História Destino incerto - O garoto verde

 Já fazia um mês que eu treinava todos os dias depois da aula na base secreta do projeto Titãs. Primeiro meditação, para me concentrar e deixar de lado todas as emoções que eu acabava acumulando depois de uma manhã rodeada de pessoas na escola; depois luta, em uma incrível sala de treinamento que podia simular quase todo tipo de ataque, além de treinar sozinha eu treinava em equipe, algo que eu nunca imaginei que faria; e por fim muitas pesquisas. Eu chegava em casa muito tarde todos os dias. Ainda não havíamos achado nem sinal do que quer que tenha acontecido com minha mãe, e também não tínhamos avançado tanto nas pesquisas sobre a profecia, mas estar fazendo algo para combater esse destino que tinha sido jogado sobre mim me dava forças pra continuar minhas buscas.

O primeiro dia na base tinha sido a maior surpresa da minha vida, um complexo super tecnológico escondido fora dos limites de Gotham e que treinava os adolescentes mais improváveis para ser super heróis. Uma alienígena super forte e bronzeada de cabelos rosa que soltava laser pelos olhos e mãos, um garoto magrelo que comia muito e era muito rápido, uma garota com asas que encolhia e soltava raios de algum tipo de soqueira que usava nas mãos e um garoto de cabelos compridos que respirava em baixo d’água e conversava com os peixes. Claro que eles faziam mais do que isso e lutavam muito bem, mas acho que dá pra entender assim.

A melhor coisa sobre isso é que eu já chamava alguns deles de amigos. E eu pude contar com a ajuda da Kori e da Karen pra despistar o Garfield na escola. Coisa que não era muito fácil, já que ele estava determinado a ser meu amigo e ficar perto de mim e ter outra chance de ficarmos juntos. Ele era o principal motivo da meditação ser a primeira coisa que eu fazia sempre que chegava na base, ficar perto dele e não ter ele me matava por dentro, mas os pesadelos não me deixavam esquecer o motiva de eu ter me afastado dele. Toda noite eu arrancava o coração dele e via o sangue dele escorrer das minhas aos enquanto sorria, e toda madrugada eu acordava gritando quando os demônios começavam a devorar o corpo dele.

As aparições de seres demoníacos por Gotham estava cada vez mais freqüente, e mesmo com a ajuda de Robin era cada vez mais difícil enfrentá-los. Minha convivência com Robin estava melhor, ele pediu desculpa pelo que aconteceu na festa na casa do Garth, e eu senti que ele estava sendo sincero, então decidi deixar isso pra trás, mas deixei bem claro que a Kori merecia alguém que não fosse tão babaca quanto ele, ele não gostou disso, mas não disse que eu estava errada. O Robin é quem tem me deixado a par das investigações do Batman, já que eu nunca mais encontrei com ele, ele está sempre ocupado, ou viajando, ou a serviço da Liga, mas eu acho que ele está na verdade escondendo informações de mim. Talvez ele tenha percebido que a profecia não pode ser parada e está descobrindo uma forma de me deter quando chegar a hora.

Uma coisa me deixou muito curiosa quando eu conheci todos que treinavam aqui na base, o garoto verde que se transformava em animais não estava aqui. Depois de alguns dias eu não resisti a curiosidade e perguntei sobre ele ao Victor.

- Victor, posso te perguntar uma coisa?

- Claro Rae, fala aí.

- Esses são os únicos jovens com poderes aqui em Gotham?

- Depende do motivo da sua pergunta. – ele disse com uma cara de curiosidade.

- Nada. Só curiosidade.

- Quem você conheceu que acha que devia estar aqui?

- Ninguém. É só curiosidade mesmo.

- Agora vai ter que me dizer Rae. Ou quem vai morrer de curiosidade sou eu!

Bufei irritada antes de falar.

- Um garoto verde que se transformava em animais, eu encontrei ele em cima do prédio Wayne esses dias. Não sei qual a extensão dos poderes dele, foi um encontro ao acaso e muito rápido em um dia que eu não estava muito bem. Eu sinto que já o encontrei antes, mas não consegui reconhecê-lo, não era mesmo um bom dia pra mim. Depois disso nunca mais o vi.

- Hmmm...

- Você o conhece?

- Sim. Os poderes dele são bem impressionantes se quer a minha opinião.

- Então porque ele não está aqui? Treinando para ser herói?

- Por que ele não se vê como herói. Acha que o que tem é uma maldição, que só serve para ser uma aberração em um circo. Ele passou por muita coisa e sofreu muito por causa da mutação, eu nem sabia que ele usava os poderes. Esse garoto faz o possível para escondê-los e tentar ter uma vida normal.

- Eu entendo ele. Se eu tivesse a chance de esconder minha maldição e ter uma vida normal, eu não pensaria duas vezes antes de fazer isso.

- Sabe Ravena, nem sempre o que parece ser uma maldição precisa ser algo ruim. Você precisa ver o que de bom tem nisso tudo, quem está ao seu lado e ama você apesar de tudo. Coisas ruins às vezes trazem coisas boas junto. Pense nisso, ok. – ele disse antes de se afastar pelo corredor.

Eu fiquei pensando nisso por um tempo, mas não acho que essa maldição tenha me trazido qualquer coisa de bom até hoje. Eu sou só uma bomba relógio ambulante, com uma chance infinitamente microscópica de descobrir qual o fio certo a ser cortado antes de destruir tudo a minha volta.