História Destiny, or nah? - Uma adolescente novamente apaixonada.

Era muito melhor do que se imaginava. Parecia que nós dois nos conhecíamos à tempos, tanto que a velocidade e inclinação eram quase instintivos, as sugadas e mordidas sincronizadas, e o caminho percorrido pelas mãos encomendado. Nossas respirações ficaram altas e ofegantes, cabelos já estavam totalmente bagunçados, roupas amassadas e palmas suando. Me obriguei a segurar seu rosto entre as mãos, os polegares pousados em suas bochechas quase coradas para recuperar as batidas de meu coração. Nos fitamos em contentamento por quase um minuto sem dizer absolutamente nada, quando Jack apertou os olhos e disse:  — Eu sinto muito.

"Me apaixonei do mesmo jeito que alguém cai no sono: gradativamente e de repente, de uma hora para outra."

— Não sinta, Jack. — juntei nossas testas. — Não sinta.

— Mellanie, eu estou apaixonado por você. Eu sei que isso pode parecer loucura, uma grande idiotice, enorme imprudência, sem sentido e sem explicações. Não quero negar o simples prazer de compartilhar algo verdadeiro. Eu me apaixonei por você e quando estou apaixonado, fico extremamente possessivo, chato, ciumento, bobo... Eu sei, e isso não é nem o começo. Mas agora me aguente, ninguém mandou roubar meu coração. 

— Jack... — supliquei em meios aos beijos que ele depositava em meus lábios. — Vamos com calma. 

— Me diz uma coisa... — segurou meu rosto com suas mãos e fitou meus olhos profundamente. — Ainda posso ter esperanças por uma chance?

— Eu preciso de um tempo. — apertei os olhos. — Um tempo para me acostumar com esta ideia, um tempo para organizar os sentimentos de uma adolescente novamente apaixonada.

— Eu espero. — ele diz, acariciando minhas bochechas com os dedos polegares. — Eu respeito sua decisão. Eu espero o tempo que for preciso, anjo.

— Obrigada. — sorrio. Jack selou meus lábios mais algumas vezes e logo se esborrachou no sofá.

— O que pensa que está fazendo? — cruzei os braços na altura do peito. Ele riu.

— Acomodando meu traseiro. — deu uma piscadela. — Agora para de resmungar e senta logo aqui comigo, marrenta. — deu dois tapinhas no sofá.

— Você gosta. — descruzei os braços e sentei ao seu lado.

— É, pois é, eu gosto. — deu de ombros, rindo convencido.

"Preciso admitir, sou muito irônica, e grossa as vezes, um pouco meiga de vez em quando. Gosto do meu lado apaixonada, mas quase nunca aparece. E meu lado safado chega a me assustar. Protetora e ciumenta ao extremo. Tenho um gênio difícil e um temperamento forte. As vezes sou barraqueira, outras, calma até demais. Dura como uma pedra e frágil como um vidro. Um poço de orgulho, e mais conhecida como a rainha do drama, essa sou eu. E sabe o que mais me assusta? Ainda tem gente que gosta."

(...)

Estávamos posicionados no sofá, Jack sentado normal com os pés sob a mesinha de centro e eu de lado, as pernas jogadas em cima dele. Depois de aprender que botão fazia o que e de ter convencido Jack a jogar um jogo menos violento — no caso, Super Mario —, nós nos concentramos no que acontecia na tela e no movimento de nossos dedos por um longo espaço de tempo. Fase após fase, comigo dando gritinhos contidos cada vez que alguma coisa surgia para nos atacar ou quando era necessário pular rápido de uma plataforma para a outra, e Jack dando risada das minhas habilidades inexistentes com o controle. Até eu resolver que salvar a princesa era um objetivo monos digno do que tirar Jack do sério. Passei a atrapalhar o caminho dele, a sempre que possível fazê-lo cair em algum buraco ou lidar com algum monstrinho sozinho. Dava risadas longas sempre que conseguia fazer ele rosnar um palavrão, e sorrisos arteiros quando não conseguia e por isso preferi tentar fazer-lhe cócegas na barriga com a ponta dos pés. Chegou um momento que Jack desistiu de tentar chegar até a bandeira sozinho, largou o controle e segurou minha perna na altura dos dentes, onde distribuiu mordidas ardidas que me fazia balançar toda e chorar durante a risada. Foi durante aquele contexto que meu celular escolheu tocar. Atendi, ainda com a voz desafinada dos gritos e gargalhadas e conversei com a outra pessoa na linha por alguns segundos antes de reclamar com Jack do volume da televisão — a musiquinha de Mario não me deixava ouvir muita coisa —, e coloquei no viva-voz assim que esta foi desligada.

— Está me ouvindo agora?

— Oi, Matthew. Estou sim, me desculpe por aquilo. Jack não queria colaborar. — alfinetei com um sorriso provocador nos lábios, e recebi um apertão na barriga que me fez soltar um gritinho.

— E aí, casal. Mandou bem, J, estou orgulhoso.

— Oi? Como você sabia que Jack está aqui? Aliás, não somos um casal. — fitei Johnson e ele sussurrou um "ainda". Revirei os olhos.

— Me agradeça porque foi eu que bolei tudo isso aí. — Matthew riu.

— O que?! — pulei do sofá.

— Avisei Jack que você voltou comigo e que passei a noite em sua casa. Ele ficou puto, é fato, então... pedi para ele criar vergonha na cara de uma vez e ir falar logo com você. — fitei Johnson novamente, ele sorriu, concordando com a cabeça.

— Matthew, seu..

— Lindo, eu sei. — disse, convencido. — Obrigado. 

— Cala a boca! — rosnei, mas nem deu tempo de me fazer de durona que logo deixei escapar uma risada. 

— Ui, selvagem. — gargalhou. — Sei que está ocupada e que vai permanecer ocupada nas próximas horas, então, só queria deixar avisado desde já que amanhã você irá passar o dia comigo, combinado?

— Porra, Matthew! — Jack berrou, fazendo cara de maus amigos, mesmo sabendo que o garoto da outra linha não iria vê-lo.

— E aí, J, tudo na paz? — Matthew provocou, Jack revirou os olhos.

— Está bem, Matthew, combinado. — digo. Jack bufou alto.

— Passo na sua casa depois do café da manhã. Use tênis!

— Por que? — arregalo os olhos.

— Se cuida, Mel, juízo! — e desligou, deixando-me com minhas temidas dúvidas.