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História Destino de Guerra - Mau pressentimento


Escrita por: lovelain

Notas do Autor


Helloooooo!
Xe gay minha gente!
Tudo bem, demorei, já é previsível da minha parte.
Desculpa!
Enfim, eu poderia passar horas falando dos meus problemas para me justificar, mas não vou fazer isso. Vou dar logo o cap que vocês tanto querem! ^^
Sem mais delongas...
Boa leitura~

Capítulo 2 - Mau pressentimento


   O vapor que subia era uma consequência da água quente da fonte termal na qual eu me encontrava. Suspirei afundando um pouco mais na piscina natural, encostando a cabeça na beirada e observando o céu cinza e branco, sem nenhuma nuvem a vista.

Fazia parte da magia do lugar. O céu não era verdadeiro, era apenas uma ilusão criada por um feitiço simples, mas que trazia paz e conforto principalmente em dias estressantes. A água quentinha ajudava bastante na hora de acalmar os nervos e relaxar os músculos tensos.

O silêncio era minha única companhia, mas não reclamei, pois precisava dele mais do que precisava de ar para respirar.

Os preparativos para o Festival da Lua estavam me matando.

Dias e mais dias de ensaio, aprendendo e melhorando os passos da dança que eu vou apresentar na frente de milhares de lorhannitas faziam minha cabeça girar e meu estômago embrulhar. Além de conferir o coral da Casa de Leão e as apresentações individuais de cada uma das Treze Casas, eu tinha que monitorar a organização do Festival e tentar manter tudo impecável.

Coisa que não estava sendo nada fácil.

- Shaaar!* - resmunguei ao esticar as pernas bem.

O aroma agradável das flores que decoravam os canteiros da minha sala de banho particular e os incensos deixados perto das bordas da fonte termal mantinham o ambiente sereno. Muitas das flores utilizadas para enfeitar essa sala de banho são medicinais, e ajudam a acalmar os pacientes e afastar incômodos como a dor de cabeça.

Esse banheiro, o meu banheiro, é particular e apenas eu posso entrar aqui para me banhar. A primeira vista, pode ser considerado um cômodo feito exclusivamente para uma pessoa fresca que esbanja dinheiro e que mandou fazer uma sala de banho apenas para ela. Mas, o Daloon*, como é chamado e como o próprio nome já diz, foi feito para os escolhidos dos deuses manterem a paz. Um presente pelo fardo que carregam diariamente.

Ser bombardeado de visões é cansativo e desgastante, exigindo muito do usuário tanto psicológico quanto fisicamente. Então, para ao menos ter algum espaço onde possa esfriar a cabeça e se sentir zen, esse banheiro todo projetado pelos melhores magos curandeiros da antiguidade foi dado aos clarividentes para que mantivessem a saúde da alma intacta.

Esse é o motivo de ter tantas plantas medicinais no Daloon. E por ninguém mais além de minha pessoa por os pés aqui dentro: para que a paz do meu espírito não seja perturbada e se sobrecarregue, deixando-me louca.

As vezes eu acho que isso é besteira, outras (como agora), eu entendo perfeitamente o que é querer ter um momento apenas para si.

Após mais alguns minutos dentro da água, eu saí de dentro da fonte termal e me sequei com a toalha felpuda disponibiliza pela Casa de Áries.

Eles possuíam a melhor lã do mundo, e era tão macia e quentinha… Ninguém se surpreendia ao acordar no outro dia e descobrir a que a causa do sono instantâneo foi algum produto ariano.

O ônix das minhas tatuagens pareciam brilhar devido ao banho recente. Em meu braço esquerdo, o símbolo da Casa de Aquário parecia me encarar, fazendo-me sorrir com as lembranças do passado. As duas ondas desenhadas horizontal e paralelamente foram minhas segundas tatuagens. Eu as tinha ganhado assim que passei pelo Zodiac Rictuale* e descobri minha Casa guardiã, tendo a deusa Aquarius como minha patrono.

Passei pelo portal de madeira polida e caminhei pela sala de repouso (onde tinha duas camas cheias de almofadas e lençóis macios, uma grande mesa de granito, duas cadeiras, um armário e uma ampla janela que dava vista a um enorme jardim do lado de fora). Assim que saí do cômodo, caminhei por um corredor pequeno e desci dois lances de escadas até chegar no andar do meu quarto.

O corredor era mais largo, com paredes brancas que possuíam janelas de ambos os lados e castiçais erguendo velas apagadas por causa da luz que provinha do lado de fora devido ao dia ensolarado.

No fim do corredor, apenas duas portas enormes de madeira talhada com o símbolo dos treze signos do Zodíaco formando um círculo no meio de ambas eram vistas. Sem maçanetas, sem trancas, sem guardas, sem nada.

Assobiando, coloquei a palma da minha mão no centro da circunferência de desenhos e todos brilharam dourado antes de um click ser ouvido e as portas destrancarem. Assim que passei para dentro do meu quarto, um cômodo bastante bagunçado e rebelde me recebeu. E um latido também.

Olhei para baixo e Plue estava com um dos meus livros na boca. Os dentes do meu cachorro estavam cravados na capa de couro e perfuravam o papel. As páginas estavam espalhadas por toda parte, igual aos meus lençóis, minhas roupas e tantos outros pertences que eu senti vontade de chorar ao ver toda aquela desorganização.

O rabinho da pequena besta celestial balançava sem parar de felicidade e Plue me encarava animado. O mesmo largou o livro todo babado e destroçado e latiu antes de se sentar no chão. Pude jurar que um cometa passou pelos olhos pretos e brilhantes.

- Você nunca aprende, não é? - foi tudo o que falei antes de suspirar e me abaixar para alisar sua cabecinha.

Em resposta, Plue me lambeu.

Rindo, me levantei e coloquei as mãos na cintura, observando todo aquele cabaré que antes era chamado de "quarto". Minha nossa, Plue podia ser uma das menores bestas celestiais que eu invocara, mas sem dúvidas era o mais bagunceiro. O pequeno corpo era cheio de energia e a todo momento ele liberava seu poder de todas as formas possíveis, uma delas era destroçar os cômodos sempre que estava sozinho.

Isso sempre me dava dor de cabeça.

Bestas celestiais eram espíritos de constelações que poderiam ser chamados para para servir a qualquer propósito que foram incumbidos de realizar. Eles obdeciam apenas aos zarathy*, assim como também só podiam ser invocados por eles.

Como a mais nova escolhida dos deuses, eu possuía esse poder. E Plue, o Cão Menor, me fazia companhia desde que eu era uma garotinha.

As bestas podem ser chamadas dependendo do nível de poder e de treinamento do zarathy. Vai depender da reserva mágica do portador das visões o quanto ele aguenta segurar uma besta no mundo humano antes de enviá-la de volta ao Zodíaco.

Plue não necessitava de tanta magia, mas eu apenas o invoquei uma vez, quando mais nova. Desde aquele dia ele se mantém sozinho ao meu lado, extraindo do próprio poder para continuar neste plano espiritual.

Juntei minhas mãos e fechei os olhos, começando um cântico antigo. Mesmo sem enxergar, eu sabia que a tatuagem em minhas costas, um desenho de todos os treze deuses principais do Zodíaco juntos, brilhava. Mais precisamente a imagem da deusa Virgo com uma coroa de flores em sua cabeça rosada, as mãos juntas como as minhas, presas por correntes de ferro.

Lentamente, abri meus olhos, e uma mulher com o corpo brilhando fracamente - parecendo um espectro - estava ajoelhada no chão. Suas vestes eram iguais às das empregadas do castelo, mas o silêncio sobrenatural que emanava dela, juntamente a pele pálida quase rosa, faziam todos perceberam que a mulher era uma besta celestial, longe de ser humana.

E que agora aguardava ordens. As minhas ordens.

- Obrigada por vir - disse eu sorrindo ao perceber um pequeno repuxar de lábios por parte dela. - Preciso que limpe o meu quarto. Organize tudo, quando acabar, está livre para voltar ao mundo celestial.

A réplica de Virgo deu um pequeno aceno de cabeça e levantou antes de começar a limpar tudo.

Olhei para Plue.

- Que tal um passeio?

~*~

- Pelos deuses! - exclamou Juvia enquanto andávamos pelo Coração de Taurus.

O principal comércio da cidade estava a todo vapor, com lojas e barracas sendo visitadas por tantas pessoas de uma vez. Crianças brincavam, correndo de uma ponta a outra, comerciantes gritavam, pessoas riam e conversavam enquanto faziam compras, e muitas outras nos barravam para cumprimentar eu e minha irmã de criação.

Juvia piscou os olhos duas vezes antes de retornar a caminhar ao meu lado. Plue saltitava por perto e farejava os pés de todo mundo que o rodeava com curiosidade.

- Shiii! Alguém pode ouvir, Juvia!

- Shar! - exclamou mas sorriu logo em seguida. - Eu não acredito que Louina está fazendo isso!

- Ela vai fazer - eu corrigi rindo. - Tenho pena dos leoninos!

Como o Festival da Lua está chegando, cada Casa ficava responsável por fazer uma apresentação dos talentos que possuíam, e no fim, uma delas seria escolhida, através de votações, como a vencedora do Festival e ganharia a Sifra de Ouro como prêmio.

Enquanto me encaminhava até os portões do Palácio Real, uma visão me atingiu com tudo. A líder da Casa de Leão, Louina, reuniria todos os participantes representantes dos leoninos durante a noite para treinarem exaustivamente até o dia mais aguardado de Lorhanna.

A Casa de Leão sempre ganhava com sua música. O coral que preparavam surpreendia a todos a cada ano que passava por culpa da voz magnífica que possuíam, além dos dons natos que tinham quando o assunto era arte. E aposto todas as minha joias que Louina gostaria de ganhar pela terceira vez consecutiva a competição. Eu sabia que era por puro orgulho. Leoninos eram os seres de maior ego inflado que havia conhecido, e não aceitavam numa boa as palavras "não" e "derrota".

A única falha no plano da líder dos leões era o fato de muitos acabarem sem voz no dia do Festival.

Não precisava ser um zarathy para se chegar a essa conclusão.

- Parece que dessa vez ela não vai sair com a Sifra de Ouro - Juvia riu baixinho. - Talvez a Casa de Aquarius tenha a chance de ganhar dessa vez! - a azulada se animou e concordei com ela. - O maior problema é a Casa de Serpentário…

- Como assim? - indaguei curiosa.

Juvia emitiu um estalo com a língua.

- Pelo que ouvi, eles estavam brincando com suas poções e criando misturas extraordinárias para fazerem um show e tanto. - a garota bufou irritada. - Malditos alquimistas!

- Hey, calma! - eu ri. - Não é como se simples poções fossem ganhar o festival! Você por acaso ouviu falar dos preparativos da Casa de Gêmeos?

As sobrancelhas azuladas de Juvia se ergueram e ela parou subitamente.

- Não…

- Exatamente. Ninguém sabe o que aqueles loucos estão planejando! - balancei as mãos. - Podem muito bem vencer com o segredinho deles!

Juvia franziu o cenho e levou uma das mãos tatuadas até o queixo, pensando.

- Seria ótimo se você descobrisse por nós. - ela sugeriu.

Ri com escárnio.

- Se eu tivesse controle sobre as visões, já teria escolhido nunca mais ser acertada por elas.

Juvia deu de ombros e voltou a caminhar. Porém, eu percebi os músculos tensos graças ao meu comentário/desabafo.

- Acho que eu tomaria a mesma decisão. - revelou com cautela.

- Realmente.

O resto do percurso foi preenchido por nossas opiniões a respeito do evento que logo aconteceria. Depois de deixarmos o Coração de Taurus para trás - com direito a uma pequena pausa para comprar doces - seguimos até o Quarteirão de Loki para assistirmos a uma peça que estava em cartaz havia duas semanas. Como princesa herdeira e organizadora de datas festivas, eu não consegui um tempinho para ir ao teatro, e estava mais que realizada ao sair da enorme construção dourada com um sorriso bobo nos lábios e lágrimas escorrendo pelo rosto vermelho após assistir a trama.

O enredo se resumia, basicamente, em uma garota dividida entre salvar seu país de origem, ou ficar com seu amado e viver com ele para todo o sempre. A história terminava tragicamente com o amor da vida dela morto e seu lar reduzido a cinzas. Tudo isso por causa de uma decisão errada que foi tomada pela heroína da história.

Era dramático, porém belo se você enxergar através de outra concepção. A protagonista estava diante de uma escolha perigosa e mortal, e como qualquer ser humano, ela erra. E toda ação realizada gera consequências, mesmo que sua intenção fosse inteiramente proteger as pessoas que você ama.

No fim ela perdeu tudo. Mesmo que quisesse fazer apenas o bem.

Juvia e eu seguimos até um restaurante que ficava nos arredores da Praça de Aries com um Plue agitado em nosso encalço. Por incrível que pareça, a pequena bola de pelos se manteve quieta durante toda a apresentação, e eu suspeitava que toda a sua concentração repentina na cadeira ao lado era por causa do pacote de biscoitos que uma garotinha da Casa de Escorpião, julgando pelo pequeno desenho ônix em sua clavícula, segurava e de vez em quando atirava um para Plue.

Nunca vi cão mais interesseiro que aquela coisinha encrenqueira.

Logo um prédio rosa bebê, com detalhes perolados, apareceu em nosso campo de visão. O estabelecimento em questão, o Jannas, fora construído na esquina da Praça de Aries, e sua faixa de entrada ficava em frente à grande fonte da praça com uma estátua representando a deusa jorrando água bem no centro do laguinho.

Mesas estavam postas do lado de fora, tanto na lateral, quanto na frente. Risadas eram ouvidas e eu e Juvia nos aproximamos calmamente. As conversas foram cessadas quase que instantaneamente quando vários pares de olhos se voltaram para os dois membros da família real se aproximando enquanto riam de banalidades.

Eu e Juvia paramos e observamos a todos. Nossos olhos avaliando minuciosamente a reação de cada indivíduo em particular.

O primeiro sorriso dirigido a nós duas foi por um garoto de cabelos pretos com uma tatuagem no pulso indicando que o mesmo fazia parte da Casa de Serpentário. Retribui o sorriso assim que o mesmo se levantou e fez uma referência um tanto exagerada e eu acabei rindo no mesmo tempo em que Juvia revirava os olhos. Todos fizeram a mesma coisa em seguida.

- Bem-vindas, Altezas - disse debochado o homem, e seu olhar vermelho recaiu sobre mim, avaliando-me por inteira antes de dar um sorriso sacana.

Não consegui mais segurar nenhum centímetro do meu corpo antes de correr e me jogar nos braços daquele idiota.

Rogue não perdeu tempo antes de beijar meus lábios com paixão e segurar minha cintura delicada e firmemente.

- Você veio! - disse eu extremamente feliz e sorrindo de orelha a orelha quando nos separamos.

- Eu disse que não perderia o Festival por nada neste mundo. - o moreno sorriu também e me deu um selinho demorado.

- Caham! - um coro de vozes nos interrompeu. Eu e meu prometido nos viramos lentamente e sorrimos nervosos, envergonhados pela platéia.

Juvia, Gajeel, Levy e Cana nos encaravam entediados. Diferente deles, os outros lorhannitas do lado de fora sorriam abertamente. Dei um aceno a todos antes de me sentar.

Nós cinco almoçamos aqui desde que éramos pirralhos, e Rogue, como meu amante (agora noivo), passou a frequentar o estabelecimento sempre que visitava Lorhanna.

O moreno era o herdeiro do trono de Margtra, nosso vizinho do oeste. Nossos países possuem uma aliança muito forte desde os tempos antigos e agora, com nosso casamento, essa aliança vai melhorar significativamente.

Os outros, como por exemplo: Cana, da Casa de Áries, e Juvia, da Casa de Aquário, são minhas irmãs. Ambas de consideração. Cana foi adotada pela família real quando tinha dez anos, e eu e Juvia crescemos juntas.

Gajeel, um dos meus melhores amigos, era o Capitão da Guarda de Lorhanna e segundo no poder na Casa de Touro. Além disso, era o marido da pequena Levy. A traça de biblioteca da Casa de Capricórnio.

Levy possuía uma memória incrível, e era uma das mais importantes conselheiras da família real. Uma das minhas damas de companhia, também.

- Ficamos felizes que os pombinhos estejam juntos outra vez, mas… - começou Cana esboçando uma careta. - Deixem para se pegar no escurinho do quarto.

Gajeel e Juvia soltaram uma gargalhada alta enquanto Levy e eu ficamos vermelhas. Rogue apenas balançou a cabeça, meio constrangido.

- Pelos deuses - a azulada menor exclamou. - Falem mais baixo, por favor. Estamos em público!

- E…? - questionou Juvia com um sorriso felino. - Estamos apenas conversando como qualquer grupo de amigos faria!

- Vocês não tem jeito - murmurou Gajeel ainda rindo.

A conversa seguiu animada enquanto esperávamos nosso almoço chegar. A dona do Jannas, senhora Rubell, era uma mulher na faixa dos quarenta anos. Graciosa como todos da Casa de Libra, mas meio atrapalhada quando nervosa. Era uma boa pessoa e acho que por causa dessa tranquilidade que a mais velha emanava por onde passava, que o Jannas era um dos melhores e mais famosos restaurantes de Quinn (nossa cidade-capital).

Eu a conhecia desde que me entendia por gente.

Como sempre, a mesma veio nos receber carinhosamente, e não tardou a chegar com suas obras de arte que balançavam o paladar de todos que provavam de sua comida.

Sério, o carneiro que ela preparava era divino!

E até mesmo Plue recebeu sua ração especial.

Dividida entre o ensopado de carneiro e o camarão ao molho das Argilhas, com um toque de caranguejo da estação, acabei por colocar ambos no meu prato.

Foi então que percebi o olhar de Rogue sobre mim. Ergui uma sobrancelha e terminei de mastigar o camarão em minha boca antes de perguntar:

- O que foi?

Rogue deu um sorriso de canto.

- Nada. É que… - ele segurou uma mecha do meu cabelo e brincou com os fios loiros. - É que eu acho que vai ser difícil para você quando nos casarmos... Quer dizer, você vai sentir saudades daqui, do Jannas, dos seus amigos. De Lorhanna. - corei e virei-me para frente enquanto sorria nervosa e tomava um gole do meu suco de morango, como se aquilo fosse diminuir a tensão que se formou.

Voltei a encara-lo.

E eu vi a tristeza e compreensão em seu olhar avermelhado.

Segurei sua mão que brincava com meu cabelo delicadamente e dessa vez, sorri sincera para acalma-lo.

- Vai ser só por uns três anos. No máximo quatro, antes de nós retornarmos. - ele prestava atenção em cada palavra minha. - Vamos governar nossos países aqui, como combinamos. E mesmo que dê tudo errado… Ei, vamos estar juntos e felizes!

Os olhos do meu noivo brilharam e eu depositei um beijo carinhoso em sua bochecha.

- Koj ashu'mat* - sussurrei em lumino.

- Koj shan ashut'mat* - sussurrou de volta em minha língua nativa.

~*~

Eram mais ou menos umas cinco e meia da tarde. Eu e Rogue andávamos calmamente em uma das ruas no Quarteirão de Loki. As lojas estavam abertas, mas não eram tão agitadas como no Coração de Taurus. O ambiente aqui era mais pacífico.

As luzes dos postes já estavam acesas, e podia-se ouvir que, em algum lugar, alguém tocava um violino perfeitamente. A melodia ecoava nas proximidades e eu movimentava minha cabeça no ritmo calmo da música.

Os dedos de Rogue estavam entrelaçados aos meus. A mão dele estava quente, e aquele calor era reconfortante, passando a sensação de segurança que eu precisava para encarar toda aquela carga pesada das últimas semanas. O céu alaranjado acima de nós dois dava o ponto final para tornar aquele momento maravilhoso.

Quando enfim paramos, estávamos perto da ponte que interligava o Quarteirão de Loki com a Jarra de Aquarius. O rio corria sereno logo abaixo, com peixes transitando de um lado para o outro na água quase transparente de tão clara que é.

Bem na nossa frente, um café acomodava um homem com um violino. Graças a camisa sem mangas, podia-se ver claramente a tatuagem em seu ombro direito indicando que o mesmo era da Casa de Leão. Um grupinho de pessoas estavam sentadas em torno dele, outras, nas mesas ao redor, mas todas apreciavam em silêncio o som melódico.

- Tentei aprender a tocar uma vez, quando tinha onze anos - confessou Rogue em baixo tom. - Mas depois de um mês fazendo todos no palácio sofrerem com sangramentos nos ouvidos, eu desisti e passei para as aulas de piano.

- Sério? - disse eu surpresa.

- Seríssimo. - confirmou com as bochechas meio avermelhadas de vergonha.

Sorri.

- Pensei que príncipes fossem perfeitos em tudo. - provoquei.

- Aparentemente, este aqui não é. - ele cutucou meu ombro e devolvo com uma cotovelada leve em suas costelas.

Ambos rimos e Rogue me guiou para mais perto do café. Porém, eu parei bruscamente assim que passamos por um jarro depositado na janela de uma casa, e nele estava plantado uma Sifra.

Encarei as pétalas de um azul royal intenso e parecia que a flor me encarava de volta. Rindo com deboche enquanto o cheiro de café torrado me atraia como uma luz atrai uma mariposa desavisada.

Sifras eram plantas mágicas nativas de Lorhanna. E elas não possuíam um aroma fixo, ou seja, seu perfume variava de pessoa para pessoa. As Sifras eram encantadas para aparecer com um cheiro diferente para todos. Como eu, que antes sentia o odor de torta de maçã e mel, no mesmo tempo em que Rogue poderia sentir outro aroma totalmente diferente.

Mas agora… Agora eu sentia cheiro de café torrado.

E a explicação disso me assustava muito.

Sifras também poderiam mudar seu perfume ao longo dos anos para o indivíduo. Quando isso acontecia e uma pessoa passava a sentir outro cheiro, na maioria das vezes significava que aquele era o perfume de sua alma-gêmea.

E que estava muito próximo do momento de ambos se encontrarem.

Minhas pernas ficaram bambas, assim como minhas mãos passaram a tremer. Meu coração acelerou nas batidas.

O que aquilo significava? Poderia ser que…?

Não. É impossível! Certo?

Eu passei tanto tempo encarando a planta que não percebi Rogue me chamando. Sua voz parecia distante, como se ele estivesse gritando para mim de uma longa distância.

Só recobrei os sentidos quando meu noivo me chacoalhou desesperado.

- Lucy? Lucy! - pisquei ao fitar os rubis que eram seus olhos. Ele pareceu relaxar um pouco. - Lucy, está tudo bem? É outra visão?

Balancei a cabeça devagar. Eu o encarava sem desviar.

- Rogue, me tira daqui. - foi tudo o que respondi.

Ele apenas assentiu uma vez antes de passar um braço em torno dos meus ombros e me puxar pelas ruas de Quinn.

- Vamos voltar ao castelo.

Eu não falei mais nada. Ainda estava muito aterrorizada para pronuciar qualquer outra coisa. Perguntas rodavam a minha mente. Muitas com o "e se…" de início.

Eu não queria pensar em nenhum "e se". Não podia pensar.

Logo chegamos ao Palácio Real, e os guardas abriram os portões rapidamente. Todos nos deram boa noite, e Rogue os cumprimentou por mim. A partir dali as coisas se passaram tão rápidas que eu não me lembrava de como tínhamos chegado às portas do meu quarto.

- Bem, está entregue. - murmurou o moreno. - Tem certeza que está tudo bem?

Coloquei a palma da minha mão na madeira e esperei as portas se abrirem após o click. Fitei o rosto do meu noivo com atenção.

Eu iria casar. Governar, ter filhos e uma vida inteira com ele. Com Rogue. Não com outra pessoa.

Eu estava apaixonada pelo herdeiro de Margtra. E nunca iria me separar dele.

Balanço a cabeça levemente e expulso todos os pensamentos negativos que estavam me assombrando desde momentos atrás até agora. Sifras mudam de aroma. Não significa necessariamente que é minha alma-gêmea que está por vir.

Pelo menos, eu espero que não.

Rogue Cheney continuou a esperar por minha resposta, e tudo o que fiz foi beijar seus lábios e o puxar para dentro do meu cômodo (que agora se encontrava arrumado graças a besta celetial de Virgo).

O moreno segurou minha cintura de um jeito firme, nos aproximando e aprofundando o beijo. Cedi passagem a sua língua assim que o mesmo pediu e enlacei seu pescoço, brincando com os fios sedosos e negros.

- Não sabia que estava querendo isso - sussurrou entre um beijo e outro.

- Fale menos, me satisfaça mais. - retruquei como ordem.

Ele riu e me deitou carinhosamente nos lençóis da cama. Rogue beijou meus lábios outra vez antes de seguir uma trilha lenta, desde o maxilar até o lóbulo de minha orelha. Quando ele mordiscou o local, eu suspirei sorrindo e puxei a barra da sua túnica preta.

Não perdemos tempo com preliminares. Mas as coisas se tornaram complicadas principalmente por seu perfume ter um leve aroma de baunilha.

Ainda sim, foi uma das noites mais perfeitas da minha vida.

~*~

O corredor era negro e as paredes eram todas feitas de obsidiana. A pouca luz provinha de dois castiçais segurando uma vela cada, e ambas estavam quase no fim. Além de ser um breu, o ar era úmido e frio, contribuindo para o mau pressentimento crescente por cada centímetro do meu corpo.

Olhei ao redor. Mas, atrás de mim, apenas escuridão me recebeu. E com certeza eu não seguiria para aquele lado. Porém, eu também não gostaria de seguir adiante…

Não tive outra escolha a não ser dar um passo para frente.

E mais um. E outro.

Cinco passos e o frio na espinha, aumentou gradativamente. Sem falar do embrulho no estômago que me deixava com uma ânsia de vômito a cada dois segundos.

Seis, sete, oito e degraus de pedra cinzenta surgiram em meu campo de visão, descendo em espiral para baixo. Eu não tropecei por pouco neles. Agradeço a uma luz fraquinha que vinha lá de baixo que iluminou o suficiente para que eu não saísse rolando escadaria abaixo.

Engoli em seco antes de descer.

E, como se estivesse em uma peça de terror, um grito foi ouvido. Era um grunhido de dor e sofrimento, alguém clamando por misericórdia através do fino grito.

Meu coração se apertou quando essa mesma voz pronunciou algo incompreensível, e eu soube que era uma garota. E doeu mais ainda quando percebi que ela falava em lumino.

Minha língua nativa.

Meu coração pareceu pulsar mais rápido e minha respiração acelerou como um leopardo correndo atrás da presa.

Desci as escadas praticamente voando. Apenas para me deparar com um corpo pequeno acorrentado a uma parede de pedra preta.

O vestido, antes branco, estava enlameado e em farrapos. Sangue contribuía para a imundície, e sua fonte nada mais nada menos era o corpo moreno da jovem garota acorrentada.

Cortes se espalhavam por ela toda, uns mais profundos que os outros. Assim como marcas roxas, como se a menina tivesse sido feita de saco de pancadas.

Ela estava ofegante, e tremia como um animal molhado da cabeça aos pés.

Quase vomitei no chão.

A sua frente, um corpo alto e musculoso, vestido todo de preto, estava de pé. A pouca iluminação forneceu apenas parte do seu rosto, mas foi o suficiente para que eu conseguisse distinguir o cabelo escuro, a pele pálida e os olhos azuis frios como gelo.

Era uma máscara gélida, concluí com certo terror.

O homem estava parado e encarava indiferente a garota em estado crítico. Parecia até mesmo se divertir um pouco.

- Vou perguntar apenas mais uma vez - sua voz grave parecia uma lâmina feita de gelo, e eu suspeitei seu corpo todo emanava o elemento. Como se a própria alma do desconhecido fosse feita de água sólida. - Onde ela está?

A menina não respondeu, apenas se encolheu. E eu vi o símbolo da Casa de Peixes em seu tornozelo magro. Segurei as lágrimas com força.

O moreno estalou a língua e se aproximou calmamente, se abaixando ao lado da garota e olhando em seus olhos amedrontados.

- Responda. Ou então vai comer terra como seu amiguinho bastardo. - um sorriso felino e sádico.

Em resposta, a jovem cuspiu sangue no rosto do homem.

Eu rezei por ela quando ele se levantou com ódio fervilhando em suas feições.

E desferiu um chute em seu estômago.

O impacto foi tão forte que até mesmo eu consegui sentir a dor. O chiado que a mesma soltou, juntamente ao sangue que vomitou me fez querer correr para longe.

- Vadia desgraçada - rosnou o homem.

- Koj ashu'khomat* - disse sofregamente a prisioneira. - Barna to fore yo Heinno!*

Então ela sorriu. Mesmo encarando a morte cara a cara, mesmo com o corpo todo maltratado e mesmo que estivesse sangrando, a pisciana sorriu debochada e desafiadora.

Era uma clara mensagem de que não trairia seu povo, mesmo que isso custasse a sua vida. E eu senti orgulho da garota. Ela era forte.

Eu iria honrar sua morte. Como um gesto de agradecimento pelo que fez. E também um gesto solidário pelo que está sofrendo, ou melhor, pelo que vai sofrer.

Porque aquilo era uma visão do futuro.

Como se a jovem soubesse que acabara de assinar sua sentença de morte, ela riu com escárnio e deixou todas as lágrimas caírem.

O moreno não pareceu se importar, virou-se agitado e encarou algum ponto em particular. Custou seguir seu olhar, e cambeleei para trás quando percebi outra figura masculina encostada na parede paralela à da prisioneira. A silhueta era igualmente forte, o corpo era alto e escondido por, pela pouca luz do ambiente, eu consegui ver que era por uma túnica preta com detalhes vermelhos.

Os braços estavam cruzados, e continou assim mesmo quando o segundo homem se movimentou e se aproximou da tocha ao meu lado.

A pele era bronzeada, e o rosto era assustadoramente lindo. As feições eram inexpressivas, e o olhar, de um verde tão escuro que parecia ônix, eram intensos. Os cabelos eram de um exótico cor-de-rosa, mas combinavam perfeitamente com o desconhecido.

Eu não sabia se a causa da temperatura ter subido era culpa dele. Mas o rosado parecia emanar fogo, os olhos pareciam queimar como duas fogueiras vivas.

Por algum motivo, algo dentro de mim se agitou, e eu não conseguia desviar o olhar dele.

- Ela não vai falar. - a voz, que voz, me aqueceu. Era sedutora, e erradiava perigo. Me atraiu de certo modo, e meu sangue parecia responder ao seu timbre rouco.

Ele parecia ter passado muito tempo em silêncio.

Mas eu esqueci rapidamente daquele efeito estranho quando o rosado deu um comando gélido.

- Mate-a.

Ele se virou e seguiu pela escada na qual eu entrara naquela câmara de tortura. E seus passos foram sumindo a cada degrau que o mesmo subia.

O moreno que sobrou sorriu de um jeito sádico e encarou a menina.

- Somos apenas eu e você agora.

Ele apontou um dedo pálido como a lua em sua direção, e a garota gritou de dor quando o pulso dela de abriu e sangue jorrou. O que me assustou foi o fato do carmesim virar gelo e eu caí de joelhos no chão quando percebi o que o homem estava fazendo.

Ele estava congelando todo o sangue dela. Bem lentamente, enquanto se deliciava com os grunhidos desesperados da pisciana.

Feridas eram abertas, e quando o sangue escorria ou esguichava para fora, rapidamente se tornava uma lasca de gelo bastante afiado.

E foi subindo pelos dois braços e pernas, até chegar na caixa torácica, que foi aberta por lâminas de gelo vindas de dentro da menina.

A mesma só coseguia gritar e gritar até soltar um último ruído, que ela deu quando a garganta foi arrebentada por um espinho grosso de gelo.

O corpo falecido, que mais parecia uma almofada de alfinetes, caiu de lado.

Morta. Ela estava morta.

O carcereiro limpou uma poeira invisível do ombro e se virou para ir embora. O rosto não exibia nada, e confirmei que ele era um mago do gelo. Não pelo que acabara de mostrar, mas pelo espírito ser tão sem coração quanto um cubo do elemento em questão.

Ele era um assassino sem remorso algum.

Minha visão se tornou embaçada, e eu pisquei repetidas vezes até desmaiar.

Acordei desesperada e com o corpo suado. Ofegante e trêmula. Demorei até entender que estava no meu quarto. Sozinha.

A grande janela a minha esquerda permitia que a luz da lua iluminasse o ambiente escuro, e me levantei cambaleando. Sentei-me no sofá que havia embaixo do vidro e me encolhi observando o céu noturno.

Tinha sido uma visão. Uma visão horrível.

Há dois dias atrás, descobri que a Sifra havia mudado de aroma para mim. Ontem, meu noivo teve que partir para seu país às pressas por causa de uma ameaça estranha vinda do sul de suas terras…

E agora isso. Uma premonição sangrenta.

Algo muito ruim estava prestes a acontecer, e quando concluí isso, meu corpo pareceu tremer mais ainda.

A verdade me atingiu como um soco na boca do estômago.

Estavam caçando lorhannitas.


Notas Finais


Daloon - Salão da Paz
Shar - grunhido que pode significar insatisfação ou frustração. Irritação.
Zodiac Rictuale - Ritual do Zodíaco
Zarathy - clarividente
Koj ashu'khomat - "eu odeio você"
Koj ashu'mat - "eu amo você"
Koj shan ashut'mat - "eu também te amo"
Barna to fore yo Heinno - "queime no fogo do Inferno"
Acho que não esqueci de nada...
Enfim, esse foi o cap e espero que tenham gostado! ^^
Até a próxima!


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