História Devils and Angels - O Mascarado.

Lamentava-se a cada passo. A cada ruído que seus pés proporcionavam ao chão. Lamentava-se por Sasori, por estar sendo escrachadamente usada, mas principalmente por não ter opção a não ser se submeter a isso. Ou tinha? Era só dizer “não”. Se entregar lhe parecia profundamente tentador, entretanto, que sentido teria o sacrifício de seu irmão se o fizesse, uma vez que – se o que era constantemente afirmado fosse de fato a verdade – foi pelo amor “inconsequente” que sentia por Sakura que o ruivo veio a ser exilado.

Ah, mas o que fazer com esse vazio? Com essa sensação de que tudo está errado? De que estaria vivendo num palco de teatro ‘enorme e completamente vazio, pois nem mesmo a plateia conseguia admitir tanta tragédia? Tudo o que queria nesse momento era se deitar no colo de sua mãe e receber seus afagos de consolo até adormecer, mas isso para mais uma da sua coleção de desgraças, não seria possível. Então pensou na possibilidade de encontrar um anjo inimigo por acaso e vir a falecer por suas mãos. Seria uma infeliz coincidência para aqueles que a amavam, um infortúnio para aqueles que a usavam e um alívio para si mesma. Oh, sim... A sorrateira morte não é imparcial: Ou ela te destrói, ou vira sua solução. A rosada já havia provado de seus lados opostos antes, mas agora sua alma não seria lapidada por um certo ruivo gentil que sempre esteve ao seu lado e que repentinamente desapareceu como uma sombra desaparece no escuro, e foi ela própria que inocentemente apagou a luz. Se ao menos pudesse confiar suas inseguranças a alguém, sem tem que pensar se o alguém em questão não estaria a escutando para o bem de seus próprios fins, seria extremamente reconfortante.

A garota se via tão desnorteada que nem notou a raiz de árvore em que tropeçara, - na verdade não percebeu nem que havia entrado em uma floresta. – não atendeu nenhum dos chamados de Neji e só notou que seu choque com a terra havia lhe proporcionado dor depois de receber um abraço do Hyūga.

— Sakura... Eu sinto muito. — O dono de longos fios castanhos a segurava como se não tivesse a mínima pretensão de desfazer o toque.

— Sente mesmo? — Perguntou tendenciosa em um tom quase inaudível. O contato do vento forte com as folhas das árvores fez com que de fato nenhuma de suas palavras fossem escutadas pelo mais velho.

— O que?

— Nada. — Respondeu tentando ao máximo não demonstrar sua perturbação interna.

— Hm. — Apesar de Neji só ter soltado um murmúrio, a cerejeira sabia que havia falhado miseravelmente em sua tentativa de se mostrar alheia à última pergunta.

— Se sente bem?

— Me sinto patética. — Essa era a melhor definição para o que estava sendo (em sua concepção): Patética, em todos os sentidos da palavra. Mas deveria moldar a frase para não transparecer seu atual desconforto em relação aos seres sobrenaturais que diziam protege-la. E devia fazer isso rápido, pois aos poucos uma interrogação surgia nos olhos perolados do ex-arcanjo. — Sair correndo e cair logo em seguida. Patético. Digno de Clichês de filmes de terror. — O que não deixava de ser uma tremenda verdade e talvez a coisa mais sensata que já lhe disse até então. Também achou que o gênero do filme caiu bem para uma analogia de tudo que estava acontecendo.

— O que são filmes?

— São narrações em sua maioria fictícias que.... Esquece, vai demorar demais. — Concluiu com ar de tédio

— Me desculpe. — Era incrível como o Hyūga conseguia fazer qualquer pessoa se sentir culpada, mesmo que não fosse, tamanha sua gentileza e cortesia.

— Não precisa disso... — Respondeu sem jeito. — Eu estou um pouco chateada com tudo isso, sabe? Acho que é bem evidente, inclusive. Peço perdão se minhas palavras soarem indiferentes ou grosseiras durante esses tempos em que minha mente entra em confusão. Não é intencional, juro. — Explicou enquanto seus dedos passeavam pelo cabelo do rapaz.

— Não tem que se justificar. É completamente compreensível. Itachi com certeza está arrependido. — Dizia correspondendo aos toques da rosada iniciando carícias em seu rosto. — Ele não quer perder para Hashirama, então não pode te perder. Agora deve estar se dando conta do erro e virá se redimir.

No mesmo instante, Sakura se livrou dos braços do ex-arcanjo com um empurrão e se levantou claramente irritada.

— Não fale como se você não fosse igual! Você só me quer como mais uma afronta a Hashirama! — Articulava furiosa. — Primeiro toma seu trono, depois casa-se com aquela que mandou seu amado “soldado” para o inferno. Daria um grande show, não acha? E tem mais! Eu nã-

Antes que pudesse terminar com suas acusações, Neji tomou seus lábios de forma lenta e envolvente. Logo encostou o corpo da menor na árvore que a mesma havia se acidentado para deixar o beijo ainda mais quente. De início, Sakura rejeitou a ideia com todas as sus forças, mas logo cedeu as sensações que o Hyūga lhe proporcionava. Suas línguas dançavam em harmonia explorando todo o salão em que acontecia a performance. As mãos do rapaz deslumbravam-se com o desenho das curvas da rosada. A cerejeira não concordava com o que estava acontecendo, mas seu corpo sim, este estava adorando. Então, para “não se arrepender tanto” – acredite ou não, isso fazia algum sentido em sua cabeça - estava indo contra seus instintos e continha-se em apenas segurar os ombros de Neji firmemente.

O momento de satisfação física foi dilacerado poucos instantes depois por uma voz rouca, extremamente ameaçadora.

— Hyūga, você dormia tranquilamente no paraíso? — Questionava lentamente a voz, se aproximando cada vez mais, deixando a Haruno arrepiada dos pés à cabeça, reação do medo. A psicopatia no tom era quase palpável. Irrevogavelmente maligna. — Sabe, minha vida sempre foi um pesadelo, especialmente enquanto estava acordado. E então, você tem a brilhante ideia de tentar me tomar a única que agora finalmente consegue me animar nessas últimas centenas de anos entediantes e degradantes. Parabéns, Hyūga. Achei a ideia genial.

Neji se colocou na frente da rosada em posição de alerta, afim de defende-la de qualquer tentativa de ataque.

— Ah, fique tranquilo. Jamais pouparia aquele se atrevesse a fazer qualquer mal a Sakura. Isso incluí a mim mesmo. — No mesmo instante a menina reconheceu o dono da voz e esperou ansiosamente para poder ver seu rosto e tentar acalma-lo. — Eu a valorizo mais do que minha própria vida, ofende-me que alguém pense que eu ousaria prejudica-la. — Enfatizou em alto e bom tom.

— Itachi-san? — Questionou receosa.

— Sakura... — Respondeu aparecendo repentinamente entre ela e Neji, mais especificamente na frente da menina. — Sabe como eu estou me sentindo? O que presenciei me despertou uma dor inacreditavelmente forte, a maior que já senti.

A forma demoníaca de Itachi estava parcialmente a mostra, o que atemorizava o interior da rosada, sua respiração ficou pesada quando o Uchiha tocou seu rosto. De fato, o Imperador do meio possuía uma imagem assustadora. Tomando como uma ameaça à segurança da pequena, Neji tentou golpear a nuca do demônio afim de fazê-lo desmaiar, sem sucesso. O combustível para um Uchiha se tornar extraordinariamente forte em uma batalha é a fúria. E sim, ele estava furioso. Notando sem nenhum esforço o que seu rival pretendia fazer, socou em cheio, ainda de costas para o mesmo, seu estomago, fazendo o ex-arcanjo cair de bruços.

— Mas voltando a nossa conversa, caro Hyūga. — Retomou forçando o corpo do rapaz a se erguer com um chute. — Provavelmente, você só se deitasse confortavelmente e dormia. Talvez um problema ou outro te atormentassem. Algo como: “Será que Hashirama ficou feliz com meu último serviço? ”

O imperador do meio estava tão tomado pela raiva e tão empenhado em tentar transmitir a dor que estava sentindo em cada golpe que dava, arrastando o perolado para mais e mais longe da mais nova, que não notava que por mais superior que sua força fosse, Neji tinha condições físicas para se defender, mas não o fazia propositalmente. Queria manchar de uma vez por todas essa imagem protetora que Sakura havia criado dele.

— Nunca experimentou o amargo sabor de um pesadelo. Mas fique tranquilo, para tudo há uma primeira vez e eu estou completamente disposto a te ajudar. Bons sonhos. — Itachi se preparava para um genjutsu quando algo tirou Neji da posição ideal para o ataque.

— Errado duas vezes, Uchiha. — Anunciou uma figura alta de cabelos platinados que ajudava o Hyūga a se erguer. Estavam no topo de uma árvore e o perolado parecia bem debilitado. — Nós não dormíamos muito bem... E nenhuma de nossas preocupações se aproximava de agradar Hashirama, muito pelo contrário. — Esclareceu.

— Tsc... Mais uma barata. Estou começando a achar que abriram um bueiro. — Respondeu com ar de nojo.

— Acho que o corvo deveria procurar alguma carniça para se alimentar. — Retrucou o mascarado indiferente.

— Eu já achei. — Concluiu. — A barata tem nome?

— Baratas só tem um nome: Baratas. Mas eu me chamo Kakashi. Hatake Kakashi.

— Nome de cachorro.

— Pode ser. — Disse com uma risada sarcástica.

— Vou te chamar de vira-lata.

— Itachi-san.... Está me assustando. — Exprimiu Sakura.

De imediato, o Uchiha desfez sua forma demoníaca incompleta e caminhou até a menina.

— Desculpe. — Pediu abraçando-a sem ser correspondido.

— É corvo.... Parece que ela não gosta muito de você. — Avisou irônico recebendo um sorriso de Neji.

— Não é da sua conta.