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História Destined (EM PAUSA) - Capítulo Cinco


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Não sei nem por onde começar a me explicar, mas darei início lhes pedindo desculpas. Confesso que acabei desanimando um pouco com as postagens de Destined, fiquei um pouco alheia as atualizações e por fim, abandonei-a por um tempo. Sinto-me culpada por isso, pois é uma história que gosto tanto, e que me senti imensamente feliz por ter tido um retorno tão positivo com ela que, verdadeiramente, só devo-lhes milhões e milhões de desculpas por minha ausência e falta de compromisso com aqueles que me enviaram mensagens extremamente carinhosas, até mesmo textos que me fizeram chorar, mas eu não estava em um bom momento e me senti tão desanimada. Mas, há alguns dias, enquanto abria minhas pastas com todas as minhas histórias, meus olhos focaram em uma especifica, e não deu outra, comecei a reler toda a história, até mesmo o resumo feito há muito tempo atrás, e como em um estalo, pensei 'porque deixar de postar algo que me dediquei tanto?', então, eu voltei. Irei seguir com as postagens, mais animada do que nunca, e torcendo para que não desistam dessa autora que queria poder demonstrar toda a gratidão por serem tão preciosos e pacientes também. Agradeço, com todo o meu coração, pelo suporte em geral. Não sabem como melhoram meus dias com isso, e me incentivam tanto. Minha vida está uma loucura, lidar com faculdade e trabalho, tudo em outra cidade, consomem bastante o meu tempoe e energia, pois chego em casa sempre tarde e exausta, sem ânimo para nada. Mas, garanti a mim mesma que nada irá afetar em minhas maiores paixões; criar e escrever.
Portanto, espero que gostem desse capítulo, e que não desistam de nós (de mim e da história). Desejo-lhes uma boa leitura. MWAH!

● Capítulo sem uma revisão mais profunda, perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 6 - Capítulo Cinco


Fanfic / Fanfiction Destined (EM PAUSA) - Capítulo Cinco

[Promessa]: afirmativa de que se dará ou fará alguma coisa; algo prometido.

Os raios solares batem em meu rosto assim que as cortinas são abertas, e não ouso abrir os olhos, sabendo que alguém estava impedindo-me de passar mais algumas horas na cama. Não queria acordar, pois as doses ingeridas de bebidas alcoólicas durante toda a noite iriam render-me consequências desastrosas. Ainda não estava preparada para as pontadas em minha cabeça, tão pouco para lidar com a moleza em meu corpo, e menos para encontrar o meu reflexo no espelho.

— Levante-se dessa cama, ou eu juro que irei arrastá-la para o chuveiro. – a voz de Blake nunca soou tão irritante.

Não respondo, apenas solto um gemido baixo e tateio o outro lado da cama, procurando por um travesseiro que pudesse soterrar o meu rosto e ouvidos. Consigo cobrir-me, mas ainda conseguia ouvir o som de seus saltos ecoando pelo assoalho, era tão torturante quanto ouvir unhas arranhar impiedosamente uma lousa.

— O que está acontecendo com você? – ela parecia mais perto da minha cama, ou estava elevando o tom de sua voz já extremamente sonora. — Desde quando passou a beber uísque ao invés de café?

— Vá embora! – grito, não sabendo se conseguiria me ouvir, e não me importava nenhum pouco, queria apenas ficar sozinha. — Não vou me levantar, o sol ainda está nascendo.

— São quase duas da tarde, Ravenna. – replica e sinto meu cenho franzir. — Cansei de dar-lhe o seu tempo, e espaço. Faz ideia de quantas desculpas desperdicei com acionistas e bancários? O seu negócio foi de mal a pior durante essa semana que se manteve trancada nesse quarto.

Não posso ignorá-la, pois meu travesseiro é arrancado de mim ao mesmo tempo em que meu cobertor é lançado para longe de todo o meu corpo. Encolho-me na cama, sentindo falta do conforto do tecido quente e macio.

— Avisei que estaria ocupada. – resmungo e tento puxar um pouco do lençol para mim, mas um tapa fraco em minha mão me faz abrir os olhos, alarmada. — Você me bateu?

— Agradeça por não estar fazendo isso em seu traseiro preguiçoso. – com a expressão séria, inclina-se em minha direção e agarra-me pelos ombros, me colocando sentada. — Você irá levá-lo para debaixo daquele chuveiro em uma água muito fria, irá cobrir essas olheiras com muita maquiagem, e estará pronta em vinte minutos.

— O que deu em você? – questiono, um pouco assustada pela mulher estar sendo tão zangada nessa manhã.

— Não vou ficar sentada, vendo a minha chefe e amiga destruir sua vida por frustrações tolas. – indaga raivosa. — Porque eu sei como aquela empresa é importante, e como lutou para assumir o que é seu por direito. Sem você, iremos para um buraco caótico. Então, trate de se recompor e agir como uma profissional. – olha rapidamente para a garrafa e copos vazios na mesa de canto, em frente ao abajur. — Irei buscar aspirina e café.

Afastando-se, soltando meus braços de súbito, preciso apoiar as mãos na cama para me manter sentada, com os lábios descolados, encarando-a com perplexidade. Blake era uma grande amiga, e uma assistente fantástica, ela nunca havia ousado se impor tanto. Mas suas palavras espantaram para longe os vestígios da ressaca, causando-me vergonha por ter me empurrado para uma situação tão constrangedora por não ter forças para guardar de volta os meus sentimentos no fundo do meu coração.

Apanhando a garrafa e copo de cima da pequena mesa, dá-me as costas e caminha até a porta, deixando-me sozinha com todo o meu arrependimento e culpa. Ela tinha razão. A empresa do meu pai era tudo o que eu tinha de mais importante, e diante a sua lápide jurei honrá-lo por ter confiado em mim o que levou anos para erguer, faria da sua luta a minha. Era lamentável ter começado a beber sem controle das minhas ações, e optado por passar dias sem ir para a universidade, trabalho ou colocar os pés na rua. Tudo para evitar vê-lo, pois me odiava por não conter as estranhas sensações de fase adolescente que me tornavam tão frágil quanto um cristal.

 Respirando fundo e encorajando-me a erguer o queixo, coloco as pernas para fora da cama e balanço os pés até encontrar meus chinelos, calço-os e levanto-me, levando uma fração de segundos para conseguir dar alguns passos sem temer uma queda pelo chão parecer estar em movimento de ondulação constante. Caminhando até o banheiro, arrasto-me para perto da pia, apoio minhas mãos nas laterais e encaro meu lamentável reflexo. Estava abatida, com os olhos cansados e pele tão pálida que se não soubesse das reais causas para o meu estado deplorável, deduziria estar doente. Giro a torneira, deixando a água fria cair, alcanço minha escova e a pasta de hortelã, colocando um pouco sobre as cerdas macias, enquanto espalho por meus dentes, livrando-me do gosto amargo que ainda estava em minha boca. Terminando, lavo a minha boca e jogo um pouco de água em meu rosto, com as mãos juntas. Fecho novamente a torneira, e seco minhas mãos em minha própria roupa. Não vestia mais que uma camisa larga e calcinha.

Dispo-me depressa, e deixo minha roupa dentro do cesto de roupas sujas. Em frente ao box, puxo as portas de vidro e entro, ligando o registro, ignorando as ordens de Blake sobre a água fria. Ela sabia que eu não tomava banhos frios, nunca, em hipótese alguma. A água relaxa meus músculos tensos de imediato, e um suspiro satisfatório afirma-me isso. Levo minhas mãos aos fios emaranhados do meu cabelo, apanho meus produtos de higiene no suporte ao lado da janela, e lavo-me como se não tomasse banho há dias.

Quando me sinto completamente limpa e mais humana novamente, desligo o registro, inclinando-me para fora do box, puxo a toalha que estava no aparador, secando-me um pouco antes de enrolar o tecido felpudo em meu corpo, colocando a ponta para dentro, debaixo do meu braço esquerdo. Com o cabelo ainda pingando algumas gotículas de água, paro em frente ao espelho da pia, procuro por meu secador, ligo-o na tomada e começo a escovar os fios que pareciam um pouco mais leves depois de terem sido lavados e massageados. Era como se tivesse limpado a minha alma. Acabando no banheiro, guardo tudo e volto para o quarto, ficando em frente ao meu closet, enquanto meus dedos percorrem algumas roupas. Optaria por mais um pijama ou roupas gastas e largas, como fiz em todos os dias que passaram, mas Blake colocaria minha casa em ruínas se teimasse em voltar para a cama em minhas vestimentas pouco atraentes.

Bufando em frustração, retiro um macacão listrado suspenso por um dos cabides e um casaco jeans. Abrindo a terceira gaveta, escolho um conjunto de lingerie lilás e me livro da toalha, deixando em uma cadeira ao lado da janela, me visto depressa e procuro por um par de sapatos pretos, calçando-os e caminhando para o outro lado do quarto. Em frente ao maior espelho, reparo que o banho não conseguiu dar-me uma expressão menos casada, então, tateando a minha bolsa em cima da cômoda, abrindo-a, procuro pelos produtos milagrosos que só arriscava usar quando tinha noites de insônia ou virava revisando e assinando contratos. Fazendo tudo ao meu modo, finalizo com duas camadas de máscara em meus cílios, e o resultado não me agrada e nem mesmo pondero cobrir meus lábios com alguma coloração chamativa para essa manhã de outono.

Minha mãe sempre dizia que eu precisava me cuidar mais, sair um pouco e conhecer pessoas influentes, e tudo o que compreendia era que desejava me moldar para ser como a própria e Chloe, mas no fundo, ela sabia que eu nunca seria como sua enteada. Era o meu jeito alheio ao mundo fútil que as agrada e as fazem cobiçar mais. Por isso, casar-me com Seth não é algo que eu queira fazer, ainda que a possibilidade de viver ao seu lado esteja em meus planos, apenas por não poder mais viver sob o mesmo teto que Shawn. Talvez, quando ele e minha irmã se mudarem para a casa que planejam viver por todo o casamento feliz, eu possa romper com o homem de negócios que insiste em oficializar a nossa relação, e consiga a minha deixa de ter minha própria vida, longe desse mundo que não me encaixo verdadeiramente.

— Dei-lhe vinte segundos a mais para que ficasse pronta. Espero tê-los aproveitado. – a voz de Blake soa na porta que é aberta por ela, e seu corpo se coloca para dentro. Em suas mãos havia uma bandeja com uma xícara de louça branca, um copo com água e um pequeno ponto que tinha certeza que era a aspirina.

— Você é tão generosa. – giro os calcanhares e fico de frente para ela, abrindo os braços. — Aqui estou eu, com os pés no chão, sem ressaca e vestida para o trabalho. Satisfeita?

— Não, realmente. Mas é um começo. – torce os lábios e caminha em minha direção. — Irá me dizer o que aconteceu com você?

Estico meus braços e alcanço a água e aspirina, lançando-a em minha boca e beberico um gole da água, bebendo todo o resto, pois não havia percebido como minha garganta estava seca.

— Nada aconteceu. Eu só estive muito ocupada. – devolvo o copo e entrelaçando o indicador esquerdo na alça da xícara, ergo-a e guio-a até meus lábios, dando-me o luxo de saborear o líquido quente e puro.

— Você ignorou todas as minhas ligações, mensagens, e-mails e visitas. Eu cheguei a acreditar que não estivesse podendo me atender nos dois primeiros dias, mas foi por quase uma semana inteira, Ravenna! – altera a sua voz, e observo-a, ainda bebendo o meu café. — Sua mãe está viajando, eu liguei para ela e toda a informação que recebi foi que você estava enfrentando algum drama consigo mesma. Não compreendo aquela mulher, mas também não consigo compreender você.

Faço uma careta, sentindo leves pontadas nas laterais da minha cabeça.

— Não fale tão alto. Minha audição está sensível. – sussurro e crispo os lábios. — E como eu disse, ocupei-me com algumas coisas e perdi a noção do tempo. Pensei que tudo ficaria bem na empresa por esse tempo, já que eu nunca tiro férias.

— Você nunca quer férias! – grita e ao notar meus olhos semicerrando, abaixa um pouco os ombros e coloca a bandeja em cima da minha cama. — As últimas notícias que tive sobre você foram através de comentários pelos corredores, dizendo que você esteve trancada por uma noite inteira junto a um homem. Quem era ele? E como isso aconteceu?

— Shawn, o noivo de Chloe. – viro todo o café, cansando de bebericá-lo e senti-lo cada gole mais frio. — Eu sai um pouco mais tarde, e ele voltou para recuperar algo que esqueceu. Fecharam tudo e nos deixaram para trás. Pela manhã, fomos salvos. Apenas isso.

— Apenas isso? – ergue as sobrancelhas bem desenhadas e finas. — Rave, você ficou presa naquela empresa por uma noite inteira ao lado de um Deus Grego, que é noivo da sua irmã, o que ficaram fazendo, jogando cartas?

Sinto vontade de rolar os olhos, mas minha cabeça doía demais para que fizesse isso ser punida pela dor. Balançando os ombros, fico ao lado da minha cama, inclino-me para frente e coloco a xícara vazia sobre a louça bordada.

 — Não tínhamos nem mesmo isso para fazer. – resmungo e evito olhá-la. — Foram algumas horas, Blake. Ficamos presos, tentamos contatar alguém, mas de nada adiantou, tivemos que esperar amanhecer.

Ouço sua risada e espio-a de soslaio.

— Isso é cômico. – continua rindo, aparentando estar voltando para o seu humor normal, deixando o infernal de lado. — Não o encontrei pela casa. Onde aquela delícia está?

— Em algum momento me ouviu dizer que ele é o noivo da minha irmã? – elevo alguns tons da minha voz. — E eu não faço ideia de onde ele esteja. Há dias não o vejo por aqui.

Não era uma mentira. Nos dias que lutei para evitar encontrar com ele, fosse na cozinha durante meus lanches sorrateiros ou no corredor enquanto corria para entrar no quarto, não cheguei a vê-lo. Havia decorado o som do motor de seu carro, e sempre que o escutava chegar, muito tarde da noite, ou, na hora do almoço em alguns dias, afastava um pouco da cortina para olhar para a porta da garagem. Ele possuía a mania de parar em frente a uma das roseiras um pouco amareladas que brotavam as primeiras rosas no jardim e olhava-as, todas às vezes, estivesse de manhã ou não, tocava algumas folhas e continuava o caminho pelo trilho até a entrada da mansão. Era um ato curioso, e me praguejei por sentir-me comovida com isso.

— Eles podem ter fugido e casado mais cedo em Las Vegas. – cantarola em tom de gracejo.

Sinto minhas sobrancelhas se unirem em linha reta.

— Sem o vestido cheio de camadas, a decoração dourada e os inúmeros convidados que ela esteve louca montando suas listas por meses? – nego com a cabeça e viro-me de costas para procurar por minha bolsa. — Duvido muito. Essa não seria Chloe se fizesse algo tão simples e romântico.

— Azar o dela. Porque eu agarraria aquele homem e o levaria para o altar mais próximo.

Olho para Blake, ajeitando as alças da minha bolsa e apoiando-as em meu ombro direito.

— Você? – solto uma risada pelo nariz, balançando minha cabeça minimamente. — Seu último relacionamento durou quatro dias, como poderia se casar com alguém?

— A sua inteligência exagerada me assustava, e ele tinha ideias muito limitadas sobre o mundo. Você sabe sobre minha sexualidade, e que meu gosto é mútuo quando se trata de homens e mulheres. – belisca a ponta de seu nariz. — Brian não aceitava isso também.

— O nome dele é Emmett. – me aproximo da minha amiga e estalo alguns dedos na frente de seus olhos. — Conheço-a bem, e posso garantir que se qualquer pessoa pedir-lhe em casamento, terá que enfrentar uma mulher muito fora de si.

— Você espera o pior de mim. – estreita os olhos, e os mesmos logo caem para o relógio em seu pulso esquerdo. — Estamos atrasadas. A reunião que adiei por toda a semana será realizada essa tarde, sem mais impedimentos.

Suspiro, mas assinto.

— O estrago foi muito grande? – abocanho o lábio inferior, puxando-o com meus dentes.

— Teria sido pior se tivéssemos recebido a visita do advogado da sua mãe.

Abaixo a cabeça.

Havia sido imatura em ter abandonado minhas responsabilidades. No fundo do meu peito, implorava baixinho para que meu pai não estivesse decepcionado comigo.

— Obrigada, Blake. – olha-me com o cenho franzido. — Por tudo. Principalmente por ter me resgatado dessa melancolia.

— Uma melancolia que faço questão de ser informada. Conheço-a há anos, senhorita Lerman, e posso afirmar que algo muito errado está acontecendo dentro dessa casa. E Deus queira que minhas suspeitas não estejam certas, ou algo muito ruim pode vir a acontecer. – seu tom sério causa-me arrepios. — Mas, de qualquer maneira, não precisa agradecer. Da próxima vez, eu derrubo todos os seguranças como peças de dominó. Eu tenho muita força em meus braços.

Esboço um sorriso breve, incapaz de alcançar os olhos.

Entretanto, assumo a minha postura profissional assim que deixo o cômodo confortável que me protegeu do mundo por uma semana.

(...)

Conseguir esticar os braços e suspirar de alivio ao finalizar a última reunião. Não pensei que alguns dias estando ausente pudessem resultar em tantos problemas, alguns que estavam crescendo aos poucos, e com a viagem da minha mãe e meu sumiço repentino, desencadearam uma série de outras interferências no desenvolvimento dos funcionários e seus serviços. Com ajuda de Miguel, meu braço direito depois de Blake, consegui estabilizar as coisas, e fechamos uma parceria com uma filial mundial. Gostaria de me sentir orgulhosa, mas não era o momento para comemorar.

Resolvi que não apareceria na universidade pelos próximos dias, mas usaria as anotações dos meus colegas para estuda para as provas finais. Estava mais perto de conquistar o meu diploma e me dedicar apenas ao meu trabalho, seria um impulso que me faltava para alcançar tudo o que o homem que fundou e planejou cada repartição desse edifício sonhou.

— Vá para casa. – indago para Blake que juntava os papéis espalhados sobre a mesa na sala de reuniões. — Você fez muito por hoje.

— Eu gosto de trabalhar. – dá de ombros e amontoa-os em uma pilha, arrastando para seus braços magros. — E não sou eu que preciso de um descanso. Acabar com uma garrafa de uísque puro em uma única noite causa danos em qualquer pessoa, até mesmo em Ravenna Lerman.

Solto um gemido e inclino-me para trás, relaxando as costas na enorme cadeira de couro.

— Lembre-me de nunca mais me aproximar de qualquer coisa que possua álcool. – fecho os olhos. — Irei evitar até os postos de gasolina.

— Beber um pouco não faz mal a ninguém. Você só não pode se esquecer de todo o resto. – aconselha, tranquilamente. — Acha que vou direto para casa quando saio do trabalho?

Abro meus olhos e encaro-a inquiridora.

— Eu tenho certeza que não, pois já ouvi muitos boatos sobre você e os funcionários dos Recursos Humanos e Almoxarifado. – cantarolo. — Sua resistência é impressionante.

— É proibido transar no local de trabalho, não está em meu contrato que não posso aproveitar-me de todos aqueles corpos... – balanço a cabeça para que ela não continue com sua frase, e mostrando-me a língua, continua a dizer. — São anos de experiência, e não é algo que possa me orgulhar. Mas eu não dou a mínima.

— Tudo bem. – ergo as mãos para cima, e me levanto. — Enquanto você planeja qual será a sua caça da noite, irei me organizar para ir embora. Estou precisando dormir.

— Não irá retornar as ligações de Seth? Nunca vi um homem deixar tantas mensagens para uma secretária. – caminho até a porta, mas paro antes de deixar a sala.

— Ele desapareceu por dias, está apenas querendo se redimir, e não estou no clima para isso. – aviso-a e Blake escuta-me com atenção. — Vejo-te pela manhã?

— Espero não ter que buscá-la novamente.

Solto uma risada, anuindo e me colocando para fora.

Caminho pelos corredores, e com sorrisos breves e alguns acenos com a cabeça, despeço-me dos funcionários que ainda estavam terminando seus expedientes, outros já se retiravam. Entro em minha sala para apanhar minha bolsa e apagar as luzes, retiro-me mais uma vez e rumo até um dos elevadores vazios. Pressiono os botões, e assim que as portas se fecham, a caixa de metal desce até o hall. Piso sobre o carpete, e cumprimento uma senhora da limpeza, Amelie era o seu nome. Gentilmente, retribui o sorriso e ajudo-a me abaixando para colocar em seu carrinho o balde vazio.

Atravesso todo o hall, por fim, despeço-me dos guardas e recepcionistas. Descendo a escadaria da entrado, fico na beira da calçada por alguns minutos, torcendo para que um táxi logo aparecesse. Assim que avisto um carro amarelo com os dizeres que tanto almejava ler, aceno com o a mão direita, segurando a minha bolsa com a esquerda. O veículo estaciona em minha frente, e apenas puxo o trinco, colocando-me para dentro. Desejo-lhe uma boa noite e informo o endereço da minha casa.

A viagem é silenciosa e tranquila, um pouco demorada por enfrentarmos um trânsito um pouco agitado devido a um acidente na estrada principal para a minha casa. Mas, não tarda tanto para que o carro estacione em frente a mansão rodeada por seguranças, inclino-me para frente, segurando minha carteira nas mãos e estendo-lhe algumas notas em dólar, pagando-lhe pela corrida e permitindo que ficasse com o que teria que me devolver.

Marchando até enormes portões dourados, os seguranças logo cedem a minha entrada. Faço todo o caminho pelo trilho estreito até as escadas que levavam a porta da frente. Giro a maçaneta e empurro-a, ansiando por um banho quente e o conforto dos meus lençóis e travesseiros. Mas, assim que meus olhos varrem o ambiente arejado da sala principal, meu estômago revira. Minha mãe estava sentada ao lado de seu marido, e na poltrona ao lado Seth estava sentado, em sua postura sempre elegante e confiante.

— Nossa garota desaparecida chegou. – minha mãe alfineta, sendo a primeira a me olhar.

— O que aconteceu com o seu celular? – Seth questiona, colocando-se de pé, mas antes, curva-se para frente e apoia em cima da pequena mesa de centro o copo vazio que segurava. — Tem ideia de quantos dias estou tentando falar com você?

— Eu fiquei sem bateria. – franzo o cenho.

— Por três dias? – sua voz eleva-se em um tom, e eu não gosto disso.

Dou de ombros, sabendo que não teria tantas desculpas para dar.

— Estive ocupada, Seth. – distancio-me da porta e começo a andar até os degraus da escada que me convidavam para correr sobre eles e chegar o quanto antes em meu quarto. — E estou cansada agora. Será que podemos conversar em outro momento?

Sua expressão mostra tudo, menos satisfação.

— Vocês podem conversar sobre o relacionamento outrora. Mas, você terá que dar-nos explicações sobre o contrato que fechou essa tarde, Ravenna. – minha mãe volta a ralhar.

Respiro fundo e encaro-a.

— Porque devo explicações?

— Pelo simples fato da empresa não pertencer unicamente a você. E por não ter maturidade o suficiente para lidar com negócios tão grandes. – não há sutileza em suas palavras. — Sabe em que problema nos colocou por aceitar parceria com Malcon Scolfield?

Não conseguia lhe responder de imediato, pois não fazia sentido estar sendo confrontada por minha mãe.

— Anos atrás, Scolfield foi acusado por fraude e uma lista de outros crimes, Ravenna. – Zac intervém, usando toda a sua educação e calma para explicar-me as palavras apenas lançadas no ar por sua esposa. — Sua empresa fechou negócios com outras duas minoritárias, começando a se instalar no mercado, e ambas faliram antes mesmo de completarem um ano de negociações e existência. Ele não chegou a ser preso, apenas ficou longe do país por alguns meses. Quando retornou, seus antigos ex-parceiros haviam sido acusados por crimes que gritaram aos quatro cantos não terem cometido. Seus negócios voltaram a fluir, e ele esteve na frente até um acidente de carro deixá-lo sem os movimentos das pernas, seu irmão assumiu posse de quarenta e nove por cento das ações.

— Eu não sabia. – balbucio em um sopro, estava chocada e decepcionada com minha ingenuidade. — Ele ainda está no controle? Jeremy Scolfield disse estar representando o diretor. Não fazia ideia que eram irmãos.

— Malcon está velho, muito rabugento e incapaz de coordenar a empresa, mas ainda é um homem que não vale o dinheiro que conquistou. – fazendo uma pausa, o homem continua e olha de soslaio para minha mãe. — Não podemos permitir que essa família tenha qualquer tipo de ligação com a sua empresa, Ravenna. Muito tempo se passou, mas os Scolfied’s não são homens confiáveis. Não a culpo por ter se deixado induzir pela gentileza e inteligência de Jeremy, é como um dom natural. Todavia, acionei alguns amigos advogados para procurar por uma mínima linha que possa ajudar a romper o contrato antes que seja tarde.

Não acreditava que havia deixado a empresa do meu pai a pouco de ser destruída.

— Essa é a prova de que não está pronta para estar sentada na cadeira da presidência. – minha mãe volta a dizer. — Zac também irá mandar seus amigos advogados avaliarem uma possibilidade de retirá-la do cargo.

— O que? – ergo o meu olhar, procurando por lógica ou brincadeira em sua frase. — Não podem tirar o que foi deixado em uma carta por meu pai!

— Podem quando perceberem que não possui estrutura para lidar com os negócios da família. – a mulher se levanta, e pousa as duas mãos, uma em cada lado de sua cintura. — Essa empresa é tudo o que restou do sobrenome que você carrega, Ravenna. E enquanto eu estiver viva, não irei permitir que acabe com isso.

Isso me machuca, como poucas palavras me machucariam.

— Eu sou a única nessa casa que se preocupa com esse legado. – lágrimas picam meus olhos, mas não caem, pois não permito que isso aconteça em frente às três pessoas que assistiam meu corpo tremer, e minha voz escapar embargada. — Não é justo tirarem isso de mim!

— Tente entender a sua mãe, Ravenna. – Seth entra em defesa da mulher que fazia questão de agradar, sempre. — Você ainda está estudando, isso pode estar consumindo seu tempo e deixando sua mente um pouco bagunçada. Deixe pessoas mais experientes cuidar disso, daqui alguns anos, você pode assumir esse cargo tão pesado novamente.

Meus lábios descolam e meus olhos arregalam, não queria e não podia acreditar em suas palavras.

— E quem irá cuidar disso? – elevo minha voz. — Vocês três?

— Não é isso... – Zac também se levanta, mas antes que tente amenizar uma situação já complicada, faço-o calar-se, levantando minha mão livre para frente do meu corpo.

— Apenas parem... Todos vocês! – tinha certeza que os criados conseguiam ouvir nossos gritos de onde quer que estivessem. — Não importa o que eu tenha que fazer, mas nada irá me tirar do lugar que meu próprio pai colocou-me.

— Você não pode lutar contra as forças da lei, Ravenna. – minha mãe solta uma risada debochada. — E não nos faça ir longe demais, não quero travar uma guerra com minha própria filha.

Sinto meus lábios contraírem. Meu sangue borbulhava em minhas veias.

— Eu posso perder, mas irei lutar com unhas e dentes contra qualquer coisa. – não desvio o olhar nem mesmo por um segundo. — E quem está começando isso é você, a única pessoa que desejava travar uma guerra com a própria filha.

Com isso, balanço a cabeça em negação, giro os calcanhares e abro novamente a porta da frente.

Tenho certeza ouvir os três gritar por meu nome, mas não cesso os meus passos para ouvi-los, apenas tropeço para fora e ouço os batentes rangerem ao mesmo instante em que a madeira bate atrás de mim.

Desço os degraus, saltando três deles, e rumo em direção a garagem. Meus músculos vibravam, assim como o coração que esmurrava o meu peito esquerdo. Não conseguia respirar, e as lágrimas caem. Finalmente livres. Uma atrás da outra, em sinal de como eu era fraca e sentia-me triste demais para engoli-las para o fundo da minha garganta.

O jardim estava iluminado pelas luzes esverdeadas que se ligavam todos os dias, no instante em que o sol se escondia no horizonte. Mas, meu corpo choca-se com algo forte, firme e que me faz cambalear um pouco para trás. Um par de mãos seguram meus cotovelos, e com a visão turva, olho para coma, encontrando o par de olhos escuros que há dias não os via de perto.

Todas as barreiras que ergui em minha proteção pareceram mais frágeis por ter Shawn muito próximo, tanto que o seu perfume cheirava mais que todas as rosas ao redor.

— Porque está chorando, Ravenna? – questiona, olhando-me um pouco confuso.

Não queria responder sua pergunta. Ele não precisava saber.

— Ravenna! – ouço a voz de Seth, dessa vez, estava se aproximando, e isso me apavora.

Olho rapidamente para trás, avistando-o caminhando ferozmente até onde estávamos, em seus passos largos, afrouxando o nó de sua gravata. Torno a olhar para o homem com olhar perdido, e cenho franzido.

— Tire-me daqui. – sussurro através de um soluço baixinho. — Por favor, me leve para qualquer lugar.

Imploro, derramando mais algumas lágrimas salgadas e pesadas.

Sem precisar ouvir mais uma súplica cansada, Shawn que ainda segurava meus braços, puxa-me para perto de seu corpo, e faz o que lhe pedi.

Ainda ouvia o chamado enraivecido de Seth. Ainda ouvia as vozes de culpa e medo gritar em minha consciência. Ainda ouvia os cacos do meu coração balançando pela força do nevoeiro de novos problemas em que fui exposta. Mas me concentro apenas na voz daquele que um dia foi um desconhecido que dominou meus sonhos.

— Tudo vai ficar bem. – a voz serena de Shawn preenche meus ouvidos, e suas mãos afagam meus braços cobertos pelo casaco que usava. — Eu prometo.


Notas Finais




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