História Deviant Tales - O risco da perda elucida o coração

O risco da perda elucida o coração

Terminou de estudar sentado de fronte a mesa da cozinha, fechou o caderno e levou um susto quando olhou para o relógio de parede e viu que passavam das oito e meia da noite.

Tinha deixado o celular sobre a mesa na esperança que Raiden ligasse, não era muito comum Raiden chegar tarde e quando acontecia, ele costumava avisar... Segurou o celular entre os dedos ainda se sentindo mal por ter magoado Raiden na lanchonete e resolveu ligar para ele.

A mensagem gravada dizia que o número chamado estava fora de área de cobertura ou desligado.

Hiroshi estava começando a ficar preocupado, pensando em um milhão de hipóteses improváveis, tal como Raiden não querer voltar para casa por estar bravo, ou até imaginar que ele estivesse pensando terminar a relação que tinham... Não entendia porque se sentia tão perdido ao pensar que podia ficar sem Raiden.

Andou pelos cômodos da casa e no parado no meio do quarto, viu que começava a chover, o vento fazia os respingos irem de encontro os vidros da janela. Estava começando a se sentir angustiado ali sozinho, vendo a escuridão da noite pela janela, escutando a chuva. Acabou sentando no chão perto da cama, ligando para o número de Jin.

__Aqui é o Jin...

__Desculpa te ligar, Jin... Não estou me sentindo bem aqui sozinho.

Jin sorriu preguiçoso de seu lado da linha, a voz de Hiroshi parecia ser de um garotinho assustado.

__Raiden vai chegar tarde hoje, Seiji-kun?...

__Eu não sei... Não consegui falar com ele.__ Hiroshi disse abraçando os próprios joelhos diante de seu corpo.__ Eu... Feri os sentimentos dele quando nos encontramos mais cedo... Eu sei que é criancice da minha parte... Mas, o que eu faria se ele não voltasse mais?...

__Quer que eu vá ficar aí com você?...

__Não, Jin... Nem pensar em sair de casa com essa chuva... Me sinto menos sozinho ouvindo sua voz.

__Baka...__ Jin riu, se esticando no sofá.__ Essa chuvinha de nada não vai me fazer derreter, cara... E quando você fala assim feito garotinho, dá vontade de te agarrar... Sabia?

Nem conseguiu pensar na resposta, pois ouviu o telefone no escritório tocar, se ergueu meio afoito do chão...

__Jin, te ligo daqui a pouco, viu?...

Nem esperou ele responder e desligou, correu para o escritório e atendeu tão exasperado que quase derrubou o fax da mesa!

__Ah!...Oi...

__Boa noite, aqui é Miruha.

Lembrou-se de repente que Miruha era colega de trabalho de Raiden, já tinha falado algumas vezes com ele por telefone.

__Ah, sim... Boa noite. Queria falar com Raiden?... Ele ainda não chegou.

__Infelizmente não, Hiroshi-san... Lamento ser portador de más notícias.

__Más notícias?...__ Hiroshi sentiu um aperto no coração.

__Masahiko-san sofreu um acidente e foi encaminhado para o Hospital Central... Sabe onde fica?

Hiroshi sentiu sua boca terrivelmente seca, a garganta apertada pelo nervosismo.

__Mas... Co-mo?... Como ele está?...

__Ainda não fui vê-lo... Foi no final da tarde. Se for vê-lo agora, mais tarde me dê notícias, por favor.

__'Tá...__ Hiroshi retrucou com a voz falhando.__ Eu ligo...

Quando a ligação foi encerrada ficou completamente desnorteado, tinha uma leve noção da onde ficava o Hospital Central. Nem sabia bem o que tinha em mente quando vestiu o casaco, verificando os trocados que tinha no bolso do jeans. Pegou suas chaves, algo perdido dentro de casa... Chovia ainda mais.

Estava quase abrindo a porta e saindo igual a um louco sem rumo no temporal quando lembrou que ficou de ligar para Jin... Tirou o telefone do bolso traseiro.

__Jin?...

__Não... É a mãe dele. Quem queria falar?...

__É Hiroshi, Senhora Yamada...

__Oh, Hiroshi-kun...__ Ela abriu um sorriso, a voz ainda mais amável.__ Ele saiu tem dez minutos, disse que ia encontrar com você... Tem algum problema?

__Não... Vou esperar por... Ele...

Ao desligar mordeu a manga do casaco para conter a própria agitação, mas por mais que tentasse era impossível ficar calmo. Era demasiado doloroso apenas pensar em ficar sem a pessoa que lhe despertava tanto amor, por mais que negasse a si mesmo acreditar no próprio sentimento.