História Destinos Cruzados - Promessa ao Vento

Jungkook gritou e correu em direção a Hanah, várias pessoas saíram do prédio em que a seção de fotos havia sido encerrada horrorizando-se com a cena em meio a rua. Jeon segurou Hanah em seus braços, erguendo apenas seu tronco em direção ao peito, a chuva fria lhe molhava escorrendo por seu rosto misturando-se as lágrimas, o motorista saiu do carro ajoelhando-se ao lado do garoto perguntando se Hanah estava bem, mas ele não escutava uma palavra, apenas encarava o rosto molhado da jovem que o fitava, ela abriu a boca para falar algo, mas um jorro de sangue saiu de sua boca, Jeon estava em desespero, em frente ao prédio um dos homens responsáveis pelo ensaio fotográfico ligava para ambulância. Os olhos da garota estavam quase se fechando e em último esforço ela disse:

-Saran... ghae...

Em seguida, Hanah entregou-se a inconsciência.

-Hanah! Hanah acorda! Não me deixa, por favor. Fica comigo. ACORDA! – gritava Kook em desespero apertando ainda mais o corpo da garota contra o seu, encostou a testa na dela, pingos de chuva caiam de seu cabelo molhando-a a face. – Fica...

Ninguém ousava se aproximar, o motorista se afastou do casal, explicando o que havia acontecido as pessoas que apenas observavam a cena. Sirenes de ambulância foram ouvidas após alguns minutos, paramédicos desceram as pressas do veículo indo em direção ao corpo da garota, Jungkook não queria soltá-la, sentia que se fizesse isso ela sumiria de sua vida, seria apenas uma memória; foi necessária a ajuda de Tae e Hobi para que Jeon soltasse Hanah, colocaram-na em uma maca e foram em direção a ambulância.

-Senhor, não pode entrar. – disse uma mulher vestida com roupas de médica em frente ao veículo ao ver Jungkook se aproximar.

-Ela... ela é minha namorada. – disse o garoto enxugando o nariz e olhando-a suplicante. – Por favor, ela é minha namorada, eu não posso deixá-la.

A mulher o avaliou da cabeça aos pés e permitiu sua entrada no automóvel. A ambulância seguia rápida em direção ao hospital, os médicos faziam vários procedimentos na garota, mas Jeon apenas fitava o seu rosto e apertava firmemente sua mão, fazendo-o lembrar do trecho de uma música:

“Se eu soltar sua mão, você vai voar para longe, vai desaparecer, tenho medo disso"

-Não voa para longe de mim... por favor, não suma minha pequena borboleta. – sussurrou ele, uma súplica quase silenciosa.

Em pouco tempo chegaram ao hospital, levaram-na diretamente para a Unidade de Tratamento Intensivo, popularmente conhecido como UTI; Jungkook não pode passar por aquelas portas, sentiu os dedos frios e frágeis separaram-se dos seus quando sua passagem foi proibida, levaram-no para uma sala de espera e sozinho naquele local frio ele deixou o mundo desabar em suas costas, sentou-se no chão encolhendo-se no canto mais afastado do local, o choro veio em ondas de dor, a cada segundo seu peito apertava mais, ela o havia salvo, ele é quem deveria estar naquela sala sendo aberto ao meio, não ela.

-Salve-a... – disse o garoto em meio a soluços alto.

Diversas imagens vieram a sua cabeça: seu aniversário de 10 anos quando ela lhe deu a camisa do seu anime preferido; Hanah no chão; a vez em que saíram escondidos de madrugada para ver a chuva de meteoros; o sangue escorrendo por seus dedos; quando juraram sempre lembrar um do outro; o olhar frio e inexpressivo dela; ela dormindo segura em seus braços; as feridas sobre a pele...

O garoto assustou-se ao sentir um toque em seus ombros, olhou para cima e viu Namjoon o olhando preocupado, os outros garotos o rodeavam. Os rapazes apenas se agacharam ao lado do amigo e o abraçaram, nenhuma palavra seria o suficiente para diminuir a dor daquele sofrimento.

-E se ela morrer... – disse Jeon após todas as lágrimas secarem, estavam ali a horas e não havia nenhuma notícia. 

-Ela não vai. Aquela garota é forte. – disse Jimin.

Kook abaixou a cabeça e torceu para que aquelas palavras fossem verdade. A noite chegou, assim como a manhã seguinte, não havia notícias, o rapaz ia de minuto em minuto em busca de atualizações sobre o estado de Hanah, a resposta era sempre a mesma: “sinto muito senhor, infelizmente não temos informações.” Kook recusava-se a deixar o local, apesar da insistência de seus amigos para que fosse em casa descansar um pouco e retornar. Já era quase noite quando finalmente um homem vestindo jaleco se apresentou, apesar de parecer jovem ele apresentava um olhar cansado, o homem disse:

-Quem é o responsável por Kim Hanah?

-Eu. – disse Jeon, o homem o olhou com desconfiança. – Sou o namorado dela, a única família que ela tem aqui.

-Pois bem. A senhorita Kim no momento encontra-se em estado estável. Ela apresentou múltiplas lesões, duas costelas fraturadas do lado esquerdo do peitoral, hemorragia interna causada pelo rompimento do baço, além de pequenos cortes espalhados pelo corpo...

-Ela está bem? – interrompeu Jeon, era apenas aquilo que ele queria saber. – Está viva?

-Sim. Ela está viva. – respondeu o médico suspirando. – Porém, a senhorita Kim sofreu algum trauma cerebral e está em coma.

Aquela notícia foi inesperada, Kook fitou o médico tentando encontrar um sentido para aquelas palavras, abriu e fechou a boca diversas vezes, o som recusava-se a sair, o garoto recuou um passo sentindo vacilar no processo, braços o envolveram e a voz profunda de Tae se fez presente:

-Coma?

-Sim. Não sabemos o porquê dela ter sido induzida a este estado de inconsciência, pois não houve nenhuma concussão que pudesse apresentar esse fator. Acreditamos que tenha sido a forma de defesa que o corpo dela encontrou para suprir a dor das lesões. 

-Quando? Quando ela acorda? – perguntou Kook se pronunciando.

-Esta resposta é inconclusiva. Tudo depende da senhorita Hanah, ela pode acordar hoje ou daqui a semanas ou meses... talvez nunca.

“Nunca”... aquelas palavras soavam no ouvido de Jungkook como gritos no vazio, ecoando eternamente em sua mente; suas pernas fraquejaram e o mundo a sua volta escureceu, a última coisa que escutou foram gritos chamando por seu nome e a voz de Hanah dizendo que o amava.

O rapaz acordou algumas horas depois em um leito de hospital, ao seu lado, sentado em uma poltrona e dormindo, encontrava-se Yoongi. Jungkook chamou pelo amigo, porem este nem se mexeu, ele pegou a almofada em que se apoiava e acertou no rosto do mais velho que acordou sobressaltado.

-O que aconteceu!? – perguntou Suga assustado olhando ao redor.

-A quanto tempo estou aqui? – perguntou Kook.

-Algumas horas. – respondeu Yoongi o fitando.

-Aquilo é verdade? Ela ainda está desacordada?

Os olhos de Jeon suplicavam uma discordância, contudo o mais velho olhou para o chão confirmando seus temores. Kook jogou-se contra o lençol e cobriu o rosto com os braços, não havia mais lágrimas, ele sentia-se vazio, mas a dor continuava lá, o perfurando e matando-o aos poucos. Após longos minutos de silêncio Suga disse:

-Você pegou um resfriado, desmaiou por conta de cansaço, sua rinite apenas piorou a situação. 

-Eu não me importo.

-Kook...

Yoongi foi interrompido quando Jimin abriu a porta do quarto observando-os.

-Ainda bem que acordou. O médico disse que poderíamos visitar Hanah. – disse Jimin.

Kook levantou-se abruptamente, ia saindo do quarto quase correndo, porém Suga o parou.

-Você não vai entrar no quarto dela desse jeito. 

Jeon por um momento ficou confuso, depois se alto avaliou e notou que ainda usava as mesmas roupas desde o acidente e que estava imundo.

-Eu trouxe algo para você. – disse Suga indo em direção a um armário que o maknae não havia notado no fundo do quarto, o rapaz retornou segurando algumas peças de roupa. – Veste isso, use o banheiro do hospital.

-Mas...

-Agora Jungkook!

O mais novo fez o que lhe foi ordenado o mais rápido possível, quando se encontrou em devidas condições foi conduzido ao quarto em que a jovem estava internada, Jimin o acompanhou, porém ao chegar na porta do local o rapaz o deixou só.  Jeon respirou fundo e entrou. Hanah encontrava-se presa em diversos fios ligados em máquinas que apitavam, apenas seus braços, clavícula e rosto estavam expostos, o resto do corpo encontrava-se coberto por cobertores, o cabelo solto espalhava-se no travesseiro, sua boca e narina cobertos por uma máscara ligada à um tubo. Kook se encontrava em pé ao seu lado, observou seu corpo por longos minutos acariciando os pequenos cortes espalhados pelos braços, reuniu coragem e fitou-lhe o rosto. A jovem parecia apenas dormir, a pele antes rosada e quente estava pálida e fria com sombras cinzas embaixo dos olhos, ele retirou fios de cabelo que grudavam em sua bochecha e acariciou-lhe as pálpebras fechadas. Ele sentiu a garganta fechar, jogou a cabeça para trás olhando o teto branco segurando as lágrimas. 

-Ela está apenas dormindo... só dormindo. – repetia para si mesmo.

Voltou a fitá-la, uma lágrima escorreu por seu rosto caindo na face da garota, ele limpou e beijou-lhe a testa.

-Por favor, volta. – disse ele sem se afastar.

Kook ficou lá até o horário de visitas ser encerrado, ele repetiu esse processo todos os dias por cerca de três semanas, ele via o corpo dela se curar e aos poucos ela recobrar a cor, porém não acordava, quando completou um mês os médicos já perdiam a esperança, porém Jungkook sabia que ela iria acordar. E foi sentado em uma poltrona ao lado de Hanah, enquanto lia para ela um trecho do livro “Por Lugares Incríveis”, que a garota abriu os olhos. A respiração de Kook falhou, ele levantou-se e chamou a enfermeira ajudando Hanah a sentar-se e tirar a máscara do rosto.  Ele tocou-lhe a face delicadamente, com medo daquilo ser apenas uma ilusão, a garota o fitava confusa.

-Hanah. – disse o garoto abrindo um sorriso, suspirando aliviado. – Finalmente.

-Quem... é você? – respondeu a jovem.