História Destino incerto - Conversa

- E então, quando eu fiz 15 anos eu fui enviada para a terra, pois eu era um perigo para Azarath, e por mais bondosos que os monges fossem eles não tinham mais permissão de me acolher ali. Eu vim pra terra arrumei um lugar pra morar e por insistência da minha mãe entrei no colégio, ela permaneceu lá, pesquisando com a ajuda dos monges. Mas infelizmente ela desapareceu, e as pesquisas dela também, eu não sei se ela fugiu ou foi raptada pelos servos de Trigon, eu só sei que eu to apavorada por não poder falar com ela sobre tudo que tá acontecendo. E essa é minha história.

Eu estava encolhida no sofá, não conseguia olhar pra ele, ele não tinha me interrompido em momento algum, apesar de ter ouvido ele engasgar em algumas partes da história. Talvez ele estivesse em choque e fosse gritar e sair correndo daqui a pouco. A ansiedade estava me matando. Quando eu reuni toda coragem que me restava e comecei a levantar meu rosto pra olhar pra ele senti dois braços fortes me rodeando e me puxando para o melhor abraço do mundo. Eu nem sabia que precisava tanto desse abraço até estar nele, o calor confortável, o cheiro de lavanda do meu sabonete misturado ao cheiro doce que ele, de alguma forma, naturalmente tinha e a respiração calma, que eu ouvia por estar com o ouvido encostado no peito dele, me faziam tão bem que eu comecei a chorar. As lágrimas caiam silenciosas e aos poucos o peso que eu sentia no meu peito foi diminuindo, não era um choro desesperado, era mais como se a barreira que eu construí durante toda minha vida fosse se desmanchando vagarosamente.

- Eu sei que não tem como eu entender tudo que tu passou Rae, mas eu quero que tu saiba que eu vou estar do seu lado sempre, e não vou deixar nada, nem ninguém machucar você. – ele falou calmo beijando meus cabelos. - E eu quero te ajudar em tudo que eu puder.

Respirei fundo, tentando me acalmar e conter o mar de lágrimas que saia dos meus olhos, antes de levantar meu rosto e olhar pra ele.

- Obrigada. Por me ouvir e não fugir de mim.

Ele segurou meu rosto, limpou as lágrimas que ainda caiam e me deu um selinho.

- Eu nunca fugiria de você. Você é a garota mais maravilhosa que eu já conheci. – ele disse olhando nos meus olhos. – Um pouco complicada, eu admito, mas maravilhosa. É por causa de tudo isso que você quis terminar comigo?

- É. – falei desviando meus olhos dos dele. – Eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse com você. E se Trigon souber quão importante você é pra mim ele pode tentar te usar pra me atingir. Esse demônio que enfrentamos hoje é um dos servos dele, ele não pode se manifestar no plano terrestre, mas pode enviar esses monstros, e não é a primeira vez que eles aparecem. Toda semana eu tenho lutado contra eles, eles querem me levar até o mestre deles para me manter presa até a hora do ritual. Existe um chance, bem grande na verdade, de eles terem levado a minha mãe, e estarem mantendo ela presa para usá-la como forma de me forçar a me entregar. Imagina o perigo que você correria se ele soubesse de você? Ou melhor, o perigo que você está correndo agora!

Olhei pra ele preocupada, eu não queria que ele estivesse nessa situação, eu queira ele seguro, e agora ele tinha um alvo nas costas.

- Não se preocupa comigo Rae, eu vou ficar bem. – ele disse tentando me acalmar. – Eu vou te ajudar a lutar contra esses demônios, e a lutar contra o seu pai também se for preciso. E eu queira muito que você tivesse me contado isso ao invés de decidir que terminar comigo era melhor pra mim, sério Rae, como é que ficar sem você pode ser bom pra mim?

- Sobre isso, eu acho que preciso te contar uma coisa. – falei constrangida. – A Tara só estava tentando me ajudar quando te beijou naquela festa. Na hora eu surtei e fiquei muito mal mesmo. Mas eu tinha pedido pra ela me ajudar a me afastar de você, porque eu não queria te colocar em perigo, e ela disse que eu devia conversar contigo, mas eu estava tão preocupada. E então ela fez aquilo, e foi a oportunidade pra te tirar da bagunça que é a minha vida, porque eu nunca teria força pra me afastar de você sozinha.

- Então quer dizer que você não conseguiria se afastar de mim? – ele falou mexendo as sobrancelhas e dando um sorriso sedutor, me fazendo rir pela primeira fez em dias. – Mas falando sério, da próxima vez ouça os conselhos dos seus amigos.

- Vou ouvir. – respondi com um sorriso.

Eu me sentia tão bem nesse momento, era como se em meio ao tempestuoso mar que me rodeava eu tivesse achado uma ilha de calmaria e felicidade que era estar nos braços dele. O perigo ainda estava ali, e agora ele estava em um perigo maior, mas eu sabia que enfrentaríamos isso juntos e o que quer que acontecesse a partir dali eu não estaria sozinha, e isso me fazia sentir mais forte.

Coloquei minhas mãos no rosto dele e o puxei para um beijo calmo, sentia seus lábios macios e quentes com um leve sabor de camomila e mel, do chá que havíamos tomado, aos poucos aprofundamos o beijo e minhas mãos foram pra nuca dele, enroscando meus dedos no cabelo loiro, enquanto as mãos dele desceram pra minha cintura. Nos separamos quando o ar se fez necessário e encostamos nossas testas ainda de olhos fechados.

- Eu te amo Rachel. E nada nesse mundo vai conseguir me afastar de você outra vez.