É NATAL, 25 de dezembro de 2021, quase 01h00. Cinco anos se passaram. Eu estou cursando Psicologia e agora já tenho minha casa própria. Reunimo-nos para comemorar o Natal. Estamos todos juntos, enfim.
Minha irmã, agora contadora, casara-se com um médico clínico chamado Ramon, que já tinha um filho de um relacionamento anterior. A Giovana, da mesma classe de Psicologia que eu, está agora namorando um colega de classe da época do colégio, Thalys. A Karla e a Mary estão noivas e logo vão se casar - já estava na hora, a Mary não aguentava mais esperar para o rala-e-rola, que segundo a Karla só aconteceria depois do casamento. E a Estella enfim criara coragem para se declarar para a Daiane e... adivinha? Agora, elas estão namorando há dois anos, firmes como duas rochas. O Filipe e o Yann estão "experimentando" um relacionamento. Às vezes o Yann dá uma leve escorregada, mandando olhares diferentes para mim, mas eu o freio antes que ele caia, traindo o Filipe. E eu breco a mim mesmo, porque o Yann ainda me atrai.
Pode parecer estranho eu tê-lo convidado, mas o Victor, como vocês devem - ou não - se lembrar, foi o meu primeiro amor. Ele realmente é hétero e, agora, ele está namorando a Lívia, minha Fifi. Eu, para ser sincero, sempre achei que eles combinavam.
Já passa da uma da madrugada quando alguém bate na porta. Levanto-me e vou atender.
- Finalmente. Você está atrasado mais de uma hora.
- Me desculpa.
- Não. - Olho para ele. Para aqueles malditos [benditos] olhos azuis, aqueles lábios vermelhos e carnudos, que finalmente são só meus.
O Sauan sorri para mim.
Pronto, minha marra acabou.
- Tá bom - falo -, eu te desculpo.
- Me dá um beijo?
Como quando éramos mais novos, naquela praia. Somos os mesmos.
- Todos.
Beijamo-nos de uma forma tão suave. A cada novo beijo é uma sensação diferente, mas o mesmo velho amor.
- Onde está meu príncipe?
- Eu sou seu príncipe .
- Mas de uma forma diferente. Quero meu pequeno príncipe.
- Tio Mamá! - Meu sobrinho vem correndo em minha direção e eu o abraço.
- Querido! - Seu nome é João Pedro, sobrinho meu e do Sauan. Nosso sobrinho (eu adoro o som de "nosso"). - Feliz Natal, meu amor. Que bom que veio. Mas onde estão seus pais?
- Estão vindo aí. Cadê minha tia Lilica?
- Está lá dentro. Vai lá.
Solto-o e, enquanto ele corre pela casa, vejo o pai dele se aproximar. É um moreno "gatérrimo" de pele bronzeada, olhar ferino, íris âmbar e um corpo de se invejar. Não é como se eu o desejasse, mas convenhamos que ela deu muita sorte de fisgar um peixe desses. É um cara quente, viu?!
- Feliz Natal, Mamá.
- É Matheus - o Sauan o corrige. Ignoro os ciúmes dele, mesmo que eu goste disso.
- Feliz Natal, Rodrigo. Entre. Cadê sua esposa?
- Tá vindo aí. - Ele vai no rastro do filho.
- Yuna, querida!
- Oi... Feliz... Feliz Natal. - Ela me estende a mão, mas eu a abraço.
- Feliz Natal!
- Matheus, obrigada. Por me perdoar.
- Eu é que agradeço. - "Por permitir que o Sauan e eu voltássemos", penso. - Entre, amada.
Ela assente e entra. Ficamos apenas o Sauan e eu na porta. Sorrimos um para o outro. Finalmente estamos juntos.
- Vamos entrar, amor.
- Trouxe um presente para você - ele me diz enquanto caminhamos até a sala de jantar para a ceia de Natal. - Mas só depois da ceia.
Na hora de distribuirmos os presentes, o Sauan pede que todos façam silêncio. Com um humor teatral, ele começa:
- Senhoras, senhores, amigos, conterrâneos romanos! - Pigarrea. - É com muitíssimo prazer que vos contarei uma história! Era uma vez uma joaninha feliz, até que conheceu uma belíssima borboleta e a amou. Sem aquela linda monarca, a joaninha não era feliz. Com muito custo, as duas se tornaram amigas e a joaninha se declarou para a borboleta, mas esta rejeitou o amor daquela. Até que um dia, depois de muito tentar impressionar a borboleta, a joaninha conseguiu que seu bem-querer se entregasse ao amor. Mas não seria fácil, pois os insetos não aprovavam a relação da joaninha e da borboleta. As duas brigaram, e romperam o relacionamento.
- Sauan! - eu interrompo.
- Quer me ajudar a terminar a história, meu amor?
Sorrio e me ponho ao lado dele.
- A borboleta ficou decepcionada ao ver a joaninha voando entre os caniços com uma libélula, e por isso terminaram. Cega pelos ciúmes, pela raiva e pela decepção, a monarca voou para longe sem dar à joaninha uma chance de se explicar. E assim, a borboleta se envolveu com uma formiga e, depois, com dois escorpiões. - Sou péssimo com metáforas, né? - Mas nada a satisfazia como a joaninha. Por mais que a companhia de outros animais fosse prazerosa, nada se comparava ao amor da outra.
- Um dia, a joaninha teve de se mudar para outro jardim, bem longe da borboleta. As duas ficaram destruídas.
- Nesse tempo, a libélula veio se desculpar com a borboleta, explicando que tudo era culpa dela. Que fora ela, a libélula, que obrigara a joaninha a passearem junto aos caniços. Mas parecia impossível à borboleta encontrar seu antigo amor. Contudo, vejam só como atua o universo! Uma certa aranha teceu uma teia para prender a borboleta e a joaninha, e assim uni-las novamente. E, até ao dia de hoje, as duas continuam juntinhas... Fim-...
- Ainda não acabou - o Sauan interrompe-me.
- Não?
- De forma nenhuma. A joaninha e a borboleta se casam no final.
Meu coração dispara. Pisco diversas vezes, num ritmo frenético. O Sauan se ajoelha, enfia a mão no bolso do casaco e tira uma caixinha preta. Não é possível!
- Mamá, aqui, na frente de todos, eu pergunto: quer se casar comigo? - ele abre a caixinha, revelando um lindíssimo anel de noivado Gran Clef II, de ouro e com uma pedra de diamante incrustada.
Arregalo os olhos, o coração quase explodindo, as pernas bambas.
- Ai, minha Madonna! Que pergunta! É claro que quero!
O Sauan se levanta, põe o anel em meu dedo anelar esquerdo e selamos o momento com um beijo. Esse seria o segundo beijo mais especial da minha vida - o primeiro será daqui alguns meses, no nosso casamento, e o terceiro fora o nosso primeiro beijo, dentro do Toyota dele. Enquanto nos beijamos, os nossos amigos nos aplaudem. Afasto-me e sussurro no ouvido dele:
- Eu não comprei nada para você, mas quando todos forem embora eu te dou o seu presente.
- Meu presente é você.
Mais um beijo. Espetacular. Único. Irresistível.
- A joaninha e a borboleta viveram felizes para sempre - finaliza a Gi.
- Mamãe, quero um namorado igual o titio! - Pois é... Pelo jeito teremos muita história LGBT para contar...
Então. Se eu acredito em destino? Um pouco, mas destino não é o caminho que nos é dado, é o caminho que escolhemos. De qualquer maneira, quer seja predestinação, acaso, coincidência, uma força divina ou qualquer outra coisa, o que realmente importa é que enfim estamos juntos.
Amando-nos.
O mesmo velho amor...
"Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para admitir 'eu errei'. É ter ousadia para pedir 'me perdoe'. É ter sensibilidade para expressar 'eu preciso de você'. É ter capa-cidade de dizer 'eu te amo'." - Augusto Cury.
Ah! Antes que eu me esqueça: vamos adotar um filho!
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