1. Spirit Fanfics >
  2. Desventuras de Um Soldado Sem Nome >
  3. O Soldado Sem Nome

História Desventuras de Um Soldado Sem Nome - O Soldado Sem Nome


Escrita por: EndlessZoro

Notas do Autor


O passado do soldado se revela aos poucos...

Capítulo 2 - O Soldado Sem Nome


 _O que buscas aqui? - Ralhou o velho dono do estábulo onde eu buscava abrigo.
 _Meu bom senhor, sei que aparento vadiaria, mas peço que entenda, vim dos campos além das montanhas, dali onde o sol agora nasce, onde debaixo da grande árvore vi meus companheiros caírem, enquanto o sangue de meus mais próximos amigos banhava suas raízes. Frágil humano que sou, me envolvi em guerra de titãs e deuses, e não por mais mérito que sorte sou sobrevivente solitário.
 O homem olhou-me de cima a baixo, avaliou minha espada e minhas vestes ainda ensanguetadas e sujas, e perguntou-me:
 _E onde estão agora estes deuses por quem lutaste?
 Como minha atenção fugia ao horizonte e o reflexo de uma lágrima que eu jamais me permitiria derramar se aprontava em meus olhos, o velho viu verdade em minhas palavras e a compaixão veio o assolar. Disse ele antes que eu proferisse resposta:
 _Entre e coma um pedaço de pão. Haverá jantar farto esta noite e ofereço-te uma coberta quente e um pouco de palha macia para que durmas com os cavalos. Sinto não poder lhe oferecer mais pois tenho esposa e filhos e não disponho de tanto ouro e luxo quanto os nobres podem esbanjar para desconhecidos. Deves partir ao raiar do sol, e nos pagar com os contos de suas glórias e derrotas na batalha que travastes.
 Agradeci ao bom homem com uma reverência tão longa e educada quanto meu cansaço me permitia, mas jamais tão nobre e elegante quanto minha gratidão desejava. Não tardei a entrar e sentar junto ao fogo, aceitando a comida e água que a gentil dona me estendia.
 _Diz-me quem és e por quem tão ferozmente lutaste, meu caro guerreiro viajante! - Exclamava ela, que estivera ouvindo sob as sombras da porta.
 _Meu nome - disse a ela - eu perdi na guerra, gentil senhora. Mas podes me chamar Soldado, que é a última palavra me lembro, de muitos companheiros meus que gritaram por mim e busquei salvar mas minha mão não alcançou a tempo. Alguns diziam de fato "Salva-me meu companheiro soldado!", mas ainda me lembro do alívio dos que diziam "Ao menos morri como soldado!".
 Humilde camponesa que era, a nobre mulher não entendeu muito bem minhas palavras, mas seu forte e experiente marido a mandou cessar de perguntar:
 _Deixa-o, minha querida amada. O Soldado precisa descansar. Uma guerra é capaz de exaustar tudo num homem, seja seu corpo, sua mente ou seu nome.
 Ele voltou-se então para mim:
 _Lava-te no lavabo, leva esta coberta e dorme por esta tarde, pois à noite te serviremos e lhe apresentarei nossos filhos. Pela manhã te guiarei até onde seu cruel passado te fará grande, pois os sentinelas ficarão felizes com a ajuda de um sobrevivente entre os que guardam esta cidade.
 A gratidão me enchia ao ponto que eu sentia seu peso, mas meu corpo não mais aguentava nem mesmo agradecer. Obedeci-o e me retirei.
 A noite já reinava quando a boa senhora me chamou de volta, e me despertou finalmente do pesadelo sem fim do qual o cansaço não me permitia acordar.
 _Venha bravo Soldado! Todos já estão ao redor da mesa a te aguardar!
 Entrei e sentei-me junto a eles, admirando a mesa farta diante de mim. As crianças me observavam, umas com medo, outras com ansiedade, e meu anfitrião me recebia e me oferecia bebida para brindar.
 _Vamos! - Dizia ele já um pouco embriagado, sorrindo para mim - Prometestes pagar nossa hospitalidade com tuas histórias!
 _Não são histórias belas, te digo. Tampouco honrosas ou admiráveis.
 _Mas não eras um herói? - Bradou um dos garotos. - Não sobreviveras entre monstros e quimeras?
 _Sobreviver foi feito meu, é verdade. E também não foi como um covarde que foge à luta. Lutei e avancei por planícies e planaltos, sob chuva congelante e sol escaldante, em noites escuras e noites de luar. E lutavam ao meu redor deuses e titãs, anjos e demônios, feras e guerreiros. E enfrentei-os todos igualmente, e temi-os todos igualmente. Podia quase sentir a morte pelas presas das bestas, as magias dos diabretes e as espadas daqueles que também atendiam por soldados e capitães.
 _És de fato herói! Derrotastes a tantos inimigos terríveis!
 _Meu jovem rapaz, não, não te enganes. Jamais os derrotei. É verdade que cravei espadas em seus peitos e fiz jorrar o sangue de um número deles, mas não antes de cumprirem seus propósitos e fazerem sua parte na destruição de tudo que mais amei. Sobrevivi, é verdade, mas a triste realidade é que eu já havia perdido esta guerra antes mesmo dela começar, perdi quando jurei vingança e corri contra um inimigo que já não tinha motivos para atacar. Um inimigo que já dominara tudo e todos, e apenas nós rebeldes o desafiamos, não para ganhar algo, mas por não ter mais o que perder.
 Me ouviam já em silêncio, e fiz menção de me desculpar por desanimá-los, mas notei que de fato estavam em reflexão, e que a história realmente os interessara.
 _Talvez - comecei - Eu devesse contar-lhes sobre um tempo melhor e mais glorioso. Um tempo que ainda há de vir. - pensei, intentando contar-lhes sobre as visões que o oráculo me ditara. Mas soou de repente um uivo que cortou o ar, e a janela explodiu-se em estilhaços com a entrada daquele que eu viria a saber só consome e destrói.
 Ambos eu e meu anfitrião corremos para nossas espadas, mas o intruso era ágil e cravou suas unhas afiadas no pescoço do generoso criador antes que ele pudesse se armar. Era como na guerra onde nunca fui alvo primo, e por tal maldição a que chamam sorte vivi para ver a queda e o sangue de todos. Avancei então e perfurei-o no braço esquerdo, ao que o direito veio me degolar. Mas parou. Olhou-me nos olhos e poupou-me.
 _A vitória é tua, lutador sem lâmina. Por quê não honras a nós dois e termina esta minha vida de guerreiro?
 _Posso ver em teus olhos. És o prometido pelo oráculo. Aquele que há de me guardar por incontáveis luas, enquanto lutamos sem armas nem braços, apenas com nossos ideais como escudo e nossas palavras como lança.
 Encarei aqueles olhos bestiais e vi que ele dizia a verdade. Olhei para a família assustada que se encolhia contra a parede, e de volta para o selvagem que ainda me observava com as presas à mostra. Ele pareceu me entender, e baixou as garras, ao que imediatamente tirei de seu braço a espada e joguei-o no chão.
 _Você mais velho e mais bravo de seus irmãos, que não tremula diante da tragédia e da morte que aqui vês. Cessa de se postar diante deles pois a ameaça foi contida. Vai e chama os sentinelas, para que o amordassem e o enjaulem.
 O garoto hesitou, mas correu e buscou os guardas, que chegaram sem tardar.
 _Como se chamas, demônio ou sombra que olhos gêmeos aos meus carrega? - Perguntei aos sussurros antes de entregá-lo. Ele sorriu, e me olhou com desdém, como se percebesse que o Soldado em mim sumia, e novo nome eu breve construiria com aquela família pela qual eu agora me sentia responsável.
 _Aguarda com cuidado, pois com ou sem profecia, anseio pela liberdade, e nenhuma previsão o salvará quando minha vontade se fizer livre.- ele lançou um olhar ao estábulo e seus donos, e deixou-se levar pelos soldados, deixando o vento trazer a meus ouvidos suas próximas palavras:
 _Chamam-me Devorador, e Aquele que Mora nas Desolações. Sou Fenrir.
 E assim foi, levado para uma cela no centro da vila, cuja segurança eu seria incubido de cuidar. Observei enquanto o som daquele nome saía de meus lábios, como o prenúncio de uma grande catástrofe:
 _Fenrir...



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...