1. Spirit Fanfics >
  2. Diário de Helena >
  3. Sexta, 1 de Abril

História Diário de Helena - Sexta, 1 de Abril


Escrita por: AlaskaYoung814

Capítulo 27 - Sexta, 1 de Abril


 A sexta-feira foi triste (novidade). Praticamente todas as sextas são um saco.

   Enfim, naquela sexta, eu tinha ido com um short claro e com um tênis novo que eu havia comprado e lembrava muito a minha amiga Sandy<3.

   Eu estava farta de acordar cedo, mas me rendi ao despertador. Na quinta teria prova de inglês, mas a professora havia faltado. Ou seja, a prova seria naquela sexta. Eu, como sempre fazia nas provas de inglês do 9° ano, havia deixado para estudar na escola. Lá estava eu, indo para a escola de carro, com a música no volume máximo. Não fiz nada quando cheguei, e quando vi o professor se aproximar, bufei. Porém eu estava feliz por ter conseguido resolver os exercícios de Física, já que eu achava que seria um fracasso nessa matéria, como no nono ano. O "visto" no meu caderno já foi considerado como um troféu, e fiquei super alegre.

   A aula passou rápido e o terceiro sinal tocou, anunciando a troca de professores. A última aula antes do intervalo seria de Geografia, e eu já fui me preparando para ficar sem sono, pois sabia que a aula seria animada. O professor Vinicius começou a explicar algumas coisas que eu havia perdido na terça (eu tinha matado aula). Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio, Meridiano de Greenwich, Movimento de Rotação, Translação... Alguém bate na porta. O professor interrompe a explicação, e abre um pouco a porta, colocando apenas sua cabeça para fora. Depois de alguns segundos ele volta a cabeça para a sala e chama:

-Daniel!

-Oi?

-Venha aqui.

   Daniel se levanta de sua carteira e sai para fora da sala. Imagino que a pessoa que bateu na porta seja a irmã dele, querendo alguma coisa. Mas, como um flash, a lembrança da namorada de Daniel me dizendo no banheiro feminino que o Conselho Tutelar estava querendo prender o pai dele, e se isso acontecesse ele iria morar com a mãe dele em Santa Catarina passa pela minha cabeça. Droga!

   Meu corpo se agita. Tenho vontade de ir junto com ele, para saber o que é. Mas nesse exato momento, na hora da explicação, não posso. Por mais que fosse meu amigo, o professor não deixaria. Então tentei me concentrar no que ele dizia. De repente ele se volta para a Ana Flávia Cordeiro:

-Ana, vá lá fora e pegue uma bicicleta.

-Quê?- todos dizem junto com ela.

-Vá lá fora e pegue uma bicicleta, qualquer uma!

   Sorrindo, desconsertada, Ana Flávia sai da sala. Todos começam a rir. Certo de que o professor era vida louca, mas ninguém esperava que um professor pedisse isso a um aluno. Depois, Ana Flávia entra com uma bicicleta preta. O professor a segura e pede para Ana Flávia ir para o lugar dela. Enquanto ela vai, rindo, conta para Ingridi que o porteiro ficou a observando, também desconsertado. 

   O professor começa a explicar o movimento da Terra com a ajuda da roda da bicicleta. Depois de explicar, pede para Ana Flávia Cordeiro a colocar no lugar. No mesmo instante em que ela sai, Daniel entra, e sua expressão não é a das melhores. Fico preocupada, e o observo se sentar na carteira, no fundo da sala. Anna estava faltando, acho que desde aquela quarta. Ficou internada e foi diagnosticada com sinusite. Portanto, ele estava sozinho no fundão. Assim que se sentou, nossos olhos se encontraram. Fiz uma expressão de preocupação, e ele balançou a cabeça negativamente. Não. Não podia ser isso. Seus olhos estavam vermelhos e úmidos. Seus cotovelos estavam em cima de sua mesa, e suas mãos seguravam uma a outra encostando em seus lábios. Parecia que ele estava se segurando para não gritar.

   O sino bateu anunciando o intervalo. Matando a ansiedade, guardei meu material rapidamente embaixo da carteira e praticamente corri até ele. Natan saiu e ficou parado na porta junto com outra pessoa da nossa sala, que não me lembro quem era. Monique saiu da sala e segurou meus braços.

- O que houve com o Daniel?

-Eu não sei. - respondo agitada. Tinha algo de muito errado. E eu já sabia o que era. Tudo dentro de mim gritava: "NÃO! NÃO, NÃO!!!"

-Eu também estou preocupada com ele. - Ela diz, olhando para ele, enquanto ele caminhava em direção à porta.

   Sua cabeça estava baixa. Ele saía da sala e se sentava no banco que havia em frente a ela. Natan o observava com uma expressão fria. Daniel abaixou a cabeça e apoiou sua testa em suas mãos. Me sentei ao lado esquerdo dele, o abraçando. Suas lágrimas molhavam sua calça, e eu beijava seu ombro.

-Não... não! - ele murmurava.

   Ele começou a chorar alto. Como eu chorava quando caía da bicicletinha que eu havia ganhado aos meus nove anos. Meu corpo tremeu, e de repente senti uma forte falta de ar. Monique se senta ao lado direito dele e o abraça também. O professor sai da sala e nos olha. "Entre na sala, Daniel.", é só o que ele diz. Depois nos olha, e diz "Não quero ninguém aqui a não ser ele. Nem ousem sondar pela fechadura." Dessa vez quem está chorando sou eu. Me afasto do banco, e caminho em direção ao meu cantinho atrás da quadra. Minha respiração se acelera a cada passo que dou. Passo em frente à sala do 9° B, e os amigos de Guilherme me observam.

   Eu não tinha nenhum amigo naquela hora. Karina e Mariana estavam na capital. Anna estava em casa. Bianca, Alex, Bruno, Raianne e Sandy estavam no Instituto Federal. Não havia nenhum ombro amigo, nada. Era só eu. E eu me sentia tão pequena, muito menor do que os 1,56 que eu tinha. Frágil. De repente senti meu corpo parar. Tirei o tênis, fiquei descalça. Para chegar no cantinho, havia uma descida. Segurei os tênis com uma mão e comecei a correr. A descida acelerava mais os meus passos. Praticamente todos me observavam, e eu não ligava. Chegando no cantinho, observei a rua. Minha visão estava embaçada por causa das lágrimas, então abaixei a cabeça e abracei minhas pernas. As lágrimas saíam com velocidade, até que em um determinado tempo, tentei me acalmar. Meu Daniel iria embora. E ele iria sofrer mais do que já sofreu nas mãos da mãe dele. Eu não queria isso. Era a última coisa que eu desejava.

   -Já chega, Helena.- Surge a Helena Experiente, secando minhas lágrimas.- Vá. Seja forte. Ele é seu amigo. Fique perto dele, enquanto pode.

   Balanço a cabeça, e colocando minha franja atrás da orelha, pisco os olhos para as lágrimas pararem de cair. Me levanto e coloco os sapatos. Limpo meu short, já que havia sentado na calçada. Chegando na sala, olho em todas as direções, mas não havia ninguém lá. Saio dela e Ana Flávia Cordeiro para em minha frente segurando meus ombros. Me assusto.

-O que houve com o Daniel?

-Não posso contar. - tento acalmar minha respiração. Wesley e os outros meninos novos entram na sala, fazendo baderna. Saio da frente de Ana Flávia e me dirijo ao banheiro feminino.

-Espere, Helena!

-O que foi?

-Deixe-me ir com você. - Ana Flávia tenta acelerar o passo para me alcançar. Chegamos no banheiro.- Se acalme, lave seu rosto. 

   Balancei a cabeça positivamente e coloquei minhas mãos na corrente de água que saía da torneira. Depois de lavar meu rosto, olhei meu reflexo na água.

-Tente se acalmar, você está nos deixando preocupados. Está com sede?

-Estou...

-Vamos beber água. 

   Como Ana Flávia era mais alta que eu, passou o braço em volta do meu pescoço e foi me levando em direção ao bebedouro. Todas me olhavam. Minha respiração, desta vez, estava devagar. Muito devagar. Ana segurou meus cabelos enquanto eu me inclinava no bebedouro para tomar água.

-Se acalmou?

-Uhum.

-Vamos para a sala, e você fica em baixo do ventilador. Esse calor está de matar.

-Obrigada, Ana.

    Ela sorriu e me levou para a sala. Daniel ainda não estava lá. Depois de um tempinho embaixo do ventilador, resolvo ir para a sala dos professores para ver se a professora Cláudia tinha ido na escola desta vez. Ela estava lá. Meu rosto não estava numa boa expressão ainda, mas segui em direção à quadra. Guilherme me observava de longe, junto com seus amigos. Nós estávamos nos falando a um tempo, mas havia ficado muito óbvias as tentativas dele de me iludir. Falava que gostava de mim, que me amava, mas aquilo não passava de uma ilusão. Havia brigado com ele na quinta, desde então não estava falando com ele. Quando eu cheguei em frente à quadra, lá estava Daniel, agarrado com Giovana, namorada dele. Resolvi andar em direção a eles, mas Giovana chegou na minha frente e pediu para eu pegar água para ele. Cheguei na sala, pedi o copo de Monique para ela e peguei água para ele. Depois que levei, peguei meu celular na minha mochila e tentei ligar para Bianca, que não me atendeu. De onde eu estava dava para ver meu cantinho e a sala de Guilherme. Ele continuava a me observar, mas eu ignorei. Fiquei esperando Giovana sair de perto do Daniel para conversar com ele, mas a conversa só aconteceu na hora da aula de matemática, nos dois últimos tempos.

-Conte se quiser: O que aconteceu?

-Bem... Minha mãe teve a cara de pau de trazer alguns membros do Conselho Tutelar até a escola depois de prenderem meu pai, e dizer que vai ficar tudo bem, que agora eu vou morar com ela.

   Abaixei a cabeça e ele fez o mesmo. Depois que a conversa rolou solta, depois de muitas risadas, me lembro que na tarde daquele dia iria ter reforço de português.

-Você vai vir?

-Não.

-Por favoor!

-Helena... Se eu não curto vir para a escola nem de manhã, você acha que vou querer vir pra escola de tarde?

-Sei lá... Bem, pelo menos é melhor do que chegar em casa, encontrar a Samantha e minha mãe juntas e passar a tarde com elas.

-Helena, deve ser bem mais legal chegar em casa e encontrar sua mãe e sua irmã do que chegar em casa e não encontrar ninguém.

   No exato momento, o professor chama nossa atenção. Salva pelo gongo. Depois da aula, quando termino de almoçar, corro feito louca pela casa em busca de uma roupa para ir no reforço. Boto uma camiseta da Arctic Monkeys, o mesmo short que usei na escola e uma sapatilha azul, pego meu celular, meus fones e minha mochila e entro no carro quando papai já está na rua, sem paciência.

   Sou a primeira a chegar.

   Depois de um tempinho, volto para perto do portão da escola e vejo Elias sentado no banco em frente à sala 11. Conversamos um pouco, e logo Nathalia, a menina nova da nossa sala, chega. Ela fala oi para nós dois e eu vou para o portão, quando o menino novo, aquele que é bonito e as meninas ficaram em cima mas eu dei de ombros, chega. Demorei um tempo para aprender o nome dele. Ricardo. Quando nós quatro vamos à cozinha da escola pedir água gelada com jeitinho, a professora chega. Vamos para a nossa sala mesmo, e uns dez minutos depois, alguém abre a porta e meus olhos se encontram com os dele. Meu cérebro demora dois segundos para conhecê-lo, para lembrar nome dele e de todos os momentos que passamos juntos, desde o primeiro aperto de mão até os beijos ousados no final do ano passado.

   Natan.

   Ele usa uma camisa rosa quase transparente e carrega seu estojo e seu caderno. Pede licença para a professora e se senta atrás de Elias. Ao longo do reforço, minha concentração se volta apenas aos olhares de um segundo que Natan deposita em mim. Finjo olhar para trás enquanto vejo João Victor se sentar apenas para encontrar os olhos dele olhando para mim. E, no final, resolvo que não vou deixar nada me parar. "Quando formos liberados, vou pegar o braço dele e vou puxá-lo para dentro de outra sala.", pensava. Porém, quando fomos liberados, ele andou rapidamente para o bebedouro, assim eu não pude alcançá-lo. Enquanto eu também tomava água, ele andava ao lado de Elias, conversando com ele. Por um instante, virou sua cabeça para trás, me observou por três segundos e voltou a conversar com Elias.

   Liguei para minha mãe me buscar. Quando cheguei na frente da escola, ele já estava atravessando a rua de bicicleta. E, na descida, abria os braços, como se estivesse abraçando o vento. Eu sorri, me lembrando que também gostava de fazer isso. Mas a tristeza foi tomando conta de mim. Eu não podia ir até ele e comentar que também gostava daquilo. Nossa proximidade estava no zero. Meus olhos o acompanhavam. Ele estava com as mãos na bicicleta desta vez.

-Eu te amo. - sussurrei. - E não vou desistir de você. Prometo.

   Fui embora escutando Amnesia, de 5 Seconds Of Summer. Samantha estava na minha casa. Mas eu sabia que quando tudo estava bom comigo, estava ruim em casa. E quando fica ruim comigo, fica bom em casa. Então quer dizer que foi até legal ter a Samantha por perto naquele dia?

Sim. 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...