Assim que Ren saiu do quarto, eu fui para um banheiro e resolvi tomar um banho. Liguei a torneira e esperei a banheira se encher. Ao me despir, entrei na água o mais rápido o possível. Logo o meu corpo todo se esquentou e eu relaxei, sentindo a água morna tocar cada um dos meus machucados.
Depois do banho, coloquei uma calça jeans grossa, uma blusa de manga comprida verde-oliva e um casaco preto. Calcei as minhas botas e penteei o cabelo. Tentei passar maquiagem, mas meu rosto doía tanto que não consegui tocá-lo. Dei de ombros e saí mesmo assim.
Fui até a cozinha para pegar um pouco de água, encontrando Phet sentado à mesa escrevendo alguma coisa.
-Oi, Phet - eu disse.
-Olá, Quel-si.
-Vamos sair para jantar hoje, o senhor vai?
-Ah, não, não. Hoje Phet escreve destinos - murmurou.
Franzi o cenho diante daquela resposta, mas resolvi não questionar.
-Você sabe onde estão os outros? - perguntei.
-Ah, sim. Anik carro, Anamika vizinho, Kishan e garota seus quartos e Dhiren quarto de Anik.
-Obrigada - eu disse, fazendo um movimento com a cabeça e indo em direção ao quarto do sr. Kadam, onde Phet disse que Ren estava. Bati na porta, ouvindo um "pode entrar" como resposta. Entrei devagar, encontrando Ren parado, sem camisa, em frente ao espelho. Haviam alguns hematomas no seu tórax, mas nada se comparava aos meus.
Ele se virou e sorriu para mim. Sorri de volta, indo de encontro ao seu beijo. Ele me beijou de forma suave, sem que eu sentisse dor.
-Estou quase pronto - ele disse. -Vamos sair daqui a pouco.
-Ok. Phet não vai.
-Ah, não. Hoje ele vai escrever destinos.
-O que é isso? - indaguei.
-Não sei - ele respondeu, sincero. - Qual eu coloco? - perguntou, indicando dois suéteres, um preto e um verde.
-Preto. Você fica bem de preto, embora eu prefira de branco.
-O irmão que usa preto é Kishan - afirmou, me fazendo rir. - Você fica bem de verde-oliva.
-Obrigada.
Ele pegou o suéter preto e o colocou, me distraindo com o movimento dos músculos das suas costas. Logo Ren se virou e deu mais um sorriso, tomando a minha mão e entrando no corredor ao mesmo tempo em que Kishan e Yesubai saíam do quarto. Dissemos adeus a Phet, fomos até o carro e entramos no banco de trás, já que Anamika já se postava no da frente.
-Pra onde vamos? - Yesubai perguntou.
-Para um restaurante aqui nas redondezas - respondeu o sr. Kadam.
Ela assentiu e então o carro começou a andar. Fomos devagar até sairmos do vilarejo. Adentramos na estrada nevada e descemos um pouco a montanha até alcançarmos um local onde não havia tanta neve assim. Uma rua um pouco mais movimentada surgiu e seguimos nela até que chegamos no estacionamento de um restaurante grande e iluminado.
-Chegamos - disse o sr. Kadam.
Ren abriu a porta para mim e eu desci, segurando em suas mãos. Nos dirigimos até a entrada do restaurante, onde um garçom veio nos atender.
-Olá - disse ele, em inglês.
-Olá - respondeu o sr. Kadam. - Mesa para seis.
O garçom assentiu e nos guiou para um canto do restaurante onde se situava uma mesa de seis lugares. Sentei primeiro, sendo seguida por Ren e depois os outros. Quando fomos pegar o cardápio, o sr. Kadam os tomou de volta de disse que Phet havia indicado um prato chamado "Real Khasi Ko Masu", típico nepalês e que todos deveriam comê-lo. Aceitei, mesmo com medo de vomitar depois.
-Eu não quero vomitar depois - sussurrei para Ren, que deu risada.
-Fica tranquila.
-Não tem como ficar tranquila. Olha só, todo mundo está me olhando.
-Porque você é linda - ele disse, sorrindo.
-Porque eu estou parecendo um pão embolorado.
Ren riu e me abraçou, sussurrando em meu ouvido:
-Cada marca no seu corpo me faz te amar ainda mais. Cada marca é uma prova da sua coragem.
Sorri, enterrando o rosto no seu pescoço.
-Eu amo você - sussurrei.
-Eu também amo você.
Neste momento, a comida chegou. Não soube distinguir o que era e torci o nariz para o forte cheiro. Anamika não esperou os outros, apenas pegou o seu prato e começou a comer. Kishan não hesitou em provar os pratos, logo sendo seguido por Yesubai. O sr. Kadam também provou o prato, sendo visível a sua satisfação.
Ren olhou para mim, me entregando o meu.
-Não vai comer?
-Tenho medo - respondi.
-Sério, depois de se infiltrar em uma base secreta e lutar com os soldados de Lokesh você ainda tem medo de alguma coisa?
Dei risada.
-Sim. Tenho medo de tubarão - eu disse, fazendo-o rir.
-Coma. Se não gostar, pedimos outra coisa.
Assenti, pegando um garfo e cortando um pedaço da carne. Apesar da diferença de sabor, muito mais temperado, era muito bom.
-Hum - grunhi. - É bom - disse para Ren, que já comia o seu.
-Não falei?
Quando terminamos de comer, começamos a conversar na mesa. O sr. Kadam se dirigiu para mim, Anamika e Yesubai.
-Meninas, como disse no café da manhã, as senhoritas vão morar próximas umas das outras. E também próximas dos meninos - ele falou.
-Não entendi - questionei. - Vamos morar no mesmo bairro?
-Vou explicar - começou o sr. Kadam. - Vocês irão morar na mesma rua, em um condomínio perto da empresa. Yesubai pediu para morar com mais alguém, para não se sentir mais só, então vai viver com os meninos e Deschen. Do outro lado, estarão as casas de Anamika e Kelsey.
-Sr. Kadam! Não precisava disso! - brandei. - Não sei nem como poderia agradecer.
-Nós todos fizemos questão - ele disse. - A senhorita pode agradecer aceitando.
-Obrigada - eu disse. - Vocês são pessoas muito, muito boas.
Anamika resolveu se manifestar.
-Eu vou... trabalhar? - disse ela, esperançosa.
-Claro. a srta. Kelsey já tem o seu emprego, mas Yesubai e Anamika vão começar a trabalhar na empresa. Será ótimo para mim. Aliás, Anamika, encontramos o seu irmão. Entrei em contato com ele e Sunil irá para o Oregon, morando no mesmo condomínio.
-Não acredito! - ela disse, feliz. - Muito obrigada, Anik. Estou muito feliz.
Os outros começaram a conversar, enquanto Ren e eu entramos em nosso próprio mundo particular.
-Mal posso esperar para morar perto de você - ele disse.
-Eu também.
-Vou passar todos os dias inteiros na sua casa. Vou ajudá-la a decorar cada canto do ambiente com o nosso amor. E vou preparar o nosso casamento - ele riu baixinho.
-Farei tudo isso imensamente feliz, junto do amor da minha vida.
-Eu? - ele perguntou, brincalhão.
-Não, Kishan - respondi, caindo na risada e levando-o a fazer o mesmo.
Apesar de ainda doer, eu me permiti sorrir. Agora eu teria uma vida nova, cheia de planos e sorrisos, ao lado de Ren. Ainda teria a amizade dos outros, um bom emprego e uma boa casa, um lar. Uma família.
Eu estava tão feliz que não conseguia disfarçar. Minha alegria contrastava completamente com o meu rosto machucado. Tê-los ali, felizes ao meu lado, era a melhor coisa depois de tudo o que havíamos passado. Agora eu tinha novos amigos que levaria para a vida toda, além de um segundo pai e um grande amor. Eu estava pronta para levar a minha vida adiante e ser feliz.
Conversamos desse jeito por mais um bom tempo, até nos cansarmos. Quando decidimos ir para casa, já era tarde. Todos estávamos mortos de sono, e fomos praticamente dormindo no caminho. Chegando lá, Anamika foi para a sua casa, o sr. Kadam para o seu quarto e Kishan e Yesubai foram dividir o outro. Sobramos só eu e Ren na casa vazia, ele teria de dormir comigo.
Vendo nossa única alternativa, ele deu de ombros e sorriu, pegando a minha mão e me guiando para o quarto. Me deitei abraçada a ele, sentindo todo o calor que Ren emanava e o sentimento gratificante que era tê-lo comigo. Como eu estava cansada de mais para beijá-lo e dizer que o amava, caí no sono com os pensamentos imersos em uma vida repleta de amor.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.