História Devil Side - Contradição.

"Se você me quisesse, você apenas diria, e se eu fosse você, eu nunca me deixaria ir."

Yerin. 

Já era início de madrugada quando Jungkook, voltou ao hospital. Nesse horário o médico já havia permitido a entrada de visitas no quarto de Jimin, e assim que soube disso Jungkook seguiu para o quarto de seu hyung, em intenção de checar o bem estar dele, e de algum modo retribuir o que havia recebido de Jimin, quando ele se encontrava internado naquele mesmo hospital há semanas atrás. Mas nós acabamos não entrando no quarto, algo nos impediu. 

— Ele é seu irmão. - eu argumentava, enquanto o seguia em direção aos elevadores.

— Não importa. - ele rebateu adentrando um dos elevadores, que acabava de chegar no andar. 

— É claro que importa, não pode simplesmente ir embora…

— Eu não estou “simplesmente” indo embora, estou indo porque sei que ele não precisa de mim. 

— Quem disse isso à você? O Jimin? Ele estava capotado naquela cama, duvido que tenha se comunicado por telepatia…

— A família dele, Yerin. A família da qual eu não faço parte deixou bem claro que o meu lugar não era ali, e eu tenho noção suficiente pra perceber isso. - me colocando em sua posição era mais fácil compreender. 

— Poderia ter ficado como um amigo, como o Tae…

— Tae… - ele repetiu com um riso irônico. 

— O quê? 

— Eu só espero que me avise quando for voltar pra ele, porque diferente do que possa parecer, eu tenho sentimentos. 

— E quando começou parecer que eu não tenho sentimentos, Jungkook? - o questionei, pouco antes de cruzar as portas do elevador. 

— Yerin? - ele chamou por mim, enquanto eu seguia para fora do hospital. 

— A gente se fala amanhã. - eu disse a ele, já sinalizando para o táxi que se aproximava. 

— Eu não quis… - eu me afastei ao sentir seu toque. 

— Isso não importa, fez soar da pior maneira. - rebati abrindo a porta do carro. - Eu entendo que esteja com a cabeça cheia, eu também estou, mas isso não é motivo pra fazer pouco do que eu sinto por você depois de hoje. 

[...] 

Quando ligaram para me informar sobre a prisão temporária do meu pai, eu acabei imaginando que quando voltasse para casa iria me deparar com uma grande bagunça causada por uma possível busca de provas por parte da polícia, mas na verdade tudo estava em ordem. Provavelmente eles ainda não haviam vindo, mas eu sabia que logo a casa estaria com a visita de alguns oficiais levando computadores, papéis, e etc… Assim como naqueles casos que víamos nos jornais todos os dias. 

Mas por mais conturbada que estivesse a minha vida naquele momento, por mais que eu devesse me preocupar com a minha situação, com tudo o que iria acontecer nos dias seguintes, apesar de tudo isso eu ainda não conseguia focar sequer um mísero pensamento em mim mesma. 

Enquanto eu observava as sutis ondulações da água que envolvia meu corpo no interior da banheira, eu me pegava refletindo sobre como seriam as coisas quando Jimin acordasse. Apesar de nosso desentendimento, eu pude perceber o quão desconfortável Jungkook estava em meio a toda aquela situação, eu podia imaginar como ele se sentiu ao ver que seu hyung tinha uma família a qual ele não fazia parte, a qual nunca soube da sua existência, e a qual certamente o enxergaria apenas como o filho do psicopata que quase matou Jimin…Eu sabia que tudo iria se resolver aos poucos, mas não conseguia me sentir tranquila sabendo que àquelas horas ele poderia estar culpando a si mesmo por tudo o que havia ocorrido de ruim ao seu irmão.  

— Ao menos eu sou mulher, posso me contradizer, não tenho “palavra de homem.” - comentei comigo mesma ao sair da banheira, logo pegando minha toalha. 

Após envolver a toalha em meu corpo, eu segui até o meu quarto, onde encontrei meu celular sobre minha cama juntamente com a minha bolsa, a qual eu havia esquecido quando saí desesperada rumo ao hospital. Pegando o celular eu me sentei sobre o limite de minha cama, e desbloqueando o visor logo selecionei o contato dele mesmo tendo dito que só iríamos nos falar no dia seguinte. Eu estava me contradizendo, mas estava fazendo o certo. 

“Você está aí??” - Yerin. 

“Achei que o “online” dispensava esse tipo de pergunta, mas sim, estou.” - Anjo. 

“Insuportável = Jeon Jungkook.” - Yerin. 

“Ok.” - Anjo. 

“Tá, eu não vim te ofender, na verdade eu estava preocupada.” - Yerin.

“Com o quê?” - Anjo. 

“Com você, com toda a situação do Jimin e etc…” - Yerin. 

“Eu estou bem, e o Jimin também vai ficar, então você não precisa se preocupar.” - Anjo. 

“Acho que é melhor deixar pra conversar amanhã mesmo, você não parece bem apesar do que diz.” - Yerin. 

“Você pode ao menos abrir a porta pra mim?” - Anjo. 

Franzi o cenho sem entender sua última mensagem, mas logo as batidas na porta me fizeram entender do que se tratava. Mesmo que eu não entendesse a sua vinda até minha casa após termos nos despedido daquela maneira no hospital. 

— O que tá fazendo aqui? - perguntei dando passagem para que o mesmo adentrasse a casa. 

— A minha casa parece cenário de um episódio de CSI, a polícia estava fazendo uma varredura lá… - ele dizia até notar minha falta de roupas. - Se eu soubesse que estava me mandando mensagens assim… 

— Eu acabei de sair do banho, e não olhe pra mim como se eu fosse um pedaço de carne. - eu pedi ajeitando a toalha, logo cruzando meus braços. 

— Tudo bem. - ele assentiu desviando o olhar. - Bem, como eu estava dizendo: a polícia está ocupando a minha casa, e como o meu avô mora do outro lado da cidade eu resolvi pedir uma noite de hospedagem aqui. - isso explicava. 

— Você pode ficar, já sabe onde é o quarto de hóspedes… - eu dizia ao seguir até a escada. 

— Yerin? 

— O quê? - questionei me voltando em sua direção. 

— Eu só queria lhe pedir desculpas, eu sei que você e o Taehyung já não…- ele pareceu evitar dizer a frase até o fim. - Enfim, não foi certo te dizer aquelas coisas, e eu sinto muito por ter as dito. 

— Eu sei que você estava sobrecarregado com tudo, e eu entendo… 

— Não, foi puro ciúmes. - ele confessou ao me interromper. - Ele me contou o motivo de terem terminado, e não foi difícil notar que ele continua amando você. 

— E então achou que isso iria me fazer querer ele de volta? - perguntei sem esperar que ele me respondesse. - Os sentimentos do Tae por mim, não interferem nos meus sentimentos por você, Jungkook.