De todos os momentos que mais me doeram desde que você se foi, esse com toda a certeza que há em mim, foi o que mais me destruiu.Talvez doeu tanto por ter sido algo que fazíamos juntos, por ser algo que gostávamos de fazer, por ser o momento que eu olhava para você e tinha certeza de que você era o amor da minha vida, Hoseok, como doeu.
Esses dias, depois de muito tempo, eu abri aquela gaveta, a última do meu armário, em que você sabe que eu guardo minhas roupas de ginástica – nada do que você organizou mudou de lugar depois que você se foi, inclusive suas gavetas ainda estão vazias esperando o dia que você voltará – estava decidido, voltaria a treinar. Sei que ir sozinho é uma mancha â sua memória, à memória do que foi um nós, mas a verdade é que eu estou tentando reviver todos os nossos momentos, nem que isso me custe sofrer.
Assim que eu pisei naquela academia senti algo estranho, como se nada estivesse correto, afinal, a ideia de treinarmos juntos por estarmos gordos de cerveja e pizza na madrugada foi sua, e confesso que foi uma das poucas coisas que fazíamos juntos e que amávamos fazer. Ir sem você é como se eu finalmente tivesse aceitado nosso fim, e estivesse mostrando que posso continuar sem você. Que mentira, Hoseok, nada em minha vida é possível sem seu sorriso, sem seu escândalo e sem seu amor.
Montei uma ficha nova com uma mulher musculosa e comecei a treinar, e a cada aparelho que eu subia uma lembrança me invadia a mente, era impossível respirar, era impossível me concentrar, era impossível. Ao me assentar no leg press*, naquela posição desconfortável de cadeira de dentista, com os pesos apoiados em meus pés prontos para serem empurrados uma dor incrivelmente forte me acometeu.
Não eram meus músculos exaustos pedindo uma vida de descanso, não era minhas articulações sedentárias pedindo por socorro, era algo muito mais interno, era algo que vinha do centro do meu peito e se espalhava como tremor por todo meu corpo.
Me lembrei daquele dia, sim aquele mesmo que você deve estar pensando, meu amor. Lembra como nossos aparelhos sempre coincidiam quando eu estava nesse aqui? Como você sempre estava no aparelho do lado e nos olhávamos enquanto tentávamos não morrer? Lembrei daquele dia em que eu não tinha olhado para você, estava concentrado em minhas pernas e fazer o máximo de repetições possível e quando travei o aparelho seu rosto brotou ao lado do meu. Lembro de seus olhinhos brilhantes me encarando, lembro de ter sorrido com a distância curta e situação nada confortável, e então você falou. “Suga, me beija?”. Novamente o apelido tão típico seu, novamente um pedido estranho. Você era meu, eu era seu, não precisávamos de consentimento para que pudéssemos nos beijar, mas você estava lá agachado ao meu lado me pedindo por um beijo.
Lembro de rir e me inclinar até você e selar nossos lábios, lembro de seu sorriso quase infantil erguer suas bochechas. Lembro de nunca um selar, um simples selar, significar tanto para mim.
Agora em casa, deitado do meu lado da cama vendo o seu ainda vazio, tentei entender o porque de você ter pedido um beijo, entender o sentimento que vi em seus olhos nos segundos que antecederam nosso beijo e acho que consegui entender ou no mínimo chegar a uma resposta plausível.
O que um beijo simplesmente dado significa? Afeto, intimidade? Mas o que um beijo pedido significa? Medo da perda, respeito. Acho que naquele dia você já sabia o que estava por vir em nosso relacionamento, acho que naquele dia, você queria saber se eu o amava como você me amou, você queria mostrar que me respeitava, que não faria nada que eu não queria, ao contrário de mim. Você sempre foi o alicerce de nossa relação, eu sempre fui o fungo estrutural.
Se nosso relacionamento fosse uma casa de madeira, com toda certeza eu e minhas ações estúpidas seriamos o cupim que devora a pilastra de sustentação até que ela não se aguente e desabe sobre tudo.
Lembro-me de ter dito diversas coisas a você, coisas das quais me arrependo profundamente ainda hoje, coisas que sinto vergonha de ter dito e coisas que se entalaram em minha garganta antes mesmo de saírem. De todas elas não ter pedido a você que me beijasse no momento em que o vi fazendo as malas é a que mais me arrependo do fundo do coração.
No momento em que eu entrei no quarto ao chegar do trabalho e ter encontrei você ajoelhado no chão chorando – ainda sinto o aperto no peito de recordar dessa cena tão tenebrosa, meu Hoseok, essa cena, para mim foi pior que qualquer outra – de todas as coisas que poderia ter dito, das milhares de coisas que passaram por minha mente naquele minuto, eu disse apenas “o que foi?”
Você olhou para mim, enxugou os olhos e nada disse, naquele momento você queria saber se eu o amava, naquele momento você precisava do meu amparo, do meu respeito, Hoseok, você precisava que eu olhasse em seus olhos e dissesse para que você me beijasse, que tudo ficaria bem, que nós ficaríamos bem.
Mas no lugar disso eu tirei meus sapatos, caminhei até seu lado e nada disse, com aquela ação você não teve suas respostas, não foi a ação mais errada que já fiz, mas naquele momento você precisava de mais, você precisava de algo que eu nunca pude ser para você, de algo que em toda minha imaturidade não poderia te dar.
Me beije, doce Hoseok, eu preciso que você saiba que ainda o amo, que ainda o quero, que ainda o desejo. Naquele dia não houve um beijo, não houveram certezas, nem muito menos carinho. Tudo o que você precisava eu não pude te dar.
O mais estranho é que ainda sinto o gosto de sua boca, o amargo da sua dor e o doce do que era você, me beije Hoseok, me ame, me possua, pegue minha alma e faça dela um barco que você possa navegar por um lugar tranquilo e sossegado em que todas suas incertezas se tornem respostas, em que nosso amor ainda exista e permaneça integro por toda a eternidade.
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