História Destino incerto - Festa

A semana passou se arrastando, foi difícil, mas eu consegui me manter distante de Kori  praticamente todo o tempo. Preciso pensar em mais desculpas para a próxima semana, pelo menos até ela desistir de tentar ser minha amiga. Com aTara foi mais fácil, só precisei dizer que estava com sono e ela me deixou em paz. Acho que o Richard, namorado da Kori, ficou aliviado de eu não ter mais almoçado com eles, devia estar preocupado de ser visto com alguém esquisita como eu. Não fui com a cara dele, um playboizinho sem noção que se acha melhor que os outros. Mas finalmente um fim de semana de paz, livros, chá e tranqüilidade. Não consegui evitar sorrir com essa perspectiva maravilhosa de tempo só pra mim.

O telefone tocou e eu atendi automaticamente, minha felicidade tão evidente que podia ser percebida pela tom da minha voz.

- Alô!

- Oi Rachel! Que bom que está animada, as 22:30 eu passo aí na sua casa. A festa de volta as aulas vai ser demais!

Conforme eu ouvia a voz da Kori meu sorriso ia murchando, eu não acredito que ela vai me arrastar pra essa maldita festa na casa de alguém que eu não conheço, cheia de gente estranha, que vai ficar me olhando torto por eu estar onde não deveria.

Antes que eu tivesse tempo de dar uma desculpa qualquer para ficar em casa, Kori terminou e de falar e desligou.

- Nos vemos logo, se vista pra arrasar e eu não quero ouvir desculpas para perder uma sexta a noite. Beijinhos!

Desabei no sofá pensando em uma maneira de me livrar dessa festa sem parecer uma pessoa horrível. Mas do que é que eu estou falando? Eu sou meio demônio, quem liga se eu pareço uma pessoa horrível. Peguei o telefone e mandei uma mensagem para Kori.

“Eu não estou a fim de ficar no meio de um monte de desconhecidos em plena sexta a noite. Não existe a menor chance de eu ir nessa festa. Beijinhos. Divirta-se e comporte-se.”

Ela me respondeu com uma carinha piscando e eu me senti aliviada. Finalmente paz. Fiz um chá e liguei pra minha mãe. Ela estava super ocupada, então só deu tempo de dizer que estava tudo ótimo na escola e que eu ia passar o fim de semana em casa, talvez meditar um pouco. Me senti um pouco culpada por dizer que estava tudo bem, mas se eu contasse dos pesadelos que estava tendo ela ia se preocupar e vir correndo me ver, e eu sei que não é seguro para ela sair de Azarath, e lá ela pode pesquisar mais e talvez até achar um meio para eu escapar da profecia.

Tomei um longo e relaxante banho e vesti uma camiseta velha e uma calça de pijama. Acendi um incenso e me sentei para meditar um pouco, esse excesso de sentimentos constantemente a minha volta não tem me feito bem, e o que eu menos preciso no momento é ter meus poderes descontrolados. Repetindo meu mantra senti que começava a levitar.

- Azarath. Metrion. Zinthos.

- Azarath. Metrion. Zinthos.

-Azarath. Metrion. Zinthos.

Já estava a meio metro do chão quando batidas na porta me desconcentraram e eu cai com um baque surdo no chão. As batidas se repetiram e eu olhei para meu relógio na cômoda, 21:30, quem será em uma hora dessas?

- Já vou. – gritei impaciente. Enquanto colocava minhas lentes castanhas.

Abri a porta e Kori foi entrando com uma mala na mão.

- Eu disse que não queria desculpas. É sexta feira e você não vai ficar em casa de pijamas. – falou ela com um sorriso enorme no rosto. - Agora vamos nos arrumar que daqui a pouco as meninas passam aqui nos buscar.

- Kori.

- O que?

- Como você sabia onde eu moro? – perguntei atônita.

- Ah. Eu imaginei que você daria uma desculpa para não ir e achei melhor poder vir te buscar, então olhei seu endereço no seu registro na secretaria. – ela falou como se fosse muito obvio.

- Ok.

Parece que ela queria muito mesmo que eu fosse nessa festa. Eu não tinha escapatória.

- Agora vamos ver o que você tem pra vestir. – ela disse enquanto ia em direção ao meu quarto e abria meu guarda-roupa. – Hmmm. Acho que você é muito básica. Mas não tem problema, eu já imaginava algo assim e vim preparada pra isso.

Kori se virou pra mala que havia trazido e tirou de lá um saia rodada preta, que me pareceu curta demais, um vestido azul marinho, com um decote desnecessariamente grande nas costas, e um vestido tubinho cor de rosa, que parecia tão justo que eu me senti sufocada só de olhar.

- Qual você prefere?

Escolhi o vestido azul, pelo menos eu poderia colocar um casaco e tampar aquele decote. Da mala dela saiu também dois sapatos com saltos absurdamente altos, um rosa e um preto e uma mala com maquiagem o bastante o para cobrir a escola toda. Eu recusei o sapato e coloquei meu all star preto. Boa parte da maquiagem dela eu não poderia usar, ela tem a pele super bronzeada e eu sou extremamente pálida, mas ela insistiu em fazer meus olhos, pelo menos ela não fez nada muito colorido, só um esfumado leve e muito rímel. Tenho certeza que se alguém chegasse muito perto dos meus olhos seria perfurado por meus cílios.

Eram 22:45 quando o telefone tocou, era uma mensagem dizendo que nossa carona havia chegado. Descemos as escadas e eu imaginava como é que a Kori não rolou escada a baixo com aquele salto rosa gigantesco, ainda mais sem respirar, que era como ela devia estar dentro daquele vestido tubinho. No carro estava Tara e uma garota que eu não conhecia. Ela era negra com os cabelos cor de mel arrumados em um coque chique, usava um vestido amarelo soltinho e parecia super simpática.

- Rachel essa é a Karen, Karen essa é a Rachel. Ela é do ultimo ano.

- Oi. – respondi sem jeito, não sou muito boa em conversar com as pessoas.

- Entrem logo. – falou tara impaciente. – Aquela festa não pode começar sem mim.

Tara estava usando uma mini saia preta e um top preto com dourado, o cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo alto e usava uma maquiagem do que poderia ser chamado de uma femme fatale.

Entramos no carro de Karen com ela e Kori rindo de Tara. Eu estava muito nervosa.

- É festa! – gritaram elas enquanto o carro partia.

‘Vai ser uma longa noite.’