O sorriso arteiro nos lábios do Kim contornavam um quadrado quase perfeito, tornando-o ainda mais belo aos olhos do Jeon.
Tê-lo em sua residência havia se tornado um costume desde quando descobriu seus problemas psicológicos, o que incitou sua vontade daquela profissão que julgava ser a melhor; psicologia. A mente humana era incrível, era o que pensava quando lia algum artigo sobre algo mental, apesar dos aspectos ruins tinha lá suas coisas boas e agradáveis, como a felicidade de Taehyung ao acariciar Oliver, o pequeno coelho que virou o mascote do atual casal e que acalmava-o quase tanto quanto o próprio Jeon.
Assim que Jeongguk constatou as dificuldades do castanho, logo tratou de prendê-lo em seus braços para cuidar-lhe como bem merecia; como deveriam ter feito no dia em que o pequeno Kim fora abandonado pelos pais. O trauma de infância afligia-o até os tempos atuais, mesmo que com grande esforço e luta Jeongguk tentasse combater aquele mal, obviamente não sozinho; a série de remédios e consultas pagas pelo seu bolso apertado — a mesada não sendo o suficiente, acarretando num trabalho de meio período em uma lanchonete qualquer —, sustentando Taehyung da maneira como conseguia. No fim, sabendo que valeria a pena pelo simples fato de poder ver aquele semblante alegre diante de sua visão.
Entretanto nem tudo eram flores no dia a dia do casal.
Era comum Taehyung mudar como da água para o vinho, igual fazia naquele instante; a faceta alegre tornou-se algo ameaçador e irritado, como se a qualquer instante o vaso que estava ao seu lado em cima da pequena mesa fosse voar na direção de Jeongguk através do simples poder da mente; de seus pensamentos confusos.
Lenta e suavemente, Jeongguk aproximou-se do Kim, retirando o pequeno bicho que outrora ganhava carícias das mãos grandes e agora pulava pela casa em busca de algo que o entretesse, podendo notar a atenção do castanho voltada diretamente para si. Mentiria se dissesse não sentir medo do rapaz quando uma de suas crises o atacava, mas agia como fora ensinado; ajudava-o, cuidava-o, acalmava-o, mimava-o. Fazia de tudo pelo seu garoto, que agora encontrava-se em um conflito interno.
Era notável em seu olhar o desespero; era doloroso não poder entrar na cabeça confusa e arrumar os pensamentos em suas respectivas ordens, encaixar as peças.
Ignorou quaisquer resquícios de hesitação e agarrou o corpo magro contra seu corpo, apertando-o sem muita força, exercendo o suficiente para sentir a respiração de Taehyung se normalizar, porém o tumtum constante não seguia um ritmo certo, podia perceber os batimentos cardíacos sem uma sincronia concreta, mas não se apavorou; era comum aquela reação, afinal, Taehyung estava em estado de alerta, seja lá por qual motivo fosse.
— Está tudo bem. — sussurrou como podia, praguejando-se mentalmente por não conseguir fazer nada que impedisse as lágrimas geladas escorrerem pelos olhos felinos; as gotículas frias iam de encontro ao pescoço de Jeongguk, fazendo-o estremecer e perde-se em pensamentos, todavia logo tratou de organizá-los para que, enfim, pudesse fazer o mesmo com os de Taehyung. — Eu estou aqui. — tentava a todo custo acalmar o garoto que agora tremia em seus braços, provavelmente de medo, ou agonia.
Era horrível.
Num solavanco os braços finos de Taehyung afastaram o moreno de perto de si, como se ele fosse uma ameaça, e, de fato, em sua mente era.
Mas por quê?
Diante de toda aquela bagunça o Kim não sabia o que fazer a não ser gritar, e então o fez, expelindo com todas suas forças aquele ruído alto, o qual Jeongguk temeu os vizinhos ouvirem, mas não se importou, pois a situação que presenciava era assustadora e incomum.
Taehyung prosseguiu com seus gritos na medida que suas mãos tapavam-lhe as orelhas, como se um alto e horrível som além daquele que proferia o assombrasse. Contorcia-se de maneira estupidamente ridícula se fosse olhar de um estado sóbrio, mas que naquele instante parecia certo e necessário para afastar toda aquela angústia, medo e irritação que preenchia seu corpo pouco a pouco.
E de repente tudo se acalmou.
Da mesma forma como se iniciou, terminou.
O rosto vermelho e inchado pelo choro que ainda adornava sua face cortava o coração de Jeongguk, que sem saber o que fazer, simplesmente jogou-se contra o corpo daquele que até pouco o assustara pelas ações repentinas, abraçando-o com força; um pedido mudo para que se acalmasse; uma frase não dita, mas sentida, de que tudo estava bem e que estava ali com ele; para ele.
E, por fim, tocou-lhe os lábios com seus semelhantes, absorvendo o gosto salgado das pequenas gotas cintilantes, mesclando-o com seu próprio de chocolate que outrora preenchia sua boca num grande pedaço de bolo. Permitiu-se sorrir em meio ao ósculo desengonçado com a lembrança dos lábios finos completamente sujos do doce, e, mais que isso, ousou enlaçar corretamente sua língua na alheia, sentido o corpo de Taehyung relaxar diante disso.
Era comum atitudes como aquela no cotidiano dos dois garotos, mas foi uma escolha que Jeongguk não se arrependia de ter feito; tinha seus altos e baixos, mas ele estava lá por Taehyung e continuaria assim; dia após dia, lutando contra aquele mal que assombrava o Kim.
Ele só torcia para que tudo no final realmente ficasse bem.
E vai ficar, sempre fica; o amor e a força de vontade vence barreiras, não é uma “simplória” depressão ou bipolaridade que irá destruir tudo.
Não mesmo.
Se você quer, você pode.
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