História Destinos Entrelaçados - Nunca

      A tensão dentro de si era enorme. Ninguém sabia, mas os pensamentos de Mel voavam na sua mente. Ela não tirava a sua atenção da janela. Tinha tanto medo do que poderia estar acontecendo naquela sala. Sentia medo do que poderia estar acontecendo com Manu. Por mais que a ruiva fosse forte, os castigos de Dona Lucrécia eram um mistério, mas uma coisa era certa: Era algo extremamente cruel e assustador. Ela olhava atentamente para o pátio lá embaixo. Já era 15h15 da tarde e nada de Manuela aparecer. Mel só ficava nervosa daquele jeito quando esperava ver o que iriam servir de almoço no orfanato (sempre era uma porcaria).
Até que, enfim, ela viu a menina com a cabeleira ruiva e bagunçada sair da sala, andando lentamente. Sem esperar mais nenhum segundo, Mel saiu correndo do dormitório das meninas, desceu as escadas apressadamente. Assim que chegou no pátio, ela notou que sua amiga estava olhando constantemente para o chão. Seu cabelo cobria o rosto que era tão conhecido por não expressar nenhuma emoção que não fosse a seriedade. Mel, insegura, foi chegando perto da sua amiga com cautela. 
        - M-Manu - Chamou a mais nova, baixinho - Tá tudo bem?
Nenhuma resposta. A ruiva apenas continuou olhando para o chão. Não emitia um som que não fosse a sua respiração. Mel já estava começando a ficar assustada. 
       - Você tá me ouvindo? Manuela? - Mel chegou mais perto, só assim, a mais velha ergueu a cabeça. Não havia ferimentos em seu rosto e ela não aparentava sentir alguma dor física. Mas o que deixou a garotinha com medo, foi o olhar de sua amiga. Era verdade que Manu quase não sorria, mas seus olhos sempre mostravam a personalidade feroz que ela continha em sua alma. Agora, os olhos da ruiva estavam arregalados e vermelhos de tanto chorar. A confirmação disso eram suas bochechas molhadas de lágrimas. O coração de Mel se apertou ao ver sua amiga naquele estado. Os olhos que antes, passavam confiança, estavam cheios de medo. 
     - Ai, amiga - Lamentou Mel. Até que teve uma ideia - Já sei! Vamos para cozinha. Vi o pessoal carregando o estoque hoje, deve ter algo de bom lá. Vamos aproveitar que tá todo mundo em aula e as merendeiras foram almoçar fora!
Ela tentava fazer o possível para anima-la. Mas viu que a situação era realmente séria quando segurou a mão da menina para tentar incentivá-la. As mãos de Manu estavam frias e pálidas como gelo! Mel foi, preocupadamente, guiando sua amiga que só conseguia dar passos lentos. 

     Yoongi estava em seu laptop desde que chegou da delegacia, pesquisando. Procurando o que poderia fazer para ajudar sua irmã. Estava lendo sobre leis quase tanto quanto um estudante de direito. Devia ter alguma coisa, qualquer coisa, que pudesse ajudar. Seus amigos estavam preocupados, mas sabiam que era por uma boa causa. Felizmente, Yoongi no meio de tantas pesquisas, descobriu pessoas que seriam perfeitas para o caso: O Juizado de Menores.
O Juizado da Infância e da Juventude são os encarregados de processar e julgar qualquer um que quebre as regras do "ECA" (Estatuto da Criança e do Adolescente) o que ele ainda não sabia muito bem o que era, mas procuraria. Mas viu que essas pessoas cuidam de coisas muito amplas. Desde o estado de uma escola, até a guarda de uma criança. E o que mais o interessou: cuidavam de casos de violência psicológica, física e até sexual contra um menor de dezoito anos. Os olhos do jovem começaram a brilhar. Ainda havia esperança!
       - Gente - Chamou o rapaz pelo quarto - Venham aqui!
Os seis rapazes vieram sem demora.
        - Achou alguma coisa, Hyung? - Perguntou Jimin, empolgado.
        - Sim... pelo menos, é o que parece - Yoongi mostrou a tela com as informações achadas por ele. Todos começaram a ler atentamente. 
        - O que "ECA"? - Perguntou Hosoek. Antes mesmo que Yoongi pudesse responder...
        - Estatuto da Criança e do Adolescente - Disse Namjoon, animado e com os olhos brilhando com o que aquilo significava - É um conjunto de regras e direitos que foram feitos especificamente para as crianças e os jovens! 
       - Espera! Você conhece? - O mais velho ficou surpreso.
       - Você já leu sobre isso, Hyung? - Jungkook perguntou, impressionado.
       - Kookie-ah - Foi dizendo Namjoon, pousando sua mão no ombro do caçula - Eu já li sobre tudo! Li esse estatuto inteiro para um trabalho da escola, mas nem me passou pela cabeça. Agora, as chances do Yoongi Hyung conseguir que Mel saia de lá são muito maiores!
          - Maiores como, Namjoon? - O moreno estava começando a sorrir. O líder pega o laptop, digita o que é preciso e sem demora, achou o que procurava. Mostrava um sorriso de satisfação no rosto. 
          - Bem aqui, cara. "Artigo 5º – Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punindo, na forma da lei, qualquer atentado, por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais." Ou seja, se o pessoal do Juizado souber o que fizeram com a Mel e com as outras crianças, todo mundo, que trabalha naquele orfanato, vai para a cadeia! 
(N/A: Caso queiram ler sobre isso aqui está o link: http://www.redemaosdadas.org/maos-dadas/ed-0-violencia-domestica-contra-a-crianca/direitos/estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-proibe-e-condena-a-violencia-infantil/)
O rosto do jovem rapper se iluminou ao ouvir aquilo. Era isso o que ele precisava! Era exatamente isso o que devia ter procurado desde o princípio. 
          - Tá bom, tá bom - Disse ele, animado (N/A: "tá bom?" HAHAHA) - Vamos procurar esses caras e vou hoje mesmo!

           - Está se sentindo melhor? - Perguntou Mel, apreensiva.
Ela e Manu estavam sentadas na mesa da cozinha. A ruiva havia dado duas mordidas no seu pão com manteiga e nem se quer havia tocado no café. Aquilo era preocupante. 
            - Bem que eles podiam dar esses pães pra gente, né? - Comentava a mais nova, tentando aliviar a tensão - Ao invés daqueles pedaços de pão velho. São duros que nem pedra! 
De novo, sem resposta.
           - Manu, olha, eu não sei o que houve lá, mas por favor! Fale alguma coisa! - Ela disse, aflita - Algum dia, ela terá o que merece! Talvez, se eu entrasse lá para ver se...
            - NÃO! NÃO, NÃO! NUNCA - Gritou Manu, segurando e sacudindo os ombros da menor, com os olhos arregalados de pânico. 
            - Manu, o que...
            - MARINA, NÃO IMPORTA O QUE DIGAM. NÃO IMPORTA O QUE ACONTEÇA, NUNCA, JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA, ENTRE NAQUELA SALA! VOCÊ ME OUVIU?