1. Spirit Fanfics >
  2. Desventuras em Hogwarts >
  3. Capítulo 23

História Desventuras em Hogwarts - Capítulo 23


Escrita por: Clove-Delacour e TrizMoraes

Notas do Autor


Gente, não sei o que dizer...
Não queríamos ter demorado tanto, mas foi tão díficil. Continuaremos tentando postar até terminá-la, mas talvez seja melhor excluimos a fic e depois, quando já estiver tudo pronto, repostá-la.
Não sei. Sinceramente, não sei.

Capítulo 24 - Capítulo 23


P.O.V CALEB

O ar da varanda é frio e puro. Aqui há duas cadeiras de vime penduradas no teto por cordas compridas. Acomodo-me em uma delas, abrindo espaço entre as almofadas e deixando o vento me balançar e girar.

- Também não consigo dormir.

Giro a cadeira de balanço. Jill está encostada no batente da porta. Ela se aproxima, ajeitando o roupão para barrar o vento, e se senta na cadeira ao lado, se movendo levemente.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas observando a extensa charneca, enlameada devido à tempestade. O cheiro de lama que me alcança é reconfortante e me permite clarear as ideias.

Os olhos de Jill estão fixos na lua. Ela tenta esconder a mão esquerda – a mesma que queimou em contato com a barreira para demônios -, que está enfaixada. Sua expressão é serena, mais calma do que nunca. Mesmo assim, quando a olho, é como se seu formato alterasse, deformasse, e a voz das sombras retornasse.

Mas não há nada disso. Continua a mesma Jill de sempre, ou pelo menos aparenta ser. Só há um detalhe diferente: sua íris, que antes tinha apenas um reflexo esbranquiçado, agora está totalmente cinza, como se a cor tivesse sido sugada deles.

- Hey – Jill estala os dedos diante dos meus olhos e abandono os devaneios. – Ouviu o que eu disse?

Balanço a cabeça negativamente. Ela sorri.

- Esquece. Você obviamente quer ficar sozinho e eu estou atrapalhando. Desculpa.

- Não – seguro-a pelo roupão quando ameaça se levantar. – Fique.

Ela não discute e se acomoda novamente.

- Para onde você acha que iremos amanhã? Brejeiro disse que ficaremos seguros lá– diz, apertando os nós dos próprios dedos nervosamente.

Seria bom se soubéssemos do que precisamos ficar seguros.

Respiro bem fundo, concordando.

- Para a sede da Franqueza.  É onde fica a entrada mais próxima da Cidade dos Ossos.

Seus olhos se arregalam, surpresos.

- E por que você acha que iremos para a Cidade dos Ossos?

Viro-me para ela, meus olhos vidrados nos seus – um claro e um escuro, uma combinação tão contrastante e, ao mesmo tempo, tão suave.

- Porque é o último lugar que gostaríamos de ir.

- Faz sentido – ela concorda.

Inquieta, a garota começa a rodar em seu assento, retesando a corda.

- Então... – começa. – A Cerimônia de Escolha está chegando. Você não precisará mais se prender à Franqueza.

Viro a cabeça bruscamente, surpreso pela observação de Jill. Seguro sua cadeira, obrigando-a a parar de rodar porque já estou ficando tonto.

- O que isso quer dizer?

Ela afasta minha mão, voltando a rodopiar como uma criança com seu novo brinquedo.

- Convenhamos que honestidade não é seu ponto forte, Caleb.

Quero negar, refutar a ideia. Mas as palavras entalam em minha garganta, de modo que quase não consigo dizer:

- O seu também não.

E, de repente, o brilho nos olhos dela se perde e a expressão some de seu rosto. Há apenas um vazio. Ela me encara com seriedade, como se selecionasse as palavras que queria dizer.

- Eu senti você hoje mais cedo, sabia? – Ela começa. – Lilith também. Lá em cima. Não sei como, mas senti. Vocês ouviram tudo.

Não só ouvimos, nós vimos também.

Perco o fôlego diante das lembranças de mais cedo. Por um momento, temo  que ela se transforme de novo naquela coisa.

Quando vê minha expressão, não é ódio que há em seus olhos, e sim mágoa. Ela está magoada por minha causa. Porque tenho medo dela.

- Eu não sabia. – Diz. – Juro que não sabia. Sentia que havia alguma coisa errada, mas isso... – Ela encara as próprias mãos, como se garras pudessem surgir a qualquer momento.

Não sei o que responder, então apenas a ouço. E ela não parece se importar com isso, pois continua:

- Aquela coisa tem razão, não é mesmo? Sou fraca, não vou conseguir mantê-lo preso não o bastante para manter quem amo em segurança. – Em um pulo, ela salta de sua cadeira e ajoelha na minha frente, o esforço para segurar as lágrimas evidente em seu rosto. Suas mãos envolvem as minhas em desespero, tremendo, e finalmente percebo aquilo que tanto temia: ela irá lutar, mas não tem forças para continuar.

Ela irá desistir.

- Eu não sei se consigo. – Ela continua. – Não depois de hoje. Tudo o que senti, tudo o que fiz... Olhe minha mão! Não sou capaz de controlá-lo, Caleb. Ele está na minha cabeça, sussurrando, colocando ideias na minha mente. Eu estou enlouquecendo.

- Jill, por favor, pare. Se acalme...

- Não! Você não entende... – Ela aperta minhas com mais força, se é que é possível. – Caleb, me escute, por favor. Preciso que me prometa uma coisa. Me prometa.

- Eu...

- Me prometa, Caleb!

Estou desnorteado. Vê-la assim, frágil, desesperada, com medo, me faz querer abraçá-la e protegê-la do mundo. Faz-me esquecer de tudo: do demônio possuindo seu corpo, da sua mão queimando, seu plano para matar a mim e a Alex. Tudo sumiu. Agora, é apenas ela. Apenas a Jill.

- Eu prometo – Digo.

Minha frase parece ter um efeito calmante nela.

- Eu tentarei ao máximo mantê-lo preso. Eu juro. Mas vai chegar um dia que eu não agüentarei mais. – Dessa vez, sou eu que aperto suas mãos ao perceber aonde ela pretende chegar com essa conversa. – Não pode deixá-lo tomar conta do meu corpo. Entendeu, Caleb? Você não pode!

Eu entendi. Entendi tudo o que ela disse, e até mesmo o que não foi dito.

Mesmo que para isso seja preciso me matar.

 

P.O.V TRIZ

Estávamos todos de pé ao nascer do sol. Uma hora se passou e já estamos todos vestidos (dei um jeitinho em nossos trajes do Torneio, afinal, embora eu goste de bugigangas trouxas, a magia tem lá seus encantos), de café tomado e prontos para sair.

Enquanto Brejeiro verifica os últimos detalhes antes de partirmos, resolvo chamar Jill em um canto para conversar. Finjo não reparar em seus olhos. Ela se abrirá comigo sem que eu peça, não é? Afinal, somos melhores amigas. Melhores amigas sempre contam tudo umas às outras, certo?

Certo?

- Então – começo. – Tudo bem com você? Parece cansada.

- Não tive a melhor das noites – ela responde, esfregando os olhos com preguiça.

E neste momento sinto a minha esperança fugir, como o ar escapando de um balão. O desapontamento me fura como a ponta de um garfo perfura um bolo. Ela não se abrirá comigo.

Não, isso não é certo.

Estou perdendo a minha amiga a cada segundo que passa.

Lembro de algo subitamente.

- Aqui – chamo, retirando do bolso do traje um pequeno broche dourado e estendendo-o a ela. – Isso vai te trazer sorte. – E fará com que carregue uma parte minha com você para sempre.

Ela encara a diminuta peça com intensidade: um pequeno pássaro com as asas presas em um círculo de ouro e segurança uma flecha com o bico. Um tordo.

- Eu não posso aceit... – Começa, mas me afasto antes que finalize a desculpa.

- Podemos ir? – Pergunta Brejeiro a ninguém em especial.

Utilizamos o Pó de Flu novamente. Aterrisso em uma lareira completamente diferente. Na minha frente encontra-se uma enorme recepção – tão clara e lustrosa que consigo ver o reflexo da abóbada de vidro no piso de linóleo preto.

Saio da lareira bem a tempo da aterrissagem de Alex, que encara a sede da Franqueza com a mesma admiração.

Foi está manhã que Brejeiro nos contou aonde seríamos levados. Não entendi muito bem o motivo. Como sempre. Parece que todos sabem e que conspiraram para nos manter por fora. De uma maneira ou de outra, Alex e eu combinamos de manter os olhos bem abertos caso nosso novo amigo Brejeiro não seja tão amigável quanto aparenta ser.

Um homem está a nossa espera no centro do salão, acompanhado por duas outras pessoas.

Jack Kang, o líder da Franqueza. Ele é um líder jovem, se comparada às outras facções – exceto a Audácia. Ele é bonito, de cabelo preto, olhos ternos e puxados. Bem, se há alguém que pode nos contar sobre o que está acontecendo sem enrolação, esse alguém é ele.

- Seremos devidamente apresentados mais tarde – diz o homem. – Por agora, venham.

Ou não.

Seguimos o trio da Franqueza por uma sequência de corredores e salas perfeitamente iluminados. Vez ou outra percebo Caleb engolir em seco ao meu lado. Estranho! Ele é o que mais deveria se sentir confortável, afinal, passou boa parte de seu tempo neste lugar.

Algum tempo depois, alcançamos um pátio ao ar livre. No centro dele há uma grande estufa de vidro opaco e negro, de forma que se torna impossível de enxergar através dele. É um pouco estranho, pois uma estufa é algo que eu posso esperar da Amizade, não da Franqueza.

- Senhorita Pole – Jack se vira para nós, ajustando a gravata e fechando o botão do terno, da mesma maneira que todos os homens que usam terno fazem. -, por aqui. O restante pode acompanhar Samuel até os dormitórios. – Disse, indicando um dos homens que nos acompanharam.

- Dormitórios? Agora? – Questiona Alex, mas é ignorado pelo líder.

- Vão. – Diz, entrando na estufa sem uma única olhadela para trás.

- Pode ir, Jill – Incentiva Brejeiro com um aceno. – Eles são capazes de te ajudar. Vá.

- Do que você está falando? – É a minha vez de perguntar. – O que é que tem lá dentro?

Brejeiro sequer parece ter ouvido meu questionamento. Seus olhos não deixam os de Jill, como uma faca que mira seu alvo.

- Vá.

E Jill, após um momento de hesitação, avança um passo.

- Espere – Caleb agarra seu pulso.

Eu não me movo, sem entender como Brejeiro é capaz de exercer tanta influência sobre Jill. Será que ele a enfeitiçou? É único motivo que consigo pensar para que ela não o questione.

Quando Jill se volta para Caleb, vejo o brilho em seus olhos. Não, isso não é feitiço. Ela realmente confia no paulama. Ela acha que ele está certo.

Mas o que é que está acontecendo aqui?

Por instante, Jill e Caleb se encaram. De repente, ela puxa o braço com força.

- Eu sei – diz ela, se afastando e mergulhando na escuridão dentro da estufa.

- O que você disse a ela? – Alex balança o primo pelos ombros. – O que é que ela sabe?

 O braço de Caleb está parado no ar, como se ainda segurasse o pulso de Jill. Seus olhos estão vazios, encarando a porta aberta da estufa.

- A Cidade dos Ossos.

 

                                                                         ***

Não demorou muito para que dispensássemos a presença de Samuel: Caleb conhece este lugar como a palma da mão. O príncipe disse que quando mais novo, seu pai o mandava para cá para aprender os princípios da sua facção direto da fonte.

Caminho o mais longe possível de Brejeiro, pois faço questão que ele perceba o quanto estou irritada por ele não contar o motivo de Jill ter sido levada. O paulama respeita meu espaço, mantendo-se afastado, mas obviamente não concorda com a minha atitude.

Caleb nos guiou até outro complexo, na parte mais interna da sede.

- Dormitório B.95 – ele lê a plaquinha pendurada na porta. – Este é o nosso, Alex. E aquele é o seu. – Ele se dirige a mim, apontando a porta vizinha: B.97.

É neste momento que nos lembramos de Lilith. Ela, que esteve tão silenciosa desde hoje cedo, abriu a porta do quarto de Caleb com força. Segurou os cabelos com força, como se ouvisse os próprios pensamentos e não gostasse nem um pouco deles.

- Lilith? O que houve? – Pergunto.

- Estou sentido – ela diz. – Estou sentindo, estou sentindo...

- O quê? Está sentindo o que? – Alex tenta se aproximar, mas ela o empurra.

- Eles sabem. Sabem que estamos aqui. Vão vir atrás de nós...

- Quem... – Começo, mas ela se abaixa, as mãos no rosto, como se para se isolar de nós.

- Isso parece uma crise de pânico. Cuidem dela. – Fala Brejeiro. – Vou ver se encontro alguém para ajudar. – E deixa o quarto.

“Ele ainda está ouvindo”, a voz de Lilith nos pega de surpresa. Olho a sombra na fresta embaixo da porta e reprimo um arrepio.

“Está nos espionando”, afirmo.

“Quero só ver o que a Jill v...”, Alex começa.

“Não!”

Viramos todos para Lilith. Ele está com uma expressão determinada, o oposto do que aparentava segundos atrás.

“Não podemos falar para ela”, Lilith afirma. “Temos que deixá-la fora disso o máximo que pudermos. Se não, o perigo será maior”.

A sombra sob a porta ainda não se foi.

“Não me perguntem o motivo. Mas eu sinto. Tudo, tudo o que aconteceu, desde o início do Torneio... Jill está envolvida.

 

***

 

P.O.V JILL

“Você acha que essa é...”

“Sim”

“Então não vá, pode ser perigoso!”

- Eu sei.

Dá para você parar de pensar nisso?

Deve ser a milésima vez que a conversa com Caleb retorna a minha mente. Legião não parece muito satisfeito com isso.

Cala a boca, digo.

Em resposta, o demônio torceu minha mente, como se torce um pedaço de pano molhado. Vejo minha visão embaçar e por pouco não encontro o chão.

- Senhorita Pole, está tudo bem?

Jack Kang está segurando meu braço, impedindo que eu caia.

- Tudo sim- respondo após minha visão retornar.

Continuamos caminhando. Os corredores são falhamente iluminados por tochas dispostas em sua extensão. O cheiro forte de pergaminho e terra se faz presente.

Estamos no subsolo. Desembocamos em um grande salão e preciso apertar os olhos com a nova luminosidade. Estamos em uma biblioteca gigantesca. No centro do lugar há um pedestal, onde se encontra apoiado um grande livro. O chão ao redor é riscado por figuras negras estranhas, robustas e espiraladas. Junto ao pedestal há alguém – provavelmente um homem -, coberto por uma túnica dor de pergaminho. O capuz impede que seu rosto seja exposto.

- Irmão Shadrach – cumprimenta Jack.

Sinto minhas unhas rasgarem a superfície da palma no momento em que cerro os punhos. Ele é um Irmão do Silêncio.

Conforme avanço junto de Jack, o embrulho no estômago aumenta. Não posso vomitar, não posso.

Consigo ver o rosto do Irmão Shadrach com mais clareza, e preciso me forçar a não parar de andar: o seu rosto é todo mutilado, os olhos e boca costurados.

Não tema.

Rapidamente levo as mãos à cabeça, esperando a tortura que não veio. Por um momento, achei que o demônio havia retornado para me machucar sem motivo algum. Mas não. E a voz do Irmão que ecoa na minha cabeça. Havia esquecido que essa é a maneira como eles se comunicam.

- Com licença – pede Jack, deixando a biblioteca.

Não se preocupe, jovem Pole. Comigo aqui, o demônio não conseguirá se manifestar. Venha

O Irmão do Silêncio me posicionou diante do pedestal. A capa do livro na minha frente é simples, porém, debaixo do fundo negro é possível enxergar linhas finas e curvas, semelhantes às que estão entalhadas no piso. Runas.

 Conhece este livro, jovem Pole?

Balanço a cabeça, negando.

Este é o livro Gray. Ele contém uma réplica exata do livro original do Pacto. Nele, o Anjo Raziel escreveu as runas, ou Marcas. Apenas os Nephilim são autorizados a usá-las, contudo, abrimos uma exceção para você.

- O que estou procurando? – Pergunto, assoprando a camada de poeira da superfície do livro.

Saberá quando achá-lo. Vamos, pode folheá-lo.

Abro o livro cuidadosamente, folheando suas páginas amareladas com admiração. Quando alcanço o meio do livro, porém, é que finalmente sinto alguma coisa.

Click. É como uma trava que se abre na minha cabeça, e imediatamente descubro o significado da runa estampada nesta página. Runa de desbloqueio mental.

Tudo à minha volta começa a rodar. As prateleiras da biblioteca vão perdendo a forma, se dissolvendo, à medida que minha vista escurece.

Eu estou me lembrando de tudo.

Minha última visão é a runa, piscando em dourado bem diante dos meus olhos embaçados, antes de eu desabar.


Notas Finais


*.*


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...