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História Destinos Traçados - Volume II - Sobre mudanças e famílias


Escrita por: _pumpkinqueen

Notas do Autor


Ooooi, meus amores! Tudo bem com vocês?
Demorei para postar, me desculpem, mas demorei muito para escrever, também... acho que esse é o maior capítulo que eu já escrevi, e espero que vocês gostem dele....
Enfim, vou deixar os links de umas roupas, dos quartos, nas notas finais.
Bjossss <3

Capítulo 2 - Sobre mudanças e famílias


P.o.v. Kelsey
Adentrei na minha casa e fiquei boquiaberta. Era muito grande, tinha espaço para a minha família inteira viver ali dentro. A porta principal dava em uma sala de entrada super aconchegante, com algumas poltronas, uma mesa de centro e uma lareira. Logo atrás, havia uma escada que levava ao andar de cima e do outro lado da escada, uma sala de estar e uma cozinha à direita. Havia ainda um banheiro e uma pequena porta que levava a uma mini biblioteca. Larguei as malas no chão e fui correndo para lá, quase infartando ao ver os meus exemplares favoritos. Ela era alta e tinha um teto pontiagudo, como as construções da Índia. Tinha dois pequenos sofás estampados no centro e livros até o topo. Era alto, então imaginei que chegasse até o andar de cima. Soltei um gritinho animado e abracei a estante da biblioteca. 
Depois de ficar algum tempo acariciando os livros, voltei para a sala e resolvi analisá-la. Tinha um tapete marrom e os sofás eram de cor creme, para combinar com as paredes. Havia uma televisão gigante na parede da frente. Já fiz planos mentalmente para fazer uma "festa do pijama" com Anamika e Yesubai. 
De risada depois do meu pensamento infantil, mas continuei vasculhando a casa. A cozinha era enorme e tinha móveis super tecnológicos embutidos na parede. Por um tempo, fiquei pensando em como eu usaria aquilo. Abri a geladeira e me deparei com um estoque de comida capaz de alimentar o mundo todo. Logo adivinhei que o sr. Kadam nunca me deixaria morrer de fome. 
Fui até a porta dos fundos, que levava a um lindo quintal com uma churrasqueira, uma piscina e um pequeno jardim. Suspirei ao ver aquilo, imaginando como seria chamar a minha família para um churrasco. Sorri e voltei para dentro, onde subi as escadas e encarei o longo corredor que guardava três quartos e um banheiro. Entrei no primeiro quarto, que era pequeno e tinha uma cama simples, fora estantes também simplórias mas muito bem estruturadas. Entrei no segundo quarto e este era como o primeiro.
O terceiro quarto, o que supostamente era o meu, estava inteiro decorado com papéis de parede e muito luxo. Era menor do que o meu quarto na Índia, mas tão lindo quanto. Todo decorado com tons neutros de creme, tinha um lustre lindo no teto e uma cama maravilhosa. Abri o guarda roupa embutido na parede e encontrei uma estante para colocar livros. Fui até a penteadeira, abri as gavetas, que continham maquiagens - Nilima! -. Havia outras duas portas, uma que levava ao closet e outra ao banheiro, que contava com uma grande banheira.  Também tinha grande varanda para fora, com duas cadeiras e uma mesa de centro.
Suspirei, vendo o quão lindo era aquele quarto e o quão linda era a minha vida. Eu passara por tanta coisa para enfim encontrar a felicidade. 
Lembrei-me da minha família ao ver o telefone antigo que ficava no quarto. Resolvi ligar para eles, só para esclarecer que eu já estava nos Estados Unidos.
Mike atendeu à minha chamada.
-Kelsey! Estou com muitas saudades! Quando vem nos ver? O sr. Kadam mandou um e-mail me falando da sua casa, estou muito feliz! Mal posso esperar para ver você!
-Oi, Mike. Também estou com saudades. Hoje mesmo, à noite, vou passar aí. Estou trazendo alguns presentes. 
-Ah, que ótimo! Sarah está louca para falar com você. Vou passar pra ela.
-Ok.
Sarah veio ao telefone.
-Minha nossa! Faz muito tempo!!
-Faz mesmo, Sarah - dei risada. 
-Você vem aqui hoje, certo?
-Claro! Quero muito ver vocês.
-Ótimo - disse ela. - Vou fazer uma bela receita com tofu para você.
-Ah, perfeito - eu dei risada. - Sarah, talvez amanhã, vocês podem vir aqui. Sabe, estou louca para mostrar a casa. 
-E eu estou louca para vê-la. Até hoje à noite, querida - ela se despediu.
-Até mais. Diga para as crianças que eu mandei oi.
-Pode deixar. Até logo!
Desliguei o telefone e decidi voltar para a minha tarefa de conhecer aquela casa minuciosamente. 
Saí do quarto e fui até uma quinta portinha, de madeira e bem pequena. Abri, e me assustei com o que encontrei. 
Aquela portinha dava em uma mini sacada dentro da biblioteca. Como eu não vira isso antes? A grade era toda detalhada, e dentro da sacada, havia uma poltrona, certamente para ficar lendo. Quase chorei com a visão. 
Fiquei quase meia hora observando aquilo até que despertei e percebi que teria que arrumar as minhas coisas no closet. Voltei para o quarto e comecei a desempacotar todas as minhas malas, colocando os exemplares que eu trouxera da Índia no armário e jogando as almofadas de tigres em cima da cama. Entrei no grande closet e coloquei nas partes maiores todos os trajes indianos e os vestidos, depois separei em gavetas os shorts, saias, blusas e roupas íntimas. 
Terminei o trabalho e fiquei um bom tempo olhando para as minhas coisas, até que ouvi uma batida na porta. Fui abrir e lá estavam Anamika e Yesubai. 
-Viemos ver a sua casa - disse Yesubai, sorrindo. 
-Aaah é incrível! - eu disse. - Estou absolutamente apaixonada por isso. Muito! Venham ver.
Guiei as meninas pela casa e o primeiro lugar que mostrei foi a biblioteca. As meninas elogiaram muito, se queixando de como eu não havia tido um infarto. Mostrei para elas o meu quarto e a sacada da biblioteca, e então descemos. 
-Vamos para a minha casa agora - disse Ana. - Quero muito que vejam o meu presente.
-Presente? - perguntei.
-É este cômodo. Anik decorou como um presente para cada uma de nós. 
Yesubai sorriu concordando. 
-Venham ver o meu - Anamika segurou em nossos braços e andou até a sua casa.
A decoração era um pouco diferente da minha, apenas os tons, na verdade. Era decorada em variações de verde claro e marrom, lembrando uma selva. 
Fomos direto para o seu cômodo. Ela abriu a porta e nos mostrou o dojo, cheio de recursos para lutas e treino de arco e flecha. Pela felicidade que Anamika exalava, dava para ver que este era um sonho realizado. 
Depois de nos dizer tudo o que ela poderia fazer ali naquele dojo, ela nos levou até o seu quarto. Ele era lindo, com tons que lembravam a selva. Era algo mais limpo, sem muitos enfeites, perfeito para Anamika. Eu tinha certeza de que ela se adaptaria muito naquela casa somente pela sua decoração. 
Depois, fomos para a casa de Yesubai, toda decorada em tons frios, puxados para o púrpura e roxo, fora os detalhes violetas, lembrando seus olhos. Ela nos guiou até o seu "presente", que era um lindo estúdio de dança. Tinha alguns cabides cheios de trajes indianos, fora alguns outros de balé e mais outros. O ambiente era todo decorado em um azul da cor do céu escuro, cheio de estrelas e várias pedras decorando. Aquilo me lembrou a áura de Yesubai, tudo em comum com ela. 
Depois fomos até o seu quarto, que também era todo em tons de roxo claro e escuro. Era algo mais místico, com itens desse tipo. 
-Parece que o sr. Kadam conhece exatamente cada uma de nós... - falei.
Yesubai assentiu, sorrindo.
-Ren escolheu o seu, Kells. Eu mesma elaborei isso e Kishan deu a ideia do de Anamika.
Ana franziu o cenho.
-Kishan?
Yesubai fez que sim com a cabeça.
-Nossa...
-Está vendo? - disse Yesubai.  - Mais um motivo para vocês pararem de brigar e virarem melhores amigos.
-Acho que isso não vai acontecer, Bai - eu disse. - Ou vai demorar muito tempo. 
-Eu disse que iria tentar não brigar mais com ele, mas, amigos? - Ana riu. - Acho que não. Talvez, em um futuro distante, distribuiremos flores no campo de mãos dadas e vestidos brancos - ela disse, com o olhar longe. 
Yesubai caiu na risada.
-Imagine Kishan de vestido branco? 
Todas rimos.
Olhei no relógio da casa de Yesubai e vi que estava na hora de eu me arrumar para o almoço, então decidi que seria melhor eu voltar para a minha casa.
-Pessoal, vou me arrumar. Acho que vocês também deveriam - aconselhei. - Ana, quer uma roupa?
-Ah, Yesubai me emprestou uma que me serve. Obrigada.
-Imagina. Amei a casa de vocês, pretendo passar boa parte do tempo nelas - dei uma piscadela. - Até mais tarde.
Nos despedimos rapidamente e eu voltei para casa. Subi até o meu quarto e encontrei o meu celular em cima da cama. Lembrei de como a minha tia Jennifer estaria extremamente ansiosa para me ver, então liguei para ela no facetime. 
Ela soltou um grito tão alto que quase me ensurdeceu. 
-Ai.
-AI MEU DEUS - gritou ela. - Eu estou tão ansiosa! Minha nossa, minha nossa, minha nossa. Quero que você me conte tudo. Tudo, tudo mesmo, e me mostre tudo nessa casa. Agora.
-Calma. Vou mudar a câmera - eu disse, transferindo a filmagem da câmera frontal do smartphone para a câmera normal. - Bem, primeira coisa... - mostrei a minha mão e a aliança.
Tia Jennifer ficou quieta por um minuto.
E depois gritou como se o mundo estivesse acabando. 
-EU NÃO ACREDITO! É sério? Ai, que orgulho, que orgulho. Ela vai se casar, ela vai se casar, ela vai se casar!
Foram longos dez minutos de escândalo até minha tia se acalmar. 
-Pronto, né?
-Ainda estou em estado de choque - admitiu ela. - Mas estou pronta. Pode me mostrar a casa.
Desci até a porta principal.
-Esta é a sala de entrada, eu não sei para que ela existe - passei a escada e mostrei a sala de estar e a cozinha. - Estas duas têm utilidade. Ah, aquele ali é o quintal e esta... - fui até a biblioteca. - Bem, seja bem-vinda ao paraíso.
-É lindo! 
-Pois é. Você não viu nada ainda.
Fui para o andar de cima e mostrei os dois quartos de hóspedes, então fui para o meu quarto. 
-Meu deus! Kelsey, o que você fez? Vendeu seus rins?
-Eu ainda não entendi o porque também. Você vai pirar quando vir o meu closet. Ah, preciso mostrar outra coisa...
Levei o celular comigo até a sacada da biblioteca.
-Se eu estou quase morrendo - murmurou ela - imagina você.
-Pois é. Acho que eu estou morta.
Voltei para o quarto e continuei conversando com a minha tia. Mandei todas as fotos da viagem e então desliguei, já pronta para me arrumar. Resolvi colocar um vestido, já que era a primeira vez que eu almoçaria na casa da minha sogra e eu deveria, digamos que... caprichar. Busquei no meu vasto closet e encontrei um vestido branco de mangas compridas, e foi ele que resolvi usar. Fui estrear o meu chuveiro, tomando o primeiro banho na casa nova. Planejei usar a banheira uma outra vez, pois eu estava atrasada. A conversa com tia Jennifer rendera muito tempo.
Fiz uma maquiagem leve, arrumei os cabelos, deixando algumas ondas, calcei sandálias de cor nude e logo estava pronta. 
A campainha soou novamente. Fui abrir esperando que fosse ou Anamika ou Yesubai, mas era Ren. Ele estava com uma calça bege, uma camisa de botão e o cabelo levemente bagunçado e jogado no rosto, que me fazia querer jogá-lo para trás e acariciá-lo. 
Ele trazia um buquê de vários tipos de flores de todas as cores e tinha um sorriso tímido nos lábios.
-Você está linda. 
-Você mais ainda. 
Ele me olhou por um tempo, como alguém que observasse uma pintura recém-feita. 
-Ah, essas flores são para você - disse ele, se lembrando de imediato.
-Percebi faz tempo - disse, debochada.
-É muito difícil se lembrar de alguma coisa quando você está parada na minha frente - disse ele.
Estendeu o buquê para mim e eu peguei, dando um sorriso tímido. Me virei e coloquei as flores dentro de um vaso.
-Vou cuidar delas como se fossem meus filhos.
Ele sorriu em resposta.
-Gostou da casa? - perguntou.
-Se eu gostei? Eu amei. É tudo que eu sempre quis, sabe? Essa biblioteca. Sei que foi ideia sua.
-Sabe?
-É claro. Muito obrigada mesmo. Eu não sei o que eu fiz para merecer você. É sério, eu devo ter muita sorte.
-Sou eu quem tem sorte. Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida - ele me puxou para um abraço apertado e carinhoso, então sussurrou: - Eu te amo.
-Eu sei. Também te amo.
Ren segurou a minha mão e saiu da frente da casa, já começando a andar em direção ao nosso destino.
-Não vamos esperar Anamika e Yesubai?
-Elas já foram. Bati em suas casas antes.
-Ah, sim - concordei, vagamente. Me lembrei logo depois da conversa com a tia Jennifer. - Ren, minha tia já sabe que estamos noivos.
-Sério? Qual foi a reação dela?
-Ela gritou por dez minutos. 
Ren riu, iluminando o lindo parque com o seu sorriso. 
-Chame a sua família para jantar na minha casa amanhã. Seus pais adotivos e a sua tia tem que conhecer a nova família, não acha?
-Claro! Será um prazer. Adorei a sua mãe! Espero poder conversar muito com ela.
-Ela também te adorou. Me falou por uns quinze minutos seguidos sobre o quão orgulhosa ela estava por ter você e Yesubai como noras.
-Kishan e Yesubai estão namorando mesmo? - perguntei.
-Digamos que... não. Ele a ama e acho que ela também o ama, mas a criação de Yesubai não permitiu tanta liberdade à ela. Foi criada a vida toda por um homem que a maltratava. Seu único refúgio era a casa dos Rajaram e os "resgates" frequentes do meu pai.
-Gostaria muito de ter conhecido o seu pai. 
-Ele iria gostar muito de você. Gostaria que ele ainda estivesse vivo - admitiu ele.
-Sinto muito. 
-Não sinta - deu um sorriso espontâneo, seus olhos se estreitando, remetendo muito à sua metade asiática. - Agora eu tenho você. E você é tudo que eu tenho, é tudo pra mim. 
Segurei sua mão com as minhas duas, tentando passar em silêncio para ele a mensagem que dizia que ele também era tudo para mim. Minha vida nunca tivera tanta cor. 
Ren pareceu entender, pois passou o braço pelos meus braços e andou assim até chegarmos à porta de sua casa. Ele abriu e eu pude ver uma decoração linda, cheia de objetos indianos e chineses. A mansão dos Rajaram era tão maravilhosa quanto a sua mansão na Índia, embora não tão extravagante. 
Yesubai e Anamika já estavam lá dentro com Kishan. Bai conversava alegremente com ele, enquanto Ana estava quieta, presa em seu mundo particular e mexendo nas suas pulseiras, ao meu ver, tentando tirá-las. Obra de Yesubai, pensei. 
Todos eles se viraram para mim e sorriram.
-Oi, Kells. Seja bem-vinda à minha casa - disse Kishan.
-Obrigada.
-Linda roupa! - Yesubai elogiou.
-Parece confortável - disse Anamika vagamente. 
Deu para perceber a angústia em seu rosto: ela estava usando uma saia curta e um top. Ainda que em estilo esportivo, Anamika parecia muito desconfortável e louca para colocar de volta as suas roupas da floresta. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo moderno e nada parecido com a sua personalidade guerreira.
-O sr. Kadam não vem? - perguntei à eles.
-Não - respondeu Yesubai. - Ele foi almoçar com Nilima.
-Preciso muito vê-la - pensei em voz alta. 
Uma movimentação ao meu lado chamou a minha atenção. Logo me virei, encontrado Deschen com um lindo sorriso no rosto.
-Como é bom recebê-la! - disse, me puxando para um abraço apertado.
-É muito bom ser recebida pela senhora!
Ela me soltou, ainda sorrindo, e me levou até a mesa. Me sentei ao lado de Ren e ela se sentou na ponta.
-Muito obrigada por virem almoçar comigo hoje. Fiz para vocês pratos da minha terra natal: bolinhos sha momos com tsampa acompanhados de khabse. Espero que gostem.
Uma empregada serviu os pratos a cada um. Embora um pouco hesitante antes de comer, confiei totalmente em Deschen. Realmente, a comida estava incrível. Saboreei e ainda repeti. 
-Então, esta é uma boa hora para vocês me contarem o que aconteceu nesses últimos meses, não acham, crianças? Quero saber de tudo - perguntou Deschen.
-Bem, como você sabe, mamãe - começou Ren. - Há algum tempo atrás, essa coisa começou a trabalhar comigo - disse, apontando para mim. Dei risada e revirei os olhos. - E ficamos muito amigos. Então, Yesubai foi sequestrada e Kishan sumiu, e Kelsey foi a primeira pessoa que eu pensei quando isso aconteceu.
-Daí - retomei a história. - Voamos para a Índia.
Contamos cada pedaço da história para Deschen, que riu conosco e ouviu cada parte atentamente. Falamos sobre todos os detalhes, incluindo o meu tompo na Caverna de Kanheri, do acidente em Hampi, da festa, do Nepal, de tudo. 
No final, já havíamos comido até a sobremesa e estávamos acabados de tanto comer. Conversamos por mais um bom tempo sobre situações engraçadas que passamos na Índia até já ser a hora de ir embora.
-Bem, eu espero que voltem aqui sempre - disse Deschen. - Todo dia, de preferência - deu uma piscadela. 
-Eu vou comprar algumas roupas com a Anamika hoje. Está claro que ela está se matando para continuar com essa roupa - eu disse.
-Realmente - concordou. - Nunca mais deixo Yesubai escolher minhas roupas. 
Caímos na risada e então nos levantamos. Fui até Deschen, segurei as suas mãos e agradeci profundamente.
-Muito obrigada. Além de nos dar um gosto de sua cultura, a senhora nos acolheu como suas filhas.
-Agradecemos muito - completou Anamika. 
Yesubai e Deschen trocaram um olhar cheio de carinho e agradecimento. Eu entendia perfeitamente: a família de Ren era o único incentivo para Yesubai não se render de vez aos maus tratos e sucumbir. Eram o seu refúgio. 
-Eu que agradeço, meninas - disse ela. - Agradeço por agora fazerem parte da minha família.
Nos despedimos rapidamente e saímos da casa acompanhadas de Ren e Kishan. Yesubai ficara um pouco para conversar com Deschen, então fomos só eu e Ana para casa. 
-Tem certeza de que não querem que nós as acompanhemos? - perguntou Ren, cortes.
-Não precisa - me aproximei e dei um beijo rápido em seus lábios. Vamos comprar roupas agora.
-Mais tarde eu vou ter que ir no shopping - disse Kishan. - Preciso comprar chocolate daquela loja. É a minha favorita e não tem na Índia.
-Nos vemos lá então - eu disse. - Tchau!
Anamika sorriu e nós começamos a andar em direção às nossas casas.
-O que achou de Deschen? - perguntei.
-Amei a comida.
Dei risada.
-Ah, ela é muito simpática. É raro eu confiar nas pessoas somente ao vê-las. Ela me lembra a minha mãe.
-Ela também me lembra a minha - eu disse vagamente. - Sinto saudades dela. 
-É difícil viver sem uma mulher para te reconfortar. 
-Eu também perdi meus pais na adolescência. Foi muito difícil para mim. E eu ainda tinha com quem ficar. Foi ainda mais difícil para você, Ana. Você foi... perseguida, obrigada a viver sozinha.
Ela respondeu, depois de um tempo:
-Eu me acostumei. Me acostumei aos sons da selva. O que antes era assustador para mim virou corriqueiro. Agora está sendo pior ainda. A calmaria reinava, sabe? Eu era dona de mim, dona daquela floresta. Aquela era simplesmente a minha terra. Ninguém sabia que eu estava ali, e eu não precisava me preocupar com a chance de alguém ofensivo chegar ali. Agora, é como se cada passo meu fosse monitorado, como se eu estivesse em uma espécie de quarentena. Eu não sou mais dona do que havia em meu entorno. É estranho.
-Entendo - eu disse. - Eu também tenho dificuldades em me adaptar à mudanças. 
-Às vezes penso que seria mais fácil se eu voltasse para lá. Mas então lembro de vocês e do que fizeram por mim. E também lembro de Sunil. Não seria nem um pouco agradável me afastar de vocês.
-E Kishan? Me explique o que aconteceu entre vocês - perguntei, tentando mudar de assunto ao perceber que a conversa estava tomando um rumo tenso. 
-Ele veio se desculpar no avião. 
-Quando? Eu não vi.
-Foi de madrugada. Eu quase quebrei aquelas televisões pequenininhas no assento e fiquei entediada. Fui até o banheiro e peguei um sabonete. Então ele me abordou.
Não pude deixar de rir.
-Porque diabos você foi ao banheiro do avião para pegar um sabonete.
Ela me olhou, pensativa.
-Sinceramente? Eu não faço a mínima ideia. 
Rimos até chegarmos em casa. Anamika foi direto para a minha, pois precisava de alguma roupa para ir ao shopping. Segundo ela, se ficasse mais um minuto com aquela saia ela teria um colapso. Emprestei um shorts jeans uma blusa justa branca, e coloquei um shorts jeans e uma blusa azul estampada. Logo estávamos prontas para ir. 
Saí na garagem e encontrei o meu carro novo. Não é que é verdade? Como fui duvidar do sr. Kadam? Sim, realmente, ele havia me dado um carro também. 
Abri a porta e encontrei um bilhete, que dizia:


Srta. Kelsey, como a senhorita trabalha e anda por aí sempre, decidi que seria melhor dar-lhe autonomia. Rume ao infinito e, por favor, faça bom proveito!
-Anik Kadam


Sorri diante daquele pequeno aviso e o guardei em minha bolsa. Comecei a dirigir, enquanto Anamika tentava abrir o porta-luvas com toda a força de sua vida.
-Não - aconselhei. - Aperte ali em baixo. Isso - ela conseguira, sorrindo em agradecimento. - Pensa em dirigir algum dia, Ana?
-Dirigir, eu? Sério? Não, não estou afim de ir para a cadeia. 
-Quem disse que você irá para a cadeia? É só aprender. Se quiser, eu te ensino. Não precisa ter medo.
-Ah, tudo bem... mas eu não me responsabilizo pelos meus atos. 
Coloquei uma música e segui cantando por todo o caminho. Foi um pouco difícil acertar os atalhos, já que eu estava acostumada com o caminho da casa dos meus pais adotivos. Mas, felizmente cheguei no shopping com Anamika, sãs e salvas.
-Bem, Ana, esse é o shopping. 
-Defina. 
-É um lugar cheio de lojas onde também tem comida...
-Vamos entrar. Parece ser legal.
-Sim, é bem legal.
Entramos e foi como eu esperava. Anamika olhou para a grande e alta estrutura do shopping com a boca aberta, certamente admirando aquela visão.  
Pude notar os olhares, tanto masculinos quanto femininos, pousados em Anamika. O motivo era claro: ela atraía extrema atenção. Com a sua altura, corpo atlético, cabelos cheios, compridos e escuros e grandes olhos verdes, era quase impossível não se impressionar. Ela era tão exótica quanto Ren e Kishan, que, quando eu andava com eles nos Estados Unidos e na Índia também, atraíam todos os olhares. 
-Olha só, essa daqui é uma loja de roupas esportivas. Aconselho que você dê uma olhada em todas as lojas antes de comprar, para se previnir. Veja por aqui: nessa loja tem bastante coisa para treinos, quer ver?
-Claro.
Entramos e olhamos todos os shorts, calças e tops de tamanhos e estilos variados. Ela se interessou por acessórios esportivos que logo entraram em sua lista de desejos.
Fomos até uma outra loja, dessa vez de croppeds e saias. Ela foi direto nos tops de croche, que me lembravam algo mais selvagem. Lembrou o nome da loja e fomos para a próxima. Esta era de moda indiana, com calças largas.
-Quero essas. Gostei.
-Ah, claro. Vamos ver as próximas.
Assim foi por mais vários minutos. Anotamos os nomes de várias lojas, de todos os tipos de itens. Roupas íntimas, maquiagens, tudo o que ela precisaria. 
Quando só faltava visitar uma loja, o meu telefone tocou. Atendi na hora, vendo que se tratava de Mike. 
-Onde você está? - perguntou ele.
-No shopping - respondi. - Por que?
-Ah! Ainda bem. Preciso de sua ajuda. Tem um documento meu que está com um problema com a identidade. Preciso que você vá até lá e acerte para mim, é só dizer que você é minha filha e confirmar a minha identidade. Pode fazer isso? Por favorzinho?
-Claro - aceitei. - Levo a comprovação hoje a noite. 
-Obrigado.
-Até mais.
Desliguei o telefone, me virei para o lado, pronta para explicar para Ana, mas trombei com uma figura alta e forte.
Olhei para o alto e vi aquele par de olhos dourados que sempre aparecia nos piores - ou melhores, naquele caso - momentos para se aparecer.
-Ah! Eu estava precisando de você. Sei que é pedir muito, mas... - olhei para a loja, vendo Anamika lá dentro. - Mas surgiu um imprevisto e eu vou ter que ir resolver. É rápido, eu prometo, mas... não me mate, tudo bem?
Ele olhou para a loja e se tensionou ao ver Anamika.
-Mas, Kelsey... não sei se é uma boa ideia me manter a sós com ela.
-Por favor! É rápido! Por favor, por favor, faço o que você quiser!
-Quero biscoitos assim que chegarmos em casa.
-Tudo bem! Eu faço. 
-Então tá.
Ana voltou da loja, franzindo o cenho para Kishan.
-Olhe, pelo amor do santo Deus, Anamika... - comecei, esperando que ela não me matasse.
-Tudo bem - respondeu ela, ainda com os olhos presos aos de Kishan. - Eu ouvi. Se ele não brigar comigo, eu não faço nada. Mas se ele fizer...
-Ele não vai - me apressei. - Não é, Kishan?
Ele demorou a responder.
-Não vou. Mas não me enche. 
-Tudo bem, tudo bem - disse ela. - Boa sorte, Kells. 
-Ah, muito obrigada - eu disse, já saindo correndo. - Vejo vocês logo, logo!
Acenei em despedida e fui descendo os andares do shopping, apressada. Enquanto eu corria, algo muito brilhante chamou a minha atenção. Olhei para o lado e encontrei o item que tanto me chamava: uma aliança linda, com pedras castanhas e toda trançada em ouro. 
Dei um sorriso e já soube o que iria fazer.

P.o.v. Kishan
Definitivamente, eu estava com vontade de esganar Kelsey Hayes.
Mas eu iria ganhar biscoitos.
-Então, é o seguinte - disse Anamika. - Eu fui em algumas lojas com Kelsey e recordei o que eu preciso comprar. Ela me deu esse cartão, então posso pegar o que eu quiser, eu acho. Ah, eu não estou com vontade de brigar hoje, então, por favor - ela me olhou com um inocente olhar de cachorro pidão. - não me provoque.
Era eu quem estava sendo provocado nessas horas.
Tirei os pensamentos da cabeça antes que tomassem conta de mim.
-Ahm, tudo bem. Não vou fazer nada para você. Ah, para onde você quer ir primeiro?
-Loja de esportes.
E assim fomos para a loja de esportes. Ela logo já pegou nas mãos o que levaria. Vi camisetas, todas em tons neutros, calças de ginástica, acessórios de luta, entre muitos outros itens esportivos. Ela escolhera exatamente o que eu escolheria em uma loja de esportes. 
Por um momento, imaginei Anamika lutando. Seria uma bela cena.
Ela pagou a compra e voltou.
-Aprendi fácil - disse ela, orgulhosa. - Não é tão difícil quanto parece. É só colocar os números!
-É... acho que sim. 
Comecei a segui-la para uma loja de moda indiana, onde Anamika separou várias calças largas e estampadas. Experimentou uma delas e saiu da loja daquele jeito mesmo, depois de pagar por todas elas.
-Não gosto desses negócios apertados - murmurou para si mesma. 
Mas eu gosto. 
Sacudi a cabeça.
Yesubai, Yesubai. Pense em Yesubai.
Ela foi para outra loja maior e pegou alguns tops, indo para o provador experimentar. Uma atendente veio até nós com um sorriso acolhedor no rosto.
-Olá! Precisam de ajuda?
-Ah, peguei algumas peças para experimentar - disse Anamika. 
-Hum, a senhorita não é daqui, certo?
-Não. Sou de Nova Delhi, Índia - falou, com orgulho.
-Ah, mas é claro! Como não reconheci a senhorita ser indiana só pela sua beleza tão exótica?
-Agradeço.
-Ele é seu namorado? - perguntou a mulher, apontando para mim. Nós empalidecemos.
-Não, não. Somos só...
-Amigos - completei.
-Ah, sim. Indiano também, acertei?
-Sim - respondi. 
Ela sorriu e disse que Ana era bem-vinda ao provador, e se precisasse de alguma coisa, era só chamar, pois ela estava ali. Em meio a isso, descobri que seu nome era Maria. 
Anamika saiu do provador com um top apertado que deixava a mostra sua barriga, ombros e colo. Tentei desviar o olhar, mas foi impossível. Maria começou a tirar uma dúvida dela, explicando algumas coisas. Anamika falou vagamente sobre o seu passado, justificando a sua falta de informação. Mas eu só conseguia prestar atenção em sua pele exposta. Era de mais: Anamika parecia uma deusa! Era como se tivesse sido enviada dos céus. 
Sacudi a cabeça mais uma vez. Anamika percebera o meu olhar e estava corada. 
Ah, droga! O que eu fiz?
-Ah, Maria, quer saber? Vou levar todos. Acho que vão servir.
-Nesse seu corpo, garota, vão ficar lindos! Quer ir embora com ele já?
-Ah, claro! Peguei essa outra roupa emprestada de uma garota duas vezes menor do que eu. Estarei agradecida - disse. 
-Ah, então vamos pagar - Maria começou a andar em direção ao caixa.
Anamika me lançou um olhar me mandando segui-la, e fui o que fiz. Não afastei o olhar dos seus cabelos sedosos por um minuto sequer.
-Acho que preciso passar naquela ali agora - disse ela logo depois de sairmos da loja.
-Então vamos.
Percebi que era uma loja de roupas íntimas. Fiquei um pouco constrangido nesse momento, mas foi cômico ver que mesmo ela não fazia ideia de como usar as lingeries. Ao final, ela acabou no departamento fitness, colocando em sua cesta de comprar itens confortáveis e discretos.
-Inútil, inútil - murmurava, enquanto segurava cada peça.
Passamos no caixa rapidamente e logo saímos.
Passamos em algumas outras lojas, mas foi rápido. Na sapataria, ela simplesmente comprou todos os tênis de número 38/39. Anamika se abasteceu de pijamas, maquiagens, acessórios de cabelo, que, segundo ela, eram todos inúteis, pois poderia dormir com as camisetas, não precisava usar maquiagem - o que era total verdade - e não gostava de arrumar o cabelo. A simplicidade de Anamika me encantou, mas não de um jeito romântico, e sim, curioso. 
Recebi uma mensagem de Kelsey alertando que iria demorar mais um pouco e que era para esperá-la na mesa da sorveteria. Disse que estava ok. Não foi tão ruim quanto eu pensava.
Nos sentamos à mesa, um de frente para o outro. Ficamos sem falar nada, Anamika ficou mexendo em suas pulseiras e as ajeitando nos braços. De onde eu estava eu tinha uma perfeita visão das suas clavículas se movimentando junto aos seus braços e seu cabelo caindo sobre a mesa. Não percebi que a estava encarando até ela me encarar de volta.
-O que foi?
-Nada - menti, abaixando os olhos.
-Kishan... - olhei de volta para ela. - Obrigada por não me provocar. Você foi... legal.
-Obrigado também. Acho que não senti vontade de te enforcar nenhuma vez. 
Ela riu, e pela primeira vez, eu testemunhava isso. Seus dentes eram brancos como as roupas de Ren. E olha que ele as lavava sempre e impecavelmente. Não pude deixar de sorrir também.
-Gostou das suas roupas? - perguntei.
Ela olhou para todas as sacolas no chão. Em vez de responder, apenas sorriu.
-O que achou das minhas roupas? - ela se debruçou sobre a mesa, me olhando de baixo. Daquele jeito, ela meio que deixou de lado a sua pose tão destemida e tinha um olhar mais inofensivo. 
-Bonitas. Acho que eu me vestiria assim se fosse uma mulher.
-E eu acho que eu me vestiria como você se fosse homem. Não me vejo usando as roupas de Ren. As acho tão corretas, tão... não gosto de organização. Sou uma bagunça - ela disse mais para si mesma.
-Eu nunca fiz questão de colocar ordem na minha vida. Por mais que me implorassem.
Anamika olhou para baixo e se perdeu em seu mundo particular. Era muito interessante olhá-la naqueles momentos, que eram tão frequentes. Seus olhos verdes claríssimos se tornavam mais escuros e guardavam o mundo. 
-Anamika? - chamei, tentando quebrar o silêncio entre nós.
-Oi?
-Você quer se matricular em alguma aula de lutas, ou esportes, não sei....? 
-Kelsey já me matriculou na aula de wushu com o amigo dela. Mas... gostaria sim, você sabe de algum lugar?
-Olha, conheço um estúdio de treino de arco e flecha e tiro ao alvo. Acho que você gostaria. Também tem outras artes marciais. 
-Você pode ver para mim?
-Posso - assenti. Assim, sem discutir com ela, era até agradável ficar na sua presença. Anamika era quieta e pensativa, e exalava força e coragem. Depois de passar tanto tempo lutando, ela ainda estava firme. 
-Kishan, acho que eu vou comprar um sorvete - ela disse depois de um tempo. 
-Ah, eu também vou. Quer que eu pegue para você?
Ela pensou um pouco, mas depois respondeu:
-Ah, sim, tudo bem. Obrigada. 
Levantei e fui até a sorveteria, pegando um sorvete de doce de leite que era o meu favorito e eu tinha certeza de que Anamika iria gostar. Comprei mais uma água e levei dois copos.
-Esse é o melhor sorvete do Oregon. Para acompanhar os meus chocolates - retirei os bombons do meu bolso e coloquei na mesa. - Estes também são os melhores chocolates. Tenho certeza de que você vai gostar.
-Obrigada - ela disse, abrindo o sorvete e pegando os bombons. - É muito bom! Gostei. Quero vir aqui mais vezes.
-Você vai vir. Eu venho pelo menos uma vez por semana. 
-Legal - Anamika deu um sorriso vago enquanto desfrutava dos doces.
Pensei em como eu havia pedido desculpas a ela há pouco tempo atrás. Eu me sentia desconfortável, era como se eu não houvesse pedido direito... me parecia que Anamika merecia mais do que isso. Não brigando com ela, era uma boa companhia. Tinha aquele clima de tensão entre nós e não havia nenhuma amizade forte, mas a minha raiva havia simplesmente sumido. Eu queria me explicar, dizer que fora bom ficar esse tempo com ela, que ela não era o que eu pensava. 
-Anamika... - justo quando comecei a falar, uma voz alegre falou às minhas costas.
-Ah! Me desculpem! Demorei muito, não é?
Já estava anoitecendo e Kelsey estava cheia de sacolas em suas mãos. Lancei um olhar duvidoso para os objetos e ela sorriu amarelo.
-Eu não pude evitar. Mas... parece que vocês não brigaram, certo? - ela perguntou, esperançosa.
-Estou com sono - disse Anamika. Ela parecia novamente perdida em pensamentos. 
-Vamos para casa. Ah, Ana, quero que me mostre tudo o que comprou e... Kishan? Me explique. Vocês não discutiram nenhuma vez? Uma vezinha sequer?
Fiz que não com a cabeça, sorrindo.
-Que orgulho! - Kelsey gritou, já ajudando Anamika com as sacolas e seguindo para a saída. 
Nós, que estávamos na mesa, fizemos o mesmo e andamos em direção ao estacionamento. Eu havia perdido a chance e a coragem de conversar com Anamika. Fora estranho, mas eu realmente senti vontade de estar perto dela novamente. A experiência de estar com Anamika fora.... era como se houvesse um elo entre nós.
Parei de pensar nisso. Eu devia estar com fome. 

P.o.v. Kelsey
Eu levara Kishan até a sua casa e parei na de Anamika para ver suas roupas. Ela tinha comprado dezenas de calças indianas, de academia e uma jeans, muitos e muitos tops acadêmicos e casuais, fora alguns mais chiques, praticamente todos os tênis da loja e mais algumas camisetas grandes, neutras e super confortáveis. 
Voltei para a minha casa e já estava na hora de ir ver a minha família. Eu estava super ansiosa, a saudade que meu coração continha era extremamente grande, eu necessitava deles. Liguei para Ren, que aceitou ir comigo de bom grado. Ele parou na minha porta, trazendo um bolo de chocolate.
-Minha mãe quem fez - explicou. - Sei que a sua família não gosta muito disso, mas acho que Sammy e Rebecca vão gostar. 
-Muito obrigada - disse, lhe dando um abraço. - Eu também não aguentaria comer a comida da Sarah. Vamos?
-Vamos - Ren abriu a porta do seu carro para mim e eu entrei.
Começamos a dirigir e levou pouco tempo para que saíssemos do condomínio e adentrássemos na cidade movimentada. Sorri e pensei que seria uma boa hora para eu dar a ele o presente que tanto me atraiu a atenção. Em um dos semáforos, quando sua mão estava pousada na minha perna esquerda, retirei o objeto do bolso e deslizei pelo seu dedo anelar. Fiquei quieta logo em seguida.
-Ah, meu Deus - ouvi ao meu lado. Me virei e ele olhava para o dedo, sorrindo. 
Parou o carro no acostamento bruscamente.
-Ren, o que está fazendo?
Do nada, ele me arrebatou e segurou o meu rosto entre as mãos, me dando um beijo tão cheio de sentimento como aquele de quando caímos na neve. Retribuí, a paixão subindo pelos meus braços e segurando o seu cabelo com as mãos.
Tão de repente como quando começou, ele se afastou e voltou a dirigir. Aumentou o volume do carro, estava tocando Brittney Spears. Assustei ao ouvi a voz de Ren acompanhando a letra. 
-Você parece feliz - comentei.
Ele olhou para mim e me lançou um sorriso luminoso. De repente, era como eu estivesse cega e só pudesse ver aquela única luz.
Paramos em frente a casa de Sarah e Mike. Ren saiu do carro e abriu a porta para mim. Quando saí, ele me puxou para um abraço apertado e cheio de carinho e amor.
-Eu te amo. Eu não poderia ser mais feliz do que eu estou hoje. Do que eu estou desde que te conheci. Você coloriu a minha vida, Kelsey Hayes, e agora mal posso esperar para vê-la toda colorida em seu vestido de noiva. 
-Alagan Dhiren, eu mal posso esperar para vê-lo bêbado após a nossa cerimônia. 
Ele riu.
-Se isso te deixaria feliz. Eu não me importo de fazer nada. Não me importo de voltar ao Himalaia e lutar com Lokesh novamente. Não me importaria de subir aos céus, descer ao inferno, nadar cinco oceanos, lutar contra monstros voadores, se isso fosse significar um beijo seu no final.  
-Eu te amo muito, muito mesmo. E esperaria você lutar contra esses monstros aí para te beijar no final. Eu te esperaria pelo tempo que fosse necessário, independente de qualquer coisa. 
A porta da frente se abriu, acabando com o nosso clima romântico-meloso. Era Sarah, com um sorriso enorme no rosto.
-Kelsey! Ah, minha nossa! Mike! Kelsey está aqui!
Todos saíram para fora e eu corri em direção a eles, dando abraços mais do que apertados em cada um, incluindo tirar as crianças do chão e rodopiar pelo ar com elas. Ren cumprimentou cordialmente cada um deles.
Um grito invadiu os meus ouvidos. Olhei para a casa e vi que tia Jennifer estava correndo em minha direção, me lembrando a magnitude de um catchup que é atraído para a batata frita. 
-Kelsey! Ai meu Deus!
Quase caímos no chão. Ela afagou os meus cabelos e disse coisas sem sentido por minutos depois do abraço, e então, quando pareceu acabar, ela correu e deu um abraço apertado em Ren, e depois entrou, logo dizendo:
-Não deixei Sarah fazer aquelas porcarias para vocês! Hoje vocês vão comer comida de verdade, coisa que eu aprendi no Japão...
-Ela é uma gracinha - disse Ren.
-Eu sei.
Entramos na casa e Sarah estava afastando as cadeiras para nós. 
-Sentem-se, vamos, logo - dizia ela. - Ah, quero que me contem tudo! Como foi a viagem? Visitaram muitos lugares bonitos?
-Visitamos, sim - respondi, logo começando a listar todos os lugares em que fomos na viagem. Óbvio, deixando de lado a base de Lokesh.
Meus machucados estavam escondidas debaixo de minhas calças jeans e mangas compridas, também quase imperceptíveis por baixo das minhas camadas de maquiagem. Portanto, minha família nem se queixara do fato de eu estar machucada. 
Comemos a comida japonesa de tia Jennifer, que estava maravilhosa. Entreguei os presentes a eles e conversamos por mais um bom tempo. Em um momento, Ren pediu para dar um recado importante.
-Bem, um dos principais motivos para eu vir encontrá-los hoje - começou - foi pedir a permissão da mão de sua filha, e sua sobrinha, em casamento. 
Ficaram em silêncio por um tempo, enquanto tia Jennifer pulava em sua cadeira, parecendo uma mulher problemática que precisava ser internada. 
-É sério? - perguntou Mike. Sarah já estava processando a ideia. 
-Eu juro solenemente - disse Ren - cuidar de Kelsey, amá-la e tratá-la como a mais doce rainha. Prometo fazer dela a mulher mais feliz do mundo enquanto eu estiver são, e, enquanto eu não estiver, me lembrarei do quanto ela me faz feliz. Por favor, sr. e sra. Neilson e srta. Hayes. Se eu não tiver a sua permissão, não será tão próprio. Amo Kelsey como a minha vida e...
-Mas é claro! - Sarah vibrou de alegria. Neste momento, até Mike sorriam radiante. - Ah, meu deus, não acredito que ela vai se casar! Até alguns meses atrás ela acordava na minha casa e reclamava da minha comida! Estou tão feliz! Confio em você, Dhiren, com a minha vida, e é uma honra lhe dar permissão para casar com a minha filha. 
-Muito obrigado - Ren agradeceu. - Convido vocês para um jantar amanhã, na minha casa. Espero que possam ir...
-É claro que podemos - tia Jen se antecipou. - Estaremos honrados. 
Falamos um pouco sobre a cerimônia. O mesmo papo de casamento indiano vs. americano. Listamos todos os pontos positivos de cada um, fazendo comparações. A minha família optou por casamento indiano. 
Depois disso, liguei a minha câmera na televisão e mostrei todas as fotos. Tia Jennifer fez comentários como "ela já me mostrou", "eu já vi", "eu já sabia", entre outros. Mostrei tudo da caverna de Kanheri, da cachoeira, da festa indiana, Hampi, o Himalaia, tudo, relembrando todos aqueles bons momentos ao lado dos meus tão queridos amigos, que já eram família. Contei cada detalhe sobre cada uma das fotos, contei sobre Yesubai e Anamika, falei e me lembrei de contatar Mary Lanka, mostrei a casa na Índia, a pscina, tudo, até as crianças começarem a bocejar. 
Já era tarde, e eu e Ren decidimos ir embora. Nos despedimos, felizes, da minha família e entramos no carro, prontos para ir para casa.
-Por que não dorme em casa hoje? - perguntei. - Sinto falta de ter você como a minha almofada.
-Tudo bem. Só mande uma mensagem para Kishan - ele disse, e eu logo o fiz. 
-Você quer um casamento indiano ou americano, Alagan Dhiren?
-Eu quero o que você quiser. 
-Sabe, casamentos indianos são lindos. 
-Concordo.
-O que acha de já optarmos pelo indiano? - perguntei. - Quero muito honrar a sua tradição. Acho que ficaria extremamente feliz.
Ele sorriu, apertando a minha mão. 
-Então está acertado. 
Chegamos em casa e os relógios já marcavam meia noite. Subimos para o quarto e, abrindo as portas do closet, exibi para Ren os meus "talentos". 
-Olha o que eu fiz - eu estava bêbada de felicidade, sem ter noção nenhuma do que eu estava falando. Eu só pensava no quanto eu estava feliz. 
-Parabéns, priya - ele falou, se deitando na minha cama. - Nossa, é mais confortável que a minha! Vou exigir do meu avô algo melhor. 
-Para que, se você pode dormir aqui? - logo me aconcheguei ao seu abraço.
-Para você dormir lá. 
Dei risada. 
-Boa noite - falei.
-Boa noite - respondeu Ren. - Sonhe comigo.
Cogitei o quanto seria boa aquela ideia. Teríamos ainda mais tempo juntos, e isso seria incrível. 
-Te vejo lá. 


Notas Finais


Quarto Kelsey:
http://3.bp.blogspot.com/-phy6OOxdQO0/UG9aj4mhboI/AAAAAAAAJwo/joBvX2kpFHc/s640/Traditional-bedroom-furniture-665x432.jpg

Quarto Anamika:
https://ssl-static.westwing.com.br/glossary/uploads/br/2014/12/quarto-rustico.jpg

Quarto Yesubai:
http://1.bp.blogspot.com/-19bzW3ax3lM/T9TVxZ9aseI/AAAAAAAAB0M/9pZm1kk_-2Y/s1600/3.jpg

Roupa Kelsey almoço ( o vestido branco ):
https://ae01.alicdn.com/kf/HTB1RJyAKFXXXXaFXpXXq6xXFXXXR/Plus-Size-Sexy-Women-Summer-Casual-Three-Quarter-Sleeve-Evening-Party-Beach-font-b-Dress-b.jpg

Roupa Anamika almoço:
https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/25/41/52/254152f19039087823ae32fd2556918a.jpg

Roupa Yesubai almoço:
https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/96/bd/20/96bd201fb42d3f50a18dd44c91624074.jpg

Roupa Ren almoço:
http://4.bp.blogspot.com/-sARIVsrLy9Y/VZEttAB_FQI/AAAAAAAAWb4/O92ZJcbqf_M/s1600/sapato_marrom_masculino_dicas_para_usar%2B%252816%2529.jpg


Roupa Kishan almoço:
http://3.bp.blogspot.com/-1RoJ6g2TwS0/VP2LanwbAHI/AAAAAAAAS74/e8UET1z9d_g/s1600/look_all_black_masculino%2B(5).jpg

Roupa Deschen almoço:
http://fashidwholesale.com/wp-content/uploads/2016/07/Mystic-Western-Beautiful-Stylish-Designer-Colourful-Floral-Printed-Casual-Wear-Party-Wear-Cambric-Cotton-Kurtis-B2B-308.jpg


Um exemplo dos tops e calças que a Ana comprou:

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https://cdn-img-2.wanelo.com/p/e29/0ca/206/42c28dcbac9aa1abe790454/x354-q80.jpg

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https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/564x/8f/57/ca/8f57cada99a30303cb406eb252b42bb6.jpg

http://extremebody.com.br/media/catalog/product/cache/1/image/800x900/9df78eab33525d08d6e5fb8d27136e95/t/o/top_preto.jpg

http://img.elo7.com.br/product/zoom/CA054B/top-cropped-cruzado-preto-transpassado.jpg

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Espero que tenham gostado! Amo vcs<3


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