Julia
O pai do Pedro chegou pontualmente cinco minutos depois do sinal bater. Ele veio em carro preto, vidros escuros, bonitas rodas. Pedro tomou a frente e abriu a porta do banco de trás, ele insistiu que eu entrasse na frente e depois de mim, ele entrou. Fechada à porta, o carro seguiu seu percurso.
Seguimos pela rua da escola por duas quadras e depois seguimos pela Avenida Sampaio. O carro ia a uma velocidade constante, nunca passava dos 40 km/h, Pedro se manteve em silêncio, acho que a presença de seu pai lhe incomodava, ele me contou que teve uma discussão feia com o pai e, desde então, eles não estão se dando bem. Depois de três quilômetros o carro virou na Rua Andrade, seguiu por mais quatro quarteirões e virou à direita. O silêncio continuava, era de certo modo entediante, depois de passar pelo terceiro quarteirão, o carro parou e o pai do Pedro saiu sem dizer nada, nem um “tchau”, um “até mais”, qualquer expressam que dissesse “estou indo, fique bem”, fiquei incomodada, e o carro voltou a andar.
- Seu pai não virá conosco? – Perguntei.
- Não. – Ele respondeu simples e diretamente.
- Pedro, você está com algum problema?
- Sim. - Ele respondeu. – Estou com medo, não quero perde-la, Ju, mas quanto mais penso nela, mais acredito que ela vai...
- Não fale isso, Pedro. – Disse meigamente. – Tudo bem estar com medo, afinal ela é sua mãe, mas fica tranquilo vai dar tudo certo.
Depois de alguns minutos, o carro parou frente ao hospital descemos do carro, Pedro dispensou o motorista por um tempo e disse que caso precisasse dele, ele ligava e fomos entrando no hospital. E nossas mãos estavam dadas.
...
Alisa
Cheguei em casa e foi logo para geladeira. Bolo, leite, pão, presunto... Perfeito. Coloquei tudo na mesa sem nem me lembrar da... uhm... O que era mesmo? Tanto faz. Cortei um pedaço do bolo e fiz meu leite em dos copos da coleção de copos de vidros que a mamãe tinha.
Entre as mordidas, ouvi um barulho na porta, demorei a perceber, mas era minha mãe e... O Willian?
“Cadê o Didi nesses momentos?” Pensei.
- Quer sair amanhã? – O Willian disse.
- Amanhã é sábado em família, eu e a Alisa temos costume de reunir varias pessoas em casa para um almoço. – Minha mãe respondeu. – Ela chama os amiginhos dela...
““Amiginhos”, mãe jura.”
- Você pode vir se quiser, pode até trazer o Simon, né, fofinho. – Ela disse se abaixando e acariciando o Simon, no qual nem tinha o reparado.
- Alisa. – Ele me viu e veio correndo, o peguei num abraço e beijei seu rostinho. – Pai, a Alisa.
- Oi, Alisa. – Ele me cumprimentou.
- Oi, Willian. – Respondi.
- Papai, eu posso? O senhor sabe... – Disse Simon parecendo envergonhado.
- Não sei se é o melhor dia, filho.
- Melhor dia para o quê? – Mamãe se intrometeu.
- Ele tem pedido há dias pra dormir aqui...
- E por que não me disse? – Minha mãe interrompeu toda eufórica. - Vocês vão dormir no quarto de hospedes, Alisa temos cobertas a mais? – Eu fiz cara de tipo “como vou saber”.
- Não, Melissa. – Interrompeu Willian. – O Simon não precisa dormir aqui...
- Na verdade, vocês dois vão! – Todas as caras da sala ficaram espantadas. – E assim não haverá desculpas para vocês não virem amanha, porque vocês já estarão aqui.
- Legal! – Eu e Simon dissemos juntos.
- Simon, vamos lá pra cima quero te mostrar nossa sala de jogos. – Disse.
- Eba! Sala de jogos! – Ele respondeu todo alegre.
Subimos as escadas e deixamos os dois lá embaixo.
Melissa
- Não me olha com essa cara não, Will.
- Melissa, nós não íamos devagar?
- E estamos. – Me aproximei dele. - Você vai estar aqui como pai do Simon. – O abracei por cima dos ombros. – E não como meu lindo e bonito namorado. – Ele abriu um sorriso e nos beijamos.
- Tudo bem, me convenceu. – Ele disse.
- Agora vai lá pra cima. – O empurrei para trás. – Seu filho o espera.
- Sim, senhora.
Ri. E ele foi subindo as escadas.
...
Marrie
Eu já odiava o sinal da escola, mas agora, o odeio em um nível muito maior. Eu ia beijar o George, mas aquela coisa vai e toca. Que merda!
George
Mais que volta pra casa sinistra. Estou andando de mãos dadas com a garota que eu amo e quase beijei. Aff.
Que saber, que se dane, não vou mais esperar.
- Marrie... – Disse. – Posso falar com você?
- Pode falar.
- O que aconteceu naquela sala foi real?
- Você se refere ao que aconteceu com a gente? Do nosso quase beijo?
- Sim.
- É foi, mas... – Ela olhou para lado tímida.
- Mas...? – Perguntei.
- Mas... É uma... É uma pena que o sinal tocou. – Ela abriu um sorriso, segui um pouco mais a minha frente e entrou na passarela do laguinho, enquanto eu fiquei paralisado. – George... – Ela me chamou. – Você não vem?
...
Pedro
Estávamos entrando na sala onde minha mãe estava. Ju e eu estávamos de mãos dadas. Logo que entrei, vi minha mãe e ela me viu, abrimos um sorriso assim que nos vimos.
- Como ela está? – Perguntei para a enfermeira que cuidava dela.
- Melhor do que estava. – Ela me respondeu. – Vou deixa-los a sós.
- Obrigado. – Agradeci.
A enfermeira se retirou. E ficamos a sós.
- A enfermeira Dolores é muito boa, filho. – Minha mãe disse. - Parece até que somos de uma mesma família, irmãs.
- Você está bem, mãe?
- Melhor agora, mas quem é essa moça que está de mãos dadas a você?
- Essa é a Julia, mãe.
- Prazer conhecê-la, senhorita.
- O prazer é meu. – Ju disse.
- Mãe... – Larguei a mão da Ju e me aproximei da maca. – Estou com saudades, muita.
- Também, meu filho, mas depois que eu tiver alta não vamos nos ver por um bom tempo.
- Não. – Não aceitei. – Eu vou te tirar da prisão e você virá pra casa, mãe, comigo.
- Não. – Ela me disse.
- Não? – Não pude entender. – Mas...
- Estou onde devo estar.
- Não. – Meus olhos ficaram vermelhos de lagrimas e eu me enfureci. – Mãe seu lugar é comigo, com seu filho, eu não vou deixar eles te manterem longe de mim.
- Filho. – Ela pegou minha mão. – Sinto muito orgulho de você e do quanto você me ama, mas tenho ficar assim... Presa...
- Não... Não. – Comecei a chorar. – Eu não posso deixar.
- Filho, se você me ama deve deixar. – Ela me disse. Ju veio e pôs sua mão sobre meus ombros.
- Mãe, eles estão errados, não tem nada errado em servir a Deus, não te nada errado nisso, a senhora está sendo injustiçada e sabes disso. – Disse em meio às lagrimas.
- E você não vê, o Diabo tem controlado o mundo justamente contra seu inimigo que não pode ser derrotado, ele acha que com essa lei e punições pode roubar nossa fé... Minha fé, mas não. – Percebi que Ju também chorava comigo. – A minha fé não! – Ela disse com convicção. - Ele está errado, não é uma lei humana que vai me fazer mudar de ideia, nem tão pouco uma cadeia que fará, eu sei o Deus que acredito e sei que ele não me abandonou. Filho... – Ela ergueu minha cabeça para que me olhar no fundo dos olhos. – Meu Deus não está morto. E não vou me submeter às coisas desse mundo e nada, nem a lei, nem o mundo, nem os outros, nem seu pai, nem os demônios, nem o diabo, nem os anjos, nem qualquer criatura poderá me fazer desacreditar no Deus que acredito. – Ela enxugou minhas lagrimas.
- Não entendo mãe. – Disse. – Por que serve a Deus com tanto fervor, o que ele tem a te oferecer? Qual será seu premio?
- “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” – Ela me disse. – “Bem-aventurados são quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós.” – Ela continuou. – “Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus.”. – Ela parou e tanto eu quanto Ju não estávamos mais chorando. – Meu jovem, é nisso que acredito e no que você também deveria acreditar.
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