Aquilo estava me incomodando e não sabia dizer se era verdade ou não. Seria a Júlia a causadora de tudo isso? Ou mais um truque do Carlos?
Não. Júlia não faria isso. E desde quando confio em alguma palavra do Carlos? Mesmo tendo ciência que era mentira chamei a Júlia no canto para conversar a sós.
- Júlia, você tem alguma coisa a ver com a prisão do George?
- Claro que não, por quê? - Ela me respondeu imediatamente. - De onde você tirou essa ideia?
- De lugar nenhum.. eu sei lá.
- Foi alguém que te disse isso?
- Carlos.
- E por que ele te diria isso? E por que você o ouviria?
- Eu não sei . - Disse friamente. - Eu não sei...
- Você está bem, Marrie? - Júlia me perguntou.
Eu olhei pra ela e esperei achar alguma resposta correta, mas não me veio nada a mente. George tinha sido preso, Dona Isabela estava de coração partido, meus amigos estavam comigo, mas realmente não sabia o que sentir. Podia estar bem. Talvez deprimida?
- Por que ele me diria algo desse tipo? - Perguntei, tentando ignorar meus pensamentos.
- O quê? - Ela perguntou.
- Por que o carlos me diria isso?
- Não sei, de repente ele quer… - Ela parou.
- Ele quer?...
- Marrie... ontem ele havia me dito que foi culpa da Alisa, que ela tinha nos denunciado na delegacia. - Ela terminou.
- Ele quer nos separar. - Disse.
- Mas por que ele nos denúncia logo?
- Nada seria pior do que nós nos destruíssemos. - Respondi. - Colocando intrigas entre a gente, para que nós mesmos nos destruamos.
- E o que vamos fazer?
- Nada.
- Como assim? - Julia me perguntou incrédula.
- Apenas vamos ignorar suas tentativas. - Disse.
- Ok. - Ela deu de ombros.
- E não diga aos outros.
- Por que?
- Apenas diremos se ele tentar outro ataque. - Disse e ela assentiu.
George
Eu me sento bem apesar de tudo.
Ser preso por ser do corpo de Cristo, por que seria um motivo de tristeza? Ou vergonha? Digo, é certo que perdi minha família, amigos e a Marrie. Mas jamais negaria minha fé.
Se Cristo morreu por mim, porque eu não poderia ser preso em nome dele?
O guarda da ala onde eu estava, Fábio, acabou sendo gentil comigo, me deu um caderno pequeno e uma caneta. Ele me disse que ajudaria com a sensação de solidão. Embora tivesse ciência de que Deus estava comigo aqui, eu iria sentir falta do meu lar e das pessoas que eu amo. Por isso aceitei. Ficava com a caneta na mão e o caderno, porém não sabia o que escrever.
Resolvi ficar apenas olhando a folha em branco e tentando achar o que devia escrever. Mas o barulho da grade me trouxe de volta ao mundo.
- Olá, George. - Disse o Fábio, empurrando um rapaz para dentro da minha cela. - Colega de quarto. - Em seguida, ele trancou novamente a cela e saiu cantarolando alguma coisa.
Olhei para o rapaz e ele me olhou, e ficamos nos encarando.
- Oi. - Disse.
- Oi. - Ele disse, me parecia tímido.
- George. - Me apresentei.
- Allan. - Ele disse e depois olhou para as duas camas na cela. - Posso ficar com a cama perto janela?
- Claro. - Respondi. - Eu já vinha aquecendo essa aqui. - Ele abriu um sorriso.
Allan me pareceu não ser perigoso. Ele era branco, cabelo loiro e olhos verdes. Não deveria pesar mais de 60 quilos e levando em consideração seus braços finos também não era muito forte. E aparentava ter uns vinte e quatro anos.
Ele caminhou até a cama perto da janela, e se sentou nela. E ficou me olhando.
- O que você fez, pirralho? - Ele me perguntou. Achei meio grosseiro o fato dele me ter chamado de “pirralho”, mas decidi ignorar.
- Eu acredito em Deus. - Respondi. - E creio que com dezessete anos eu não seja um pirralho.
- Foi mal, pirralho.
- Você está me provocando? - Disse ligeiramente incomodado, a ponto de começar a me irritar.
- Não… Eu costumava chamar meus irmãos mais novos assim. - Ele respondeu e eu apenas dei de ombros. - Então você acredita num Deus todo poderoso?
- Sim, E você? Digo por quê está aqui?
- Homicidio.
- Ata....
- Eu não vou matá-lo, se for o que está pensando. - Ele disse.
- E por que te jogaram nessa ala? - Perguntei.
- Fábio é gente boa, ele acreditou em mim. - Ele falou. - E agora possuo alguns favores. - Ele disse encostando as costas na parede.
- E no que ele acreditou? - Perguntei.
- Que eu não matei ninguém. - Ele respondeu.
- Não entendi....
- Olha, pirralho, eu só te conheço agora, e não vou ficar num interrogatório com você, certo?
- Ok. - Respeitei a privacidade dele. - Quando quiser conversar… - Disse e ele deitou na cama e fechou os olhos, e percebi que ele não queria mais me ouvir.
Isabela
Eu estava sozinha em casa, meu marido foi trabalhar com um peso no coração. Me levantei da minha cama e me pus de joelhos. Minhas lágrimas me incomodavam, mas eu não me importei.
- Meu Deus, por quê? - Gritei em meio ao meu quarto. - Por que o Senhor permitiu isso? Por quê, Deus? - Minhas lágrimas representavam meu coração partido e amargurado. - Por quê, Deus? Por que, o meu garoto? - Limpei as lágrimas do rosto deixando espaço para mais caírem. - Ele é um bom garoto. O Senhor sabe que ele é. Tinha uma vida inteira pela frente… - Meu choro me bloqueou por um instante. - Eu não quero perder meu filho. Meu Deus, eu não quero. Eu não quero perder meu menino. Oh Pai, como vou seguir sem ele? Oh Deus me dá forças. - Deixei meu corpo cair no chão, minha lágrimas corriam do meu rosto para o piso, e minhas mãos fechadas batiam contra o piso. - Meu Deus, me ajude. Me dá forças, Senhor, senão vou aguentar. - Disse e me calei, apenas o chorei na presença Dele. - Deus, que a sua vontade seja feita, mas se for do teu querer, traga meu filho de volta… Por favor, Deus.... Por fa…
Meu choro tampou minha boca e me detive apenas a… Chorar.
ra
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.