História Destino - Capítulo 10

Não ficamos acordados por muito mais tempo, ainda mais com o tempo que dormimos, que foi muito pouco. Quando o pessoal chegou, já estávamos dormindo, o que era bom porque ficar virando a noite por três dias já tava ficando cansativo.
E foi bom também eu ter sonhos com pôneis e chocolate ao invés de Jasons e pedidos de casamentos, desenvolvem menos expectativas. Muito menos expectativas. O chato do dia foi meu irmão ficando todo preocupado com Mille por ela acordar vomitando, e ficar me enchendo o saco quando eu sabia muito bem o motivo mas não abriria a boca.
-Próximo mês é você. - Ela falou quando ficamos sozinhas. A encarei, comprimindo os lábios.
-Não sei se espero isso ou não. - Sussurrei, dando um pulo quando senti o cheiro do chá que meu irmão trouxe. - Isso é chá de boldo?
-Sim. - Tomei a xícara dele sem que ele pudesse falar qualquer coisa.
-Não ouse chegar perto dela com chá de boldo e canela. - Falei séria. Robert não entendeu, então só se virou e saiu. - É abortivo.
-Deixa isso longe de mim, o máximo possível! - Sorri e coloquei a xícara em cima da cômoda.
-Acha mesmo que no próximo mês sou eu? - Perguntei me sentando ao seu lado.
-É uma possibilidade.
-Jason tem uma viagem de negócios no próximo mês, disse que queria que eu fosse com ele. - Contei. Ela sorriu.
-Cuidado pra não sujar o avião! - Brincou rindo. Bufei.
-E se não acontecer?
-Se refere a ficar grávida ou a ir com ele? - Suspirei.
-Ambos.
-Eu sei de coisas mas não posso te contar, então se preocupe apenas com a possibilidade da gravidez okay? Não precisa ficar insegura em relação a ele querida.
-Idiota! Eu tenho medo de altura!
-O medo é da queda. - Jason falou abrindo a porta. Mille se levantou.
-Garoto esperto! Agora saia, tenho que mostrar uma coisa pra Abby e você não pode ver. - Falou indo até o guarda roupa. - O que quer aqui aliás?
-Robert falou que Abby surtou por causa do chá, fiquei preocupado.
-É abortivo. - Repeti. - E não podemos deixar ele saber disso até domingo.
-É, foi um surto necessário.  - Ri. - Fique longe desses também, até o próximo mês de preferência. - Sorri de canto, receosa. - Algum problema?
-Não, só estou meio receosa com isso... - Jason segurou meu rosto, acariciando minha bochecha.
-Não se preocupe, vai dar tudo certo!
-Estou falando de mim. - Ele sorriu e me beijou.
-Se não estiver, resolvemos isso depois! - Ele piscou, me fazendo rir. - Brincadeira.
-Eu sei.
-Não precisa se preocupar okay? Vamos descobrir isso daqui a algum tempo.
-Tudo bem... - Sussurrei o abraçando. Ele me levantou no colo e me girou.
-Pombinhos lindos do meu coração, parem. - Mille resmungou. - Marquei uma consulta hoje, podem ir comigo?
-Claro.
-Você vai assim? - Jason perguntou me encarando.
Era cedo e eu não tava com saco pra me enfeitar toda, então só vesti um vestido branco parecido com o de ontem, mas mais fino e um pouco mais curto. Fui no meu quarto rapidinho e vesti um short, uma regata azul e peguei sua camisa que ainda estava ali.
-Vamos? - Perguntei fechando o botão do short.
-Vamos. - Mille falou empurrando a gente pra fora de casa.
O consultório não tinha muita gente, só umas três mulheres, duas com a barriga já bem grande e outra não. Me senti como ela naquele momento. Depois de um tempo de espera fui falar com ela e descobri que realmente estávamos na "mesma situação", mas ela tinha mais tempo e já estava noiva. Mesmo nervosa, ela estava feliz. Lhe dei os parabéns e fui acompanhar Mille, que já ia entrar.
Depois de algumas perguntas e tudo mais, acabou que até eu perguntei só pra me certificar do meu estado. Quando saímos, Mille nos obrigou a parar numa pizzaria.
-Pepperoni e peito de peru. - Pediu quando o garçom veio.
-Quando vai falar pra ele? - Jason perguntou. - Quando exatamente?
-Na hora que o padre falar aquele lance do "fale agora ou cale-se para sempre". Será que vai demorar muito? Estou com fome! - Resmungou. 
-Está parecendo uma criança! E você pediu duas! - Falei rindo.
-Próximo mês é você! - Repetiu fazendo careta. 
-Vou ficar grávida, não gorda! - Retruquei jogando uma bolinha de guardanapo nela.
-Vem no pacote. - Mille e eu começamos a rir dessa brincadeira boba, enquanto Jason foi buscar alguma coisa pra gente beber.
-Suco de laranja pra mamãe e pra nós também. - Bati a cabeça na mesa rindo. - Que foi?
-Sou idiota, claro que ia rir! - Falei tentando respirar.
-Sim, mas obrigada por não me deixar sozinha nessa. - Mille falou colocando o suco no copo e tomando um gole. - E obrigada por me ajudarem nessa, e guardarem o segredo mesmo com Robert quase ficando louco.
-É pra isso que servem os amigos! - Falei sorrindo. - Falta muito tempo pra descobrir o sexo?
-Um pouco.
-Laurie sabe?
-Nem sonha. - Comprimi os lábios, baixando o copo antes de colocar o suco ali.
-Somos os únicos a saber? - Jason perguntou.
-Tomem isso como prêmio de confiança, por favor. - Tomou outro gole e colocou o copo na mesa. - Só podia contar com vocês, Laurie contaria pra Paul que faria graça com Robert e descobriria. - Respirei fundo. Algo estava errado comigo, porque desde a noite estava mais sensível. Talvez fosse TPM.
-Foi uma boa escolha. - Admiti.
-Uma ótima escolha, sejamos sinceros! - Mille falou apreciando o cheiro das pizzas que saiam do forno, mas que eu sabia que não eram as nossas. - Sei das suas histórias Abigail, sei das pessoas que ajudou quando tinha só quatorze anos, não se faça de boba. - Sorri, encolhendo os ombros. - Se eu não pudesse confiar em você, não poderia confiar em ninguém.
-Obrigada Mille...
-Que histórias?
-Meus amigos tinham problemas, alguns com família, alguns tinham depressão, e por aí ia, eu sempre estava lá e conversava com eles, tentava ajudar o máximo possível. - Contei. - Com o tempo percebi que algumas pessoas não valiam a pena e que não fazia diferença correr atrás, amadureci um pouco depois disso. - Acrescentei.
-Por isso queria ajudar meu primo.
-E porque sei o que é perder alguém querido. - Jason me abraçou.
-Afinal você perdeu sua mãe aos dezesseis. - Assenti com a cabeça. - Mas em compensação ganhou seus irmãos de volta. Imagino que seu primo não tenha isso certo?
-Tudo o que ele tem é um grupo de adultos que não tem ideia do que é perder alguém especial. - Jason falou.
-Eu sei disso, foi tudo o que sempre tive além dos meus amigos.
-Ele passa o dia fora de casa, de manhã na escola, de tarde com os amigos...
-Vai ser bom conhecer gente nova. - Declarei. - Espero que eles não se importem.
-Você parece ter dezessete, não tem com o que se preocupar. - Mille falou rindo. Mostrei-lhe a língua. Pouco depois as pizzas chegaram. - Obrigada!
Nós três comemos as duas pizzas, e como na outra vez, Jason foi o que mais comeu, e comeu como se não fosse nada. Depois disso Mille nos arrastou pro centro pra ver as coisas que compraria pro bebê, as quais eu quase surtei pra comprar pra mim porque eram muito fofas!
-Não sei onde você é pior, aqui ou na livraria. - Mille reclamou quando peguei a terceira pelúcia seguida.
-Cala a boca! - Falei jogando o sapo nela. Ela pegou um jacaré e jogou em mim, Jason nos puxou pela orelha pra fora da loja na mesma hora.
-Vamos pra casa, você nem ao menos avisou Robert que ia sair. - Falou sério. Fiz cara de inocente pra não levar bronca pela quase guerra de pelúcias, quando ele sussurrou no meu ouvido: - De você eu cuido depois.
-Então tá. - Sussurrei de volta, o beijando.