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História Devastados - Pânico


Escrita por: Vickthoria

Capítulo 1 - Pânico


Fanfic / Fanfiction Devastados - Pânico

Dois anos antes.

Eu esperei um bom tempo até a auto-estrada finalmente ficar vazia, e quando não avistei nenhum automóvel me aproximei dela. Subi a grade que separa o concreto do asfalto. Olhei para o meu tênis surrado e ajeitei a mochila nas costas. Senti-me culpada pelo que eu tinha feito, mas tratei de afastar meus pensamentos e pensar em meu trajeto.

Desci a grade em um pulo e corri para chegar do outro lado da pista. Fiz o mesmo trajeto de subir a grade, descer e dessa vez eu corri em direção à ladeira. Subi o morro tão rápido que tive que me segurar em um dos postes para tomar fôlego, meu corpo está ensopado de suor.

 O morro dá para uma longa avenida conhecida por suas inúmeras lojas, escritórios e por ser extremamente movimentado ao dia, contudo agora está vazio, e os moradores de rua têm que procurar cantos para se esconder.

Se me pegarem aqui, vou está ferrada.

Afasto os maus pensamentos e continuo a correr até o final da avenida. Por alguns segundos eu só consigo ouvir as minhas passadas e o tilintar que vem da mochila. Então ouço um barulho, algo caindo no chão.

Entro em pânico.

Será que alguém me viu? Ou alguém me denunciou?

Sinto meu coração parar na boca e mal me atrevo a olhar para trás. Viro-me e na pouca luz que os postes de concreto da avenida oferecem procuro por algo suspeito, mas só há silêncio. De qualquer maneira não abuso da sorte. Então entro em uma das bifurcações e sigo reto até quase sair na outra rua.

Paro de andar quando vejo uma luz forte e dou passos para trás em busca de esconderijo. Abaixo-me atrás de um dos latões do beco, espio entre eles e vejo que é o carro do Ômega. Pela primeira cedo à vontade de sentar e descansar os meus pés que não param de latejar. Acomodo-me na escuridão do beco e espero a luz do farol do carro ir para longe.

Está tudo escuro e não tem ninguém visível na rua, mas quando eu entro na avenida sou acertada pelas costas. Caio direto no chão de concreto e mesmo com a cabeça latejando de dor me viro e vejo a pessoa que me agrediu.

Um homem bem mais velho que eu, usando roupas velhas e gastas. Mal tive tempo de olhar, pois em menos de dois minutos ele se abaixou e me ameaçou com uma faca nas mãos.

― Se você gritar eu te rasgo toda, entendeu garota? ― Eu arregalo os olhos e balanço a cabeça.

Ele agarra minha cintura, tenta tirar minhas calças e procura se eu tenho algo nos bolsos. O pânico toma conta de mim, se eu me mexer ou tentar fugir ele vai me esfaquear sem pensar duas vezes.

Eu tento respirar, mas não sinto o ar entrar em meus pulmões.  

O velho se assusta quando algum vira lata derruba latas de lixo no chão. Eu chuto a perna dele e aproveito a oportunidade para cair fora dali, mas mal se desequilibra e consegue me alcançar em dois tempos.

Grito quando agarra a mochila, tento empurrá-lo, mas é ele que me joga no chão.

Naquele segundo eu penso no meu trajeto até aqui.

―Não vou deixar você roubar alguém. ― Dora tinha me dito― Eu só preciso pegar mais horários de trabalhos na indústria.

―Não você não pode, Vão mata você de tanto trabalhar. ― Eu podia me ouvir gritando, enquanto saia de casa sem dar nenhuma satisfação.

Depois eu fui buscar comida em alguma casa no centro da cidade, é muito mais fácil que roubar supermercados.  Por sorte, eu consegui pegar algumas coisas antes de alguém me ver.

Maldição.

Agora eu estou com o rosto ralado e no chão. Tento levantar a cabeça, mas me sinto tonta e enjoada e preciso fazer um grande esforço.

A faca. A mesma na qual ele usou para me ameaçar não está mais em suas mãos, eu posso ver ela no chão, provavelmente caiu enquanto eu tentava fugir.  Eu tento me livrar dele de novo. Esperneio para me livrar de suas mãos nojentas.  Preciso pegar a faca.

É quando eu ouço um estampido muito perto de mim. Fecho os olhos por causa do susto.

Um silêncio se segue.

Abro olhos e tento me mexer, porém não consigo levantar. O velho está caído em cima de mim e sinto algo quente é escorrer nos meus braços.

É sangue, mas não é meu. É dele.

Sinto um grande alívio dentro de mim, só que paraliso de novo ao pensar que pode ser algum policial do Ômega. Empurro o velho para o lado da calçada com mais força do que eu imaginava.

Não entre em pânico Sarah.

Quando levanto, vejo um rapaz sozinho próximo a um dos postes da avenida.

Ele não está muito longe de mim e consigo ver o seu rosto. Tem os cabelos escuros e uma corte em cima da sobrancelha que dá para ver mesmo com pouca luz. Está vestido com o uniforme da policia, todo preto com poucos detalhes em azul e o símbolo da Omega estampado na blusa.

A arma encontrasse em suas mãos, mas ainda não está apontada para mim. Ele me encara e provavelmente me acha patética. Eu me acho patética. Quem não acharia se visse uma menina em apuros com as roupas imundas, o rosto molhado e com escoriações pelo rosto.

Sinto uma pontada de vergonha passar pelo meu rosto.

Ele não se mexe.

E eu também não.

Vejo uma luz no final da rua, provavelmente é o carro voltando para ver o que houve. Olho para o chão e vejo o agressor inerte no chão.

Não sei o que devo fazer. Se eles me virem vão tentar me prender ou me matar.

Eu ouvi na TV que muitas pessoas estão sendo mortas por ficarem depois do toque de recolher na rua, mas meu vizinho Paul disse que o governo está conspirando e inventando qualquer desculpa para diminuir a população.

Não fico ali para ver qual vai ser meu destino. Lanço-me dentro de um dos becos, subo uma das ladeiras, entro na rua a direita e alguns bifurcações que eu conheço de praxe. Não olho para trás.

 Não paro de correr até chegar a minha casa. Sã e salva, pelo menos por essa noite.

Passo pelo portão de metal e entro em casa sem fazer barulho. Ninguém está me esperando, não sei se sinto alívio ou tristeza.

Coloco toda a comida que eu peguei escondido dentro de um compartimento secreto embaixo do assoalho da casa. Não posso correr o risco de ser roubada.

Não sou uma pessoa ruim, só preciso fazer tudo que estiver ao meu alcance para salvar minha família da fome.  A população vem crescendo tanto durante os anos que não há comida para todos e por causa disso os preços dos alimentos chegam a preços exorbitantes.

 Quando deito no colchão tento não pensar em nada, mas a minha mente lembra todos os momentos da noite em minuciosos detalhes. E depois de algum tempo, antes de conseguir pegar no sono, lembro que o rapaz não atirou em mim.

Ele me salvou.

Eu estou viva por mais um dia, mas amanhã é outra história para se contar. 



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