História Destinos Ligados - O inimigo

A mulher loira ofegava. Seus cabelos caiam sobre seus olhos deixando a visão de seu sequestrador pouco nítida. Tudo o que ela pode distinguir foram os cabelos ruivos e os óculos.

 Ele sorriu para ela.

- Está confortável?

 A loira tenta desesperadamente se soltar, mas as cordas apertavam seus braços contra a madeira da cadeira. Um lampejo de dor atravessou sua cabeça e ela teve que parar por um momento para respirar, ou desmaiaria. Lágrimas já escorriam por seu rosto.

- Eu não quero fazer isso com você. Sabe disso, então porque apenas não coopera?

 Ela ergueu a cabeça e o raptor viu a ferocidade que dominava seus olhos castanhos. As roupas pretas e largas faziam pouco para ajudar a distinguir o corpo da mulher por baixo do tecido.

- Então você também sabe  porquê eu não posso fazer isso.

 O raptor estralou a língua com impaciência.

- Se é do jeito difícil então...

 A mulher prendeu a respiração quando ele se aproximou, as mãos do homem se ergueram – e com um alivio primitivo ela viu que não havia nenhuma arma ali – e esperou algum golpe.

 Ele a pegou – não muito gentilmente – pelos cabelos.

- O que estão planejando?

- Eu não sei.

 O homem a observou mais de perto não acreditando por um momento que aquilo fosse verdade. Os dedos frios lhe acariciaram a pele do rosto.

- Então o que você estava fazendo atrás de nós?

 A mulher tremia, mas mesmo assim ergueu a cabeça e o encarou.

- Eu não sei. Só me mandaram segui-los. Ficar de olho nos seus movimentos. Por favor, eu não sei de nada.

- Huum... – o homem ponderou. Ele analisou o rosto da mulher muito de perto e ergueu uma mão.

- Eu realmente não tenho escolha. – ele disse ao mesmo tempo em que a mulher gritava.

- Não! – ela usou o pouco ar que tinha em seus pulmões para implorar antes...

 Antes que risadas irrompessem de seus lábios.

 O homem fazia cócegas por todo o seu corpo, cada vez mais rápido. Os pulmões da loira já imploravam por alivio, sua barriga doía enquanto ela se debatia contra as cordas. Lágrimas escorriam por seu rosto.

- Responda as minhas perguntas. – ele sussurrou em seu ouvido enquanto continuava com a tortura.

- Chega! – uma voz reverberou pelo lugar e o homem imediatamente tirou as mãos do corpo da loira.

 Ela respirou aliviada, sugando grandes golfadas de ar para seus pulmões. A loira relaxou na cadeira, mas quase instantaneamente ficou rígida. Uma figura encapuzada seguia a passos firmes até ela. A mulher não conseguia detectar nada por baixo do capuz, nenhum traço através da escuridão que era onde deveria estar oculto seu rosto.

 O ruivo fez uma reverencia exagerada na direção da figura sombria. E um riso de deboche ecoou daquele ser. O capuz caiu para trás revelando enfim o rosto.

- Ah Loke. Pare com isso, desse jeito vou pensar que você até mesmo gostou de "torturar" a mulher.

 A mulher na cadeira ofegou e encarou.

 A jovem a sua frente tinha os mesmos cabelos dourados e os olhos castanhos, mas as características que as igualavam acabavam exatamente ali. Enquanto ela sentia sua idade pesar em suas feições e o cansaço deixar seus movimentos mais lentos, a jovem andava como tinta na água. Ela não hesitava em nenhum passo e suas feições estampavam um pequeno sorriso enquanto os olhos guardavam uma inteligência que fez até mesmo ela se encolher.

 Ela sabia quem a jovem era.

 A maior maga celestial que existia. Lucy Heartfilia.

 Seus superiores realmente tinham motivos para temê-la. Aqueles olhos inteligentes com certeza tinham muitas ideias para acabar com qualquer plano que os desgraçados que a contrataram estivessem tramando.

 A sua captura era um ótimo indicativo do poder da maga. Apesar de toda a assistência e de todas as informações sobre a jovem ela não conseguiu escapar dela. E agora estava diante daqueles olhos castanhos indagadores. Apenas um tolo não temeria aquele olhar. Mesmo que ela parecesse gentil, não hesitaria em fazer o que fosse necessário para impedi-los. A própria mulher se enojava com o que seus superiores faziam.

- Então... – Lucy Heartfilia começou alegremente. – Qual o seu nome?

 A mulher piscou diante da pergunta. O ruivo se aproximou já erguendo as mãos em sinal de que mais cócegas viriam se não respondesse.

- Daian. – ela sussurrou rapidamente. A jovem sorriu.

- Olá Daian. – ela inclinou a cabeça para o lado. – Pode responder algumas perguntas minhas?

 Lucy se moveu fazendo com que o manto que a cobria se movesse revelando parte de seu corpo por baixo do tecido. Apesar das roupas negras por baixo Daian pode distinguir a barriga já muito saliente. Ela arregalou os olhos e Lucy deu um passo para trás com a testa franzida.

 O ruivo se colocou a frente da mestra com rapidez.

- Você... – Daina tentou encontrar as palavras, mas a jovem não a encarava. Lucy apenas fechou o manto firmemente ao redor do corpo. – Você está louca?

  Loke arregalou os olhos e congelou no lugar. Daian ainda encarava a loira com incredulidade. Mas Lucy apenas desviou o olhar para o lado. A expressão gentil abandonou seu rosto.

- Eu não estou louca.

- Você está grávida e está atrás deles? – Daian balançou a cabeça completamente descrente. – Tem ideia dos perigos que está correndo?

- Perigos? Acha que não sei deles? – Lucy fervia de ódio agora. Daian se encolheu na cadeira. A maga se aproximou de onde a mulher estava amarrada. – Não vou dar nenhuma satisfação para você. E se não vai colaborar então não terei escolha.

 Naquele momento uma faca brilhou na mão da loira. Seus olhos castanhos continham sombras mais profundas que as que escureciam os cantos daquela sala. Loke saiu do caminho desviando o olhar.

- Estou há mais de três meses caçando esses desgraçados. Ainda não encontrei nada. Todas as vezes que me aproximo eles escapam por um fio de cabelo. Porque eles têm tanto medo de mim?

 Daian engoliu em seco quando aquela lamina se aproximou de umas de suas mãos. Ela tentou afastar os dedos do alcance da faca, mas estava muito bem presa. Lucy fincou a lamina na madeira, bem ao lado do dedo da mulher.

- Vamos Daian. Eu estou ficando sem tempo e sem paciência para esses joguinhos. O que eles estão tramando? Quem são eles Daian?

 Lucy girou a faca raspando de leve a parte afiada na pele, sem ferir, mas com uma promessa silenciosa que não seria assim por muito tempo. Daian tentou permanecer o mais imóvel possível.

 Daian lembrou o motivo de aceitar trabalhar para aqueles homens. Tentou se convencer que podia suportar aquilo. Mas depois de ver o brilho no olhar de Lucy quando ela viu a barriga volumosa, as palavras que usou, os gritos que ouviu das meninas sequestradas. Ela chorou.

- Eu realmente não sei muito. – ela sussurrou em meio às lágrimas. – Tudo o que sei é que estão cumprindo uma missão deixada pelos seus mestres. Ouvi dizer que era uma guilda das trevas que não existe mais. Uma guilda de demônios.

 Lucy e Loke congelaram.

 O silêncio caiu como uma pedra no local enquanto os olhos das duas loiras se cruzavam.

- Eu não queria fazer isso. Não queria fazer parte daquilo, mas eu precisava. Pelo meu filho.

 Lucy se afastou. A faca rapidamente sumiu atrás de suas vestes. Ela desviou o olhar para a parede e lá permaneceu. Daian a observou com atenção.

- Porque estava me seguindo? – Lucy sussurrou ainda sem desviar o olhar da parede.

- Eles querem que você mantenha distancia. Mas não querem matá-la agora. Acham que mais futuramente tenha alguma utilidade. – Daian deixou a cabeça pender enquanto mais lágrimas escorriam. – Isso é tudo que eu sei. Por favor.

 Lucy passou as mãos pelos cabelos dourados, fechou os olhos e respirou fundo. Isso estava ficando pior do que esperava. Mas ela não podia reclamar, ali estava, alguma informação. E as únicas informações que obtivera durante estes longos três meses.

 A loira estava frustrada. Cada vez mais as coisas pioravam e agora que mais garotas estavam desaparecidas estava cada vez mais difícil deixar aquela missão em completo segredo. As pessoas começavam a questionar o que estava acontecendo, e se alguém faria algo para impedir que continuasse.

 Nove garotas desaparecidas. Nenhum corpo encontrado.

 Lucy suspirou mais profundamente para se acalmar, e foi quando sentiu um chute em seu ventre.

 Sem se conter ela sorriu. Uma mão foi até o lugar do chute. Já estava completando quatro meses de gestação. O tempo corria rápido demais. Ela precisava terminar com tudo aquilo logo.

 A loira olhou para a mulher amarrada a cadeira. Daian não tinha culpa alguma Lucy sabia disso. Mas e agora o que faria? As pistas que tinha coletado na ultima cidade a levavam até ali, porém de algum jeito o inimigo já havia se movido novamente, fora de seu alcance. Tudo o que conseguiu fora descobrir que estava sendo seguida, e tudo terminou ali.

 Lucy tinha que se mover novamente antes que o inimigo fosse muito longe. E não adiantava perguntar a Daian como eles conseguiam escapar. Ela sabia que a mulher não poderia responder, o inimigo não seria burro o suficiente para dar aquela informação a uma mulher que poderia facilmente ser pega. Como aconteceu.

- Loke. – ela chamou. O espírito imediatamente ergueu a cabeça. – Solte-a.

 Loke nem mesmo pestanejou enquanto ia até a mulher a soltava das cordas. Daian a olhava, incrédula.

- Porque está fazendo isso? – perguntou em um sussurro, e logo se encolheu com o olhar da maga.

- Seu filho deve estar lhe esperando. Pegue ele e fuja. Não olhe para trás.

 Daian se ergueu sobre as pernas tremulas e com os olhos marejados.

- Como posso agradecer...

- Não precisa. Apenas vá. – Lucy a interrompeu com o cenho franzido. “Antes que eu me arrependa.”acrescentou para si mesma.

 A mulher de cabelos dourados e rosto cansado correu até a porta sem pensar duas vezes. Ela logo desapareceu pelo corredor escuro e seguiu pelas ruas da cidade, correndo dentro das sombras das casas, sem ser vista.

 Loke encarou a mestra. Ele já estava acostumado a ver aquela expressão tensa em seu rosto. Mas a face de Lucy sempre suavizava quando pousava uma mão pequena sobre a barriga. Ela suspirou mais uma vez e pegou um mapa o colocando sobre uma mesa em um canto do quarto daquele prédio abandonado. Ela observou o mapa.

- Estamos em Septra. E como sei que ainda querem brincar de caça e caçador como nestes últimos três meses aposto que estão na cidade de... – ela traçou a rota até uma cidade ao sul. – Cástrio. Não demora nem um dia de viagem se formos rápidos.

 Loke a olhou com preocupação.

- Lucy você não precisa descansar?

 A loira o ignorou e começou a caminhar até a porta. Seus pensamentos já cravados na próxima cidade que visitaria e nas poucas informações que acabará de adquirir.

............

 Natsu suspirou. Pela quarta vez naquela manhã. Dentro daquele maldito trem.

 Como ele odiava aquilo.

 Mas quando Lisanna entrou na guilda - com a brisa da manhã gélida entrando pela porta do prédio – há quatro dias com um papel nas mãos e um sorriso no rosto Natsu soube que a paz que conseguira – e que durará apenas um dia – estava acabada.

 A albina jogou seus braços ao redor dele em um abraço que ele tentou ignorar e lhe mostrou a missão que havia pegado para fazer, juntos. Natsu havia reprimido um gemido de frustração. Mas felizmente Happy o salvará de ir sozinho com a albina.

 Gray, que tinha observado em silêncio o rosado, ergueu uma sobrancelha.

- Onde está a sua animação Natsu?

 O rosado apenas havia bufado em resposta.

 Agora os três estavam trilhando os últimos quilômetros para a cidade onde ele finalmente se livraria daquele inferno de enjoo. Happy, que estava observando a noite estrelada pela janela voltou sua atenção para Lisanna.

- Qual o nome da cidade que vamos ir mesmo?

 Lisanna procurou a folha que dava todas as informações da missão.

 Era uma missão simples, dissera ela. Logo, logo eles voltariam para Magnólia. O que Natsu secretamente ansiava com intensidade.

 A albina leu algumas linhas e então sorriu para o neko azul.

- Cástrio.