia acabado de colocar na cabeça de seu filho, em um dia tão difícil como aquele.



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