História Destino de Guerra - Prólogo

        Destino de Guerra - Prólogo

O dia estava ensolarado, mas não um calor quente e sufocante como na maior parte do ano. A temperatura amena convidava até mesmo os enfurnados em casa a se aventurarem pelas ruas agitadas da cidade-capital do Império de Norton.

O mercado funcionava a todo vapor, com vendedores ambulantes gritando para chamar atenção dos clientes e vender os produtos à disposição. As lojas, cheias como de costume, seduziam muitas pessoas a entrarem em seus estabelecimentos apenas para aproveitar um ventinho gostoso proporcionado pela magia.

Gray Fullbuster, capitão da guarda e braço direito do rei Natsu Dragneel, aproveitava seu dia livre dos afazeres diários que o tiravam do sério e caminhava distraidamente pelas docas de Fortune. Inspirando o ar límpido, mas com um aroma salgado e de frutos do mar. Ele gostava daquela parte da cidade, principalmente pelo fato dos pescadores e da dona de um dos restaurantes litorâneos o tratarem como um ser humano comum. E não como um dos magos mais poderosos do reino.

Ele se sentia em paz, livre. E amava a comida de Kagura mais que de qualquer uma. Ela ganhava de mil a zero dos banquetes servidos no Palácio Real.

Ah, só de pensar no caldo de polvo que a mais velha preparava já deixava-o com água na boca!

Com um sorriso bobo nos lábios, continuou seu percurso solitário até avistar a fachada do restaurante. "Mermaid Heel" estava escrito em letras negras acompanhadas da logo do estabelecimento, um "M" cor-de-rosa que parecia envolto de duas fitas da mesma cor.

Sentou-se em uma mesinha no lado de fora e não demorou muito até a própria Kagura aparecer para cumprimentá-lo.

- Gray! - a morena sorriu abertamente. - Que bom te ver por aqui! Já faz um tempo desde que nos visitou pela última vez.

- É - murmurou o garoto. - Andei bastante ocupado ultimamente.

As olheiras presentes por debaixo dos olhos cansados azul-escuro como a meia-noite e os músculos tensos foram o suficiente para que a mais velha entendesse o recado e assentisse com um movimento de cabeça.

- Vou preparar o seu preferido, já volto. - disse e desfilou para dentro do prédio outra vez, desaparecendo assim que passou pela porta que dava acesso a cozinha.

Gray observou os céus. Claro e com nuvens que formavam todo tipo de formatos, dependendo da imaginação do indivíduo. Pessoas passavam por ali a todo momento, indo e vindo de todas as partes de Fortune. Risadas eram ouvidas toda hora.

Assim como comentários a respeito do reino.

Deixando-se guiar pelos instintos de capitão da guarda, Gray se pegou prestando atenção na conversa de dois homens que também acomodavam-se do lado de fora do Mermaid Heel. Um barbudo e velho, e outro jovem e de porte musculoso. A pele de ambos era bronzeada, assim como a da maior parte dos nortonianos.

- Era uma base importante. Não sei como o rei não se importou em perdê-la tão facilmente - comentou o jovem meio irritadinho enquanto cortava um pedaço do peixe frito que certamente acabara de ser pescado.

Gray revirou os olhos ao se lembrar das inúmeras, infernais e intermináveis reuniões que teve sobre a base bem ao Sul de Norton. Makro, como era chamada a pequena ilha que servia apenas de uma pequena distração para o verdadeiro poder naval do país fora tomada por rebeldes vindos de Lorhanna quatro dias antes, e acabou gerando uma tremenda dor de cabeça para o mago do gelo.

Mas Natsu realmente não ligara para Makro, muito menos enviara frotas para defender o lugar dos rebeldes. "Se não é importante, não vou me dar o trabalho de mandar meus homens para lutarem por algo tão ridículo", dissera o rei e fim de papo. Ordem absoluta, nenhuma oposição.

Ele bem que poderia ter dado esse comando antes de me fazer passar por todas aquelas reuniões chatas, pensou Gray bufando.

- Ele não se importou - começou o barbudo ao mesmo tempo que Kagura chegou com uma xícara de café e a colocou em cima da mesa, diante do Fullbuster e voltou para a cozinha. - Porque ele já possui tudo o que precisa.

Gray bebericou o café disfarçando seu interesse na conversa alheia.

- E qual seria? - perguntou o jovem.

O mais velho riu gravemente.

- Quer atingir o rei? Fazê-lo ficar louco? - o homem se virou e apontou para o Palácio Real ao longe. Tão alto e deslumbrante, que o poder que emanava da gigantesca construção feita de ouro puro e reluzente, marfim e suor de trabalho árduo poderia ser sentido daquela distância. - Dentro daquele lugar há uma prisão. Mas não como os calabouços imundos e fétidos. Não… é uma bela prisão. Uma gaiola belíssima construída exclusivamente para o bem mais precioso do rei. Sua maior joia. - ambos contemplaram a vista do Castelo. - A arma secreta do reino.

O mais jovem estampou um sorriso de malícia e perversidade. As feições de seu rosto ficaram sombrias e a voz afiada como uma lâmina.

- A rainha Lucy Heartfilia.

- A vidente lorhannita. Uma princesa roubada de seu reino apenas para servir como bichinho de estimação e escrava sexual de Vossa Majestade.

Gray encostou a xícara delicadamente quando seu prato preferido, o caldo de polvo, chegou. O Fullbuster aproveitou a comida antes de voltar ao Palácio.

E mandar prender os dois homens lorhannitas que conversavam mais cedo no restaurante.

Como se Gray não tivesse percebido a magia quase imperceptível que utilizavam para esconder as tatuagens de seus corpos, para esconder suas origens. Até mesmo o sotaque os denunciava, mesmo com a conversa que, o Capitão da Guarda tivera que aprender na marra, possuía outros significados.

Lorhannitas falavam em códigos, e por isso o Fullbuster tinha que analisar bem as entrelinhas se quisesse estar preparado para defender seu país contra os rebeldes desesperados para salvar sua princesa herdeira.

Ah, sem dúvidas Lucy era um tesouro. Um do qual Natsu não estava disposto a abrir mão, mesmo que perdesse a vida para tê-la inteirinha para si. Um Dragão que guardava sua joia com todo o seu poder e que, se perturbado, poderia aniquilar qualquer um com suas chamas ardentes sem o menor esforço.

Gray amava o Mermaid Heel. Era um dos pontos principais de encontros de opositores do governo.

Mas ele amava mais ainda torturá-los para que confessassem seus planos de ataque e próximos passos para recuperarem a escolhida dos deuses.