História Dez coisas que deveria ter dito a Hoseok - Preciso de você

Sonhei com você.

Sonhei com um dia específico, pouco antes de você partir. Quando decidimos viajar com TaeHyung para aquela casa de campo, que tinha um lago e um bosquesinho de árvores finas e retorcidas. No sonho houveram vários devaneios por causa da imaginação que envolve um sonho, mas o que ficou em minha mente, assim que acordei, foi o seu rosto duro, triste e distante.

Essa cena fictícia que me minha mente criou naquele momento não poderia ser mais verídica. Lembro como você estava mudado desde aquela viajem, meu Hoseok, lembro que você já dava sinais de desistência e adeus. Eu percebi desde o primeiro minuto, mas nada fiz para impedir, para mudar o que você sentia.

Em meu sonho eu via você caminhar até mim, me abraçar e conversar comigo como fazíamos nos primórdios de nosso nós. Em meu sonho você sorria, mesmo com toda a frieza que continha em seu interior me beijava.

Naquela viajem, porém, parecíamos dois estranhos em um primeiro encontro, maior parte de nossas conversas tentavam não mostrar quem realmente éramos, e ao máximo não assustarmos um ao outro. É complicado, para mim, me lembrar dessa viajem sem que meu peito doa e me falte ar. Talvez de todas as lembranças ruins que tenho junto a você erra seja a pior delas.

Mas houve um momento em especial, quando estávamos prestes a voltar para nossa casa, depois que TaeHyung entrou pois estava bêbado e cansado, que na beira do lago perto da fogueira improvisada que montamos para um churrasco falho, na beira do lago com cervejas nas mãos e as pernas cruzadas sob o sereno da noite que  conversamos sobre nós.

Jamais me esquecerei dessa conversa. Jamais vou me esquecer da dor, da dureza, da frieza, da distância em seu rosto. Sei que já disse isso, mas é como se essa fosse a única coisa que realmente importasse para minha mente. Essa conversa que me fez perceber que o fim estava próximo. Que me fez perceber o quão ardentemente eu precisava de você.

Talvez a constatação do que eu já suspeitava desde que começamos a conversar, desde que nos vimos pela primeira vez naquele bar, tenha vindo tarde de mais. E talvez por isso meus sentimentos tenham entrado em colapso, talvez por isso eu tenha ficado tão abalado, talvez por isso eu tenha sentido tanto sua partida. Talvez, apenas talvez, por saber o quanto eu precisava de você, e ao mesmo tempo saber que você estava partindo, eu tenha começado a desconstruir minha sólida barreira que jamais deixara você entrar completamente. Mas já era tarde de mais.

E naquele momento eu tive de tomar uma decisão complicadíssima. Ser egoísta e tentar te prender em um relacionamento falido que te fazia infeliz. Ou ser correto com você pela primeira vez, deixando-o livre para escolher se iria ou ficaria. Ah, Hoseok, como essa decisão foi difícil.  Lembra-se do filme que você tanto gostava, aquele dos piratas, em que em uma cena o capitão maluco possuí duas versões miniatura dele sobre os ombros o orientado a fazer algo? Eu me sentia exatamente daquela forma. Todas as vezes em que você se deitava ao meu lado na cama e se enroscava daquela forma tão doce ao meu lado pegando meu braço e o prendendo entre os seus, eu pensava em prender você e jamais permiti-lo partir.

Mas todas as vezes que via seu olhar triste no jardim, cuidando de nossa flor, assistindo a TV ou fazendo qualquer coisa da qual sabia que eu não me importava, meu coração se partia e eu queria deixá-lo ir, se isso fosse fazer com que você ficasse bem.

Entende o que eu estava sentindo, meu amor? Você sente minha dor? Sei que ela não era nada comparada a que você sentia e por precisar tanto de você, mas tanto que deixei que você tomasse suas decisões sem interferir.

Lembrei-me naquele dia da nossa conversa a beira do lago, em que falávamos sobre nós, sobre o futuro e como mesmo por um segundo vi o brilho em seu olhar em descrever seus sentimentos por mim, mas o brilho logo foi substituído por tristeza novamente ao ver que eu nada dizia. Outro erro, naquele momento você queria ouvir, queria a confirmação de que não amava sozinho, que seus sentimentos eram recíprocos, mas ao me calar para eu mesmo confirmar em mim meus sentimentos mais profundos por você, falhei.

Falhei em não notar o que você precisava. Falhei por, como sempre, não externar o que se passava em minha mente. Falhei por não ter dito que eu loucamente, perdidamente, imensuravelmente precisava de você, do seu sorriso, da sua manha, da sua alegria, do seu aconchego, do seu abraço, do seu corpo quente junto ao meu. Eu realmente deveria ter olhando em seus olhos e dito: Hoseok, eu preciso de você. É recíproco, você não ama sozinho, você não está sozinho.

Lembro de você, com a língua embolada pelo álcool, a mão arrancando tufinhos de grama enquanto encarava o lago iluminado pela lua e a fraca luz da fogueira, dizendo exatamente essas palavras. “No dia em que vi naquele bar achei você meio galã de filme de romance. Ainda bem que romance como o nosso só existe na vida real, imagina.” Pensando bem no que você queria dizer, talvez isso não seja uma coisa boa. Talvez aquele fosse mais um daqueles sinais de como você estava infeliz. Afinal imagina um filme de romance em que há apenas dor e sofrimento, que o romance mesmo há em pouquíssimas cenas e que mesmo assim são sufocados pelo outro personagem. Que romantismo há nisso? O que há de inspirador e utópico nisso?

Hoje, sentindo a casa vazia, vendo o pouco que restou de você em nossos móveis, o cheiro que ainda está em algumas de minhas roupas seguro minhas emoções para não desmoronar. A falta que sinto de você, a necessidade que eu sinto em te ver é desesperadora, ainda espero que a porta vá se abrir e você entre.

Mas isso é assunto para outra carta.